13 de fevereiro - Dia Mundial do Rádio

 

          O Dia Mundial do Rádio foi instituído em 2011 pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) em homenagem à primeira emissão de um programa da Rádio das Nações Unidas (United Nations Rádio), criada em 13 de fevereiro 1946. A transmissão foi feita simultaneamente para um grupo de seis países. 

          Em 20 de setembro de 2010, atendendo um pedido da União Espanhola de Radio, a Espanha propôs que o Conselho Executivo da UNESCO incluísse um item da agenda sobra a proclamação do Dia Mundial do Rádio.

          A UNESCO realizou uma ampla consulta em 2011 com diversas partes interessadas, como associações de radiodifusão, agências da ONU, fundos e programas relevantes de ONGS, fundações e agencias bilaterais de desenvolvimento, bem como Delegações Permanentes e Comissões Nacionais da UNESCO.

           Em Dezembro de 2012, a Assembleia Geral da ONU endossou a proclamação do Dia Mundial do Rádio, que se tornou uma data a ser celebrada por todas a agências, fundos e programas da ONU e seus parceiros.

          O objetivo do Dia Mundial do Rádio é conscientizar o público da importância do rádio e incentivar os tomadores de decisão a utilizá-lo para fornecer acesso à informação e melhorar a cooperação internacional entre as emissoras.

         


          Em 25 de setembro, celebramos o Dia Nacional do Rádio e da Radiodifusão. Esta data foi escolhida em comemoração ao aniversário do médico, antropólogo, educador e escritor Edgard Roquette-Pinto, considerado o Pai da Radiodifusão no Brasil.

          Roquette Pinto nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1884. Como assistente de antropologia do Museu Nacional, ele escreveu Os Tambaquis, seu primeiro trabalho. Em 1912 participou de uma expedição comandada pelo Marechal Candido Rondon (1865 – 1958) ao noroeste do estado do Mato Grosso para estudar o comportamento dos índios Parecis e nhambiquaras. Isto está descrito no livro Rondônia, de 1917. Edgard Roquette-Pinto morreu na capital carioca aos 70 anos em 18 de outubro de 1954.

Ary Barroso, nascimento


          Sete de novembro de 1903. Nasce em Ubá, Minas Gerais o compositor, cronista e radialista Ary Evangelista Barroso. Aos sete anos aprendeu a tocar piano com uma tia. Entrou para a Faculdade de Direito, mas logo descobriu que sua verdadeira vocação era a música. Começou a carreira no início da década de 1920, musicando filmes mudos no Cinema Íris e compondo fox trotes para revistas do Teatro Recreio no Rio de Janeiro. Seu primeiro sucesso como compositor foi Vamos Deixar de Intimidade, gravado por Mário Reis em 1929. Em 1934, Barroso foi para São Paulo, onde criou, na Rádio Cosmos o programa Hora H. No ano seguinte, voltou para o Rio de Janeiro levando o programa para a Rádio Cruzeiro do Sul, onde em 1936, realizou sua primeira transmissão esportiva. Foi na terceira partida da decisão do Campeonato Carioca de Futebol. O empate de 1 a 1 deu ao Fluminense o título de campeão.  Em 1937, Ary Barroso criou a Hora do Calouro, o programa que lançou grandes nomes da MPB, como Ângela Maria e Lúcio Alves.

          Torcedor fanático do Flamengo, em 1938, Ary Barrosofoi para a Rádio Tupi onde atuou como narrador esportivo, comentarista, humorista e ator. Considerado pioneiro na renovação da linguagem futebolística nas transmissões radiofônicas, ele cunhou frases e expressões que influenciaram grande parte de seus sucessores. Sua marca registrada para anunciar os gols era uma escandalosa gaitinha de boca. Em vez de dar longos gritos como os outros speakers ou locutores faziam, ele utilizava uma gaitinha de som bem agudo. Se o gol fosse do Flamengo, seu time do coração, a gaitinha soava repetidas vezes, no máximo volume. Mas se fosse do adversário, Ary se limitava a uma soprada sem entusiasmo. Algum tempo depois, outras emissoras de rádio passaram a adotar sinais sonoros.

          Nos anos 1930 e 1940, os locutores transmitiam do campo, muitas vezes em cima de telhados porque não existiam cabines. Pode-se imaginar a quantidade de interferência que havia, por causa dos ruídos. Importante destacar que Ary Barroso, mesmo com o propósito do fanatismo, achou o som da gaitinha especial para os torcedores que ouviam que havia acontecido um gol.

          O jornalista e escritor Sérgio Cabral (1937 - ) confirma isso na biografia No Tempo de Ary Barroso lançada pela Lazuli Editora em 2016:

 

          "Nos gols do Flamengo, ele soprava muito mais tempo do que naqueles marcados pelas demais equipes. Os gols contra o Flamengo eram registrados por duas sopradinhas, e olhe lá."

 

          De acordo com Cabral, essa despudorada parcialidade contribuía para a popularidade de Barroso como locutor. Os rubro-negros torciam com ele, e os rivais se divertiam com seu sofrimento, cujo nível era aferido pelo toque da gaitinha. Em sua passagem pelo rádio esportivo, Ary Barroso transmitiu também, além do futebol, as corridas de turfe e de automóveis. Ele encerrou a carreira de locutor esportivo na copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil.

          Dizendo-se cansado da pobreza das letras de samba, numa tarde chuvosa de 1940, Ari Barroso tentava tirar do piano o som da batida de tamborim. Ali, em 10 minutos ele compôs o samba Aquarela do Brasil, um dos maiores sucessos da história da música em todos os tempos. Amplamente considerado o primeiro samba-exaltação da história, Aquarela do Brasil (que inicialmente foi chamado de Aquarela Brasileira) foi gravado originalmente pelo cantor Francisco Alves (1898 – 1952). Mas este samba só se tornaria imortal depois de ser incluído no filme de animação Alô Amigos (Saludos Amigos), produzido por Walt Disney e lançado no Rio de Janeiro em 23 de agosto de 1942. Neste filme, Aquarela do Brasil é cantada por Zé Carioca, o personagem do desenho animado. Vertido para o inglês pelo compositor e letrista Bob Russel (1914 – 1970), o samba-exaltação Aquarela do Brasil é a música que mais representa o Brasil no exterior. Ela já foi regravada por grandes ícones da música como Carmen Miranda, Frank Sinatra, Billy Vaughn, Tommy Dorsey, Jimmy Dorsey, Bing Crosby, Gal Costa, Ray Conniff, Johnny Mathis, Elis Regina, Caetano Veloso, Tom Jobim, Martinho da Vila, Dionne Warwick, Plácido Domingo e muitos outros.

          Em 1944, Ari Barroso foi para os Estados Unidos, convidado por Walt Disney, onde compôs mais de 500 músicas, recebendo em 1945 o diploma da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas de Hollywood, pelas músicas do filme Você Já Foi à Bahia? Outros sucessos do compositor Ari Barroso são: Na Baixa do Sapateiro, Risque, Malandro Sofredor, Cabocla, No Tabuleiro da Baiana, Camisa Amarela e No Rancho Fundo.

          Em 21 de novembro de 1997, 13 críticos e pesquisadores da MPB, depois de analisar uma lista que incluía 14 músicas, escolheram Aquarela do Brasil como A Música do Século 20. O anúncio foi feito durante uma cerimônia realizada da ABL (Academia Brasileira de Letras). Também foi anunciada a lista de outras 13 canções que ficaram entre as mais votadas: Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) (1947); Carinhoso (Pixinguinha e Braguinha) (1937); Último Desejo (Noel Rosa) (1937) Chega de Saudade (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), (1957); O Que Será, Que Será (Chico Buarque) (1976); Alegria Alegria (Caetano Veloso) (1967); Se Você Jurar (Ismael Silva, Nilton Bastos e Francisco Alves) (1931); As Rosas Não Falam (Cartola) (1975); Chão de Estrelas (Orestes Barbosa e Sílvio Caldas) (1937); O Mar (Dorival Caymmi), (1939); Abre Alas (Chiquinha Gonzaga), (1900); O Bêbado e a Equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc (1979, e Pelo Telefone (Donga e Mauro de Almeida). (1917.

          Ary Barroso foi espetacular compositor e muito contribuiu como comunicador, tanto que recebeu a homenagem oficial do Dia do Radialista. Morreu aos 66 anos na cidade do Rio de Janeiro, em nove de fevereiro de 1963, um domingo de carnaval. 33.22/11/1997 - 33.07/08/2003 – 41 - 56- 74



Publicitário Washington Olivetto declara sua paixão pelo Rádio AM

“Eu sou AM, bicho...”


        “Eu acho o rádio um grande veículo do exercício da imaginação, né. O rádio entra com o som e aí a tua cabeça faz o diabo”.

 

           Essa declaração recheada de paixão é fruto da imaginação do publicitário Washington Olivetto (1951 - ), responsável por algumas das campanhas mais importantes da propaganda mo Brasil. Em sete de fevereiro de 2002, ele concedeu uma entrevista coletiva logo depois de ser libertado de um sequestro que havia sofrido na noite 11 de dezembro de 2001. Respondendo ao repórter Agostinho Teixeira, da Rádio Bandeirantes de São Paulo, Olivetto relatou que, percebendo que estava prestes a ser libertado, primeiro chamou a polícia e depois gritou pelas rádios:

 

 

        Eu sou AM, bicho. Eu sempre fui AM. A minha vida, eu sou um cara da galera. Eu brinco com isso, que a minha personalidade é uma personalidade AM, e minha relação com a instantaneidade do meio rádio. Uma das coisas que eu aprendi na vida, no meu exercício de imaginação foi muito voltada pro rádio; sempre de moleque, eu era um cara que, eu tinha um Transglobe pra ficar ouvindo rádio não sei aonde... Eu nasci em São Paulo, mas sabia quem era o Big Boy e o Adelson Alves. Então a minha relação com o rádio sempre foi muito acentuada, e eu acho o rádio um grande veículo do exercício da imaginação, né. O rádio entra com o som e aí a tua cabeça faz o diabo. E eu achava o seguinte: que se eu precisava da instantaneidade do socorro naquele momento, polícia e rádio eram as duas praias. Foi por isso”.

 

           Washington Olivetto, um dos idealizadores da agencia Wbrasil, é um dos mais premiados publicitários brasileiros, com quase 1.000 prêmios recebidos em todo o mundo. Só em Cannes ele foi premiado mais de 50 vezes, entre Ouro, Prata e Bronze. Ele foi eleito O Publicitário do Século pela Associação Latino-americana de Publicidade através de uma promoção feita na Internet por profissionais do ramo.

            Nascido na capital paulista em 29 de setembro de 1951, Olivetto é o responsável pela criação de importantes campanhas publicitárias como a do Primeiro Sutiã (A gente nunca esquece), do sapato Vulcabrás 732 com várias personalidades, do Hitler para a Folha de São Paulo, do casal Unibanco, do cachorro da Cofap e da Bombril em 1978, onde o ator Carlos Moreno encarna o personagem criado por Olivetto e Francisco Petit, registrado no Guiness Book em 1994 como a mais longa campanha publicitária da História. A parceria entre Olivetto e a Bombril terminou em março de 2013, depois de 35 anos.



Amyr Klink e as ondas curtas do rádio


              Nascido em 25 de setembro de 1955 na cidade de São Paulo o economista, empreendedor de expedições marítimas e escritor Amyr Klink, aos dois anos de idade começou a frequentar Paraty, litoral Sul do estado do Rio de Janeiro, cidade histórica que serviu de inspiração para suas viagens pelo mundo.  Em 1965 ele comprou sua primeira canoa, nomeada de Max.

             Em 1978, aos 23 anos, Klink fez sua primeira viagem internacional, de moto até o Chile. Nesse mesmo ano, empreendeu sozinho a travessia Santos-Parati em canoa. Em 1980 fez as travessias Parati-Santos e Salvador-Santos, navegando em um catamarã. Em 1982 velejou de Salvador a Fernando de Noronha, e de lá foi até a Guiana Francesa.

              Em 1983, aprontou seu primeiro barco, o I.A.T., com o qual, faria a primeira travessia solitária a remo do Atlântico Sul. A jornada de 3.700 milhas durou 100 dias pelo Oceano Atlântico, partindo de Luderitz, na Namíbia, África, terminando em Salvador, Baía em 18 de setembro de 1984.

               Em 1986, Klink realizou a primeira de suas 15 viagens à Antártica. Na volta, começou a construir o Paratii, com o qual em dezembro 1989, realizou uma viagem solitária que durou 642 dias, passando sete meses e meio imóvel em uma invernagem, quando seu barco ficou preso no gelo da Baía de Dorian. Da Antártica, rumou em direção ao Polo Norte, retornando à Paraty em outubro de 1991. Nessa jornada, Amyr Klink navegou por 27.000 milhas, cerca 43.500 quilômetros.

               Em 1994 ele começou a construção do veleiro Paratii2, de 96 pés e 100 toneladas, e em 1998, partiu para mais uma viagem solitária, iniciando o Projeto Antártica 360 Graus, em que ele fez a circunavegação polar pela rota mais difícil. Foram 14.000 milhas percorridas em 88 dias. Em quatro de abril de 2002, Klyink chegou ao Rio de Janeiro com o Paratii2, concluindo a viagem experimental do Projeto Viagem à China. Nesta etapa que durou 68 dias, ele partiu para a Antártida em 30 de janeiro de 2002.

               Entre dezembro de 2003 e 26 de fevereiro de 2004, refez a Circunavegação Polar, dessa vez com mais quatro homens na tripulação. A viagem de 13.300 milhas durou 76 dias. Foi uma volta ao mundo sem escalas vencendo os Oceanos Atlântico, Índico e Pacífico.

                Em setembro de 1984, durante uma entrevista, Amyr Klink declarou que um dos passatempos favoritos da sua primeira viagem solitária pelo Atlântico era sintonizar as ondas curtas da Rádio Globo do Rio de Janeiro.

 

               "Era uma coisa meio surrealista estar sozinho no meio das ondas ouvindo o programa de Paulo Giovanni entrevistando as donas-de-casa... Me sentia terrivelmente ligado ao Brasil."

 

               Amyr Klink escreveu livros, como As Janelas do Paratii (1994), Linha D’água (2006), Mar Sem Fim (2008), Paratii Entre Dois Polos (2010) e Cem Dias Entre Céu e Mar (2010), onde narra suas viagens. 41 – 46 - 190.

 

BREVE  HISTÓRIA  DA  RADIODIFUSÃO

Como o rádio funciona?

           

              Acompanhando as invenções em constante evolução, bem como as novidades do campo tecnológico ao longo da minha existência, verifico que nenhuma ideia desenvolvida pela inteligência humana desperta tanto a atenção e admiração quanto o rádio. O ato de fazer trafegar o bip cifrado do Código Morse por meio de um cabo metálico por quilômetros a fio - sem trocadilho - foi um feito extraordinário. Imaginou o que representou para a humanidade a descoberta da existência das ondas eletromagnéticas invisíveis, as ondas de rádio - e quando ficou provada a possibilidade de promover sua propagação pelo espaço sem o uso de fio? Isto é fantástico! Por certo, várias cabeças geniais pensantes merecem nossa admiração, e com justiça, receber os créditos por promover a cadeia evolutiva que cerca o rádio, este incrível fenômeno de comunicação.


          Salve! Salve! James Clerck Maxwell (1831 -1879), Henrich Rudolph Hertz (1857 1894), Édouard Branley (1844 – 1940), Aleksander Stepánovich Popov (1859 – 1906), Michael Faraday (1791 -1867), Nikola Tesla (1856 – 1943), Thomas Alva Edison (1847 – 1931), Oliver Lodge (1851- 1940), Lee De Forest (1873 – 1961), Gugliermo Marconi (1874 – 1937). E... Roberto Landell de Moura (1861 – 1928).


Como funciona sua emissora de rádio


O rádio: filho bonito tem muitos pais


                           “Minha invenção pode garantir a comunicação com qualquer ponto da Terra, por mais afastados que eles estejam um do outro. Futuramente, meus aparelhos servem até mesmo para as comunicações interplanetárias.”

 

                  Essa declaração é do padre e cientista Roberto Landell de Moura, amplamente  considerado por nós, brasileiros como um dos pioneiros na descoberta do telefone sem fio, (ou rádio, como é conhecido hoje). Nascido em Porto Alegre em 21 de janeiro de 1861, mudou-se para Roma em 1878, e matriculou-se no Colégio Pio Americano e na Universidade Gregoriana onde, em 28 de outubro de 1886, foi ordenado padre. Voltou ao Rio de Janeiro em 1886 e iniciou uma série de diálogos com o Imperador Dom Pedro II (1825 – 1891), expondo suas ideias sobre transmissão do som e da imagem. Em 1892, em São Paulo, o padre Landell realizou várias experiências públicas na tentativa de obter patrocinadores, mas não obteve sucesso. Em 1893, em Campinas, depois de demonstrar seus experimentos, ele foi acusado de ter pacto com o diabo e outras barbaridades do tipo, quando alguns fiéis enfurecidos destruíram todos os seus aparelhos, ferramentas e utensílios. Para eles, falar de um lugar para outro sem o uso de fios era “coisa do demônio”.

                  Já em 16 de julho de 1899, o jornal O Estado de São Paulo noticiava que o Padre Landell de Moura havia efetuado a primeira transmissão de voz humana sem o uso de fios, a uma distância de oito quilômetros em linha reta, a partir do Colégio Santana, zona norte da capital até o local onde hoje é a Avenida Paulista:



                   "Hoje, ás nove horas da manhan, no Collégio das Irmãs de S. José, em Sant’ Anna realizar-se-a uma experiencia de telephonia sem fios, com apparelhos inventados pelo revdmo. Padre Landell de Moura. O Sr. Padre Landell de Moura, que convidou para este acto varias auctoridades, homens de sciencia e representantes da imprensa, fará uma preleção antes de proceder ás experiencias do seu invento". 

   

                  Landell de Moura também efetuou demonstrações públicas de seu invento no dia três de junho de 1900, conforme noticiou o Jornal do Commércio em 10 de junho de 1900:



                   "No domingo próximo passado, no Alto de Sant’anna, cidade de S. Paulo, o Padre Roberto Landell, fez uma experiencia particular com varios apparelhos de sua inveção, no intuíto de demonstrar algumas leis por elle descobertas no estudo da propagação do som, da luze da electricidade atravez do espaço, da terra e do elemento aquoso, as quais foram coroadas de exito. Esses apparelhos eminentemente praticos são como tantos collorarios deduzidos das leis supracitadas. Assistiram a esta prova, entre outras pessoas, Percy Charles Parmenter Lupton, representante do governo britânico, e sua família".

                 


                  Em nove de março de 1901, o religioso recebeu no Brasil a patente N° 3 279 para um “aparelho destinado à transmissão fonética à distância, com fio ou sem fio, através do espaço, da terra e do elemento aquoso”. Nos Estados Unidos, ele obteve, em 11 de outubro de 1904, a patente de número 771 917, para seu "transmissor de ondas" e, em 22 de novembro do mesmo ano, as patentes de número 775 337, para um "telefone sem fio", e 775 846, para um "telégrafo sem fio, que poderiam funcionar através da luz ou de ondas de rádio, com ou sem fio. 

                 Em 1902, o jornal norte-americano The New York Herald publicou extenso artigo abordando experiências de cientistas de vários países, inclusive do padre Landell, cujo trabalho foi apresentado através de ilustração.



                  "Por entre os cientistas, o brasileiro Padre Landell de Moura é muito pouco conhecido. Poucos deles tem dado atenção aos seus títulos para ser o pioneiro nesse ramo de investigações elétricas. Mas antes de Brighton e Ruhmer, o Padre Landell, após anos de experimentação, conseguiu obter uma patente brasileira para sua invenção, que ele chamou de Gouradphone”.

    

                 Não conseguindo no Brasil ajuda para continuar as suas pesquisas, e nem para construir aparelhos em escala industrial, Landell de Moura se mostrou forçado a abandonar seus estudos científicos. Dessa forma, por falta de apoio oficial e recursos financeiros, o padre brasileiro foi preterido pela História, que declarou o italiano Guglielmo Marconi O Pai da Radiodifusão. Entretanto, por justiça, Landell de Moura não merece ser relegado a um plano inferior, mas sim, efetivamente ser reconhecido como um dos precursores, uma vez que, a partir de registros como aquele veiculado pelo Estadão em 16 de julho de 1899, o crédito pela invenção desse meio de difusão de notícias e divertimento chamado Rádio deveria ser conferido ao padre brasileiro, por ele promover a transmissão, no final do Século 19, da voz humana à distância por meio de uma onda eletromagnética. Então, podemos considerar que o Padre Landell de Moura foi precursor nas transmissões de vozes utilizando um equipamento sem fio. Suas patentes afirmam isso.

               Em 1984 a CIENTEC (Fundação de Ciência e Tecnologia) construiu uma réplica daquele que pode ser o primeiro aparelho de rádio do mundo: o Transmissor de Ondas, patente norte-americana Nº. 771 917 de 11 de outubro de 1904. Esta réplica encontra-se em exposição no saguão da Fundação Educacional e Cultural Padre Landell de Moura, em Porto Alegre. O religioso e cientista brasileiro morreu de tuberculose no anonimato, pobre e endividado aos 67 anos, em 30 de junho de 1928.

                A par disso, Guglielmo Marconi, um engenheiro elétrico nascido em Bolonha, Itália, em 25 de abril de 1874, mostrava, desde pequeno, sua vocação para resolver questões relacionadas à química e a física. Aos 12 anos, aprendeu a lidar com o Código Morse com um velho homem cego, que era telegrafista aposentado. Quando teve notícias pela primeira vez da existência das ondas hertzianas - imaginadas pelo físico britânico James Clerck Maxwell (1831 – 1879) em 1873 e demonstradas em 15 de março de 1888 pelo físico alemão Henrich Rudolph Hertz (1857 – 1894) - Marconi admitiu que elas podiam ser utilizadas na transmissão telegráfica, sem o auxílio de fios. Em 1894, ele conseguiu seu primeiro avanço, ao transmitir um toque de sino numa sala de sua casa, a dez metros de distância. Depois disso, seguiram-se outras experiências, cobrindo espaços cada vez maiores.

              Na primavera de 1895, Marconi realizou testes de transmissão de um sinal de Código Morse em Trieste, Itália, através das ondas eletromagnéticas, a uma distância de 400 metros e depois pela distância de dois quilômetros, inaugurando assim seu serviço de telégrafo sem fio. Através de uma sucessão de ideias, o que Marconi fez - baseado em estudos apresentados por Nikola Tesla (1856 – 1943) - foi criar um conjunto de equipamentos capazes de guiar e transmitir os “titiritis” da invenção de Samuel Finley Morse (1791 – 1872), e receber essas ondas a partir do oscilador de Hertz, de uma antena inventada pelo físico russo Aleksander Stepánovich Popov (1859 – 1906) e de um coesor de Édouard Branley (1844 – 1940). 

             A história aponta que Guglielmo Marconi vai se tornar um industrial hábil e empreendedor; no futuro, saberá, como poucos, explorar os privilégios advindos das patentes. Aos 22 anos, quando sentiu que poderia transformar seus experimentos num negócio prático e comercial, procurou o governo italiano, mas o Ministério dos Correios e Telégrafos enjeitou. Então, em fevereiro de 1896 ele foi para Londres, Reino Unido levando consigo todas as suas ferramentas e aparelhos. Na Inglaterra, as autoridades logo perceberam que tinham em mãos uma invenção revolucionária, capaz de tornar possível a comunicação entre os navios em alto mar. Desde o final do Século 17 até meados do Século 20, a Marinha Real Britânica (Royal Navy) era a armada mais poderosa do mundo.

            Em 20 de março de 1897, Gugliermo Marconi formou a The Wireless Telegraph and Signal Company, destinada a lidar com a transmissão do telégrafo sem fio a longa distância. Com isso, ele recebeu metade das ações da companhia, e mais 15 mil libras esterlinas em dinheiro. Logo, sua firma se transformou numa das empresas de fabricação mais bem-sucedidas do Reino Unido. Então, o jovem físico italiano se tornou rico, com apenas 23 anos de idade. Por coincidência, os grandes investidores em tecnologia fugiam da crise em Wall Street, procurando outras formas de investimento. Eles agora estavam aplicando nos empreendimentos do inventor italiano.

           No mesmo ano de 1897, a primeira estação radiotelegráfica construída na Ilha de Wight, na costa sul da Inglaterra, entrou em contato com um navio que se achava a 28 quilômetros de distância. Em 1899, utilizando uma antena muito elevada denominada por ele de detector, Marconi transmitiu sinais de Código Morse a 140 quilômetros através do Canal da Mancha. Naquele dia, ele acordou o mundo com a transmissão, sem uso de fios, do S – do SOS - de Cornwall, Inglaterra, para Terra Nova, desde a estação de Poldhu, em Cornovaglia. Em 1901, uma transmissão da Córsega foi captada no continente.

           A primeira ligação entre a Europa e a América foi estabelecida pela The Wireless Telegraph and Signal Company em 12 de dezembro do mesmo ano. A empresa de Marconi começava assim, a operar as transmissões do telégrafo sem fio através do Oceano Atlântico, a preços muito mais baixos.Três anos depois, a companhia já produzia centenas de aparelhos de rádio, utilizados principalmente em navios.

          Depois de explorar todas as possibilidades das ondas longas, Marconi iniciou suas pesquisas com as ondas curtas. Segundo escreveu sua filha Degna Paresce Marconi no livro Meu Pai, Marconi (My Father, Marconi) lançado nos Estados Unidos em 1962, pela McGraw-Hill Book Company, inc. – foi somente em 1927 que Gugliermo transmitiu a voz humana pela primeira vez, da Inglaterra para a Austrália. Façanha conseguida 28 anos antes pelo padre Landell, segundo noticiou o  jornal O Estado de São Paulo em 16 de julho de 1899

           No rastro do sucesso, Guglielmo Marconi dividiu o Prêmio Nobel de Física de 1909 com o físico alemão Karl Ferdinand Braum (1850 – 1918), o descobridor dos semicondutores. Marconi também recebeu vários títulos nobres e condecorações. Entre eles, a Medalha da Royal Albert Society of Arts e a Ordem de St. Anne, esta última entregue pelo Czar da Rússia Nicola II. Em sua terra natal, Marconi foi agraciado com os títulos de Comendador da Ordem de São Maurício e São Lázaro, e recebeu a Grã-Cruz da Ordem da Coroa da Itália. Em 1929, ele recebeu o título hereditário de Marquês. Morreu coberto de glorias aos 63 em Roma, Itália em 20 de julho de 1937.



Mas há controvérsias

          Parte do trabalho de Marconi não era original. O físico e inventor sérvio Nikola Tesla (1856 – 1949) já havia patenteado um sistema básico de rádio em 1897, nos Estados Unidos. Tesla demonstrou em sua famosa palestra no Instituto Franklin, na Filadélfia, em 1893 o conceito original do rádio, onde "o centro de transmissão é baseado em quatro circuitos utilizados em dois pares, sintonizados para transmissão e recepção" .

          Em 1900, Marconi, que nessa época já trabalhava nos Estados Unidos, tentou registrar suas patentes lá, mas não conseguiu, porque Tesla já havia registrado um equipamento similar. Ocorre que a empresa de rádio fundada por Marconi já experimentava o sabor do sucesso financeiro, e também era fortemente apoiada por Thomas Alva Edison (1847 -1931), pelo filantropo Andrew Carnegie (1835 – 1919) e por outras grandes figuras do mundo dos negócios do chamado País das Oportunidades. Tesla ainda tentou argumentar com seus investidores, explicando que Marconi havia utilizado 17 de suas patentes de forma irregular para realizar suas façanhas, mas não obteve sucesso. Não naquele momento.

          No embalo desse prestígio, em 1904, o U.S. Patent Office reconheceu Gugliermo Marconi como o inventor do rádio. Mas Nikola Tesla contestou, e depois de várias disputas foi à justiça em 1914, muito porque Marconi havia recebido inúmeros prêmios internacionais, inclusive o Prêmio Nobel de Física em 1909. É sabido que Tesla era um homem que tinha pouco apego ao dinheiro. Mas o fato do inventor italiano utilizar comprovadamente 17 de suas patente era demais. Mesmo para Tesla. 

          Finalmente, 30 anos depois, em outubro de 1943, a Suprema Corte, ou Supremo Tribunal dos Estados Unidos considerou ser falsa a alegação de Marconi, que afirmava nunca ter lido as patentes de Tesla. Porém, sua publicação continha todos os diagramas esquemáticos descrevendo todos os elementos básicos do transmissor de rádio que mais tarde foi usado por Marconi. Ou seja, não havia nada no trabalho de Marconi que não tivesse sido anteriormente revelado por Nikola Tesla. Então, tardiamente, em sete de janeiro de 1943, nove meses depois de sua morte, o Supremo Tribunal decidiu em favor de Tesla, concedida a ele a patente 645.576 pela invenção do rádio. A decisão do tribunal foi baseada naquela palestra proferida por Nikola Tesla em 1893.


Eu não inventei nada. Eu redescobri”.


            Auguste Rodin (1840 -1917), escultor francês.

             Muitas décadas de empenho humano e de esforço quase sempre coletivo em prol da prosperidade são fatores que nos permitem usufruir da herança que o passado nos legou. Entretanto, graças às modernas ferramentas desenvolvidas com o propósito de promover a dinamização das comunicações e o aumento do conhecimento humano, reparamos que, muito do que foi inventado aconteceu por pura obra do acaso; ou não passam de um constante aperfeiçoamento de conceitos anteriores - ou sucessão de ideias. E quanto mais nos aprofundamos no assunto Invenções, pesquisando principalmente em velhas publicações, várias delas encontradas perdidas nas prateleiras empoeiradas de algum sebo, verificamos que não existe consenso sobre quem inventou (ou quem fez primeiro) os milhares de produtos e artefatos criados pelo homem desde os tempos pré-históricos, bem como a ampla variedade de máquinas e ferramentas disponíveis nos diversos setores da vida moderna. Este é um tema muito delicado e apaixonante. Discutir um assunto como este muitas vezes pode gerar conflitos de ideias. Melhor não!

            É própria do ser humano a vontade de se vangloriar de sua criação, mesmo que em alguns casos, sem o desejo de tirar qualquer proveito dela decorrente; a não ser compartilhar, visando assim, o bem comum. Como fez o inventor brasileiro Alberto Santos Dumont (1873 – 1932, que transferiu para o domínio público todos os seus desenhos e projetos, permitindo que qualquer um os copiasse livremente, repartindo, assim, suas criações com todos. Ao contrário dos irmãos Wilbur e Orville Wright, dos Estados Unidos: eles trabalhavam num projeto semelhante, e tiveram a iniciativa de registrar a patente.

           Então, parece que o tema Quem Fez Primeiro é uma questão que nunca será resolvida. Por isso, convêm revermos com muito critério nossos conceitos sobre o assunto. Contudo, por justiça, nunca deixar de citar que todos os possíveis envolvidos em uma invenção ou descoberta, pois merecem os créditos com robusto destaque, porque certamente, trabalharam duro pesquisando por um longo tempo para aperfeiçoar ideias originais. A par disso, verificamos que a História é recheada de narrativas sobre a trajetória de celebrados velhacos infiltrados entre os empreendedores honestos. Na busca desenfreada por fama e dinheiro, inescrupulosamente eles se transformaram em megaempresários à frente de verdadeiros impérios industriais monopolistas, na maioria das vezes, escudados por eficientes serviços de patentes. Mas como diz o sábio ditado popular, “é preciso separar o joio do trigo”.


O poder das patentes

           Nada contra os sistemas de patentes, pois essas concessões públicas conferidas pelo Estado são, por definição, o título de registro de invenções, de marcas de fábrica, de nomes de produtos comerciais e industriais e de direitos autorais. Instituição imprescindível, elas garantem ao detentor os direitos de prevenção e proteção contra terceiros fabricarem, usarem, venderem, oferecerem ou importar sua invenção; desde que sejam revelados todos os detalhes técnicos concernentes ao produto ou criação a serem protegidos. Assim é o procedimento padrão adotado pelas nações industrializadas.

           Ao olharmos as narrativas por esse ângulo, percebemos como alguns homens que estiveram à frente de seu tempo, como o visionário italiano Leonardo da Vinci, por exemplo, que não tiveram a sorte ou a vontade de encontrar um eficiente serviço de patentes que pudesse assegurar-lhes pelo menos o registro dos seus estudos científicos e da sua coleção de ideias geniais que incluem esboços de helicópteros, submarinos, paraquedas, asa delta, roupa de mergulho, veículos e embarcações automotores, máquinas voadoras, bicicletas e projetos minuciosos de tornos, máquinas perfuratrizes, turbinas e instrumentos bélicos como pontes móveis, canhões, metralhadoras, espingardas, bombas e carros de combate. Pintor, escultor, arquiteto, engenheiro, cientista, inventor e escritor, Leonardo di Ser Piero da Vinci, nasceu no dia 12 de abril de 1452 em Angiano, província de Vinci, e morreu aos 67 anos em Amboise, França, em dois de maio de 1519.

           E o desenhista norte-americano Alex Raymond (1909 - 1930), criador do herói espacial das histórias em quadrinhos Flash Gordon, tornado público em sete de janeiro de 1934? Raymond imaginou ambientes, personagens e centenas de situações tão presentes em nosso dia a dia. Como? É só olharmos à nossa volta! Por exemplo, ele apresentou a minissaia muito antes da britânica Mary Quant (1934 - ) em 1957; e seus foguetes já apareciam decolando verticalmente nas primeiras tiras de Flash Gordon, antecedendo a União Soviética, que ao realizar os experimentos que culminaram com a inauguração da Corrida Espacial, ao lançar o foguete de dois estágios chamado Sputnik, que colocou em órbita o satélite artificial de mesmo nome, em quatro de outubro de 1957. Dizem que a NASA utilizou seus desenhos como referência em suas pesquisas sobre a resistência do ar em seus foguetes e naves espaciais.


             

              Observe os foguetes de dois estágios da série Falcon 9 e Starship, construídos pela SpaceX, a empresa fabricante de sistemas aeroespaciais fundada em 2002 pelo empreendedor sul-africano-canadense-norte-americano Elon Treeve Musk (1971 - ). Eles não nos remetem àqueles foguetes do Flash Gordon? Mas, ao contrário da maioria dos antigos foguetões, que são sistemas de lançamentos descartáveis, o Falcon 9 é parcialmente reutilizável, com o primeiro estágio sendo capaz de reentrar na atmosfera e suavemente pousar verticalmente após se separar do segundo estágio, desde dezembro de 2015. Como previu o desenhista Alex Raymond, lá na década de 1930.

              O mesmo raciocínio se aplica ao romancista francês Jules Gabriel Verne, simplesmente Júlio Verne. Também conhecido como Pai da Ficção Científica, Verne nasceu em oito de fevereiro de 1828 em Nantes, região da Bretanha. Contrariando as vontades do pai, Júlio Verne abandonou a carreira jurídica para escrever ficção científica, fazendo predições em seus livros sobre o aparecimento de novos avanços científicos e as grandes conquistas tecnológicas do Século 20, como o submarino, o aqualung, a televisão, as máquinas voadoras, os pousos na lua e as viagens ao espaço. Seus livros Viagem ao Centro da Terra (1864), Da Terra à Lua (1865), 20 000 Léguas Submarinas (1870), e A Volta ao Mundo em 80 Dias (1873) ainda permanecem populares.

              É bem verdade que em suas narrativas havia referências às invenções da época, como a lâmpada de arco, as máquinas a vapor, o telégrafo e o cabo submarino. Mas é por seus presságios futuristas que Júlio Verne é celebrado também como O Homem Que Construiu o Futuro. Alguns dos seus 100 livros foram transformados em filmes de sucesso, Júlio Verne morreu aos 77 anos em Amiens, norte da França, em 24 de março de 1905.

             Como vimos, não consta que nenhum desses visionários citados aqui tenham recorrido a algum serviço de patentes para registrar suas idéias e seus "inventos". Ou talvez eles não se interessassem.

 
 

O rádio no Brasil


           Oficialmente, a primeira transmissão de rádio no país aconteceu às 20h30min do dia sete de setembro de 1922, direto de uma sala de física da Escola Politécnica - com um equipamento de radiotelegrafia que a Western Eletric trouxera dos Estados Unidos - paralelamente à Exposição Internacional do Centenário da Independência, realizada no Rio de Janeiro (RJ), entre sete de setembro de 1922 e 23 de março 1923, e inaugurada pelo então presidente da República Epitácio Pessoa (1865 – 1942).

           O conteúdo principal da histórica transmissão experimental foi o discurso de abertura do evento proferido pelo presidente - além de conferências e diversas atrações, direto do Teatro Municipal. Na ocasião foi utilizado um transmissor de radiotelegrafia de 500 Watts da marca Westinghouse, que a Western Eletric trouxera dos Estados Unidos e instalado no alto do Morro Corcovado. Para completar o serviço, 80 “cornetas” de som foram espalhadas em vários locais da capital carioca. Foi através desses aparelhos que o público, em clima festivo acompanhou a fala de Epitácio Pessoa e ouviu a ópera O Guarani, de Carlos Gomes. À frente do empreendimento estava o educador Edgard Roquette Pinto (1884 – 1954) - e o engenheiro, geógrafo e astrônomo francês naturalizado brasileiro Henrique Charles Morize (1860 – 1930). No dia seguinte, o Jornal do Commercio noticiou:


           “A Rio de Janeiro and São Paulo Telephone Company, de combinação com a Westinghouse Internacional Company e a Western Eletric Company, instalou uma possante estação transmissora no alto do Corcovado e outros aparelhos de transmissão e recepção no recinto da exposição, em São Paulo, Niterói e Petrópolis. Dessa forma, o discurso inaugural da exposição, feito pelo Sr. Presidente da República, foi transmitido pela cidade acima por meio da radiotelefonia. À noite, no recinto da exposição, em frente ao Posto Telefônico Público, onde se achava instalado um dos aparelhos de transmissão, foi proporcionado aos visitantes um espetáculo inédito para nós: daquele local, por intermédio do telephone de alto-falante, foi ouvida, por numerosa assistência, toda a ópera O Guarani, como era cantada no Teatro Municipal. Nada deixou de apanhar o aparelho de recepção instalado no Municipal, nem mesmo os applausos aos artistas que cantaram a ópera nacional. Em São Paulo, Niterói e Petrópolis também foi ouvida a obra imortal de Carlos Gomes”


           E o jornal-vespertino A Noite também estampou na capa a modernice:

  

           “Um Sucesso de Radiotelephonia e Telephone Auto-falante. Uma nota sensacional do dia de hontem foi o serviço de rádio-telephone auto-falante, grande atrativo da Exposição. O discurso do Sr. Presidente da República, inaugurando o certamen foi, assim, ouvido no recinto da Exposição, em Nichteroy, Petropolis e São Paulo, graças à instalação de uma possante transmissora no Corcovado e de aparelhos de transmissão e recepção, nos logares acima. Desse serviço se encarregaram a Rio de Janeiro and São Paulo Telephone Company, Westinghouse International Co. Western Electric Company. À noite, no recinto da Exposição, em frente ao posto de Telephone Público, por meio do telephone auto-falante, a multidão teve uma sensação inédita. A ópera Guarany, de Carlos Gomes, que estava sendo cantada no Theatro Municipal, foi alli, distinctamente ouvida bem como os applausos aos artistas. Egual cousa succedeu nas cidades acima”.


             Encantado pela novidade, Roquette Pinto tentou, sem sucesso, convencer o governo a adquirir os equipamentos da Westinghouse utilizados na transmissão experimental. Quem ficou com o aparato foi a Academia Brasileira de Ciências, ação que possibilitou a inauguração da SQA-A, Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (hoje Rádio MEC), oficialmente a primeira emissora do país.

          A primeira transmissão da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro aconteceu às 20h30min do dia 1º de maio de 1923, direto de uma sala de física da Escola Politécnica. Inicialmente, a emissora utilizava o transmissor durante uma hora por dia apenas para um grupo de assinantes. O novo empreendimento precisava gerar receita para se sustentar, e os anúncios publicitários eram proibidos. Surgiu então o conceito Rádio Sociedade - ou Rádio Clube, no qual os ouvintes participavam como associados, contribuindo com mensalidades para a manutenção da emissora. Em sete de setembro de 1936, Roquette-Pinto doou a emissora ao MEC (Ministério da Educação e Cultura), com a condição de que a rádio mantivesse seu lema de transmitir cultura e educação.


 

Mas há controvérsias

          Todos os relatos sobre o pioneirismo da SQA-A não se sustentam. Temos que ser coerentes e racionais se quisermos evitar contradições ou dúvidas sobre um assunto notável como esse. De fato, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro não foi a única emissora a surgir no Brasil no Século passado. O primeiro transmissor de ondas de rádio no país que se tem notícia (O Estado de São Paulo de 16 de julho de 1899) foi introduzido pelo padre Landell de Moura, que efetuou a primeira transmissão de voz humana sem o uso de fios, a uma distância de oito quilômetros em linha reta, a partir do Colégio Santana, zona norte da capital até o local onde hoje é a Avenida Paulista. Antes disso, entre 1893 e 1894, o próprio religioso gaúcho havia desenvolvido suas primeiras experiências com transmissão e recepção de sons por meio de ondas eletromagnética

          Também existem registros que em 1913, o norte-americano Paul Forman Godley, um dos fundadores da AMCO (Adams-Morgan Co.), instalou um transmissor de rádio na região amazônica, a pedido do governo brasileiro.

       A Adams-Morgan Company foi uma fábrica de produtos eletrônicos estabelecida na 10 Alvin Avenue, em Upper Monclair, no estado de Nova Jersey, Estados Unidos. Criada pelo fabricante de kits de rádio Adams Morgan por volta de 1910, o empreendimento tinha como sócios o engenheiro elétrico Alfred Powell “Skipper” Morgan (1899 – 1972) e Paul Forman Godley. A empresa entrou para a História do rádio pela produção dos lendários receptores de rádio Paragon RA-10. Depois de enfrentar vários problemas econômicos, a produção desses aparelhos foi interrompida no final de 1927.

         Em função de ter feito a primeira transmissão oficial em um estúdio improvisado, a Rádio Clube do Recife reivindica status de primeira emissora do Brasil.

         A História registra que, por iniciativa de um grupo de amadores de telegrafia sem fio liderados por Augusto Joaquim Pereira, em seis de abril de 1919 surgiu a Rádio Clube de Pernambuco. Em fevereiro de 1923, foi instalado um transmissor de 10 Watts. Em sete de abril de 1919, o extinto Jornal do Recife noticiou:

 

            "Consoante convocação anterior, realizou-se ontem na Escola Superior de Electricidade, a fundação do Rádio Clube, sob os auspícios de uma plêiade de moços que se dedicam ao estudo da electricidade [sic] e da telegrafia sem fio. Ninguém desconhece a utilidade e proveito dessa agremiação, a primeira do gênero fundada no País".

 

            Apesar de todas essas controvérsias devido à falta de unanimidade, não há consenso sobre o pioneirismo do rádio no Brasil. Mesmo assim, a história da radiofonia brasileira é riquíssima.

            Contudo, a profissão de radialista só foi regulamentada em 12 de dezembro de 1978, através do Decreto Lei Nº. 6 615, sancionado pelo presidente João Batista Figueiredo (1918- 1999). Com muito orgulho, recebi meu Atestado de Capacitação Profissional sob o Nº. 385 no Rio de Janeiro, em 29 de dezembro de 1981, como sonoplasta, operador de áudio e operador de gravação.


 

"O rádio é a escola dos que não têm escola".                                     

 Roquette-Pinto (1884-1954), médico e professor.

         

           O médico legista, professor, antropólogo, etnólogo, ensaísta e pioneiro do radialismo brasileiro Edgard Roquette-Pinto usava esta frase para mostrar que o rádio figurava como o único meio de levar a escola e a informação até os habitantes de regiões longínquas, sem acesso à educação. Mas a expressão também se aplica perfeitamente quando o assunto é a formação de profissionais da área.

          Na década de 1960 não havia nenhum curso ou escola que pudesse formar o radialista, pelo menos em Campo Grande (MS), minha cidade natal. O aprendizado era desenvolvido com muito entusiasmo, intuição e solidariedade. Os mais antigos passavam aos mais novos o que assimilaram ao longo do tempo. Assim, aprendia-se a lidar com o rádio fazendo rádio. E isso não era fácil, porque quase tudo era feito ao vivo. Não dava para consertar os erros. 

          No interior, eram muitas as dificuldades técnicas para se fazer transmissão radiofônica, pois as emissoras em sua grande maioria, não tinham um estúdio reserva para gravar o material de uso exclusivo da produção e do jornalismo. Eventuais gravações eram realizadas durante a transmissão dos programas A Voz do Brasil e do Projeto Minerva.           

          Durante uma hora e meia, o áudio desses dois programas eram “baipassados” para o transmissor, fazendo com que o único estúdio ficasse disponível, possibilitando assim a realização das gravações. Em 90 minutos, faziam-se milagres! “Baipassar” é uma corruptela do termo em inglês bypass, que quer dizer desvio. Assim, também numa emissora de rádio, ao desviar o sinal de áudio de um determinado programa, aplica-se o termo “bypassar”.

         O noticiário A Voz do Brasil foi criado por decreto do presidente Getúlio Vargas, em 22 de julho de 1935. Produzido pelo DOP (Departamento Oficial de Propaganda), ele era apresentado pelo médico e locutor Luiz Jatobá (1915 – 1982) em cadeia nacional de rádio, com o nome de Programa Nacional. Em 1939, foi rebatizado como A Hora do Brasil, tornando-se transmissão obrigatória pelas emissoras de rádio entre 19h00min e 20hmin, para divulgar a ditadura do Estado Novo. Em 1971, por determinação do presidente Emílio Garrastazú Médici (1905 – 1985), A Hora do Brasil virou A Voz do Brasil. Em 1995, o programa entrou para o Guiness Book como o programa de rádio mais antigo do Brasil. O noticiário também é o mais antigo programa de rádio do Hemisfério Sul.

          O Projeto Minerva foi um programa educacional criado pelo então Serviço de Radiodifusão Educativa do Ministério da Educação e Cultura em 1º de setembro de 1970, e finalizado em 28 de fevereiro de 1991, numa reunião no Palácio do Planalto entre empresários da radiodifusão, da diretoria e conselheiros da ABERT (Associação Brasileira de Emissoras de Radio e Televisão), do ministro da Educação e da Infraestrutura e do então presidente Fernando Collor de Mello (1949 -).

O rádio na minha vida


          A ZYX-4, Rádio Cultura de Campo Grande 680 AM, então Mato Grosso integrado entrou no ar pela primeira vez em nove de dezembro de 1949. De acordo com Diego Abelino José Maximo Moreira em seu trabalho O COMEÇO DO RÁDIO NO ANTIGO SUL DE MATO GROSSO, publicado na Revista História em Reflexão em 2010, a sociedade fundadora da Rádio Cultura de Campo Grande tinha por objetivo a execução de serviços de radiodifusão, para fins culturais, educacionais, científicos e recreativos. A administração da rádio era dividida entre os três proprietários: Gilberto Barreto Fragoso, diretor-gerente; Ranulpho Mourão diretor secretario; Lauro Riccy diretor-tesoureiro e responsável por todos os atos úteis à administração da rádio.

          Existem algumas divergências quanta à verdadeira data da fundação da emissora campo-grandense. No citado artigo O COMEÇO DO RÁDIO NO ANTIGO SUL DE MATO GROSSO, o autor escreveu como sendo 11 de outubro de 1945. Porém, no site oficial da emissora, consta nove de dezembro de 1949. O certo é que, nesses mais de 70 anos, a emissora passou por várias mãos, quando experimentou algumas mudanças. Mais recentemente, ao migrar do AM para o FM, a Rádio Cultura de Campo Grande mudou de identidade. Em 1º de agosto de agosto de 2017, ela se transformou em Rádio Hora 92,3 mega-hertz, com status de primeira Rádio 100% Cristã interdenominacional de Mato Grosso do Sul.


A Emissora que a Cidade Ouve

          A paixão pelo rádio herdei da minha mãe, que era fã do então maior veículo de comunicação de massas. Todo final de mês, meu pai comprava a pilha que alimentava o rádio lá de casa. Não era uma pilha comum; na verdade, era uma bateria quase do tamanho de uma barra de gelo. Existiam no mercado duas marcas: a Eveready (A Pilha do Gato), e a Ray-O-Vac (As Amarelinhas). Essas baterias alimentavam o rádio SEMP AC431/BE, pelo qual mamãe sintonizava as rádios locais: Cultura, Difusora e Educação Rural - e as grandes emissoras do Brasil como Anhanguera e Brasil Central de Goiânia; Globo, Jornal do Brasil, Nacional e Tupi do Rio de Janeiro; Bandeirantes e Record de São Paulo, - e Guaíba de Porto Alegre. Foi assim que a magia do rádio me contagiou. Nesse tempo, já sabia que o rádio ia fazer parte da minha vida. E vice-versa. Isso foi lá no final da década de 1950.

     

Como foi

          O Mercado do Sapato, O Famoso Larga Braza da Baixada foi uma loja estabelecida na baixada da Rua 14 de julho, quase esquina com a Rua Maracatu. Foi ali que, no meio do ano de 1963, comecei a aprender a lidar com vendas. A casa tinha como logomarca o Brazinha (com Z), o personagem dos desenhos lançado nos Estados Unidos pela Harvey Productions em 1º de outubro de 1957. Brazinha fazia muito sucesso no Brasil não só entre as crianças, mas também entre os adultos, e tinha sua própria revista editada pela extinta Editora Vecchi (1913 – 1983). A figura deste “sinistro” personagem estava estampada nos espelhos, nos balcões e nas portas de aço da entrada do estabelecimento.

          Apenas como registro histórico, ao lado do Mercado do Sapato, ficava a Casa Dragão, uma loja especializada na venda de panelas, cristais e artigos para presentes. Seu proprietário era o corumbaense José Borges de Barros, irmão do político e comerciante Nelson Borges de Barros, fundador da Casa Victor, onde meu pai comprou o rádio SEMP - e do humorista e dublador Borges de Barros (1923 – 2007), um artista que fez uma carreira de sucesso nacional. Além de dublar o personagem Dr. Smith na série de TV Perdidos no Espaço, Borges de Barros encarnava o mendigo “milionário” que fumava uma bagana de charuto na Praça da Alegria, comandado na TV Record por Manuel da Nóbrega (1913 – 1976), pai do Carlos Alberto da Nóbrega (1936- ), que hoje apresenta A Praça é Nossa, no SBT. “Amigo” de personalidades do mundo político da época, o mendigo encarnado por               João Câncio, o dono do Mercado do Sapato era um exigente professor de vendas. Nas reuniões, ele enfatizava:

   

           “Freguês dentro da loja é meia venda. Não o deixem escapar”.

 

          Assim, quando o cliente colocava os pés na porta, “atacávamos” imediatamente. Num daqueles dias gelados de inverno do Cerrado, chegou ao Mercado do Sapato um homem de meia idade muito alto, vestindo um pesado capote de lã escura e calçando botas de canos longos. Na cabeça, um chapelão de feltro Ramenzoni. Parecia o personagem Velho do Rio da primeira versão da novela Pantanal; porém, sem a barba. Quando ele entrou na loja, eu me postei à sua frente, pronto para faturar uma venda. Ato continuo, falei:


          Às suas ordens senhor”.

 

          Sem tirar as mãos dos bolsos do capote, o homem ficou estático, fazendo cara de deboche. Vendo que aquela atitude teatral havia me deixado em apuros, ele perguntou:

 

           "Vocês têm chiola?”

 

           Embaraçado, olhei para dentro da loja com a intenção de pedir ajuda, pois não tinha a menor ideia do que seria chiola. Lá nos fundos do salão estava o patrão, observando a cena. Fui até lá e perguntei o que seria aquilo que o cliente estava procurando, e ele respondeu em tom muito sério:

 

          “Volta lá e pergunta para o freguês... o vendedor é você!”.

 

 Voltei para onde estava o homem do capote e, meio sem graça indaguei o que era chiola. A resposta veio tão curta e grossa, que não cabe aqui; mas posso adiantar que era uma rima jocosa que terminava com as palavras “duas bolas...”.

 

          João Câncio tinha um bom relacionamento com Nasrala Siufi, o popular Nassura, empresário artístico e diretor da Rádio Cultura morto aos 88 anos em 10 outubro de 2015. Além de dirigente da emissora, Nassura encarnou por um bom tempo o sertanejo Compadre Tapera, personagem que acordava a cidade declamando poesias caipiras na abertura da programação da ZYX-4, ao som de Abismo de Rosas, o clássico da MPB gravado por Dilermando Reis (1916 – 1977). O Chefe, como era carinhosamente chamado pelos funcionários da rádio, foi também o Rei Momo da cidade. Como empresário, pelo menos duas vezes por mês ele promovia a vinda de uma atração artística ou esportiva em evidencia no país. O Mercado do Sapato participava da divulgação desses eventos, promovendo memoráveis tardes de autógrafo em suas dependências. Por ali passaram personalidades como Jair Rodrigues, Wanderley Cardoso, Djalma Santos, Altemar Dutra, Erasmo Carlos, Roberto Carlos e tantos outros.

          Numa manhã fria e chuvosa de junho de 1965, um fato incomum aconteceu, durante a tarde de autógrafos com Roberto Carlos. Foi a segunda vez em que o cantor ali compareceu. Sua primeira visita ao Mercado do Sapato aconteceu no ano anterior, quando o cantor divulgava o disco É Proibido Fumar. Desta vez, o sucesso era o álbum Roberto Carlos Canta Para a Juventude. Na hora marcada, a perua Rural Willys verde e branca da Rádio Cultura trouxe o artista; o motorista nissei Fernando “Bodão” estacionou com dificuldade o veículo em frente ao Mercado do Sapato, onde dezenas de fãs com seus caderninhos de autógrafo e aquelas maquininhas fotográficas aguardavam ansiosamente a chegada do ídolo.

          Na ocasião, o movimento na Rua 14 de Julho foi muito maior, porque Roberto Carlos começava a consolidar sua carreira de ídolo da juventude. Por isso, tivemos que fazer um cordão de isolamento para que ele pudesse entrar, sem ter suas roupas rasgadas por alguma fã mais exaltada. De repente, um pedaço do revestimento da marquise, castigada por uma infiltração, desabou sobre a calçada, justamente no momento em que o cantor descia do carro para percorrer os dois metros de distancia que separavam o veículo da porta do estabelecimento. Para preservar sua integridade física, empurrei o artista até com certa violência para o interior da loja. Felizmente, ninguém se feriu naquele incidente.

          Voltando ao assunto inicial, o bom relacionamento do João Câncio com o Chefe Nassura foi preponderante na minha entrada no rádio. Contudo, no primeiro momento não deixei o Mercado do Sapato. Então, em novembro de 1963, comecei a carreira de radialista na Rádio Cultura, na função de sonotécnico, hoje operador de áudio. Foi muito gratificante para mim, fã de carteirinha do rádio começar uma nova vida ao lado de todos aqueles profissionais que eu tanto admirava. Naquele tempo, a profissão de radialista ainda não era regulamentada. Talvez por isso os profissionais da área fossem discriminados, e eventualmente, tratados como marginais. Embora a primeira transmissão radiofônica no Brasil tenha acontecido oficialmente no Rio de Janeiro em sete de setembro de 1922, a atividade só seria regulamentado 55 anos depois, em 12 de dezembro de 1978, através da Lei Nº. 6 615, assinada pelo presidente Ernesto Geisel (1907 – 1996).

          Introduzido na equipe, agora só faltava o nome artístico. Pereira Júnior era o chefe de operadores e irmão do locutor Barsanulfo Pereira, que anos depois se tornaria meu companheiro na TV Morena. Pereira Júnior não teve a menor dificuldade para escolher meu pseudônimo: Brazinha, por causa da logomarca do Mercado do Sapato, onde ainda trabalhava no horário comercial. Este apelido carreguei por muitos anos; só me livrei dele quando fui trabalhar na TV Morena em 1966, quando o “nome de guerra” passou a ser Corrêa de Souza.

          Quando cheguei à Rádio Cultura, a equipe era formada por profissionais como Kamiya Júnior, Rádio Maia, Ramão Achucarro, Carlos Achucarro (Juca Ganso), Adelino Praieiro, Gomes de Moraes, Doralice Vargas, Barsanulfo Pereira, Mário Mendonça, Pereira Júnior, Ciro Nascimento, Reynaldo Costa, Sultan Raslan, Antonio Carlos de Oliveira, Armando Tibana, Paschoal Torquia, Hercules Torquia, Milton Castelo, João Paulo Ábrego, Adolfo Rondon, Jesus Pedro e o dentista José Elias Makaron apresentador e subgerente da emissora. O doutor Makaron produzia e apresentava os programas Não Diga Não e Penumbra Musical. Este último era um show romântico que tinha como atração principal as poesias musicais registradas nos 14 LPs Salão Grená, do radialista Collid Filho, um comunicador nascido em Belém do Pará em oito de abril de 1930. Collid Filho trabalhou na Rádio Tupi do Rio de Janeiro de 1949 até sua morte, em seis de março de 2009, apresentando o programa de mesmo nome.

          Diariamente, às 06h00min a Rádio Cultura apresentava um programa sertanejo com Juca Ganso, pseudônimo do locutor Carlos Achucarro, irmão de Ramão Achucarro. Os dois estavam incluídos entre os mais importantes profissionais do rádio campo-grandense. Tempos depois, Juca se transferiu para a concorrente Rádio Educação Rural para fazer História, ao apresentar A Hora do Fazendeiro, um programa sertanejo que se tornou o show radiofônico de maior audiência do rádio do Mato Grosso integrado em todos os tempos. Ramão Achucarro morreu aos 78 anos, em 20 de agosto de 2009, e Juca Ganso aos 84 anos, em sete de agosto de 2013.

          As emissoras de rádio do interior, pelo menos em Campo Grande reinavam absolutas no cenário da informação e do entretenimento. Porém, como não existia nenhum organismo ou instituto capaz de fazer a medição dos níveis de audiência das Rádios Cultura, Educação Rural e Difusora, alguns anunciantes nacionais de peso se encarregavam, eles mesmos, de buscar os resultados da audiência dessas três emissoras da cidade. Exemplo disso era a Sidney Ross, uma antiga indústria farmacêutica multinacional. A cada seis meses, ela enviava uma equipe de divulgação para realizar pesquisas, e aí, determinar qual a rádio mais ouvida. Durante a semana, eles distribuíam seus produtos entre a população, na forma de brinde. Depois de contabilizar os resultados, a emissora que apresentasse o melhor desempenho na audiência, era contemplada com o contrato para veicular os anúncios dos produtos da Sidney Ross: Sonrisal, Padrax, Leite de Magnésia de Phillips e Pílulas de Vida do Dr. Ross. Justificando seu slogan A Emissora que a Cidade Ouve, a Rádio Cultura sempre vencia a concorrência.

          Mesmo operando com uma aparelhagem bastante precária, a Rádio Cultura era um veículo de comunicação bastante eficiente para os padrões da época. A única mesa de som (ou console) da emissora era uma acanhada STP (Sociedade Técnica Paulista) valvulada. Para que a rádio não saísse do ar, eram necessários alguns cuidados, especialmente com o nível do áudio. Havia a necessidade de se observar com muita atenção o ponteiro do VU (abreviatura do inglês Volume Unit), um dispositivo padrão parecido com um velocímetro, o responsável pelo ajuste do nível do sinal de áudio que entra na mesa.

         Nesse caso, quando o esse limite era ultrapassado, a emissora saía do ar, porque transmissor de rádio não suportava excessos. Isso acontecia porque não existia um limitador, uma ferramenta milagrosa que mantém os sinais de áudio em um nível previamente estabelecido; ou seja, tudo na mesma “altura”. Para não causar interrupção na transmissão era necessário mixar as músicas, os comerciais, as vinhetas e a voz do locutor no mesmo nível. Complicado, porque o VU daquela mesa STP era muito pequeno, do tamanho de um relógio de bolso.

          Essa precariedade vinha não só da dificuldade da direção em conseguir atualizar seus equipamentos junto a emissora mãe, a Rádio Bandeirantes de São Paulo, como também da pouca oferta do conjunto de aparelhos e acessórios oferecidos pela indústria nacional da época. A emissora operava sem um link, o equipamento que, operando sem fios, realiza o enlace do estúdio onde é gerada a programação com a torre transmissora. Essa operação era realizada por cabo, através de uma linha telefônica metálica chamada Linha Privada, mais conhecida como LP. Linhas digitais de alta velocidade, canais de satélite ou outras ferramentas disponíveis agora, eram pura ficção científica.

          A torre da Rádio Cultura ficava na Rua 13 de Maio próximo ao Cemitério Santo Antônio. Essa distância comprometia sobremaneira a qualidade do áudio irradiado pela emissora. Por isso, a  LP requeria uma manutenção constante. Uma vez por mês, durante a madrugada, a manutenção técnica fazia um mutirão para percorrer o circuito, e dessa forma, verificava sua integridade. Nessas noites, o Chefe Nassura patrocinava um lanche regado a guaraná e cerveja.



Alô, estúdio, “tá” me ouvindo, balança a torre!

         

Operador tentando fazer contato com o estúdio


          É claro que a frase acima é exorbitante. Nunca chegamos a tanto; porém, passamos bem perto disso. Tudo porque a cobertura de eventos esportivos, inaugurações, shows e acontecimentos políticos requeriam certos cuidados no momento da montagem dos equipamentos, pois a comunicação evento-estúdio era minguada. Hoje existem inúmeras facilidades proporcionadas pela tecnologia de ponta; para que o evento seja reportado com sucesso, os técnicos realizam a operação inicial com bastante segurança, comunicando-se com a base através de aplicativos de celular, de uma linha interna ou de algum tipo de rádio transmissor. Mas lá, em 1963, a não ser por um telefone fixo da padaria da esquina ou de alguma residência, não havia nenhuma ferramenta capaz de cumprir essa função. Contudo, nem sempre o dono do telefone fixo se mostrava disposto a colaborar. Em último caso, o operador de externa lançava mão do procedimento padrão, que consistia, em primeiro lugar, conectar o equipamento com a LP designada pela Companhia Telefônica; em segundo, chamar o colega do estúdio - que a essa altura já estava alerta, na escuta e pronunciar essa frase:

 

          “Alô estúdio, alô estúdio, se estiver me ouvindo, dá um picote na música. Se estiver chegando bem, dá dois picotes. Se estiver chegando mal, dá três picotes”.

 

          Imagina o prejuízo na qualidade da transmissão da programação da emissora, pois esses picotes eram dados com a rádio no ar!

          Em sete de março de 1971, para a inauguração do Estádio Universitário Pedro Pedrossian, o operador de externas escalado para fazer a conexão estádio/estúdio para a transmissão daquele evento histórico não imaginava o sufoco que passaria momentos antes de abrir as reportagens. Por ser um acontecimento importante, ele se dirigiu muito cedo ao ponto do evento carregando, como sempre, vários rolos de fios, cabos de microfone e malas cheias de equipamentos e ferramentas. Vida dura. Era preciso sempre levar muito mais do que o necessário. Para aqueles profissionais não havia obstáculos; se necessário, escalavam um poste ou pulavam um muro, em busca de uma linha telefônica. Já no estádio novinho em folha, o operador abriu a cabine da Rádio Cultura, instalou os equipamentos e aplicou aquele procedimento padrão:

 

           “Alô estúdio, alô estúdio, se estiver me ouvindo, dá um picote na música. Se estiver chegando bem, dá dois picotes. Se estiver chegando mal, dá três picotes”.

 

          Porém, desta vez, justo desta vez, o operador do estúdio no ar não “picotou” a programação. O técnico tentou várias vezes, e nada. O tempo passava, e ele se desesperava. Perdeu a esportiva ao gritar e socar o equipamento, torcendo para que o responsável pelo insucesso fosse um simples mau contato. Para tirar a dúvida, procurou o técnico da Companhia Telefônica e solicitou um teste na linha. Enquanto esperava por uma solução, o operador de externas caminhava pelo corredor que dá acesso às cabines de rádio, roendo as unhas e fumando um cigarro após o outro. Observando atentamente o trabalho dos companheiros das grandes emissoras do país presentes no Estádio Morenão naquele dia de inauguração, ele ficou frustrado ao ver, na cabine da Rádio Bandeirantes de São Paulo o colega paulista, com muita calma, conectar seu equipamento ao circuito previamente designado pela Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações). O profissional colocou o headphone, ligou seu amplificador de linha de transmissão, e falou ao microfone, sem gritar:

 

          “Alô São Paulo! Alô, Bandeirantes! Aqui Morenão em Campo Grande. Tudo bem por aí? Aqui o tempo está bom, tudo certo, casa cheia, etc. Etc. O evento vai começar no horário programado”.

 

          Felizmente, a linha da Rádio Cultura funcionou a tempo, e a emissora transmitiu o jogo com sucesso.



          Presenciei o sofrimento do companheiro porque eu estava ali integrando a equipe da TV Morena, que marcou presença para gravar a inauguração do estádio; não precisei enfrentar o mesmo problema que ele, pois a o Canal 6 ainda não transmitia ao vivo. Estávamos no estádio com uma unidade de gravação externa, comandada pelo cinegrafista Luiz Neves. As duas câmeras foram operadas pelo Jesus Pedro e pelo Milton Castelo, e eu fui o responsável pela gravação do áudio.

          A festa de inauguração do Estádio Pedro Pedrossian, mais conhecido como Morenão foi um sucesso. O Flamengo venceu o Corinthians pelo placar de 3X1. O primeiro gol da história do Morenão foi marcado pelo ponta direita rubro-negro Buião. O goleiro do Corinthians era Ado, atleta que defendeu o Timão entre 1969 e 1974, e integrou a Seleção Brasileira tricampeã do mundo em 1970 no México, como reserva de Félix.

          As coisas só melhorariam de forna acentuada para e equipe de transmissão externa da Rádio Cultura depois que a emissora passou para as mãos do Grupo Correio do Estado. Seu diretor José Maria Hugo Rodrigues, o grande responsável pela modernização da emissora adquiriu um transmissor UHF para o carro de reportagens, cuja função era auxiliar nas transmissões do jornalismo. Assim, a comunicação local do evento-estúdio passou a ser feita com mais segurança, sem aqueles terríveis “picotes” propositais que prejudicavam o bom andamento da programação.

          O técnico de manutenção encarregado do bom funcionamento dos equipamentos da Cultura era o sargento Alfredo. Descendente de alemães, ele era o protótipo do militar “Caxias”, um homem metódico e muito ordenado, sob todos os aspectos. Para ele, a regra número 1, era jamais permitir que qualquer operador efetuasse consertos, reparos, reposição de peças, instalação - e muito menos proceder a troca de equipamentos pertencentes ou não, à rádio. Manutenção era atribuição sua; ele não abria mão disso. “Cada macaco no seu galho”. Porém, o problema aparecia quando um equipamento apresentava defeito. Mas nem sempre o sargento Alfredo estava disponível no momento, porque ele ainda estava na ativa. Era preciso esperar pelo fim do expediente no antigo quartel das Comunicações, onde ele servia.

          Na metade dos anos 1960, o João Paulo Ábrego era o operador responsável pelos programas da manhã. Sabemos que a parte da manhã é largamente considerada como horário nobre para o rádio. Os profissionais que atuam nesse período são os que ficam mais expostos à todo tipo cobranças. No caso da Rádio Cultura, o operador, além de colocar no ar os programas gravados como o horóscopo do Omar Cardoso e as rádio novelas por exemplo, inseria a voz do comunicador, as trilhas, as canções de sucesso, os ouvintes pelo telefone, os efeitos sonoros e os comercias. Sentindo a necessidade de imprimir um “colorido” na plástica da emissora, o João Paulo trouxe de casa uma vitrola Delta e a instalou na mesa de áudio. Agora ele contava com três toca discos; um avanço! Mas deu ruim. Ao infringir a regra número 1 do sargento Alfredo, (que era nunca modificar a configuração do equipamento), o João Paulo levou uma bronca e perdeu seu periférico. O “apoio adicional” não durou nem uma semana. Quase perdeu o emprego por causa da sua "ousadia".

          Porém, ele não teria criado aquele incidente, se estivesse disponível para nós pelo menos uma cartucheira - a máquina reprodutora de cartuchos - uma ferramenta poderosa que revolucionou as operações do veículo rádio a nível global, e no no Brasil, no início da década de 1970, tornando possível imprimir aquele “colorido” proposto pelo João Paulo Ábrego, que era um profissional bastante diferenciado e criativo.

          Uma vez que as gravadoras não tinham na Cidade Morena um serviço de divulgação, as emissoras de rádio não conseguiam lançar as músicas que faziam sucesso nos grandes centros, o que contrariava a regra número um do veículo rádio: o imediatismo. Ficávamos, então, na dependência do favor de alguém que viajasse à São Paulo ou Rio de Janeiro, para nos trazer as novidades musicais. A única loja especializada em música em Campo Grande era A Primorosa, que hoje ainda está em funcionamento na Rua 14 de Julho.

          Um dia, o João Paulo teve uma ideia genial, digna de registro: gravar os sucessos das paradas através do sinal do “possante" receptor multibandas Zenith da redação de jornalismo. Dotado de antena de boa qualidade, o rádio escuta oferecia uma boa qualidade na recepção de músicas. Montamos então o gravador de rolo na salinha de apuração do jornalismo. O Zenith estava sempre sintonizado na emissora mãe, a Bandeirantes de São Paulo, que na época entrava estourando nas altas horas. Foram várias as “sessões de gravação” nas madrugadas. Mas para mim, o registro que mais marcou naquelas ações foi a música Rua Augusta, o maior sucesso do cantor Ronnie Cord (1943 – 1986) e lançada pela RCA Victor em 1964.         

          Quando essas gravações iam para o ar, notávamos que, por incrível que pareça, havia pouca perda na qualidade, pois o som da nossa emissora era bastante precário, já que o enlace Estúdio/Transmissor era feito através de LP analógica. Estávamos em maio de 1964.


Porque nas madrugadas?

          As grandes emissoras, mesmo transmitindo em AM chegam ao interior com qualidade quase sempre superior às rádios locais, principalmente durante a noite, quando é possível captar sinais dessas emissoras distantes que não podem ser alcançadas durante o dia. Isso porque nesse período, a região mais baixa da ionosfera da Terra se mantém ionizada, entre 60 e 400 quilômetros de altitude. A ionosfera, que é camada da atmosfera que permite a refração de ondas de rádio se divide em quatro níveis: D, E, F1 e F2). Este fenômeno causa a absorção das ondas que vão em direção ao espaço. Durante o dia, essa ionização é tão forte que absorve e anula as ondas de rádio que caminham rumo ao infinito. Porém, à noite, sem a radiação solar, a camada E extingue seus íons rapidamente. Dessa forma o fenômeno da ionização não tem força para absorver as ondas de rádio; elas ganham alcance e são rebatidas e enviadas de volta para a Terra, se propagando com mais facilidade.


O maravilhoso cartucho sem fim

          Para melhorar nosso trabalho, era bastante comum nos reunirmos na técnica da Rádio Cultura para bater papo e escutar as transmissões esportivas das emissoras de São Paulo e Rio de Janeiro. Quase sempre, discutíamos sobre a Rádio Globo da capital carioca. Ficávamos impressionados com a qualidade das vinhetas que compunham sua movimentada plástica. Como ainda ignorávamos a existência da cartucheira, cada um tirava sua própria conclusão. Como era possível toda aquela dinâmica na introdução de tantos “sinais eletrônicos” e vinhetas nas transmissões de futebol? A opinião geral é que havia mais de um operador no horário, trabalhando com pelo menos três toca-discos. Tal como um copiloto.

          Estávamos no início da década de 1970. Para nós, o único efeito sonoro especial numa transmissão de uma partida de futebol era a famosa gaita utilizada pelo compositor e locutor esportivo Ari Barroso (1903 – 1964), autor do clássico da MBP Aquarela do Brasil. Assim, passávamos o tempo discutindo e tentando encontrar possíveis maneiras de melhorar nossas transmissões esportivas. Porém, sem resultados satisfatórios, pois o equipamento disponível era muito limitado.

          O cartucho sem fim revolucionou a operação do rádio no Brasil no início da década de 1970. Nos Estados Unidos, onde foi desenvolvido, ele foi introduzido na metade da década de 1950. Sua trajetória começa em 1952, quando o técnico Bernard Cousino (1902 – 1994), - dono da Cousino Electronics em Toledo, Ohio, criou um dispositivo de plástico que alojava um rolo de fita de gravação magnética padrão ¼ de polegada, cujas pontas eram juntadas, formando um loop infinito. Mas o dispositivo apresentava dois problemas que dificultavam sua operação: a dificuldade do deslizamento da fita e a energia estática causada pelo atrito.

          Para resolver a questão, Bernard Cousino desenvolveu e patenteou um material lubrificante a base de grafite, com o qual a fita era revestida. Isso permitiu seu deslizamento continuo entre as camadas do rolo e eliminou a estática, pois a grafite também é um condutor.

          Em 1954, o técnico George Eash (1911 - 1980), trabalhando na mesma oficina de Cousino desenvolveu um cartucho sem fim a partir da ideia anterior. Eash batizou o dispositivo de Fidelipac, o primeiro cartucho de fita de áudio disponível comercialmente. Eash recebeu uma patente pelo seu invento em janeiro de 1954. Originalmente, o Fidelipac vinha com um formato de gravação analógica em dois canais: um para gravação de áudio de programa, e o outro para gravação de um sinal (apito) eletrônico chamado cue, cuja função era fazer parar automaticamente o cartucho. As versões posteriores utilizavam três canais: dois para áudio estéreo, e o terceiro para o cue. 

          O Fidelipac foi introduzido comercialmente em Las Vegas em 1959, pela empresa Collins Radio no NAB Show, uma feira anual promovida pela NAB (National Association of Broadcasters). Este é o mais importante evento do mundo dirigido à profissionais de rádio, TV, cinema e multimídia do planeta. O cartucho foi amplamente utilizado até o final dos anos 1990, quando foi substituído gradativamente por novas mídias como o MD (Mini Disc) e o DAT (Digital Audio Tape), e finalmente pelo computador.

          José Cláudio Barbudo, mais conhecido como Formiga é um profissional que fez história no rádio brasileiro. Durante nossas reuniões para discutir a plástica das jornadas esportivas da Rádio Globo, não tínhamos ideia que era ele o principal responsável por aquela revolução na plástica da emissora carioca, que depois se tornou um padrão a ser seguido por todas as rádios do país: pequenas e grandes. Formiga é o criador das vinhetas que marcaram as transmissões da Globo: Ti Ri Ti da Loteria Esportiva, Apitinho da marcação de tempo, o nome dos cinco grandes clubes do Rio de Janeiro e a vinheta Fiel - Rádio Globoooo na voz do cantor Fábio. Essa vinheta era uma espécie de carimbo da Rádio Globo. Ela estava no DNA da emissora. Não por coincidência, tudo começou a desmoronar depois que os gênios que promoveram o desmonte do SGR (Sistema Globo de Rádio) tiraram do ar essas e outras vinhetas. A emissora ficou sem "cara". Infelizmente. Mas a obra prima do Formiga é a vinheta Brasil-sil-sil na voz do locutor Edmo Zarife (1940 – 1999), criada em 1968 para ilustrar os jogos da Seleção Brasileira.

          Particularmente, lá nos anos 1960, eu imaginava que um dia ia trabalhar em uma emissora da capital carioca, muito porque meus pais haviam se mudado para o Estado do Rio em 1963; mas não supunha que fosse na Rádio Globo. Muito menos, que teria como comandante o próprio Formiga. Então, dentro da profissão que abracei, me sinto honrado e gratificado por isso.


          Formado em engenharia de áudio pelo RIAA, Associação Americana de Áudio da Indústria de Gravação (em inglês Recording Industry Association of America), Formiga hoje é consultor de áudio para emissoras de Rádio. Fico muito grato à ele por este depoimento exclusivo, com bastante humildade e muito conhecimento de causa.         


“Desde seu começo, na década de 20 do século passado, até os anos 60, o rádio dependeu de discos para irradiar a maior parte de seu conteúdo. Discos gravados por processo acústico, prensados em goma laca, eram reproduzidos em gramofones e estes colocados em frente aos primeiros microfones das primeiras emissoras. Com o advento da gravação elétrica, em 1925, o 78 RPM que conhecemos tomou conta do mundo. Nas rádios, outra invenção, o ‘disco-instantâneo’, um disco com base de alumínio e superfície de nitrato, se tornou o meio único para gravação e reprodução "instantânea" de prefixos, comerciais, efeitos-sonoros, programas. Esse disco acabou sendo conhecido como "acetato", apesar de não ter nada de acetato em sua fórmula. Em uma técnica de uma estação de rádio da época sempre se encontravam dois ou mais toca-discos. O operador de áudio se revezava trocando os discos e irradiando as faixas certas dos acetatos. Um programa com várias subseções requeria um acetato de até 16 polegadas e muitas faixas, às vezes mais de 20. Errar a faixa, tocar o segmento errado, era um erro imperdoável - apesar de ser bem comum acontecer. E assim foi, até a invenção da gravação em fita magnética, pelos alemães, no final da década de 1930, e sua popularização, graças ao envio de duas máquinas Telefunken por um major do exército americano, Jack Mullin, da Alemanha derrotada e ocupada, para os Estados Unidos, um dos países aliados vencedores. Foram essas duas máquinas - e uma pequena quantidade de fitas magnéticas, com elas "exportadas" para os EUA - que permitiram que Bing Crosby gravasse seu programa em rede com antecedência, editando os possíveis erros cometidos. Mesmo com a popularização da gravação em fita, os discos, agora LPs em vinil, e os acetatos, continuavam sendo indispensáveis. Operar pequenos segmentos usando gravadores de fita era muito difícil, as máquinas eram enormes, encontrar um pequeno segmento a ser irradiado exigia tempo, não era acesso direto, como uma faixa em um LP ou em um acetato. No meio dos anos 1950, um equipamento que usava um cartucho plástico, contendo fita magnética com gravações de música instrumental, embalada e colada em um espiral sem fim, usado como música ambiente em edifícios comerciais, começou a ser analisado, por mais de um engenheiro de rádio, como possível substituto do acetato. O lançamento das primeiras máquinas foi em uma convenção da NAB, pela Collins Radio, em 1959. E quem viu, quis comprar. Só que a demanda era muito maior que a oferta. Somente no meio da década de 1960, com vários fabricantes tendo concordado em adotar um padrão comum, as ‘cartucheiras’, o ‘cartucho’, conseguiu realmente se firmar como o substituto total dos acetatos, nas estações de rádio. As primeiras cartucheiras foram trazidas para o Brasil pela TV Globo, por volta de 1966. Eram poucas unidades. Que foram imediatamente colocadas em ação, substituindo os acetatos. Um ano se passa, aparece a Loteria Esportiva, a Rádio Globo começa a fazer boletins sobre as apostas nas Jornadas Esportivas e surge a necessidade de se ter um jeito para que o plantonista, que acompanhava os resultados, disparasse o sinalzinho, o ‘ti-ri-ti’ que anunciava um novo boletim no meio da jornada. Com os acetatos ficava muito difícil a operação remota do sinal. Por insistência, a TV Globo acabou cedendo uma cartucheira e alguns cartuchos para a Rádio Globo. E logo essa cartucheira estava reproduzindo não só o ‘ti-ri-ti’, mas o ‘apitinho’ da marcação de tempo, e o fiu-fiu - radio globoooo’ com o Fábio. E logo essa cartucheira não bastava mais - e a Rádio Globo tratou de importar outras máquinas. E a grande transformação na plástica do rádio brasileiro começou. Livre dos acetatos, do medo de errar as faixas, com um cartucho para cada efeito, sabendo que, ao colocar o cartucho na cartucheira e apertar o botão play, o áudio desejado ia ser reproduzido, as invenções começaram. Sinais sonoros, textos ‘foguete’, todos os comerciais, os mais diversos prefixos, pequenas vinhetas cantadas, a sonoplastia, os tiros, sirenes, freadas de carro, ruídos de lutas, a maior parte da parafernália que exigia muitos acetatos, em muitas faixas, fora um contra-regra, dentro do estúdio, complementando com ruídos feitos "ao vivo", passou a ser gravada, guardada, reproduzida em cartuchos individuais. As transmissões esportivas foram recheadas de gritos de clubes estilizados, marcações de tempo, de vinhetas cantadas com os nomes dos narradores e repórteres, com sonoplastia para acompanhar o jogo. Claro que os outros programas, toda a programação de todas as rádios, ganhou um enorme impulso, uma enorme dinâmica. Um noticiário típico, de 5 minutos, como ‘O Globo no Ar’, passou a ter, além do prefixo e sufixo convencionais, uma pré-chamada, um sinal que antecedia a hora local, outro para as manchetes, outro para a previsão do tempo, ainda outro para destacar a notícia final, a mais importante. Cada atração, em cada programa, se utilizava dos cartuchos e cartucheiras para inserir ‘marcas sonoras’ nas atrações, marcar intervenções, anunciar as reportagens feitas externamente, irradiar joguinhos onde o ouvinte apostava contra o cartucho.  A Globo chegou a ter um horóscopo, em um de seus programas matutinos, onde as previsões para cada signo eram gravadas em cartuchos independentes; múltiplas previsões, por signo, lidas na voz do Honório de Souza, gravadas em um cartucho etiquetado ‘Áries’, por exemplo. Na hora que o comunicador dizia ‘agora as previsões de hoje para o signo de Áries’, o operador colocava o cartucho na cartucheira e acionava o play para a que estivesse ‘no ponto’, ‘no cue’, um sinal de controle que garantia que a gravação estava sempre pronta para ser irradiada. E assim era irradiada a previsão de Áries para aquele dia, totalmente ‘ao acaso’, sem que nenhum astrólogo tivesse sido consultado, escrito a previsão (Jung diria que essa era a melhor maneira: o Cosmos, ao acaso, encontrando o melhor para o signo naquela data). Sem falar na hora certa - segundo a segundo - gravada pelos comunicadores e adiantada para o tempo certo, pelo operador, na hora de serem irradiadas, quando o programa do comunicador era gravado, para parecer ‘ao vivo’. Credito o lançamento das vinhetas faladas humorísticas a um operador de áudio: Luis Carlos Auad. E posso dar o crédito pois estava presente no dia em que aconteceu. Durante uma das jornadas esportivas dominicais, o Auad foi para o interior do estúdio, fones no ouvido, e pediu que se ligasse um dos microfones. No primeiro lance duvidoso narrado pelo Waldir Amaral, Auad soltou um ‘barbaridade’ no microfone. Waldir de início embatucou, depois soltou uma grande gargalhada, o fato virou comentário nos corredores da emissora, logo o Mário Luis pegou o Auad e registrou o ‘barbaridade’ dele em um cartucho, que começou a ser reproduzido nas jornadas - e logo, logo, os artistas da Rádio gravaram outras palavras, outros chavões foram criados, comediantes apareceram na emissora para registrar suas criações mais recentes e te-las irradiadas em toda a programação - e uma nova arma na plástica do rádio apareceu e se desenvolveu. Há chavões que tem décadas no ar. O ‘ooobaaa’, usado por muitas emissoras, em todo o Brasil, é o inicio da faixa de um LP do organista Ed Lincoln. Virou ícone. A técnica de rádio com dois toca-discos, pouco usados, mais três ou mais cartucheiras multi-boca, capazes de reproduzir até dez cartuchos por vês (a famosa Spotmaster Ten-Spot), as prateleiras das Técnicas e Estúdios forradas de cartuchos, a figura do Operador de Áudio carregando prateleiras de aço cheias de cartucho e trocando essas prateleiras com a do Operador que ia render, cada prateleira carregando os múltiplos áudios que iriam ser utilizados no programa que estaria entrando no ar, se tornou comum em qualquer emissora do Brasil. Com o advento dos primeiros PCs e sua utilização nas estações de rádio, as cartucheiras e cartuchos começaram a desaparecer. Hoje, as técnicas são uma parede de monitores com tela sensível, ‘touch-screen’. Olhadas com atenção, essas telas se dividem em inúmeros quadradinhos coloridos. Cada quadrado desses, quando apertado ou acionado através de um mouse, toca um som, que ali está catalogado como um arquivo. São as cartucheiras digitais, imensos bancos de áudio, estocados em servidores, responsáveis pela gravação, guarda e emissão, quando solicitados, de todo o repositório de áudio de uma emissora de rádio. Mas muitos profissionais ainda sentem saudades dos tempos das reais cartucheiras. Do meio físico. Do gesto, da força necessária para empurrar um cartucho em uma cartucheira, do contato físico, da pressão que era necessário fazer no botão de play para que o áudio soasse. E, muitos, das falhas imprevistas que aconteciam; do apertar o play e não sair áudio: alguém tinha tirado o cartucho da cartucheira antes que ele estivesse ‘no ponto’, a parada comandada pelo tom de 1Khz que sinalizava o início do áudio; ou então apertar o botão de play em uma cartucheira Spotmaster Five Spot - e o cartucho saltar da máquina e atingir a testa, formando um galo”.

         

          “Sim, acontecia. Good old times!”.


"Sou um deputado"


Antonio Carlos de Oliveira, ex deputado federal


          O Rádio é um excelente veículo para quem pretende se lançar na política. É uma prática bastante comum, aspirante a cargos eletivos participar de programas de utilidade pública, principalmente naqueles shows em que predominam os debates populares. Na Rádio Cultura, tive a oportunidade de trabalhar com vários comunicadores que, usando o rádio como plataforma política, lançaram suas candidaturas. Alguns obtiveram êxito, como Antônio Carlos de Oliveira, na época um estudante de 16 anos, como eu. Carlinhos foi trazido pelo Dr. Makaron, que acreditava no seu potencial como locutor. Mas ninguém imaginava que aquele jovem com jeito de caipira que vinha para o trabalho pedalando sua bicicleta se tornaria, em poucos anos numa das mais atuantes figuras do cenário político nacional na década de 1970, os chamados Anos de Chumbo, período mais duro e repressivo da ditadura.

          Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e Ciências Econômicas, Antônio Carlos começou a carreira política como vereador em 1969 pelo antigo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), - partido que em 1980 evoluiu para PMDB - a principal força de oposição ao governo militar. Eleito deputado federal em duas legislaturas - 1974 e 1978 – ele desenvolveu em Brasília uma intensa atividade parlamentar, participando das Comissões Permanentes de Economia, Indústria e Comércio, Finanças, Redivisão Territorial e Política Demográfica e Desenvolvimento da Região Centro-Oeste. Fez parte também da CPI da Loteria Federal, Loteria Esportiva, Carnês e outras modalidades de Sorteios, Poupança e Crédito, analisando suas repercussões sobre a economia popular, e do Sistema Fundiário e Reservas Indígenas.

          Na capital federal, durante a sessão da Câmara dos Deputados de 15 de maio de 1979, o deputado Antônio Carlos de Oliveira (MDB-MT) pede a palavra para protestar contra a suposta censura da casa, que havia cortado trechos de um pronunciamento feito por ele em dois de maio de 1979, e publicado com cortes no Diário Oficial no dia seguinte.

 

          “Senhor Presidente: Sou um Deputado por um Estado. Li um pronunciamento por mim redigido e pelo qual assumo inteira e total responsabilidade. Não admito que algum funcionário da Taquigrafia ou mesmo a mesa desta casa que os aproveitadores e inescrupulosos que estão no Governo são, entre outros, o Sr. General Golbery do Couto e Silva, o Major Heitor Aquino, os Srs. Ministros Simonsen e Delfin Netto, principalmente estes quatro. E mais, Sr. Presidente, para que um outro Líder, o Sr. Jarbas Passarinho, levianamente não nos tente jogar contra as Forças Armadas, pinçando um pronunciamento apanhado pela metade. Não quero aqui cobrar da Mesa quem é o responsável por essa publicação truncada, mas queremos que ela determine seja publicado, na íntegra, o nosso discurso, pelo qual assumo total e inteira responsabilidade. (...) Mas não posso e não vou admitir isso, pois sou um deputado eleito por vontade do povo de meu Estado e assumo inteira responsabilidade daquilo que digo desta tribuna. Ou ele vai a publicação, ou de nada adianta que eu esteja aqui a exercer este mandato. Ou ele vale ou não vale. E daqui para a frente, comunico a Vsa. Exª, não aceito qualquer explicação neste sentido da Mesa, e diariamente repetirei este pronunciamento desta tribuna, até que ele seja publicado”.

 

          Quem presidia a Mesa naquele dia era o 1º Secretário, Deputado pela Paraíba Wilson Leite Braga (1931 -), da extinta ARENA (Aliança Renovadora Nacional), então o partido do governo militar.

          Quando trabalhava na Rádio Jornal do Brasil, editei inúmeras reportagens enviadas pela correspondente Sonia Carneiro, direto de Brasília, citando as atuações ou entrevistando o deputado Antônio Carlos de Oliveira. Por diversas vezes, ele foi citado nos grandes jornais do país, no Jornal Nacional e em outros telejornais. Com orgulho, comentava com os companheiros da técnica minha antiga amizade com o deputado.

          O advogado Valter Pereira de Oliveira (1943 -), que se elegeu vereador por Campo Grande em 1973 e 1976, e em seguida deputado estadual em 1975 e 1979 pelo MDB antes da divisão do estado, também começou na política atuando no rádio. Bisneto do fundador da capital do estado José Antônio Pereira, Valter foi eleito deputado federal em 1979 e 1982, agora pelo recém-criado Mato Grosso do Sul. Na legislatura seguinte, ele foi eleito novamente deputado estadual (1983 – 1987), e em 1986 chegou a deputado constituinte - e - reeleito em 1990. A seguir, foi Secretário de Estado de Educação do estado, e 1995, presidente da ENERSUL (Empresa Energética de Mato Grosso do Sul).

          Na eleição de 2002, Valter Pereira elegeu-se primeiro suplente de senador na chapa encabeçada pelo Senador Ramez Tebet (1936 – 2006). Com a morte deste, Pereira assumiu em seu lugar. No senado, ele participou de várias Comissões: de Constituição e Justiça, de Agricultura e Reforma Agrária, de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle, de Desenvolvimento Regional e Turismo e de Constituição, Justiça e Cidadania. Valter Pereira integrou ainda como suplente, as Comissões de Serviços de Infraestrutura, de Direitos Humanos e Legislação Participativa e de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática.

          Fui operador dos programas do Valter Pereira na Rádio Cultura, e também do Sérgio Manuel da Cruz (1942 - ), outro comunicador que à época apresentava um programa policial de grande audiência na mesma emissora, onde ele emplacou o jargão Pau na Mula. Radialista e dono de jornal, Cruz se destacou depois como político, também pelo MDB, sendo eleito deputado estadual por duas vezes (1975 e 1979).

          Sérgio Cruz, nordestino de Salgueiro, Pernambuco participou do movimento divisionista que resultou na criação do estado de Mato Grosso do Sul, em 1º de outubro de 1977, como presidente da Comissão de Acompanhamento do Processo de Divisão de Mato Grosso, na Assembleia Legislativa em Cuiabá. Eleito deputado federal (1983-1987) atuou como titular da Comissão de Finanças (1983). Jornalista, ele escreveu para praticamente todos os jornais do estado de Mato Grosso do Sul. Foi diretor do semanário Panfleto e dos diários: Jornal do Povo e Primeira Hora. Quando disputava pela primeira vez uma vaga de deputado estadual, Cruz formou uma parceria com Valter Pereira que, por sua vez disputava uma vaga de deputado federal. Para isso, eles patrocinaram a edição de um livro de cordel, onde os dois narravam suas aventuras durante a luta contra a corrupção.

          O falecido nissei Armando Kosuke Tibana, que iniciava sua carreira de locutor comercial, era meu parceiro no ramo de vendas. Nas andanças pelos bairros de Campo Grande, vendíamos calçados, enciclopédias, coleções de livros, louças e roupas. Por volta de 1970, Tibana apresentava um show dominical produzido por mim para a Rádio Cultura, chamado Você Escolhe o Sucesso. O musical era baseado no Telefone Pedindo Bis, um programa de repercussão nacional da Rádio Bandeirantes nos anos 1950/60, lançado pelo radialista e compositor Enzo de Almeida Passos, parceiro de Adelino Moreira no clássico Negue, gravado originalmente por Carlos Augusto, e um dos maiores sucessos da carreira de Nelson Gonçalves e Maria Bethânia. Tibana tinha acabado de se formar pela Faculdade de Economia de Marília, São Paulo na mesma turma do deputado Antônio Carlos de Oliveira. No entanto, ele se sentia desmotivado, pois acabava de por fim ao seu noivado. Nessa época, o governo da Austrália havia lançado um programa de emigração favorável a todos os brasileiros que quisessem se aventurar por lá.

          Devido ao seu problema particular, Tibana resolveu deixar tudo por aqui e emigrar para o país dos cangurus, e me convidou para participar daquela façanha arriscada. Tal como ele, não atravessava um bom momento, pois meu casamento também havia terminado. Longe da minha família e me sentindo bastante solitário, resolvi seguir seus passos. Rapidamente, procuramos os órgãos competentes para formalizar os pedidos de documentação. Começamos pelas fotos 5X7 para os passaportes, mas paramos por aí. Interrompemos o projeto porque meu parceiro reatou o noivado, e eu não me sentia bem ao imaginar a vida longe do filho Bismarck, que na época tinha apenas três anos de idade. Tibana se casou em seguida e entrou para a política, se elegendo vereador.

          O que nos motivara a fazer uma mudança radical em nossas vidas era o fato de muitos brasileiros estarem se mudando para a Austrália, atraídos por um programa de incentivos lançado pelo governo de lá, cujo objetivo era preencher seus imensos espaços vazios. Por ser um país muito parecido com o Brasil em vários aspectos, muitos conterrâneos fizeram as malas e foram para lá. O mais famoso foi o pecuarista Sebastião Ferreira Maia, mais conhecido como Tião Maia. Nascido em Minas Gerais em 1º de janeiro de 1916, mas radicado em Araçatuba, São Paulo desde a década de 1940, ele foi perseguido e preso por 16 dias pela ditadura militar por emitir suas opiniões em diversas declarações publicadas na imprensa, e por sua ligação com os ex-presidentes João Goulart e Juscelino Kubitschek.  O pecuarista também foi acusado de abuso de preços numa época em que havia um sério desabastecimento de carne no país.

          Um dos empresários mais influentes e bem-sucedidos do Brasil, Tião Maia tinha uma personalidade polemica. Foi um dos primeiros homens de negócios do país a possuir seu próprio avião. Pois foi a bordo de um jatinho que ele se casou com a ex-miss Guanabara e ex-miss Beleza Internacional de 1968, a carioca Maria da Glória Carvalho (1950 -). Aquele foi o mais badalado acontecimento social do período. Saíu em todos os grandes jornais e revistas do país. Diz a lenda que o personagem Sinhozinho Malta da novela da Rede Globo Roque Santeiro, interpretado por Lima Duarte foi inspirado nele.

          Aborrecido com os acontecimentos no país, em 1976, Tião vendeu tudo que possuía no Brasil: o Frigorífico TMaia, - na época, o maior da América Latina - fundado por ele em 1952, e sua parte no controle da TAM (Táxi Aéreo Marília), embrião da TAM-Linhas Aéreas Regionais. O pecuarista foi embora para a Austrália sem falar nada de inglês, mas com muitos milhões de dólares no bolso. Naquele país da Oceania, Tião Maia chegou a possuir mais de 1 milhão de hectares e 170 mil cabeças de gado em suas duas fazendas. Por causa disto, ficou conhecido como O Barão do Gado Australiano. Mas por motivo de doença, ele voltou ao Brasil em 1992, e morreu aos 89 anos em São Paulo, em cinco de março de 2005


Difusora, Classe Aaaa...

 

          A primeira emissora comercial do antigo estado do Mato Grosso foi a PRI-7 - Sociedade Rádio Difusora de Campo Grande, - hoje Difusora Pantanal - inaugurada em 26 de agosto de 1939. Na década de 1950, Sabino Presa, um carismático comunicador apresentava nas manhãs de domingo um programa de calouros que revelou alguns nomes para o cenário musical do país. O auditório da emissora ficava na Rua 14 de Julho no mesmo prédio onde funcionou o Cine Trianon, inaugurado em 1932. No local atualmente fica a Galeria São José, o primeiro “arranha céu” da Cidade Morena.

          Sabino Presa lançou em seu programa artistas como Franquito, O Prodigioso, um cantor mirim que lançou uma série de LPs de sucesso pela gravadora Copacabana, e chegou a fazer o filme Meu Destino em Tuas Mãos (1959).

          A dupla sertaneja Delio e Delinha, O Casal de Onças de Mato Grosso também começou a carreira na Rádio Difusora. Artistas mato-grossenses mais bem sucedidos desse período, a dupla atuou nas Rádios Bandeirantes e 9 de Julho, na capital paulista. Apadrinhados pelo lendário compositor Zacarias Mourão (1928 – 1990), Delio e Delinha assinaram contrato com a gravadora Califórnia, onde, em 26 de março de 1959 registraram o primeiro disco 78 RPM da carreira, com os rasqueados Malvada e Cidades Irmãs. Depois, vieram inúmeros de LPs de sucesso. Delio nasceu em Vista Alegre, Rio Grande do Sul em nove de abril de 1925, e morreu em Capo Grande aos 84 anos, em nove de fevereiro de 2010. Delinha também nasceu em Vista Alegre em sete de setembro de 1936, e morreu aos 85 anos em Campo Grande em 16 de junho de 2022.

           No final da década de 1960, o locutor Luiz Landes assumiu a direção da PRI-7 e desenvolveu um projeto pioneiro e inovador. Liderando uma pequena equipe, ele implantou uma programação musical que hoje conhecemos como Easy Listening. Dirigida a um público seleto, era um estilo sofisticado e inédito na cidade, numa época em que ainda não havia rádios operando em FM. O próprio Landes era um locutor sofisticado. Com sua voz privilegiada, ele se destacava dos demais profissionais do seu tempo, pela maneira ímpar e refinada de anunciar os números musicais: 

 

          “Esse foi Johnny Mathis, escorado pela orquestra de Ray Conniff...”. Ou então, “Você ouviu Jerry Adriani cantando em português pela vez primeira”.

 

          A vinheta que identificava essa programação era simples e objetiva: Difusora: Rádio Jovem, Classe Aaaaa... Landes foi também o responsável pela instalação da primeira gravadora da cidade. A partir daí, grande parte dos spots comerciais, que na época eram veiculados em discos de acetato 78 RPM, passaram a ser gravados pela Difusora em Campo Grande, onde o operador Roberto “Bob” Oshiro matrizava as gravações numa máquina de rolo Ampex AG-350 e “cortava” os discos na gravadora Supersom.

           No final de dezembro de 1969, expressei ao Luiz Landes o desejo de produzir o especial As 100 Mais do Ano. Esse tipo de show radiofônico era veiculado sempre no dia 1º de janeiro por várias emissoras, quando em que eram executadas as músicas mais tocadas nas rádios no ano que estava terminando. Aquele era um programa que dava grande audiência e prestígio, e um proporcionava bom faturamento. Depois de conhecer o projeto, Landes imediatamente o aprovou. Ficou acordado que eu seria responsável pela produção, contratação do comunicador e a venda das cotas de patrocínio. A verba conseguida seria dividida em partes iguais: 50% ficariam com a emissora, e os outros 50% com a produção.

          Os dias que antecederam a apresentação do programa foram de muita luta. A parte mais difícil foi preencher a lista das 100 músicas mais tocadas em 1969, porque as discotecas das emissoras do interior não recebiam a devida atenção pelas gravadoras; talvez pela distância dos grandes centros. Assim, tivemos que “garimpar” nos arquivos da Rádio Difusora os discos com as canções que seriam apresentadas. Mas lá não havia a quantidade de canções necessárias. O jeito foi tomar o material emprestado com os amigos e nas lojas de discos, principalmente na A Primorosa, uma loja situada na Rua 14 de Julho, onde eram encontrados os lançamentos musicais mais recentes. Com as ferramentas disponíveis nos dias hoje, como o MP3, tudo ficou mais fácil.

          O show As 100 Mais do Ano foi apresentado ao longo do dia 1º de janeiro de 1970, pelo locutor William Franco, com quem já havia trabalhado em outras emissoras. Foi bom porque, além ter uma voz bonita, William era um grande conhecedor de música. Sendo assim, boa parte do material que precisávamos para levar a cabo o nosso projeto foi trazido por ele. No dia do acerto de contas, o Luiz Landes, além de agradecer pela grande repercussão que o programa As 100 Mais do Ano teve entre os ouvintes da emissora, surpreendeu, ao abrir mão dos 50% destinados à emissora.

          No início da década de 1970, a Rádio Difusora passou para as mãos da TV Morena. Nessa época, quem se destacou na emissora como discotecário, programador, locutor e comunicador foi Ciro de Oliveira, que havia começado a carreira no rádio em 1968, na Rádio Educação Rural como Office boy, passado a sonoplasta logo depois. Na Difusora, além de produzir, ele apresentava o programa Difusora Faixa Musical. Ciro de Oliveira agora está na FM 104 de Campo Grande (MS) há quase 20 anos.

 

Uma Antena a Serviço do Bem

 

          Esse era o slogan da Rádio Educação Rural, uma emissora que iniciou suas transmissões em 25 de agosto de 1960. Fundada pelo padre Ângelo Jaime Venturelli (1916 – 2006), colaborador das obras educacionais patrocinadas pelo Bispo Dom Antônio Barbosa (1911 – 1993), o primeiro bispo da diocese de Campo Grande. Inicialmente, a nova rádio tinha 250 watts de potência em Ondas Médias (OM), e 1 000 watts em Ondas Tropicais (OT), um segmento de Ondas Curtas utilizado por estações de rádio que se situam dentro da faixa tropical do globo terrestre. O primeiro estúdio da Educação Rural foi instalado na sede da Diocese, na Rua Rui Barbosa esquina com a Rua Dom Aquino. A direção geral da rádio era do advogado Ailton Guerra, falecido Campo Grande em 2012, aos 60 anos. Dom Antônio Barbosa se tornaria, em 1978, o primeiro arcebispo de Campo Grande, quando a cidade foi transformada em capital do novo estado do Mato Grosso do Sul.

          Por ser uma emissora comercial de orientação católica, toda a grade da programação era vigiada com muito rigor. Além da censura oficial imposta pelos órgãos de repressão do governo, a direção da Educação Rural impunha uma rígida fiscalização em sua programação musical. Quando uma determinada música era censurada pelo padre, a faixa do LP era raspada a canivete, ficando assim inutilizada de forma definitiva. Diz a lenda que o próprio padre Ângelo manejava o “canivete censor”. Dentre as inúmeras músicas que receberam a “punição”, destacam-se Fica Comigo Esta Noite, composta por Nelson Gonçalves e Adelino Moreira, e gravada pelo próprio Nelson em 1961; e Quero Que Vá Tudo Para o Inferno, feita por Roberto Carlos e Erasmo Carlos e gravada por Roberto em 1965. Surpreendentemente, anos depois essa canção que, embora tenha sido um dos instrumentos que alavancaram a carreira do cantor sofreria outra censura, desta vez definitiva, imposta pelo próprio Rei.

          Pelas ondas da Educação Rural o locutor José Garcia, A Voz Que Atravessou os Pântanos, fazia muito sucesso com as duas edições diárias do programa Mensagem de Amizade, onde o ouvinte, por meio de uma pequena quantia em dinheiro oferecia uma música a alguém como “prova de alguma coisa”, ou para quem estivesse comemorando aniversário ou uma data especial. O prefixo de abertura e fundo do programa Mensagem de Amizade para mim é inesquecível: Three Coins in the Fountain com a orquestra de Harry James, um nostálgico standard da música popular norte-americana.

          No entanto, o programa mais importante do rádio campo-grandense em todos os tempos foi, sem dúvida A Hora do Fazendeiro, apresentado por Carlos Sebastian Achucarro, o Juca Ganso, falecido em oito de julho de 2013 aos 83 anos. De segunda à sexta-feira, de 12h10min às 13h30min, ele batia todos os recordes de audiência. De grande utilidade pública, o programa tinha como objetivo levar as mais diversas mensagens ao homem do campo. Para as pessoas alheias ao que se propunha o programa, os recados ali veiculados poderiam soar de forma bizarra. Mensagens como “Atenção Fazenda da Serra! O José avisa que vai seguir no ônibus das duas horas. Ele pede para o Tonico esperar por ele na porteira. Não se esquecer de trazer um cavalo”; ou – “Atenção Chácara Morro Azul! Atenção compadre Joaquim! A Maria manda avisar que a comadre Antonia deu a luz a um belo menino e que os dois passam muito bem. Ela pede para você mandar o dinheiro pelo Pedro do caminhão de leite, pois eles vão ter alta no domingo de manhã”. Tais avisos terminavam sempre com a frase que se tornou marca registrada do programa: “Quem ouvir favor avisar”.

          A razão para o sucesso e a longevidade do programa A Hora do Fazendeiro é facilmente explicável. As comunidades rurais tinham no rádio AM a única forma de receber notícias da cidade. Naquela época não existia outra ferramenta eletrônica capaz de enviar mensagens em tempo real, a não ser o equipamento de radioamador operado por alguém dedicado à prestação de serviço. Mesmo assim, numa distante fazenda, ou no povoado mais próximo. A telefonia rural ainda era um sonho; e os Correios entregavam cartas e telegramas apenas em alguns postos ou locais pré-determinados. A Hora do Fazendeiro é o único programa introduzido no início da década de 1960 pela Rádio Educação Rural, ainda mantido pela Rádio Imaculada Conceição. Atualmente ele é apresentado pela jornalista Mirtes Ramos.     

          Pela Rádio Educação Rural, às 13h30min, a “juventude sadia e estudiosa” parava para ouvir o Juventude em Brasa, um programa de meia hora apresentado por João Bosco de Medeiros, integrante da Turma dos Oito, uma espécie de confraria formada por grupo de adolescentes que se reunia nos fins de semana para curtir cinema ou ouvir música, e eventualmente bebericar uma cuba libre. O grupo não tinha uma liderança definida, mas quem dava sempre a última palavra era o doutor Júlio Lechuga Gasparoto, que na época cursava o ginasial, e nas horas vagas, fazia parte do grupo de escoteiros local. Foi dele a iniciativa de aceitar como novos membros eu e o Cleir Souza, com quem tinha grande afetividade. Dessa forma, a Turma dos Oito passou a ter dez integrantes. Nos fins de semana e feriados, íamos ao Balneário Nipo Brasileiro, que ficava nos altos da Avenida Mato Grosso, ou então, ficávamos sentados em uma das mesas espalhadas pela calçada do Gato Que Ri ou do Bambu, dois bares restaurantes da moda da Rua Dom Aquino, numa época em que ainda não se usava o termo Happy Hour. 

          A Rádio Educação Rural foi vendida à Milícia Imaculada Conceição em cinco de fevereiro de 2005, quando foi adotado novo nome e novo slogan: Rádio Imaculada Conceição - Uma Antena a Serviço da Vida.


       

          Em 28 de agosto de 1966 deixei a Rádio Cultura e fui trabalhar na TV Morena. Poderia ter sido bem antes, pois  quando a emissora ainda não estava no ar, fui contatado pelo seu diretor comercial Gasparino “Gaspar” Silva. Porém, não pude ser contratado porque me faltava a Carteira de Trabalho. Mas como? Explico: Embora aquele não tenha sido meu primeiro emprego, até ali preferi ficar na “informalidade”, pois todo empregador, costumeiramente, induzia o funcionário a agir desta maneira. Eles argumentavam que, sem assinar o documento, o empregado economizaria o desconto da previdência. Alguns empresários agregavam no salário do trabalhador uma pequena gratificação “para compensar o prejuízo”. Sobre isso, meu pai me alertou energicamente várias vezes


         "Meu filho, o tempo que você trabalhar sem registro na Carteira Profissional vai lhe fazer falta no futuro, quando for contabilizar a contagem do tempo para sua aposentadoria. Não deixe que te enrolem”.


          Uma noite, oito meses depois da inauguração da TV Morena, o Gaspar, bastante apressado, foi até à Rádio Cultura e disse que eu precisava ir com ele até o estúdio da televisão, pois eles estavam com um baita problema. O sonoplasta Edson Solón Borges havia abandonado o trabalho para cuidar de uma plantação de café nas terras altas que ele tinha arrendado na região da Serra de Bodoquena. Por sorte, o doutor Elias Makaron, então gerente da Rádio Cultura, me liberou na hora. Com a promessa de que no dia seguinte eu fosse até a sede da delegacia do Ministério do Trabalho legalizar minha situação. Chegando lá, o Sr. Antonio Barbato, delegado daquela autarquia rapidamente providenciou minha primeira CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social). Ainda tenho esse precioso documento muito bem preservado.


          Fiquei na TV Morena por cerca de sete anos, e acompanhei o desenvolvimento da história da televisão no então Mato Grosso, um tipo de mídia que havia sido implantada no Brasil 15 anos antes (TV Tupi de São Paulo). Portanto, ainda era um negócio novo no interior país na metade da década de 1960. Mas isso é outro assunto.

“Redescobrindo” o rádio

          Em 1972, deixei a TV Morena para me dedicar em tempo integral às vendas; mas isso durou pouco tempo, pois contaminado pela "febre do rádio", voltei para a Rádio Cultura; desta vez, sob o comando de José Maria Hugo Rodrigues, filho mais velho de José Barbosa Rodrigues (1916 – 2010), o fundador do Grupo Correio do Estado, que havia, recentemente, adquirido o controle da emissora.

          Minha função era abrir as transmissões da emissora às 05h00min, na época instalada na Rua 26 de Agosto entre a Avenida Calógeras e Rua 14 de Julho, num prédio reformado, onde antes funcionava uma máquina de beneficiamento de arroz. Para entrar em suas dependências, era preciso vencer alguns degraus.

          Um dia, como era de costume, cheguei 15 minutos antes para colocar a emissora no ar. No alto da escada, no escuro da marquise encontrei um desconhecido parado em frente à porta. O homem cumprimentou-me e perguntou se eu era o Corrêa. Desconfiado, respondi que sim, e procurei saber do que se tratava. Ele respondeu que seu nome era Victor dos Santos, o Zé do Brejo, e tinha vindo de Lavínia, uma pequena localidade da cidade de Fernandópolis, estado de São Paulo, região da extinta estrada de ferro NOB  )Noroeste do Brasil); passava por sérios problemas de ordem familiar e financeira, e por isso precisava recomeçar a vida em outro lugar. Pegou o trem rumo ao Oeste, e veio parar em Campo Grande.

          De fato, Zé do Brejo tinha sido contratado para preencher a vaga de apresentador do período de 05h00min as 07h00min. Como não foi possível a direção entrar em contato para fazer o comunicado no dia anterior, fiquei indeciso. Porém, abri a porta e o convidei a entrar. Fui até a  discoteca apanhar o material da programação, e para meu alívio, lá estava, junto à pilha de discos, um bilhete escrito pelo Ramão Achucarro, gerente da emissora. No papel, ele explicava que o Victor dos Santos havia sido contratado como novo titular do horário.

          O motivo da minha preocupação naquela madrugada fazia sentido, porque fora do horário comercial, o operador de áudio, além de ser o responsável pela condução da programação, também tomava conta dos outros departamentos da emissora. Abrir um microfone para uma pessoa não credenciada tornava-o responsável por eventuais problemas causados por um mal entendido. O Dentel (Departamento Nacional de Telecomunicações) e a Censura dos órgãos de segurança eram muito rígidos na fiscalização dos meios de comunicação. Em certos casos, a penalização ia de uma suspensão por 24 horas ou mais, até a cassação do canal de rádio ou de televisão infrator.

          Desfeitas as dúvidas, fomos discutir o formato do programa Rancho do Zé Brejo, o show sertanejo que em pouco tempo se tornaria líder de audiência nas madrugadas. O novo apresentador trouxe com ele três personagens virtuais que o ajudavam a fazer o programa: o cavalo Bragado, o “filho” Tributino, - um guri que “chorava” durante o programa inteiro – e o locutor-comercial-noticiarista Victor dos Santos, que era o próprio Zé do Brejo.

          Seis anos haviam se passado, desde que deixei a Rádio Cultura e fui para a TV Morena. Nesse período, de modo geral, muita coisa evoluiu na área técnica. Contudo, ainda existiam ali muitas dificuldades que impediam a boa execução de um show radiofônico. A emissora, aos poucos atualizava seu conjunto de aparelhos. No entanto, toda sua plástica ainda era feita através de vinhetas e trilhas gravadas em discos de acetato 78 RPM, porque ainda ela não havia ingressado na era das cartucheiras. Os personagens “trazidos” por Zé do Brejo eram extraídos de uma coleção de discos de efeitos sonoros; o som ambiente de fazenda (pássaros e animais) era reproduzido num loop de fita gravada e reproduzida em um gravador Akai Gx4000. Como diz o apresentador  Fausto "Faustão" Silva, "Quem sabe, faz ao vivo".

O difícil recomeço

 

          É preciso sonhar, mas com a condição de crer em nosso sonho, de examinar com atenção a vida real, de confrontar nossa observação com nosso sonho de realizar escrupulosamente nossa fantasia”.


Vladimir Ulianov (Lênin) (1870 – 1924), fundador da URSS.

 

 

          Os sonhos que sonhamos quando dormimos vêm e vão. Eles podem nos levar a qualquer tempo e lugar. Algumas pessoas têm o dom de decifrá-los; porém, existem tipos de sonho que somente os profissionais da medicina psiquiátrica que estudam o fenômeno tentam explicar: os sonhos que sonhamos quando estamos acordados. Eles são a mola-mestra que nos impulsiona e nos leva a alcançar nossos objetivos e traçar as metas que imaginamos. De acordo com o médico norte-americano Jerome L. Cantor (1924 - ), professor emérito na Universidade de Yale e membro da Associação Americana de Psicologia, cuja especialidade é a pesquisa sobre a Psicologia da Imaginação e Sonhar Acordado, é perfeitamente normal ter momentos de devaneio. Segundo ele, essas fantasias podem até nos ajudar em nossa vida real. Ele explica:

                       

         “No passado, muitos cientistas do comportamento consideravam semelhantes devaneios como isentos de significado,que apenas faziam perder tempo, e até como sintomas de problemas emocionais. Atualmente, os psicólogos aprenderam pelas investigações clínicas e experimentais que ‘sonhar acordado’ é uma coisa normal em todos os espíritos ativos. Através dos devaneios, nosso cérebro nos põe em comunicação com relatos mentais e nos mantém conscientes das tarefas por concluir em nossas vidas”.

  

          No meu caso, alguns sonhos não se realizaram; mesmo assim, eles me inspiraram muito. Neste contexto, sonhei que um dia iria trabalhar em uma rádio importante de alguma grande cidade do país. Conhecendo a mim mesmo, sabia do meu potencial. Mas jamais esquecendo que modéstia nunca é demais.

          Na década de 1960, tive duas oportunidades reais de tornar isso possível. A primeira foi em 1968, quando a TV Morena colocou no ar sua primeira produção jornalística: a série de 12 documentários produzidos Luiz Neves para o governo militar, comemorando a Semana da Pátria. O coronel da AERP (Assessoria Especial de Relações Públicas) que esteve em Campo Grande para acompanhar a operação gostou do nosso trabalho. Antes de deixar a cidade, ele perguntou se eu estava disposto a ir trabalhar no Rio de Janeiro. Quando contei a ele que meus pais moravam em São Gonçalo, no Grande Rio, ele argumentou que a transferência seria muito mais fácil; se caso aceitasse, me apresentaria ao jornalista Hilton Gomes (1924 – 1999), o primeiro apresentador do Jornal Nacional, ao lado de Cid Moreira (1927 - 2024). Segundo o militar, Hilton era seu amigo e lhe devia favores. Porém, naquele momento, não interessava deixar minha cidade natal. Tinha um bom emprego, fazia o que gostava. Assim, ficou combinado, que se eu mudasse de ideia, o procuraria, em qualquer lugar do país em que ele estivesse. Quando foi embora, o coronel deixou seu cartão, onde estavam seus endereços em Brasília e Rio de Janeiro.

           A segunda chance veio logo a seguir, quando a General Motors lançou o automóvel Opala no Brasil. Uma equipe da agencia de publicidade de São Paulo que administrava a campanha de lançamento do carro foi a Campo Grande para acompanhar a produção e veiculação das peças publicitárias. Como a sonorização (locução, efeitos sonoros e trilha sonora) era feita ao vivo, o sucesso das apresentações dos comerciais dependia muito da sonoplastia. Graças a Deus, tudo correu bem durante a semana em que a campanha publicitária foi ao ar.

          Quando o trabalho de lançamento do Opala acabou, Gasparino “Gaspar” Silva, diretor comercial da televisão marcou uma comemoração de confraternização no antigo restaurante Gato Que Ri, na Rua Dom Aquino. Para surpresa de todos que estavam sentados à mesa, durante o jantar, o chefe da equipe de publicitários perguntou seu eu gostaria de trabalhar na capital paulista, e até propôs me apresentar ao Salatiel Coelho (1931 - ), o radialista considerado criador da trilha sonora das novelas no Brasil, e primeiro sonoplasta da televisão brasileira.

          Hoje, quando olho para o meu Opala Comodoro 1984 estacionado na garagem, me dou conta que quase meio século se passou. Lembro claramente daquela noite de confraternização no restaurante Gato Que Ri, porém, nunca me arrependi por não ter aceitado aquele convite, pois tenho plena convicção que os nossos objetivos e conquistas encontram-se traçados previamente. A isso, damos o nome de destino. Graças a Deus, podemos lançar mão do livre arbítrio e escolher uma das várias opções que aparecem pelo nosso caminho.


A cidade grande

          Conhecia um pouco  da cidade do Rio de Janeiro desde muito cedo. Vasculho lembranças na minha memória, e encontro lá uma viagem que deixou profundas marcas em nossas vidas; minha e de minha irmã Marlene. Tudo aconteceu por volta de 1951 (ou, quem sabe, 1952). Eu deveria ter uns três ou quatro anos, e ela, um ano mais. Nossa avó materna morava no bairro de Realengo, e já fazia um bom tempo não a víamos. Para matar saudades, mamãe providenciou uma viagem para a capital carioca. No final de 1962,  minha família veio para cá em definitivo. Porém, fiquei em Campo Grande. No entanto, estive em São Gonçalo umas quatro vezes a passeio, antes de me fixar definitivamente.          Quando as férias acabaram, fui até a Rodoviária Novo Rio para embarcar no ônibus da antiga Viação Mato Grosso. Naquela época, para se pegar a Avenida Brasil, os coletivos entravam pela rua onde hoje fica a Via Binário e entravam na Rua Professor Pereira Reis. Na esquina com a Avenida Rodrigues Alves, que ainda não era coberta pelo viaduto da Perimetral tem um sinal demorado. Ao lado do ônibus, um jornaleiro oferecia seus produtos. Pedi um Jornal do Brasil, e dei a ele uma nota de dez cruzeiros novos, a única que eu tinha. Era domingo; sabia que aquela edição volumosa recheada de cadernos ia me ajudar a passar o tempo durante a longa viagem até Campo Grande: 22 horas sem ar condicionado.

          Enquanto esperava pelo troco, escutava o radinho de pilha ligado na Rádio Globo, que naquele momento tocava a música Ninguém Poderá Julgar-me, um grande sucesso da época na voz de Jerry Adriani. Olhei pela janela e vi o jornaleiro fingindo que trocava o dinheiro com um colega seu que estava em pé na calçada, de olho no sinal, que ainda estava vermelho. À essa altura, comecei a ficar preocupado. Segundos depois, o sinal ficou verde e o ônibus arrancou. Mais envergonhado do que aflito, botei metade do corpo para fora da janela e gritei pelo meu troco, mas o que vi não foi nada bom. Os dois pivetes, que não tinham mais do que 13 ou 14 anos, davam risadas e faziam gestos obscenos, abanando a nota de dez cruzeiros novos. Um deles gritou bem alto, para que todos ouvissem mais ou menos isso:


          “Perdeu, otário! Boa viagem!”.


          Finalmente, em 1978, eu e minha esposa Lina deixamos Campo Grande com intenção de recomeçar a vida em outro lugar. As coisas não estavam indo como esperávamos; era preciso arriscar uma virada. Ansiosos mas cheios de esperanças, tomamos o trem, o velho e bom trem da Noroeste do Brasil rumo ao Rio de Janeiro, onde, depois de algumas baldeações chegamos. Até conseguir acomodações definitivas, por algum tempo ficamos hospedados na casa dos meus pais no Bairro Porto Novo, em São Gonçalo, região metropolitana da capital. Assim que pude, fui até uma papelaria e comprei vários formulários do Currículum Vitae; preenchi os documentos a mão mesmo, pois ainda não existia o computador, - pelo menos no formato PC - e nem possuíamos uma máquina de escrever.            Agora sim, era chegada a hora de tornar realidade o velho sonho de trabalhar no rádio da cidade grande, caminhando com meus próprios pés. Mas como era possível, se me encontrava desatualizado no interior do país, há mais de seis anos fora do ramo? Enfrentar tamanho desafio na grande metrópole, a meca do rádio cujos costumes eu mal conhecia era um desafio que eu teria que enfrentar, mesmo com todos os medos e receios. Mas como disse antes, conhecendo a mim mesmo, modestamente sabia do meu potencial. Fui à luta, com a cara e a coragem. Muito pela fé em Deus.

   

          Para recomeçar, tomei coragem e procurei logo as três mais importantes emissoras de rádio do Rio de Janeiro. A primeira foi a Tupi, que naquela época funcionava na Avenida Venezuela, na Zona Portuária. Nada feito; o homem da portaria foi curto e grosso. Recolheu o currículo, e apenas disse:

 

         "Neste momento, a rádio Tupi não está contratando”.


          Em seguida, fui até o Bairro da Glória, onde ficava a Rádio Globo. Ali fui informado que o José Cláudio “Formiga” Barbedo, então chefe dos operadores estava em Las Vegas visitando o NAB Show.              Assim, nos primeiros dias não procurei colocação em outra empresa de radiofonia. Alguma coisa boa ia acontecer, pensei. Porém, algumas semanas se passaram, e nada. Quando o dinheiro começou a ficar escasso, passei a folhear os classificados dos jornais, em busca de alguma ocupação no comércio, ou em qualquer outro ramo de atividade. Pela manhã, seguia até a estação das barcas no centro de Niterói. Para não gastar dinheiro, eu ficava ficava de olho em algum leitor, esperando que ele descartasse os cadernos de classificados para então apanha-los na lixeira. Depois de escolher alguns anúncios, entrava na barca e atravessava Baía da Guanabara.

          Era outono, uma estação bastante instável mesmo no Rio de Janeiro, uma cidade tradicionalmente quente. Algumas vezes, o frio e a garoa castigavam. Num desses dias, na hora do almoço fui até a Praça 15 procurar pela carrocinha do Angu do Gomes,  um tipo de angú a baiana, mas que tinha sua própria identidade. O prato, que era vendido a preços populares foi criado pelo imigrante português Manoel Gomes em 1955. No auge da sua popularidade, o Angu do Gomes era vendido em mais de 40 pontos espalhadas pela capital carioca. Durante as madrugadas, na Praça 15 em frente à carrocinha sempre existia uma fila, e tinha clientes boêmios famosos.

          Não precisei me esforçar para encontrar a carrocinha do angu do famoso. Pedi ao vendedor uma porção, que era servida num prato muito limpo acondicionado em saquinhos plásticos. O homentando se eu preferia o “rango” bem quente. Como acabara de comentar que a garoa estava muito fria, respondi que sim. Naquela hora, comida quente era uma boa pedida. Então, ele

jogou bastante pimenta em cima das carnes que cobriam o angu. Sabendo que aquilo não ia acabar bem, meti pra dentro a primeira colherada; sentindo a boca fumegar e os olhos lacrimejarem, reclamei com o vendedor. Com ar de gozação, ele comentou, como se já esperasse o protesto:

 

          “Meu irmão, pelo sotaque, percebi logo que você não é carioca. Se liga! Quando perguntarem a você se prefere comida quente, diga que não!”.

 

           Para minha surpresa, ele descartou a comida no latão de lixo e serviu outra porção, “por conta da casa”. Agradecido, degustei com muito prazer todo o conteúdo do prato, e fiquei freguês.

          Vida dura, os dias passavam e eu não arranjava nenhum trabalho. Por sorte, o Jorge Nicolau, noivo da minha irmã Ana era o chefe dos serviços gerais da Siderúrgica Hime, uma extinta empresa centenária que ficava no Bairro de Neves, em São Gonçalo. Hoje funciona ali uma filial da Gerdau. Naquele momento, Jorge estava contratando homens para compor a nova equipe de agentes de segurança da empresa. Vendo minha situação, ele perguntou se eu queria encarar o serviço, enquanto não aparecia alguma coisa no rádio. Como mais de um mês havia se passado e nenhum convite apareceu, resolvi aceitar a oferta, e fui trabalhar na Siderúrgica Hime. Nesse meio tempo, descobri que na vizinha cidade de Niterói existiam duas emissoras de rádio; a Federal e a Fluminense. Escolhi a primeira, fui até lá e deixei o currículo nas mãos do Luiz Carlos Paiva, gerente administrativo. Enquanto isso, várias correspondências chegaram, respondendo minhas solicitações de emprego; todas ligadas ao comércio.

          Então, no final da tarde de 31 de junho de 1978, me preparava para ir para o trabalho na Hime, quando ouvi alguém bater palmas no portão. Era o Amadeu, técnico de manutenção da Rádio Federal, informando que eu tinha sido aprovado, e que deveria me apresentar ao gerente na sede da emissora no 9º andar do Edifício Brasília, na Rua da Conceição 99. Bastante ansioso, falei que me apresentaria sem falta, na manhã seguinte. Mas ele retrucou de forma decisiva, e disse algo como:

 

          "Tem que ser agora, porque você começa a trabalhar daqui à uma hora e meia. Você vai cobrir a vaga do operador do horário Aritana,  que está saindo para acompanhar o comunicador Paulo Lopes".



          O Artitana também trabalhava na Rádio Tupi, e era operador do comunicador Paulo Lopes, que estava deixando o rádio carioca para se fixar em São Paulo. Liberado pelo Jorge Nicolau, que no momento estava lá em casa, rapidamente troquei o uniforme do Hime por uma roupa comum.

          Preocupado em não falhar, acompanhei o Amadeu até aos estúdios da Radio Federal. No caminho, ele me orientou sobre o serviço de forma superficial, porém, eficiente. Ao chegar lá, fomos  até a sala do Luiz Carlos Paiva para me apresentar e tratar da papelada. Em seguida, o técnico levou-me até os estúdios para conhecer os equipamentos. Fiquei um pouco desorientado, porque de repente, seis anos sem operar uma mesa de áudio me pareceu um enorme desafio. Foi a primeira vez que botei a mão numa cartucheira. Eram três máquinas Gates que pareciam me olhar com ar de desafio. Nesse momento lembrei-me do ditado popular: "O que é do homem, o bicho não come". E fui em frente.

          No estúdio principal, o Aritana já estava aguardando para passar os trabalhos. Não o conhecia, porém, foi como se fossemos antigos companheiros de trabalho, dada a forma com que ele me recebeu. Assim, a tensão e o nervosismo dos primeiros momentos se dissiparam na medida em que percebia que daria conta do recado. Por isso, naquela mesma noite iniciei a nova jornada. Primeiro gravando os comerciais, e depois, operando no estúdio do ar. Estava voltando, graças a Deus!

          Inialmente, acumulei as funções de sonoplasta e operador de áudio. De 19h00min às 20h30min, gravava os comerciais e as chamadas da grade de programação. Depois, ia para a mesa operar a programação noturna. Logo que terminava o Projeto Minerva, entrava a Discoteca do Chacrinha, um programa gravado de meia hora apresentado pelo Velho Guerreiro. A seguir, era a vez de um musical romântico com as falas previamente gravadas pelo locutor Gercy Suhett. À meia noite, a emissora saía do ar.

A Rádio Federal AM

           A Rádio Federal AM de Niterói foi fundada em 1959, pelo acordeonista Antenógenes Silva (1906 – 2001), e tinha sido comprada no início da década de 1970 pela Bloch Editores para ser o embrião da Rede Manchete de Rádio. Quando entrei lá, existia na pequena emissora uma equipe formada por profissionais que mais tarde iriam brilhar no cenário radiofônico da capital carioca, como o narrador esportivo Luiz Carlos Silva e o noticiarista Arildes Cardoso. Ambos foram para o SGR (Sistema Globo de Rádio): Luiz Carlos narrava futebol na Globo, e Arildes na Eldorado e Globo, apresentando os jornalísticos O Seu Redator Chefe e O Globo no Ar.  Havia também o comentarista esportivo Mario Silva, os comunicadores Paulo Bob, Gercy Suhett e Luíz de Carvalho, entre outros.

          Luiz de Carvalho era um dos apresentadores que minha mãe gostava de escutar todos os dias lá no Mato Grosso, pelas ondas curtas da Rádio Globo, onde ele trabalhou durante quase 30 anos. Quando o vi pela primeira vez, fiz referencia ao fato de ter passado parte da minha infância escutando sua frase slogan “Saúde, paz e amor”. Luiz de Carvalho demonstrou emoção e agradeceu; mal sabia que, quem se emocionou de verdade fui eu. Ele morreu aos 89 anos, em nove de junho de 2008.

          Em setembro de 1978, Carlos Siegelman assumiu a direção artística da Rádio Federal, com a atribuição de mudar a grade da programação da emissora e implantar o formato que seria adotado pela futura rede FM. Para tanto, ele trouxe profissionais da Rádio Nacional, como os comunicadores Gercy Suhett e Jorge Luiz - e os sonoplastas Marcondes Pereira e Chiquinho de Assis. Para coordenar a rádio, Siegelman contratou Carlos Tonwnsend, profissional formado em Radio-TV Broadcast Technology pela Miami-Dade College, na Flórida, e que havia deixado o Sistema de Rádio do Jornal do Brasil, onde criou, junto com Clever Pereira, a Rádio Cidade, inaugurada em 1º de maio de 1977.

           

Quando o Carlos Townsend assumiu suas funções, quando havia necessidade, ele mesmo editava as músicas da programação no estúdio “do ar” durante a Voz do Brasil e o Projeto Minerva, pois o estúdio 2 da Rádio Federal era muito acanhado. Ele estava equipado com uma velha console mono, gravador de fitas cassete, dois toca-discos e uma máquina de Rolo Akai Gx4000, que estava parada porque suas cabeças estavam impregnadas de sujeira deixadas pelas fitas de má qualidade. Esse gravador só passou a ser utilizado depois que dei uma “garibada” nele. Com isso, os comerciais e as chamadas passaram a ser produzidas ali.

           

          A mudança da programação da Rádio Federal AM foi muito radical, e pegou seus antigos profissionais e ouvintes desprevenidos; alguns não conseguiram se adaptar ao novo formato. Como o clima ficou um pouco pesado por lá, dois acontecimentos embaraçosos aconteceram. O primeiro incidente se passou logo que Townsend assumiu o cargo. Para imprimir dinâmica na locução, ele ficava em frente ao locutor, dirigindo e sinalizando para que este falasse sorrindo, “pra cima”. Dessa forma, o ouvinte tem a sensação que o comunicador está lhe passando alegria e otimismo. Porém, estava difícil a assimilação por parte da equipe.         


          Aquele tipo de procedimento estava incomodando o Aríldes Cardoso que, um dia se levantou da cadeira, abriu a porta do estúdio e soltou um desabafo em voz alta, para que o coordenador ouvisse:


          “Pô, meu irmão, com o salário que eu ganho aqui, você quer eu rio de que?”.

 

          O outro acontecimento foi menos agressivo, porém, irônico. No jornal da “hora cheia”, o locutor o noticiarista leu várias notas policiais; mas uma delas chamou mais a atenção do Jorge Luiz, o comunicador do horário, que estava no estúdio principal, ouvindo atentamente as notícias. Terminado o boletim, abri o microfone e fiquei surpreso, ao ouvi-lo pronunciar esta frase:


          "Não mexam com as minhas crianças. Elas são o futuro deste país!”.

 

          Jorge Luiz se referia a uma nota policial envolvendo menores que estavam cometendo infrações nas ruas de Niterói. O meu espanto foi porque jamais tinha visto um comunicador contestar, no ar, uma nota veiculada pelo jornalismo. Foi assim que conheci Jorge Luiz. Principalmente por esta atitude firme e incomum, tornei-me seu admirador. Mas logo ele deixou a Rádio Federal para atuar em outros microfones. Anos depois, tornamos a nos encontrar, desta vez no SGR.

          Quando o Carlos Townsend assumiu suas funções, quando havia necessidade, ele mesmo editava as músicas da programação no estúdio “do ar” durante a Voz do Brasil e o Projeto Minerva, pois o estúdio 2 da Rádio Federal era muito acanhado. Ele estava equipado com uma velha console mono, gravador de fitas cassete, dois toca-discos e uma máquina de Rolo Akai Gx4000, que estava parada porque suas cabeças estavam impregnadas de sujeira deixadas pelas fitas de má qualidade. Esse gravador só passou a ser utilizado depois que dei uma “guaribada” nele. Com isso, os comerciais e as chamadas passaram a ser produzidas ali.

          Durante os fins de semana em que o Townsend trabalhou na Rádio Federal, não só aprendi a operar a velha Ampex AG-440, como também assimilei as técnicas de edição com ele. Nessa época, o jovem coordenador já acumulava prestígio junto às grandes gravadoras. Por isso, conseguiu trazer para a emissora de Niterói diversas músicas para lançamento em primeira mão, “furando” a Rádio Cidade, que a essa altura seguia disparada no primeiro lugar em audiência. Algumas dessas músicas se tornaram sucesso nacional, como Le Freak, da banda norte-americana Chic. Esta canção me marcou muito, literalmente. Explico porque.

          Em 1978 não estava disponível no computador nenhum arquivo de formato musical; até porque o PC ainda estava nascendo. Assim, as gravadoras enviavam às rádios para seus lançamentos o próprio disco do artista, se ele já tivesse sido lançado. Ou então, uma fita de rolo, como foi o caso de Le Freack, já que se tratava de uma estreia mundial. Townsend foi correndo com a fita até a técnica e pediu para que eu passasse a música para um cartucho, recomendando apenas que tivesse o máximo de cuidado, pois se tratava da fita master. Ela era a origem dos discos que seriam prensados e lançados no mercado.

          Para começar a operação, posicionei na Ampex uma das partes de um carretel de alumínio, (essas fitas vinham sem o carretel, apenas com o miolo, comumente chamado de batoque) e com muita precaução, abri a caixa, retirei o rolo e o acomodei na máquina. Para prendê-lo, coloquei a castanha, uma peça que serve para prender o carretel, que a essa altura já estava com a valiosa fita pronta para ser reproduzida.

          Feito isso, a música Le Freack estava “encartuchada”, pronta para ir ao ar. Mas quando rebobinei a fita para recolhê-la, a castanha se desprendeu, e por pouco não perco três dedos da mão esquerda. Quando a fita começou a embolar, apertei o stop da velha Ampex, e antes que o freio respondesse, por puro instinto, coloquei a mão esquerda na lateral do carretel de alumínio na tentativa de “frear” a máquina. Salvei o material, mas as marcas ainda estão visíveis na minha mão.

          Três meses depois, Carlos Townsend deixou a Rádio Federal e retornou ao Sistema de Rádio do Jornal do Brasil, para implantar e coordenar a Rádio Cidade de São Paulo.

          Em 1980, a Federal foi transferida para a sede da Bloch Editores na Rua do Russel, um prédio requintado projetado por Oscar Niemeyer e erguido na Rua do Russel 804, no Bairro do Flamengo. Da equipe de Niterói, apenas nove continuaram na empresa: o gerente administrativo Luiz Carlos Paiva e sua secretária Nara Regina, três operadores (eu, Altamir Mendes e Francisco “Chicão”) - e os comunicadores Gercy Suhett e Paulo Bob, o gerente de programação Eduardo Andrews (1947 - 2018) e o programador Luiz Paladino.   

          No edifício-sede, não fomos muito bem recebidos, pois não éramos vistos com bons olhos pela maior parte do pessoal da Revista Manchete. Fui o primeiro a chegar na Rua do Russel, e no dia em que me apresentei lá, percebi que o ambiente era muito elitista. Apesar de ter sido orientado sobre isso, fiquei decepcionado e um pouco inibido, quando fui atendido por um dos recepcionistas, pois senti que havia um clima de rejeição velada no ar. Esse clima ficava mais pesado no elevador, pois as pessoas nos olhavam com ar de superioridade, principalmente quando dividíamos o espaço com componentes da diretoria. Mas havia exceções. Éramos bem tratados por alguns executivos da empresa. David Klajmic, responsável pela divulgação da Revista Manchete era um deles. Desde o início, nos tratou com muito respeito e consideração. Quando a gravação do spot de divulgação da revista Manchete passou a ser realizada na “casa”, uma vez por semana Klajmic saia de sua sala, que ficava no mesmo andar, e ia até o estúdio de gravação para acompanhar sua produção.

          Antes de o locutor Roberto Canázio assumir a posição de Voz da Manchete, o texto promocional da revista era gravado na Rádio Globo por Edmo Zarife. Acredito que a barreira que existia entre os funcionários da rádio e os companheiros da revista foi transposta quando isso aconteceu, porque com a implantação de um sistema radiofônico próprio, não fazia sentido produzir não só o spot da Revista Manchete, como os de todas as publicações da Bloch Editores em outro local.

          Quando o negócio da televisão foi fechado em 1983, chegou a vez da equipe da extinta TV Tupi enfrentar o mesmo problema de rejeição que havíamos encarado cerca de três anos antes. Pior, porque os radialistas se juntaram para dar as “boas vindas”. Mais tarde, ficamos sabendo que a Bloch Editores  tinha que absorver o pessoal da Tupi, sob obrigação contratual. Dessa forma, para cada empregado que chegava, um funcionário das rádios (AM e FM) era demitido. Então, as "boas vindas", infelizmente, se tornou um ato falho.


          “A vida me ensinou a almoçar quantas vezes forem necessárias”.


           Falou e disse o empresário Adolpho Bloch numa ocasião. Por coerência, um dos benefícios oferecidos pela empresa era uma alimentação de excelente qualidade, sem nenhum custo para o funcionário. Nessa época havia apenas o restaurante do terceiro piso. Aquela área aberta, que compreendia todo o andar era de uso comum, democrático. O cardápio era de primeira. Como não havia discriminação, almoçávamos junto ao pessoal da revista. Xuxa Meneghel e Luíza Brunet e outras pessoas que, como elas viraram celebridades estavam sempre lá. O único espaço definido no restaurante era o da diretoria, que ficava mais próximo da piscina, a mesma em que mais tarde seriam gravadas as cenas eróticas da abertura da novela Pantanal.

   

            "Agora vou faturar sem gastar papel”

 

              Esta frase também foi proferida por Adolpho Bloch em 15 de julho de 1980, no novíssimo estúdio da recém-criada Rede Manchete de Rádio. Naquele dia, mesmo não sendo um entusiasta da mídia eletrônica, ele inaugurava a Rádio Manchete AM, a líder de uma cadeia de cinco emissoras (Rio, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Salvador). É bem possível que tenha expressado essa frase para protestar contra os altos preços do papel. Ninguém melhor do que ele para saber quanto este material pesa, literalmente, no orçamento de uma grande empresa de mídia impressa, como era a Bloch Editores. Sábias palavras de quem era do ramo.

             Tio Adolpho, como era chamado por alguns dos seus funcionários, foi o fundador de um dos maiores impérios de mídia da América Latina, cujo carro-chefe era a Manchete, a revista semanal lançada em 26 de abril de 1952 e encerrada em 29 de julho de 2000.

             Estavam presentes na inauguração da Rádio Manchete AM, além dos profissionais contratados para tocar a emissora, o vice-presidente da empresa Oscar Siegelman e seu filho Carlos Siegelman, diretor da rede; Pedro Jack Kapeller, Luiz Carlos Paiva, David Klajmic, Osmar Gonçalves, Zevi Ghivelder, Arnaldo Niskier, Eduardo Andrews entre outros.

              Adolpho Bloch, nascido Avram Yossievitch Bloch, em Jitomir, Ucrânia, em oito de outubro de 1908, iniciou a carreira de gráfico em sua cidade natal, na editora do pai Joseph Bloch (1868 – 1953). Sua família emigrou para o Brasil em 1922, e já em 1923, montou sua primeira oficina gráfica na Rua Vieira Fazenda número 24, em Vila Isabel, um tradicional bairro de classe média da capital carioca, fundado em três de janeiro de 1872. Os Bloch começaram o negócio imprimindo folhas numeradas para o Jogo do Bicho, que foi idealizado pelo Barão João Batista Vianna Drummond em quatro de julho de 1892, justamente em Vila Isabel.

              Depois de ler várias histórias da extensa biografia inacabada do Tio Adolpho, aprendi que antes de ser um grande empreendedor, ele também era visionário. Demonstrou isso quando escreveu em sua famosa coluna Adolpho Bloch Escreve, reeditada na edição especial da Revista Manchete 2000, lançada em agosto de 1990:

 

             “As idéias dançam em bale na minha cabeça. Meus monólogos, à noite, são intermináveis e positivos. Sempre acreditei no Brasil Grande. Quanto mais estou ocupado, mais tenho tempo para tudo. E só esqueço aquilo que quero. Numa entrevista à TV Educativa, Zevi Ghivelder me perguntou como será a MANCHETE ao completar 50 anos. Respondi que temos jovens que saberão assumir a sua responsabilidade no ambiente de trabalho. E também estou certo de que, daqui a alguns anos, as revistas terão a impressão tridimensional. O papel terá uma transparência de luz de tal forma que, ao folhear as suas páginas, o leitor receberá a mesma imagem do cinema e da televisão”.

 

             Não tenho idéia de quando ele foi entrevistado na TV Educativa. Mas com certeza, foi bem antes do ano 2000. E hoje, quando manueio um desses gad gets disponíveis no mundo contemporâneo – o tablet, por excelência – percebo o que Tio Adolfo antevia, quando lançava seu olhar sobre o futuro da mídia.

            O radialista, por sua natureza, é capaz de desenvolver assuntos que depois vão circular de boca em boca. Com o passar do tempo, eles se tornam os contos, mitos e lendas que vão fazer parte do folclore que recheia a rica história do rádio. No enredo desses relatos fantasiosos, os personagens que recebem os principais papéis, quase sempre são os patrões. Faz parte. Adolpho Bloch não foge à regra. Muitas histórias a seu respeito são contadas.

            Embora tenha trabalhado na Rádio Manchete por cerca de oito anos em dois períodos diferentes, nunca troquei uma só palavra com Tio Adolfo, muito embora ele fosse uma pessoa sempre presente. Era comum transitar com funcionários no mesmo elevador. Comum também era vê-lo circulando solitariamente pelos corredores do moderno edifício da Rua do Russel; na verdade, edifícios, pois a Bloch Editores, a Rede Manchete de Rádio e TV funcionavam no complexo de três prédios geminados.

            Como bom observador, presenciei alguns episódios em que ele se envolveu, como este: durante mais de dois anos, o 9º andar do prédio parecia um canteiro de obras. Mesmo assim, as rádios AM e FM funcionavam normalmente, enquanto os engenheiros e técnicos instalavam os equipamentos. Nem a Central Técnica funcionava plenamente até aquele momento. Um dia, por volta das 10h00min, um operário preparava uma canaleta por onde iria correr a fiação. Tio Adolfo, que passava por ali naquele momento parou e olhou para o homem que, naquele momento empunhava uma marreta numa mão e uma talhadeira na outra. Por pura implicância, ele mandou o homem interromper o serviço, alegando que o mesmo não levava jeito para a coisa. E mais: disse em alto e bom tom ao assustado pedreiro que ele estava demitido, que descesse imediatamente ao terceiro andar para falar com o Geraldo Matheus (pai da atriz Christiane Torloni), que era o chefe dos serviços gerais da empresa. Minutos depois, caminhando por outro andar do prédio, Tio Adolfo deparou-se com um pedreiro fazendo o seu trabalho. Parou em frente ao homem e falou em voz alta:

 

              “Faz essa pôrra aí direito! Eu acabei de mandar embora o seu colega lá do 9º andar”.

 

               É claro que o empresário não perecebeu que se tratava do mesmo funcionário que acabara de “demitir” da obra da Central Técnica, pois Geraldo Matheus, que conhecia bem as manias do Tio Adolfo, havia livrado a cara do trabalhador que abria a canaleta na Central Técnica, "escondendo-o" no terceiro andar.

              O jornalista e professor Arnaldo Niskier (1935-) trabalhou por cerca de 40 anos na Bloch Editores, onde começou escrevendo para a revista Manchete Esportiva. Portanto, ninguém como ele para relatar fatos nunca antes contados, já que acompanhou por dentro o nascimento, o apogeu e o colapso da Manchete. E isso ele faz no livro Memórias de Um Sobrevivente – A Verdadeira História da Ascensão e Queda da Manchete, lançado em 2012 pela Nova Fronteira. O professor Arnaldo Niskier define o caráter de Adolpho Bloch:

 

           “Adolpho Bloch era fiel a si mesmo. Um grande realizador, extremamente rigoroso com tudo e todos (às vezes injusto com determinadas pessoas). Intuitivo, gabava-se de perceber o caráter dos jornalistas pela cara de cada um. E, em geral, não se enganava. Amigo leal demonstrou essa qualidade diversas vezes, com muita gente – notadamente, Juscelino Kubistchek -, inclusive durante os governos militares, quando abrigou alguns perseguidos políticos em suas revistas”.


A Programação inicial da Rádio Manchete AM:

              Assim que a Rádio Federal-Manchete assumiu sua nova identidade, em poucas semanas ela apareceu em quarto lugar entre as estações AM mais ouvidas no Rio e Grande Rio, de acordo com as pesquisas do IBOPE. E nessa posição, permaneceu na maior parte do período em que a emissora esteve nas mãos da família Bloch. Quem implantou o novo formato da Rádio Manchete AM (Coração Jovem) foi Eduardo Andrews (1947 - 2018). A proposta era transformar a 760 em rádio falado, misturando os formatos das rádios Globo e Tupi - tocando música popular-romântica-brega. Para montar essa programação musical, Andrews trouxe o produtor Luiz Paladino.

              No início, as vinhetas "cantadas" produzidas pelo grupo Roupa Nova, e as peças promocionais (chamadas e aberturas de programas) eram prodizidas pela gerencia de programação e sonorizadas por mim e por Walner C. Bento nos estúdios da emissora, na voz do locutor Luiz de Holanda, que na época um dos locutores de chamada da TV Globo. Assim, com uma programação bem elaborada e uma excelente plástica, a Manchete AM (Coração Jovem) se tornou um grande sucesso junto ao público.

             Não por acaso, os anos 1980 são celebrados pela industria fonográfica como A Década da Música. E foi com a música que a Manchete AM reuniu 20 mil pessoas para comemorar seu primeiro aniversário. Na noite de 19 de julho de 1981, se apresentou no Maracanzinho um elenco de astros populares nunca antes reunido para um show como aquele. Não foi surpresa, porque a emissora, ao adotar aquele formato promoveu não só o lançamento de novos artistas, como recolocou no cenário musical uma leva de cantores mergulhados no esquecimento. Até o surgimento da 760, poucas, - ou nenhuma - emissoras de AM ou FM veiculavam música popular-romântica-brega.

             No mês que antecedeu a festa do Maracanãzinho, os estúdios de gravação da Rua do Russel recebiam, diariamente, pelo menos dois artistas escalados para o show. Quem gravava as falas dos cantores e montava as chamadas era eu, responsável pelo horário da manhã, e Francisco de Assis, pelo turno da tarde. Nessa época, a TV Manchete ainda não estava no ar; por isso, esses promocionais eram produzidos e veiculados pela TV Bandeirantes.

             Um dia, o cantor Márcio Greyk foi até a rádio para gravar sua parte na peça de promoção do espetáculo. Depois de terminar a gravação, fomos bater papo no corredor que dava acesso aos estúdios. Durante a conversa, o artista mineiro comentou que, sem a Manchete AM, ele e muitos de seus colegas seus teriamencerrado a carreira de forma prematura. Ele próprio, aproveitando o embalo, emplacava um novo sucesso e tinha em sua agenda uma série de shows programados. Dentro deste contexto, as gravadoras também lucraram, literalmente, porque o mercado ficou aquecido, uma vez que o consumidor de discos estava ávido por esse tipo de música.

              Manchete se revelou uma grande formadora de profissionais da comunicação, em todas as áreas. Alguns dos que ajudaram a promover o sucesso das emissoras AM e FM vieram de outros veículos, já eram conhecidos do público ouvinte de rádio. Dentre eles, Aluísio Pimentel, Fernando Borges, Jair Lemos, Reginaldo Terto, Mary Bellas (Maria Joana), Kleber Sayão, Roberto Figueiredo, Selma Vieira, Gercy Suhett, Ricardo Campello, Jota Abud, Alfredo Farah, Cidinho, Cidinha Campos, Mário Lúcio, Nathanael Pinheiro, Clever Pereira, Celso Santo Rosa, Francisco Carioca e Robson Castro; no jornalismo, Ricardo Ferreira, Paulo Madureira, Jussara “Juju” Carioca, Plácido Mello e André Giusti; e na área técnica, Flávio Salles, Evandro, Maximino “Max” Spiubel, Luiz Marques, Rui Taveira, Passarinho e muitos outros.

              Porém, boa parte da equipe era formada por estreantes. Muitos fizeram o dever de casa, e agora brilham – ou brilharam - em outros prefixos espalhados pelo cenário radiofônico do país, como Roberto Canázio, Alexandre Ferreira, Cacá, Natho Kandall, Luciano Durso, Ronaldo Kelly, Mr. Alby, Rui Santos e Marcos Câmara.

              Em 1981, sentia a necessidade de ampliar meus horizontes. Para minha surpresa, um dia, quando o técnico de manutenção de transmissores Luiz Marques chegou para o seu turno, entrou no estúdio de gravação e tirou do bolso da camisa um pedaço de papel, no qual estava anotado um endereço. Ele jogou o papelzinho em cima da mesa de som, e com a maior naturalidade perguntou:

 

             “Você quer arranjar mais um emprego? Então procure o Elmo Rocha neste endereço ainda hoje, porque ele está precisando de um operador com urgência, e você é meu indicado”.

 

             Passada a surpresa, segui em frente com minhas gravações. Mas não de forma normal, porque aquela notícia mexeu muito com a minha cabeça. Todavia, naquele momento não pude demonstrar minha gratidão pela oferta, porque o Luiz Marques não esperou; mas já sabia que faz parte de sua índole fazer o bem sem receber nada em troca. O Luiz Marques nos deixou em 2021, mas estará para sempre lembrado em minhas orações. Agradeço a ele por minha indicação para a vaga na JB, um feliz acontecimento que, de fato mudou o rumo da minha vida, tanto âmbito pessoal como no profissional.  Seguindo as normas que regem o profissionalismo, procurei o Flavio Salles, então o gerente técnico das Rádios Manchete, e comuniquei a novidade. Quando dei a notícia ao Eduardo Andrews, escutei dele uma frase que definiu bem o que era fazer parte da empresa Jornal do Brasil, como um todo:

 

             “Ai, heim! Agora você é um operador classe A”.


           Eu não conhecia o Elmo Rocha pessoalmente, apenas por comentários. Mas sabia que era ele o chefe de operadores da Rádio JB. Vale lembrar que, quando morava em Campo Grande, minha cidade natal, já era ouvinte da Rádio Jornal do Brasil AM, através de sua onda tropical. Portanto, trabalhar no JB era um sonho que agora se tornaria real.

            Assim, fui admitido na Rádio Jornal do Brasil em três de dezembro de 1981, na função de operador de áudio. Naquele tempo, o departamento de jornalismo era dotado de um pequeno mas eficiente estúdio de gravação, instalado junto à Central Técnica, carinhosamente apelidado de Trapizonga. Editávamos ali todas as reportagens da emissora, apuradas por um time ímpar de repórteres, composto por profissionais como Sonia Carneiro, Alceste Pinheiro, Mauro Silveira e muitos outros. Então, acompanhei de perto as grandes reportagens daquele período da história do Brasil, como os grandes acontecimentos políticos, a Guerra das Malvinas e o Caso Proconsult.

             Em 30 de maio de 1983 migrei para a Rádio Cidade FM por iniciativa de Clever Pereira, que na época era gerente de produção das emissoras do Sistema de Rádio do Jornal do Brasil. Nessa mudança, fui promovido a Supervisor de Operações, cargo que não existia nas emissoras da empresa. Foi aí que tive a oportunidade de reencontrar Carlos Townsend, que naquele momento estava envolvido com a implantação do novo formato da extinta Rádio Jovem Rio FM, que na época era gerida pelo JB.

              Em março de 1987, Clever Pereira deixou a Rádio Cidade para trilhar novos caminhos. Ele havia sido convidado pelo Dr. Wellington Davi, que desejava implantar um formato adulto/contemporâneo na Rádio Panorama, da qual ele era diretor. Eu e Celso Santa Rosa acompanhamos o Clever, e fomos trabalhar em Nilópolis, um município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A cidade é sede do Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor, agremiação 14 vezes campeã do Grupo Especial do Carnaval Carioca.

             Na Rádio Panorama encontramos alguns profissionais que administravam carreiras consolidadas. Entre os quais, o locutor Paulo Martins, um dos integrantes da equipe de comunicadores da Rádio Cidade FM que colaboraram para a revolução no formato das transmissões de FM no Brasil. Na Panorama também havia novos talentos, entre eles Sílvio Vasconcellos, que se tornou um dos locutores mais requisitados para a gravação de spots comerciais no cenário publicitário carioca nos últimos 30 anos. Oito meses depois, deixamos a Rádio Panorama para trabalhar na Rede Manchete de Rádio, convidados por Carlos Siegelman, que comandava e empresa junto com Luiz Carlos Paiva.

             Em três de novembro de 1989, entrei para o SGR (Sistema Globo de Rádio). Minhas funções na nova casa eram executar gravações para a Rádio 98 FM e Globo FM, no lendário Estúdio K, junto com o supervisor Marcelo Louro. Como a Globo e a Manchete ficavam muito próximas uma da outra na Rua do Russel, e os horários permitiam, acumulei as duas. E assim fiquei até julho de 1991, ano em que voltei para Mato Grosso do Sul para trabalhar com o Armandinho Anache na Rádio Clube de Corumbá. Armandinho faleceu aos 60 anos, em 30 de março de 2021, vitimado pelo Covid19.

             

A Rádio Clube de Corumbá


          Como Supervisor de Operações da Rádio Clube e responsável pelos carros de som da família Anache, trabalhei com vários companheiros em memoráveis jornadas com o Trio Elétrico Independente, viajando pelo Mato Grosso do Sul em duas campanhas políticas: eleições de 1992 (Armandinho para prefeito), e em 1994 (Armando Anache, pai, reeleição para deputado). Excepcionalmente nessa campanha, trabalhamos também pela candidatura do político Rames Tebet (1936 - 2006) ao Senado. Tebet era pai da candidata derrotada à presidência da república em 2022 Simone Tebet.             Paralelamente, fizemos várias coberturas jornalísticas importantes para as rádios Clube de Corumbá e Independente de Aquidauana. Com destaque a visita do papa João Paulo II à capital Campo Grande, em 17 de outubro de 1991, quando o Sumo Pontífice comemorava os 13 anos de seu papado.

          Nessa época, a Rádio Clube de Corumbá mantinha em seus quadros ótimos profissionais que atuavam em todas as áreas da emissora, como as repórteres Orlanda Nantes, Silma Lima – chefiadas pelo saudoso Arnaldo Gomes da Costa. Na programação, a Rádio Clube contava com profissionais , como Rosemeire Martins, André Navarro, Florêncio Batista, Dionísio J.J. “Gegê” Gomes e Altair Ferreira, que hoje é o chefe de operadores da Rádio CBN de São Paulo, uma emissora do Sistema Globo de Rádio.

           Por esse tempo, alguns profissionais vindos da  Globo Rio prestaram seus serviços na Rádio Clube de Corumbá. Entre eles, o chefe de redação Ely Moreira da Silva, o advogado e comunicador José Carlos Cataldi, os técnicos José Cláudio “Formiga” Barbedo e Pinheiro, além do engenheiro Rui Miranda Monteiro.

            Em janeiro de 1995, voltei para o Rio de Janeiro e reingressei no Sistema Globo de Rádio, pelas mãos do supervisor de operações José da Paz “Paizinho” Palácio. Inicialmente, fui contratado para a função de operador das madrugadas da Rádio Globo FM, quando ela ainda estava no dial. Quem me indicou para o posto foi o Marcelo Louro, que supervisionava as gravações das FMs do SGR. Assim, fui trabalhar com Luiz Carlos “Lula” Witlin, gerente de programação da Globo FM, naquela que acredito ser a melhor fase da extinta emissora.

          Um ano depois, fui remanejado para a Central Técnica pelo Formiga, à época o gerente técnico. Ali trabalhei com João Rodrigues de Lima, chefe daquele importante departamento; com ele, aprendi a executar uma atividade completamente diferente de todas as que eu já havia exercido no rádio: operador de Central Técnica, o coração de qualquer emissora. E ali fiquei por 18 anos.

          Nesse período, acompanhei de perto a drástica transformação que a área técnica da radiofonia de todo o planeta experimentou. Em destaque a migração do sistema analógico para o sistema digital. Como disse, desta vez a mudança foi muito vigorosa, muito profunda.

           Engenharia e alta tecnologia sempre caminharam lado a lado no Sistema Globo de Rádio ao longo dos anos. Desde sua implantação, incluindo a consolidação da Rede Globo Brasil em 2001 até seu colapso, não faltaram desafios aos especialistas em radiodifusão que por ali passaram. Desde o Comandante Djalma Ferreira, que durante os 30 anos em que esteve à frente da engenharia do SGR definiu as diretrizes para aquele que seria o mais importante serviço de radiodifusão da América Latina. Seguindo essas regras, dezenas de engenheiros e técnicos de manutenção por ali passaram, cada um levando na bagem um currículo experiencial capaz de colocá-lo entre os melhores do mercado nacional.

          No período em que estive no SGR, tive o prazer de trabalhar com muitos desses profissionais gabaritados. Foram tantos que é impossível lista-los aqui, muito por causa da lembrança. Mas posso citar alguns, como Flavio Salles, Rui Miranda Monteiro, Pinheiro, Maximino “Max” Spiubel, Evandro Tiziano, Severino Carneiro, Vandreuves Santos, Rogério Louro e muitos outros. E por fim, o engenheiro Marco Túlio Nascimento, que comandou a migração do sistema analógico para o sistema digital e a implantação da Rede Globo Brasil.

         Particularmente, nunca me mostrei avesso às mudanças ocorridas ao longo de minha existência, em todos os setores. Neste caso, reconheço que todas essas constantes metamorfoses impostas ao veículo Rádio foram colocadas em função das necessidades que ele sempre teve, no sentido de acompanhar as inevitáveis transformações tecnológicas. Absorver as novas ferramentas baseadas na digitalização e na informática era uma exigência, muito para não sucumbir em um setor tão competitivo.

          Foi muito difícil para a maioria dos companheiro, de repente não ter mais disponíveis o velho gravador de rolo, a eficiente cartucheira e outras ferramentas analógicas; o DAT, o mini disc,  e assim, “encarar” um equipamento de última geração, sem nunca ter sido pelo menos “apresentado" a ele.

           

         Creio que, se um treinamento profissional e eficiente fosse oferecido, seja ele resumido, certamente que nós, os operadores teríamos nos livrado das diferentes situações adversas, como as vexativas falhas no desempenho das tarefas agendadas.  Por essa razão, o processo de adaptação aos novos contextos trazidos por essas novas tecnologias baseadas na informática, em muitos casos, nunca foram completamente assimilados.

         Em 27 de junho de 2013 encerrei uma carreira radiofônica que durou 42 anos, dos quais 32 anos no radio carioca. Com muita honra, no Sistema Globo de Radio, à época, o mais importante complexo radiofônico da América do Sul

         Desta forma, o rádio, a meu ver, ainda é o mais abrangente veículo de comunicação de massa. O rádio faz parte da minha vida. E vice-versa. 



Rádio Globo do Rio de Janeiro: fundação


          Dois de Dezembro de 1944. Por iniciativa do jornalista e empresário Roberto Marinho (1904 – 2003), entra no ar em caráter definitivo a PRE-3 - Rádio Globo do Rio de Janeiro, a primeira emissora radiofônica criada pelas Organizações Globo, hoje Grupo Globo. Seu nome é uma alusão ao jornal O Globo, fundado por Irineu Marinho (1876 – 1925) em 29 de julho de 1925. Mais tarde, a Rádio Globo do Rio de Janeiro se tornaria a líder do SGR (Sistema Globo de Rádio).

           Naquele ano de 1944, o doutor Roberto, como ficaria conhecido, iniciou a expansão das atividades, adquirindo o controle acionário da Rádio Transmissora Brasileira, de propriedade da RCA Victor. Em discurso feito durante a inauguração da Rádio Globo, Roberto Marinho declarou:


          “A emissora será uma nova modalidade dos serviços do jornal O Globo prestados à Nação, e cumprirá o dever de servir às causas do desenvolvimento artístico e cultural do povo brasileiro. Que a Rádio Globo se inaugura neste instante como uma afirmação dos nossos esforços, ainda que modestos, postos incondicionalmente ao serviço da cultura e da civilização do Brasil, de suas crenças de vida e de seus ideais”.



          A Rádio Globo estreou com um transmissor de 10 kW de potência, com o prefixo PRE-3, na frequência de 1.180 AM. O programa inaugural aconteceu no Teatro Municipal do Rio de Janeiro com um concerto da pianista Magda Tagliaferro (1893 – 1986) e da Orquestra Sinfônica Brasileira, dirigida pelo maestro José Siqueira (1907 – 1985). No decorrer do dia de sua inauguração, a nova emissora apresentou uma série de shows transmitidos ao vivo do Teatro Rival e da sede da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), na capital carioca. Entre as atrações estava a fadista portuguesa Amália Rodrigues (1920 – 1999).

           Inaugurada durante os últimos meses da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), a Rádio Globo destinou boa parte de sua programação à cobertura do conflito. Diariamente, os acontecimentos eram noticiados no programa Correspondente de Guerra, transmitido diretamente do front italiano pelo jornalista Egydio Squeff, enviado especial de O Globo. Entre setembro de 1944 e maio 1945, o jornal manteve O Globo Expedicionário para divulgar para os pracinhas na Itália notícias do país e de seus familiares. O programa Correspondente de Guerra ficou no ar até o final da guerra.

         A equipe da Rádio Globo contratada por Roberto Marinho era formada por Rubens Amaral, diretor-geral; Francisco Alves Pinheiro, diretor de jornalismo; Gagliano Neto, chefe da equipe esportiva e Odmar Amaral Gurgel, diretor de programação. No início, a emissora também transmitia programas de dramaturgia sob a direção do novelista Amaral Gurgel, estrelados por grande elenco de rádio atores, como Zezé Fonseca, Sadi Cabral e Daisy Lucide.

         Roberto Marinho investiu também na música clássica, contratando em agosto de 1945 a Orquestra Sinfônica Brasileira. E em junho do ano seguinte, o empresário trouxe o maestro César Guerra-Peixe (1914 – 1993) para apresentar o programa Arranjos Orquestrais, no horário das 20h00min. A Rádio Globo do Rio de Janeiro também transmitia os programas Música Popular Internacional e Músicas Finas, além de concertos e apresentação de inúmeros artistas.


          No início, a Rádio Globo transmitia seus programas e shows ao vivo diretos do Teatro Rival. Porém em março de 1945, a sede da rádio foi transferida para a Avenida Rio Branco 183, no centro do Rio de Janeiro. Então, os programas de auditório passaram a ser transmitidos do Teatro Carlos Gomes, na Praça Tiradentes. Quando o departamento esportivo da emissora carioca já contava com profissionais como Raul Brunini (1919 – 2009) e outros, Roberto Marinho contratou em 1947, o jornalista e radialista Luiz Mendes (1924 – 2011) com status de futuro locutor esportivo da Rádio Globo. Mendes substituiu Gagliano Neto.

          Poucos dias após a inauguração, estreou o noticiário O Globo no Ar, criado pelo próprio doutor Roberto, e apresentado diariamente a partir das 8h00, em intervalos regulares de 60 minutos. O Globo no Ar se tornou um dos boletins de notícias de maior credibilidade da história do rádio brasileiro. Em 1946, o jornal O Globo passou a publicar, de duas a três vezes por semana, a coluna O Globo no Rádio, redigida pelo repórter Celestino Silveira.

  No início dos anos de 1950, o radialista Luiz Brunini (1923 – 1999), Irmão mais novo do também radialista e político Brunini (1919 – 2009) assumiu a direção da Rádio Globo. O novo diretor imprimiu uma série de modificações na estrutura da programação da emissora. Para investir na prestação de serviços, promoveu a formação do setor jornalístico, focado no tripé música, esporte e notícia, com apoio da equipe do jornal O Globo. 


          Nessa época, a Rádio Globo ocupava o quarto lugar na disputa pela audiência na cidade do Rio de Janeiro. Um dos destaques de sua programação era o Conversa em Família, programa de crônica teatralizada em que eram os principais assuntos do momento, em especial os políticos e parlamentares. Em julho de 1953, a emissora inaugurou o transmissor Gates de 50 KW, permitindo                    Quem liderava com folga a audiência na capital carioca naqueles tempos era a Rádio Nacional. Para melhorar sua posição nesse cenário, a Rádio Globo desenvolveu um formato de programação centrado na figura do comunicador: não apenas um simples locutor de textos, mas uma espécie de mestre de cerimônias, o que hoje é conhecido como âncora. Entre os precursores e criadores desse novo formato de programação da Rádio Globo Rio, destacaram-se nos anos seguintes comunicadores como Luís de Carvalho, Jonas Garret, Mário Luís, Haroldo de Andrade, Adelson Alves, Waldir Vieira, Antônio Carlos, Luiz de França, Roberto Figueiredo, Jorge Luiz, Alexandre Ferreira, Beto Brito e outros. Foi com esse time de profissionais que se preocupavam com a padronização estética e de procedimentos - e com a capacitação dos processos produtivos que a emissora, partindo do quinto lugar em 1959, assumiu a liderança do rádio carioca a partir de 1964.            

          Também na década de 1960 o SGR (Sistema Globo de Rádio) começou a tomar forma com a incorporação de outras emissoras, as quais possuíam suas características próprias de programação, mas beneficiavam-se dos modelos de gestão desenvolvidos para a rádio pioneira. Foi o caso das rádios Eldorado e Mundial, extintas em 1991 e 1993, respectivamente, passando os seus sinais para a Rádio CBN, especializada em jornalismo. Em São Paulo o SGR começou a se estabelecer com a aquisição, em 1965, das Rádios Nacional — que em 1974 passou a ser a Globo AM de São Paulo — e da           Em 1961, a Rádio Globo contratou o comunicador Haroldo de Andrade (1934 – 2005) para apresentar o Alvorada Carioca, que em 1965 passou a se chamar Programa Haroldo de Andrade. Desde então, este show radiofônico se tornou o campeão de audiência no horário das nove às 12 horas, de segunda a sexta-feira por mais de 40 anos, interrompido apenas entre 1982 e 1983, quando o comunicador teve uma breve passagem pela Rádio Bandeirantes do Rio de Janeiro. Com debates e prestação de serviços, o Programa Haroldo de Andrade tornou-se um dos principais alvos da mídia             Haroldo de Andrade passou a ser frequentemente lembrado como alternativa de candidatura para cargos eletivos na cidade e no estado. Em 1977, foi premiado como Melhor Programa da América Latina pelo 10º Fórum Internacional de Programação de Rádio. No mesmo ano, ele foi apontado como a Maior Personalidade do Ar pela revista Billboard, especializada em música e show-business. Haroldo de Andrade deixou a Rádio Globo em 12 de julho de 2002, e em sete de novembro de 2005,                  Em 1970, a Rádio Globo foi transferida para a Rua do Russel 434, no Bairro Glória, zona sul capital carioca. Para garantir a qualidade de suas transmissões, a nova sede foi estabelecida para ser um espaço exclusivo, contendo os mais modernos equipamentos eletrônicos, com estúdios e mesas de som que permitiram a introdução de recursos técnicos mais avançados. Foi a melhor fase da trajetória da emissora.


(


"Sai da frente, futebol é com a gente!"


(Vinheta de abertura das jornadas, no voz poderosa de Edmo Zarife)


          É provável que nenhum veículo de comunicação jamais conseguiu reunir um time de técnicos, operadores, repórteres e narradores como aquele do SGR. A emissora transmitiu a Copa do Mundo de 1950 no Brasil com Luis Mendes, e se tornou a única emissora brasileira a transmitir a Copa do Mundo de 1954 na Suíça.

          Foram muitos os profissionais da “latinha” que passaram pelo Departamento de Esportes da 1220, mas podemos citar alguns, como Doalcey Carvalho, Waldir Amaral, Jorge Cury, José Carlos “Garotinho” Araújo, Maurício Menezes, Luís Carlos Silva, Edson Mauro, Luiz Penido, Mário Vianna, Léo Batista, Deni Meneses, Kleber Leite, Loureiro Neto, Sérgio Américo, Eraldo Leite, Pierre Carvalho, Ruy Fernando, João Saldanha, Sérgio Noronha, Washington Rodrigues, Francisco Perez, Élcio Venâncio, Gilson Ricardo, Gérson, Jorge Eduardo e muitos outros.


          No final da década de 1990, de acordo com o IBOPE, a audiência média da Rádio Globo Rio era de 177 mil ouvintes por minuto. Nessa época, faziam parte do Sistema Globo de Rádio: no Rio de Janeiro Globo AM, CBN AM, 1180 AM, 98 FM e Globo FM; em São Paulo: Globo AM, CBN AM, Globo FM e CBN FM; em Belo Horizonte: BH FM, CBN AM e CBN FM; em Brasília: CBN AM e CBN FM.         

          Em 2001, a empresa iniciou a formação da rede Rádio Globo Brasil, com a transmissão conjunta do Rio de Janeiro e de São Paulo. Em 2002, foi relançada a Rádio Globo Minas que já havia ocupado o dial de Belo Horizonte nos anos 1980, através da antiga Rádio Tiradentes, que operava nos 1150 kHz.                Em 2003, a Rádio Globo perdeu a liderança de 40 anos na cidade do Rio de Janeiro para a concorrente Rádio Tupi, e em 2008, vendeu seus canais de ondas curtas. Em três de maio de 2010, a emissora estreou sua frequência em FM, pelos 89,3 MHz. Em 26 de fevereiro de 2011, mudou seu lugar  no dial para 89,5 MHz.

          Em 2009, a Rádio Globo Brasil passou a se chamar RádioGlobo, numa só palavra. Ocorreram mudanças em sua identidade visual, e a emissora adotou o slogan Bota Amizade Nisso! Mudaram também, a programação, as vinhetas, a página na Internet, as pinturas das unidades de reportagens            Em agosto de 2018, o Sistema Globo de Rádio comunicou a exclusão de suas rádios AM, incluindo a frequência de 1220KHZ da Rádio Globo Rio, que passariam a operar somente em FM. Inicialmente, o desligamento dos transmissores instalados na Ilha do Pontal em São Gonçalo, no Grande Rio aconteceria em 1º de setembro, sendo adiado para às 00.00h do dia três. O procedimento ocorreu por volta das 08h00 da manhã.

          Em 29 de maio de 2019, o Sistema Globo de Rádio anunciou o fim do projeto Nova Rádio Globo. Com o projeto encerrado ao final do dia 30 de junho, a grade passou a ser somente musical. As únicas atrações que permaneceram no ar durante esta fase foram o Globo Esportivo e as jornadas esportivas do Futebol Globo no Rádio.

     Em oito de julho de 2019, data em que ocorreu a mudança da seleção musical da rede para o formato popular, a nova programação da emissora foi colocada no ar na transmissão online da rádio para o Rio de Janeiro. O novo projeto marcou o retorno da Rádio Globo Rio de Janeiro como única geradora de toda a programação de rede.

            Em 12 de maio de 2020, o SGR através de comunicado oficial anunciou o fim das transmissões em rede da emissora, que passou a focar sua programação exclusivamente para o ouvinte do Rio de Janeiro, intercalando as músicas com as informações do momento na cidade além de manter as transmissões esportivas em conjunto com a CBN.



Como nasceu a vinheta Fiu-Fiu - Rádio Globoooo: tudo a ver


            No começo da década de 1960, a famosa Churrascaria Cantero, em Campo Grande, no Mato Grossso do Sul,  fazia sucesso um conjunto musical típico do Paraguai. Seu vocalista era Juan Sennon Rolón (1946 - ), também conhecido como Juanito. Muitas vezes eu o vi cantando, caminhando entre as mesas do salão, vestido a rigor: poncho colorido, uma vestimenta típica do país vizinho. Um dia, o paraguainho foi morar no Rio de Janeiro a fim de tentar uma carreira de sucesso. E conseguiu. Na capital carioca, Juanito trocou seu nome para Fábio. E assim, em 1968, ele gravou seu primeiro compacto simples com as canções Lindo Sonho Delirante (LSD) e Reloginho.

            Em 1969, o agora Fábio ficou conhecido em todo o Brasil, ao estourar a música Stella. Em 1978, o cantor paraguaio gravaria o single com Tim Maia Até Parece Que Foi Sonho. Essa música se tornou em um dos maiores êxitos de sua carreira.

            No rastro do sucesso canção Stella, Fábio emprestou sua voz para a gravação das vinhetas para o esporte da Rádio Globo, em que ele brada, com eco, tal como na música o nome dos cinco grandes clubes do Rio de Janeiro, bem como a lendária vinheta Fiu-Fiu - Rádio Globoooo, que se tornou a principal marca de identificação da emissora; uma espécie de carimbo sonoro. Quem registrou os sons da voz do cantor foi o Formiga, em algum dos estúdios da Rádio Globo.

            Em 1º de abril de 2018, durante o encontro anual de ex-radialistas em Petrópolis, Região Serrana do estado do Rio de Janeiro, o operador Marcos "Velho" Faria Luiz contou em  detalhes, como foi o nascimento da icônica vinheta:

 

            “Aconteceu que Luiz de Carvalho, um dos mais importantes comunicadores que a Rádio Globo manteve em sua equipe, havia se transferido para a estação concorrente, a Rádio Tupi. Para acirrar mais a concorrência entre as duas, Carvalho logo arranjou uma maneira de ‘espetar’ sua ex-emissora. Embora a música Stella, gravada pelo cantor paraguaio Fábio não fosse exclusiva da Rádio Tupi, ele a anunciava como se fosse:  'Essa a Globo não tem. Só a Tupi toca’, bradava o comunicador. Pensando em dar uma resposta à ‘provocação’, Mário Luiz Barbato, o diretor artístico e grande responsável pelo sucesso da Rádio Globo durante mais de três décadas, teve uma brilhante ideia, a partir do título da música, que é cantada com eco (Stellaaaaa). Chamou o sonoplasta José Cláudio ‘Formiga’ Barbedo, responsável pela plástica da emissora e pediu para que ele convocasse o cantor Fábio. Assim, as concepções de Mário Luiz ficaram literalmente gravadas na história do radio brasileiro”.

 

            Numa madrugada em que eu estava de serviço na Central Técnica da Rádio Globo Rio, o cantor Fábio apareceu para uma entrevista no programa comandado pelo saudoso Francisco Carioca. Ao sair do elevador, que dava para a porta da Central, o cantor ficou surpreso quando saí da minha sala e falei bem alto:


            “Fala aí, Juanito! Tudo bem?”

 

            Ele me olhou, e meio que espantado, perguntou como eu sabia seu nome verdadeiro. Quando falei que era de Campo Grande, e que o conhecia da Churrascaria Cantero e da Rádio Cultura, o paraguaio ficou emocionado. Afinal, sua história de crooner de conjunto paraguaio havia terminado há muito tempo! Passada a surpresa, ele explicou que morou por algum tempo na Bahia, mas havia desfeito seu casamento e estava de volta ao Rio de Janeiro para retomar a carreira.




A outra história         


          Mário Luiz Barbato (1925 – 2009) - largamente considerado como o Inventor do Rádio Moderno no Brasil - deixou o Sistema Globo de Rádio no início da década de 1990. Foi ele principal o responsável pela criação do formato da Rádio Globo AM 1220, que por cerca de 40 anos liderou com folga a audiência radiofônica no Rio de Janeiro, transformando-a em uma das mais importantes emissoras de rádio da América Latina.

          Mário Luiz chegou à Rádio Globo na metade da década de 1950, onde passou a comandar o programa Clube do Toca Disco. 

          No começo dos anos 1960, passou a ser diretor de programação da emissora, sucedendo a Luiz Brunini. Neste ponto começou a grande transformação da Globo 1220, e Mário Luiz se tornou um dos mais importantes nomes na história do rádio brasileiro, ao transformar a Rádio Globo em modelo para a maioria das emissoras do país. Antes de deixar a empresa, Mário, numa conversa informal teria declarado:

 

          “A Rádio Globo funciona como um relógio. Se não mexer nas peças, ele tem corda suficiente para funcionar ainda por uns dez anos”

 

          No entanto, não foi o que aconteceu. Aos poucos, as peças do “relógio” foram substituídas por outras, só que fora de especificação. Até que seu mecanismo ficasse completamente desfigurando. A par disso, os companheiros de diversas áreas que trabalhavam ali, ainda se perguntam:

 

          “Como pode uma emissora daquela envergadura entrar em colapso?”.

 

          Alguns até formaram uma opinião errônea sobre a continuidade do mais eficiente e abrangente veículo de comunicação de massa. Alguns companheiros são mais enfáticos: “O rádio acabou”, eles dizem. Mas acho que a Rádio Globo por muitos anos esteve presente no cotidiano de todos nós, apaixonados pela profissão. Por isso, esquecemos que, fora dali, existe um universo repleto de emissoras brilhando e transmitindo os mais diversos tipos de informação e entretenimento. Particularmente, acho que o rádio passa também por uma drástica transformação. Nós, que acompanhamos as mudanças introduzidas principalmente pela Internet, temos que levar em conta que o que mudou foram as formas de se ouvir rádio. Afinal, estamos neste planeta para evoluir, sempre! Mas isso é outra história. 36 – 137 – 205 – 300 – 301 – 302 – 303 - 323. 


Inauguração


            12 de setembro de 1936. Naquele sábado, quando os ponteiros marcavam 21h00, com o fundo musical Luar do Sertão o locutor anunciava:


           "Alô Alô Brasil! Aqui fala a Rádio Nacional do Rio de Janeiro!


          Assim, direto do 21º andar do edifício do jornal A Noite na Praça Mauá número 7, na cidade do Rio de Janeiro era inaugurada a PRE-8, Sociedade Civil Brasileira Rádio Nacional, controlada pela Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, uma das empresas brasileiras de Percival Farquhar (1865 – 1953), um gigante empresário norte-americano, dono de vários empreendimentos de peso no país.

          A Rádio Nacional do Rio de Janeiro iniciou suas transmissões normais após solenidade que contou com a presença de diversas personalidades, como integrantes da sociedade carioca, embaixadores e membros do governo. Todos reunidos no auditório da emissora.

         Já no dia de sua inauguração, a Nacional apresentou seu grande elenco de cantores e artistas, com o qual iria marcar presença na história do rádio e da música popular do Brasil. São muitos os nomes, mas podemos destacar alguns, como os cantores Carlos Galhardo, Francisco Alves, Sílvio Caldas, Ataulfo Alves, Dalva de Oliveira, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, Luiz Gonzaga e Araci de Almeida; os maestros Romeu Ghipsman e Radamés Gnatalli, os locutores Celso Guimarães, Ismênia dos Santos, Oduvaldo Cozzi e Aurélio de Andrade, o cronista Genolino Amado, o redator Rosário Fusco e o compositor Lamartine Babo, entre outros

Como foi:

          Em 1931, os imóveis, máquinas e demais bens da empresa jornalística A Noite passaram para as mãos da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, como pagamento de dívidas. Faziam parte do grupo a S.A. Rio Editora e as revistas de variedades A Noite Ilustrada e Carioca - e a revista do gênero textos temporários Vamos Ler.

          Os novos proprietários decidiram investir também no setor de radiodifusão, e para este fim constituíram a empresa Sociedade Civil Brasileira Rádio Nacional, em 18 de maio de 1933. Então, eles adquiriram um transmissor de 20kw, que pertencera à extinta Rádio Phillips, e instalaram a Rádio Nacional no prédio do jornal A Noite, um edifício na zona portuária inaugurado em setembro de 1929 com status de primeiro arranha-céu da cidade do Rio de Janeiro, o maior arranha-céu da América Latina e o mais alto edifício do mundo construído em concreto armado. Na época, o maior arranha-céu do planeta era o Woolworth Building de Nova York, construído em estrutura de aço, inaugurado em 26 de abril de 1913.

          Em 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas, após um golpe de estado instaurou o chamado Estado Novo, ou Terceira República Brasileira, que foi um período na história do Brasil marcado por grandes realizações, mas que pautou pela centralização do poder, pelo nacionalismo e perseguição aos integrantes do Partido Comunista

          Em oito de março de 1940, a Rádio Nacional, assim como todos os bens da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande passaram para o âmbito do Estado. Vargas, sob o Decreto-Lei nº 2.073 criou as Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União. Desta maneira, o governo federal assumiu o controle do grupo A Noite e da Rádio Nacional, inclusive do edifício que abrigava as duas instituições. A encampação teve como principal alegação as dívidas contraídas pela companhia junto ao Patrimônio Nacional. No mesmo ano, a direção da Rádio Nacional foi entregue ao jornalista, ex-promotor e ex-diretor das revistas A Voz do Rádio e Sintonia, Gilberto de Andrade, que se manteve-se na direção da emissora até 1946. Logo que assumiu, ele implantou uma gestão profissional, introduzindo medidas revolucionárias que refletiram no desempenho da Nacional. Com uma programação diversificada e bem organizada, a emissora atraiu o grande público.

          Em 28 de agosto de 1941, estreou na voz do locutor Romeu Fernandez Junqueira o Repórter Esso - Testemunha Ocular da História, inaugurando o radiojornalismo brasileiro. Suas frases curtas e objetivas, agilidade e seleção das notícias ainda são utilizadas pela maioria das emissoras que veiculam informações. O Repórter Esso terminou suas transmissões em 31 de dezembro 1968, com Heron Domingues narrando sua abertura, e Roberto Figueiredo, bastante emocionado fazendo as despedidas. O Repórter Esso  ainda é considerado um dos mais importantes informativos radiofônicos do país.

          Ainda em 1941, foi criado o Radioteatro Colgate, que lançou em cinco de junho do mesmo ano a primeira radionovela irradiada no Brasil: Em Busca da Felicidade. De autoria do cubano Leandro Blanco e adaptada pelo brasileiro Gilberto Martins, a novela foi apresentada em 119 capítulos de meia hora, e saiu do ar em sete de maio de 1943. Por tudo isso, considera-se que o ano de 1941 foi um ano de grandes realizações para a Rádio Nacional do Rio de Janeiro.

          As radionovelas se tornaram um grande sucesso, e logo passaram a ocupar diversos horários da programação da emissora. Durante as décadas de 1940 e 1950 e parte dos anos 1960, foram elas as campeãs de audiência da Rádio Nacional. Durante o ano de 1943 a emissora transmitiu 19 radionovelas. Em dez anos este número aumentou para 75 e, em 1955, a Nacional atingiu a cifra de 157 radionovelas anuais.

          Em oito de janeiro de 1951 a Rádio Nacional lançou O Direito de Nascer, uma das mais importantes novelas radiofônicas do continente. Escrita pelo cubano Félix Caignet e adaptada no Brasil por Eurico Silva, O Direito de Nascer foi irradiada em diversos países latino-americanos. O elenco contava com Ísis de Oliveira, Iara Sales, Paulo Gracindo, Abigail Maia, Roberto Faisã e muitos outros. Muitos desses artistas fariam mais tarde, grande sucesso também na televisão. A novela teve 260 capítulos e ficou em cartaz até setembro de 1952. Ao longo do tempo, O Direito de Nascer foi reprisada em várias emissoras do país.

          Em 19 de abril de 1942, a Rádio Nacional inaugurou seis novos estúdios e um auditório, agora instalados no 22º andar do edifício, o que colocou a emissora entre as mais bem equipadas do mundo. Em 31 de dezembro de 1942, foi inaugurado um transmissor de ondas curtas RCA Victor de 50kw, e um sistema de cinco antenas direcionadas para todo o território brasileiro, Continente Americano, Ásia, África e Europa.

          Logo apareceram os programas de música popular, que lançaram ídolos como Carmen Miranda e Orlando Silva. Os shows de auditório apresentavam vários quadros, como números musicais, teatros de variedades, concursos de calouros, e sorteios de prêmios, e se mantiveram no ar por muitos anos. Os programas de César de Alencar, Manuel Barcelos e Paulo Gracindo, que estrearam no final da década de 1940, ficaram no ar por mais de 20 anos.

          Um dos eventos marcantes registrados na história da Nacional foi o quadro Rainha do Rádio. Os apresentadores César de Alencar e Manuela Barcelos, para promover a audiência dos seus respectivos programas criaram uma saudável disputa entre as cantoras Emilinha Borba e Marlene. O concurso mostrou a força da interação do ouvinte, que comprava os votos em benefício da campanha de construção do Hospital do Radialista. Quem venceu a competição foi Marlene. Mas isso foi só o começo; a disputa pelo título de Rainha do Rádio permaneceu viva por muito tempo.



Caça às bruxas: o fim de uma era


           Quando o governo militar se instalou no Brasil logo após o evento de 31 de março de 1964, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro se tornou um dos alvos de vigilância ideológica por parte dos órgão de repressão. Em dois de abril, Mário Neiva Filho foi nomeado o novo diretor da emissora. Num clima de perseguição política a muitos dos funcionários, uma comissão de investigação sumária foi imediatamente instalada. Em 23 de julho de 1964, através do A-1 (Ato Institucional Nº 1) foi expedido um decreto anunciando o afastamento de 36 funcionários e a demissão de outros 81 da Rádio Nacional. Todos eles acusados de envolvimento com o Partido Comunista. O inquérito policial militar terminou sendo arquivado por falta de provas, mas os funcionários não foram imediatamente reintegrados.

 Sobre isso, a atriz, educadora, política e radialista Dayse Lucide (1929 – 2020), que viveu a época de ouro e o declínio da Rádio Nacional resumiu durante uma entrevista ao site Memoria Globo:

 

          “Os militares começaram a ir lá, mas não entendiam nada daquilo. Estavam muito preocupados com o processo político, se alguém era comunista, aquelas coisas. Amolavam muito; toda hora você tinha que descer para responder a inquéritos, e aquilo desgastou. A Rádio Nacional começou a perder o rádio teatro, não tinha mais anúncio… Com Getúlio Vargas ela era do governo, mas o governo não se metia. Aquilo era uma engrenagem extraordinária. De repente a gente viu ruir. Foi um momento muito difícil, muito triste, que nós passamos dentro do rádio”.


              Com a perda dos mais importantes profissionais de seus quadros artísticos, a Rádio Nacional, que já vinha perdendo sua posição de liderança de audiência para a televisão, perdia a também, a cada dia, os patrocinadores, que passaram a investir em novas mídias. Mesmo assim, houve esforços no sentido de relançar algumas radionovelas de sucesso. Sob a direção de Dayse Lucide, o departamento de rádio teatro levou ao ar a novela A noite do Meu Destino, de Eurico Silva, estrelada por Paulo Gracindo, e Ternura, de Amaral Gurgel, com a participação de Cauby Peixoto e Cláudio Cavalcanti. Mas os resultados não foram bons, e a emissora desativou o departamento de rádio teatro. O lendário auditório chegou a voltar no início dos anos 2000, mas sem a força de antes.

Na década de 1970, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro passou a fazer parte da Radiobrás (Empresa Brasileira de Radiodifusão), gestora das emissoras AM e FM de Brasília e da Nacional da Amazônia. As emissoras ligadas à Radiobrás agora fazem parte da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação).

          Em 2012, quando o Edifício de A Noite entrou em reforma, a Rádio Nacional, depois de 76 anos foi transferida para a sede da TV Brasil Rio de Janeiro no Bairro da Lapa. A previsão era de que após a conclusão da restauração do prédio previsto para 2016, a emissora retornasse à Praça Mauá, mas em sete de julho de 2020, a Secretaria de Patrimônio da União anunciou o leilão do prédio, com um contrato de permuta onde a vencedora do leilão terá que construir uma sede nova para a emissora e o Instituto Nacional de Propriedade Industrial.

          Em sete de maio de 2021, a EBC iniciou as transmissões da Rádio Nacional FM do Rio de Janeiro, na frequência 87.1 MHz de banda estendida, a faixa que vai de 76.1 MHz até 87.5 MHz. A chamada faixa estendida foi possível de ser aberta por causa do desligamento do sinal analógico de TV nos canais 5 e 6. Ela é reservada aos canais AM que optaram pela migração para a faixa FM, nas capitais e áreas metropolitanas onde já não há espaço para a faixa convencional. 

Atualmente, parte significativa do acervo da emissora denominada Coleção Rádio Nacional encontra-se no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Fazem parte da coletânea 31 mil discos de 78RPM, discos de acetato referentes a 5.171 programas, 1.873 de gravações musicais inéditas, 88 de prefixos, 82 de jingles e 7 de efeitos, todos já copiados em CDs. Há, ainda, cerca de 20 mil arranjos e 1.836 scripts.

          Em três de agosto de 2021, o Ministro das Comunicações, Fábio Faria e o diretor-presidente da Empresa Brasil de Comunicação, Glen Valente inauguraram o Museu da Rádio Nacional, na cidade do Rio de Janeiro. Nesse espaço, estão expostos itens usados por atores e locutores que trabalharam na Nacional. Também fazem parte da mostra fotografias, prêmios, roteiros e revistas do rádio. Os visitantes poderão conhecer uma réplica do estúdio usado nas gravações de radionovelas como Em Busca da Felicidade, a primeira do país.

 

Senhores, eu vi!


          Com certeza, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro não foi a primeira emissora do mundo a transmitir programas de auditório. Mas é muito provável que tenha sido a pioneira no Brasil. O fato é que com o advento da Nacional, o caminho a ser seguido pelo rádio brasileiro ficou muito claro, sobretudo no interior do país. Grande parte da sua programação, cujo formato era revolucionário foi assimilada pelas pequenas emissoras espalhadas de norte a sul do país. Destaque para os programas de auditório. Sou contemporâneo de um exemplo disso.

          A primeira emissora comercial do antigo estado do Mato Grosso foi a PRI-7 - Sociedade Rádio Difusora de Campo Grande, hoje Difusora Pantanal. A PRI-7 foi inaugurada em 26 de agosto de 1939. Na década de 1950, Sabino Gonçalves Presa, um carismático comunicador nascido em 1º de abril de 1919 apresentava nas manhãs de domingo um programa de calouros que revelou alguns nomes para o cenário musical do país. O auditório da emissora ficava na Rua 14 de Julho no mesmo prédio com auditório, camarotes e espaço para conjuntos musicais, onde funcionou o Cine Trianon, inaugurado em 1932. No local foi erguida a Galeria São José, o primeiro “arranha céu” da Cidade Morena.

          Sabino Presa lançou em seu programa artistas como Franquito - O Prodigioso, um cantor mirim que lançou uma série de LPs de sucesso pela gravadora Copacabana, e chegou a fazer o filme Meu Destino em Tuas Mãos (1959). E a dupla sertaneja Delio e Delinha, O Casal de Onças de Mato Grosso também começou a carreira no auditório da Rádio Difusora. 36 – 41 – 78 – 205 – 294.

 

Rádio Bandeirantes de São Paulo: inauguração


          Seis de Maio de 1937. Começam as transmissões da PRH 9, Sociedade Bandeirante de Radiodifusão. A inauguração, comandada pelo locutor Joaquim Carlos Nobre foi abrilhantada pela Grande Orquestra de Miguel Izzo e pelo coral do Externato Ophélia Fonseca.

A Bandeirantes foi a primeira emissora brasileira a transmitir 24 horas ininterruptas a partir de 1950, a primeira a realizar a experiência de geração simultânea Rio-São Paulo em 1962, a primeira a utilizar um helicóptero no jornalismo e a primeira a formar uma rede via satélite em 1989. Outro marco pioneiro da Band é a Cadeia Verde Amarela: com 400 emissoras de rádio transmitiu a Copa do Mundo da Suécia, em 1958.       

"Modulando 840 quilohertz, falando aqui pelos lados dos chapadões do Morumbi - Bandeirantes cada dia melhor que antes...”.


Hélio Ribeiro (1935 – 2000) comunicador


               No início da década de 1970, o rádio brasileiro passou por uma fantástica evolução, com o surgimento em São Paulo do programa O Poder da Mensagem, criado e apresentado por um carismático comunicador que antes tinha passado pelas Rádios Jovem Pan, Tupi, Difusora, Piratininga, Excelsior, Capital e Globo. Seu nome era José Magnólio, mais conhecido como Hélio Ribeiro. Nascido na capital paulista em 24 de julho de 1935, ele inaugurava então uma revolução artística, imprimindo uma nova dinâmica na maneira de produzir e apresentar programas musicais e jornalísticos, cujos resultados revolucionariam o rádio comercial do Brasil. Assim como a bossa nova é considerada a divisora de águas na MPB, podemos afirmar que as mudanças promovidas por ele também podem ser consideradas como tal.

             Comecei a escutar O Poder da Mensagem pelas ondas curtas quando Hélio Ribeiro já havia se transferido para a antiga Super Rádio Tupi de São Paulo, emissora fundada em três de setembro de 1937 pelo criador dos Diários Associados, Assis Chateaubriand Bandeira de Mello (1892 – 1968). Nessa época, eu trabalhava à noite na TV Morena, e durante o dia exercia a função de representante comercial. Visitava meus clientes na parte da manhã, e literalmente corria para almoçar em casa para escutar o programa.

Imagino que o suporte técnico oferecido pela Rádio Tupi não satisfazia as exigências do Hélio, que por várias vezes reclamou com veemência dos “apitos” (microfonia) em seu fone de ouvido. O fenômeno atrapalhava muito o seu desempenho, até que num daqueles dias em que nada dava certo, logo no início do Poder da Mensagem Helio interrompeu os trabalhos e bradou, com uma firmeza impressionante e inédita na História do rádio, acho eu:

 

             “A partir desse instante, meu contrato com a Rádio Tupi está cancelado. Boa Tarde”.

 

             Com certeza, o Hélio sabia o que estava fazendo, porque além de comunicador, era advogado. Dito e feito. No outro dia, o programa não entrou mais no ar por aquele prefixo. Porém, para minha alegria e a de milhares de ouvintes espalhados pelo país, Hélio Ribeiro, dias depois estreou na Rádio Bandeirante (Cada Dia Melhor Que Antes) como apresentador do Poder da Mensagem e diretor artístico da emissora.

Suas fórmulas inovadoras se fizeram presentes também na criação e na produção das vinhetas, bem como na veiculação dos spots e jingles publicitários da Rádio Bandeirantes. Nos intervalos comerciais, a diferença era notada já no primeiro instante. Por exemplo, para um comercial de refrigerante, o locutor comercial inseria na peça publicitária um texto citando uma curiosidade a respeito do produto, complementando assim a mensagem proposta, valorizando cada centavo aplicado pelo anunciante.

              Antes dessas mudanças, a plástica dos programas obedecia a um padrão muito rígido, que incluíam longas aberturas e encerramentos, previamente gravadas. A isso, dá-se o nome de Prefixo e Sufixo. A partir das mudanças, tudo ficou mais dinâmico. Ao vivo, o comunicador cumprimenta o ouvinte e se despede da forma mais simples, mais rápida e mais objetiva.

              O Poder da Mensagem era um programa que, como sugere o nome, irradiava cultura e otimismo em alto nível, informações e traduções das músicas de sucesso, uma das revolucionárias inovações introduzidas por Hélio Ribeiro no rádio brasileiro. Essas traduções ele anunciava assim:

 

              “Versões livres para o português diretamente para o seu coração e para sua saudade”.


              Na Rádio Bandeirantes estavam os maiores comunicadores do rádio paulistano à época: entre outros, Humberto Marçal, George Helal e Ferreira Martins. Ferreira, que ainda hoje grava os spots para uma grande rede bancária e uma fábrica de automóveis asiática, apresentava o Programa da Tarde, uma revista de variedades onde o apresentador, além do tocar as músicas de sucesso, contava curiosidades sobre os artistas e personalidades da política, além de tecer comentários em alto nível e bom humor sobre os acontecimentos decorrentes. 41.

             O sonoplasta e operador Onofre Favotto, nascido em 12 de junho de 1950 em Maringá, Paraná é um dos profissionais mais antigos do SGR (Sistema Globo de Rádio) em São Paulo. Ele começou a carreira em sua cidade natal em 1968, e em 1970 já estava trabalhando no rádio paulistano. Muito querido e respeitado por todos os colegas por sua humildade e experiência, Favotto, que acompanhou muito de perto esse período histórico do rádio brasileiro, foi o último operador do Hélio Ribeiro no programa O Poder da Mensagem. O próprio Favotto relata:

 

            “O Hélio era um profissional cheio de atitude, um inovador, e por isso, sempre foi considerado polêmico. E polêmicas eram suas decisões. Como aquela em que ele tomou na época da implantação da Rádio Jovem Pan AM, em 1965”.

              A direção da antiga Rádio Panamericana AM, emissora fundada na capital paulista em três de maio de 1944, tencionando direcionar o veículo para um público jovem, resolveu implantar um formato mais moderno em sua programação. Nessa época, a TV Record, líder de audiência absoluta por causa dos festivais de MPB, e dos grandes shows musicais, era a proprietária da Panamericana.

          O programa Jovem Guarda que havia estreado em 22 de agosto de 1965 causava delírio entre a juventude. Para sacramentar as mudanças, o fundador do Grupo das Emissoras Unidas, Paulo Machado de Carvalho (1901 – 1992), - celebrado como O Marechal da Vitória por comandar as delegações brasileiras nas Copas de 1958 e 1962 - trocou o nome da Rádio Panamericana AM para Rádio Jovem Pan AM, e entregou o comando ao filho Antônio Augusto Amaral de Carvalho (1931 - ), mais conhecido como Tuta.

          Hélio Ribeiro, então diretor artístico da emissora determinou ao pessoal da área técnica que colocasse a Jovem Pan AM em cadeia com a TV Record para a retransmissão do programa liderado pelo cantor Roberto Carlos, ação que fazia parte do novo formato da emissora. Mas como? Atrelar o rádio à televisão? Então, os operadores se recusaram a cumprir a inusitada ordem. Polêmicas à parte, Favotto conta:

 

          "O Hélio ficou furioso com a insubordinação. Foi até a Central Técnica e fez, ele mesmo a conexão”.

 

     Começava assim uma nova era para o maior veículo de comunicação de massa.

Ademar Casé, nascimento

 

          Seis de abril de 1902. Nasce em Caruaru, Pernambuco o radialista Ademar da Silva Casé. Pioneiro do rádio no Brasil, ele criou o Programa Casé, que revelou nomes como Noel Rosa, Carmen Miranda, Sílvio Caldas, Custódio Mesquita, Francisco Alves e Orlando Silva. É o primeiro programa comercial do país, que estreou em 14 de fevereiro de 1932, um domingo, oito da noite. Casé foi o primeiro a pagar cachê aos artistas e o primeiro a contratar com exclusividade.

          Em 1º de março de 1932, o presidente Getúlio Vargas, através do Decreto Lei Nº. 21 111, autorizou e regulamentou a publicidade no rádio. O Programa Casé transmitiu o primeiro jingle da história do rádio brasileiro. A peça publicitária foi criada pelo compositor e caricaturista Nássara (1910 – 1996) - à época, redator do programa - para a Padaria Bragança :

                             

           “Oh! Padeiro desta rua/ tenha sempre na lembrança/ não me traga outro pão/ que não               seja o pão Bragança...”.

            Em seus melhores momentos, o Programa Casé começava às nove da manhã de domingo e só terminava à meia noite. Foi líder absoluto de audiência durante quase 19 anos. Mas quando a televisão chegou em 1951, o comunicador encerrou sua carreira no rádio e foi trabalhar lá, se associando à Assis Chateaubriand. Na TV Tupi, Casé também foi o pioneiro na produção de programas como o Noite de Gala. Nesse mesmo ano, o comunicador abriu a Agencia de Propaganda Midas.

          Ademar Casé era pai do produtor, escritor e diretor de TV Geraldo Casé (1928 – 2008), e avô da atriz, autora, diretora e apresentadora Regina Casé (1954 - ). Ademar Casé morreu aos 90 anos na capital carioca em seis de abril de 1993. 33.0/08/1995 – 78 – 154.

Rádio Guaíba de Porto Alegre: inauguração

          30 de abril de 1957. Por iniciativa do jornalista Breno Caldas (1910 – 1989), entra no ar a ZYU-58 Rádio Guaíba de Porto Alegre Rio Grande do Sul inicialmente com 10 quilowatts em ondas médias e dois transmissores de ondas curtas. Sua inauguração oficial aconteceu no Theatro São Pedro com a apresentação da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, da pianista Yara Bernette, do Coro Orfeônico da Sociedade Aliança de Novo Hamburgo e recital de Tito Schipa. 

           Única emissora gaúcha a cobrir a Copa do Mundo de 1958 na Suécia, a Rádio Guaíba manteve no ar por 53 anos o Correspondente Renner, um dos mais importantes informativos do rádio brasileiro. O Correspondente Renner foi apresentado durante 46 anos pelo jornalista Milton Ferreti Jung (1935 - 2019), pai do locutor Milton Jung, âncora da Rádio CBN. Em quatro de outubro de 1957, o jornal retransmitiu o sinal em forma de bip enviado pelo Sputnik 1, o primeiro satélite artificial da História, lançado pela União Soviética.

           Desde o início, o formato All News próprio foi adotado pela Rádio Gauíba, a Única na raidofonia brasileira. Até a metade da década de 1980, a emissora não veiculava jingles comerciais. Os textos eram transcritos e lidos por dois locutores com o mesmo timbre de voz que se revezavam nas leitura ao vivo, o material fornecido pelo anunciante. O mesmo procedimento valia para as notas do jornalismo. Outra característica da Rádio Guaíba de Porto Alegre era o sinal (bip) eletrônico acionado automaticamente para informar a hora certa. Ele era uma espécie de DNA da emissora gaúcha: um dos dois locutores anunciava assim:


"O quinto sinal eletrônico marcou (ou vai marcar) tantas horas em Porto Alegre".


          Em março de 2007, todo o complexo jornalístico que envolvia TV, jornal e a rádio, passou para as mãos da Grupo Record, do bispo evangélico Edir Macedo (1945 - ). 41.


A Voz do Brasil, criação

 

          22 de Julho de 1935. Por força de decreto do presidente Getúlio Vargas, o programa A Voz do Brasil, produzido pelo DOP (Departamento Oficial de Propaganda) passa a ser apresentado pelo locutor Luiz Jatobá em cadeia nacional de rádio, com o nome de Programa Nacional.       

          Em 1939, o programa, rebatizado como A Hora do Brasil, tornou-se transmissão obrigatória pelas emissoras de rádio entre 19h00min e 20hmin para divulgar a ditadura do Estado Novo.     

          Em 1971, por determinação do presidente Emílio Garrastazú Médici, a Hora do Brasil virou A Voz do Brasil.

          Em 1995, o programa entrou para o Guiness Book como o programa de rádio mais antigo do Brasil. O noticiário também é o mais antigo programa de rádio do Hemisfério Sul. 14 - 36.   


Rádio Voz da América, inauguração


       
  24 de Fevereiro de 1942. Entra no ar a Rádio Voz da América, em inglês VOA (Voice of América). Serviço oficial de radiodifusão internacional do governo dos Estados Unidos, a emissora foi criada durante a Segunda Guerra Mundial para transmitir notícias e propaganda política para países da Europa e Norte da África. Em 17 de fevereiro de 1947, a VOA passou a transmitir para a União Soviética.

          O Serviço Brasileiro da Voz da América foi introduzido em 1961. No final da década de 1980, a emissora incrementou sua programação para o Brasil, iniciando uma série de produções de programas, em parceria com a Rádio Bandeirantes de São Paulo. Para isso, foram contratados locutores como José Américo, Luiz Amaral, Pedro Kattah, Ricardo André, Luiz Edmundo, entre vários outros.

              Outro locutor brasileiro que escreveu seu nome na história da VOA foi José Roberto Dias Leme, que trabalhou lá desde a criação do serviço brasileiro até 18 de abril de 2001, quando este foi desativado, motivado por diversos fatores; entre eles o fim da Guerra Fria, quando a propaganda ideológica desenvolvida em Washington perdeu sentido; e o crescente abandono dos aparelhos de rádio de ondas curtas, empurrados pelo avanço tecnológico das transmissões via satélite. Em 2000, a Voz da América iniciou suas transmissões pela Internet.

              Em 1994, quando emissora encerrou as transmissões por ondas curtas, 45 emissoras do Brasil retransmitiam os boletins gerados em Washington. O serviço brasileiro da Voz da América contava então com 20 jornalistas. 41.

Rádio Clube de Pernambuco, fundação


          6 de abril de 1919.  O extinto Jornal do Recife noticiou:


          "Consoante convocação anterior, realizou-se ontem na Escola Superior de Electricidade, a fundação do Rádio Clube, sob os auspícios de uma plêiade de moços que se dedicam ao estudo da electricidade [sic] e da telegrafia sem fio. Ninguém desconhece a utilidade e proveito dessa agremiação, a primeira do gênero fundada no País".

          Em função de ter feito a primeira transmissão oficial mesmo em um estúdio improvisado, a Rádio Clube do Recife reivindica o status de primeira emissora do Brasil. A História registra que, por iniciativa de um grupo de amadores de telegrafia sem fio liderados por Augusto Joaquim Pereira, em seis de abril de 1919 surgiu a Rádio Clube de Pernambuco.

          Em 1920, a emissora passou a transmitir de suas novas instalações na Avenida Cruz Cabugá, no bairro de Santo Amaro, localizado na zona central de Recife. Em fevereiro de 1923, foi instalado um transmissor de 10 watts numa edificação localizada

          Dessa forma, não há consenso sobre o pioneirismo do rádio no Brasil. Apesar de todas essas controvérsias devido à falta de unanimidade, a história da radiofonia brasileira é riquíssima. 41 – 78.

“Eu não inventei nada. Eu redescobri”.

Auguste Rodin (1840 -1917), escultor francês

 

          Muitas décadas de empenho humano e de esforço quase sempre coletivo em benefício da prosperidade são fatores que nos permitem usufruir da herança que o passado nos legou. Entretanto, graças às modernas ferramentas desenvolvidas com o propósito de promover a dinamização das comunicações e o aumento do conhecimento humano, ganhamos mais poder para vislumbrar a nossa volta e melhor compreender a História, e deste modo, afastar a cortina de fumaça que a envolve. Reparamos que, muito do que foi inventado aconteceu por pura obra do acaso; ou então, tudo não passa de um constante aperfeiçoamento de conceitos anteriores (ou sucessão de ideias). Quanto mais nos aprofundamos no assunto Invenções, pesquisando antes em velhas publicações, algumas delas encontradas perdidas nas prateleiras empoeiradas de algum sebo - e depois na grande rede, verificamos que não existe consenso sobre quem inventou (ou quem fez primeiro) um sem número de produtos e artefatos criados pelo homem desde os tempos pré-históricos, bem como a ampla variedade de máquinas e ferramentas disponíveis nos diversos setores da vida moderna. Com o disco não é diferente.


Breve História do Disco


          A história da criação do disco é muito rica e longínqua. Ela começa na metade do Século 19. Apesar das drásticas mudanças introduzidas na forma de se ouvir música a partir da criação da Internet, o disco permanece ainda como um dos mais revolucionários produtos da indústria do entretenimento em todos os tempos. Contudo, há que se ressaltar que, curiosamente essa mídia poderosa originalmente não foi introduzida na forma de círculo, mas sim, no formato de cilindro, comoveremos a seguir.

          A par disso, verificamos que a História é recheada de narrativas sobre a trajetória de celebrados velhacos infiltrados entre os empreendedores honestos. Na busca desenfreada por fama e dinheiro, inescrupulosamente eles se transformaram em megaempresários à frente de verdadeiros impérios industriais monopolistas, na maioria das vezes, escudados por eficientes serviços de patentes. Mas como diz o sábio ditado popular: “É preciso separar o joio do trigo”.

          Nada contra os sistemas de patentes, pois essas concessões públicas conferidas pelo Estado são, por definição, o título de registro de invenções, de marcas de fábrica, de nomes de produtos comerciais e industriais e de direitos autorais. Instituição imprescindível, as patentes garantem ao detentor os direitos de prevenção e proteção contra terceiros fabricarem, usarem, venderem, oferecerem ou importar sua invenção; desde que sejam revelados todos os detalhes técnicos concernentes ao produto ou criação a serem protegidos. Assim é o procedimento padrão adotado pelas nações industrializadas

          Em 1857, Édouard-Léon Scott de Martinville (1817 – 1879) um impressor gráfico, bibliotecário e vendedor de livros francês conseguiu pela primeira vez na História, realizar o registro de um som de forma mecânica. Para isso, ele utilizou um aparelho que desenhava as curvas das ondas sonoras num cilindro envolto com papel escurecido por fumaça; ou seja, o aparelho registrava as ondas sonoras do que se dizia, cantava ou tocava, dentro de uma lata. Léon Scott chamou sua criação de Fonoautógrafo. 

          O que motivou o visionário francês foi o seu fascínio por sons vocais, e a vontade de criar um meio de transcrevê-los. Em 1853, quando pesquisava material para uma publicação sobre física, ele encontrou algumas publicações técnicas, nas quais haviam desenhos sobre estudos de anatomia auditiva. Assim, Léon Scott colocou suas ideias no papel. Em 26 de janeiro de 1857, ele entregou seu projeto para a Academia de Ciências (Académie des Scienses). Em 25 de março daquele ano, ele recebeu a patente francesa Nº 17.897 / 31.470 pelo Fonoautógrafo. Mas a invenção Scott se mostrou sem utilidade prática, pois não havia ainda nenhum aparelho capaz de reproduzir o som gravado.

             Em nove de abril de 1860, 17 anos antes de Thomas Alva Edison gravar o poema de sua autoria no seu Fonógrafo, Léon Scott girou sua manivela e cantou por 10 segundos, a canção tradicional francesa Au Clair De La Lune em seu Fonoautógrafo. Seguramente, este é largamente considerado o primeiro registro conhecido de um som. Mas ele mesmo não ouviu o resultado, pois morreu em 26 de abril de 1879, um dia depois de completar 62 anos. Entretanto, a História faz com que ele receba seus devidos créditos através de registros escritos.

          Em 18 de Abril de 1877, o cientista, poeta e visionário francês Charles Cros (1842 – 1888), apresentou na Academia Francesa das Ciências um projeto chamado Paleophone, que previa a gravação e reprodução sonora. Mas sendo ele um poeta boêmio, não tinha credibilidade levantar para fundos, e assim, dar vida à sua invenção, que nunca saiu do papel.

          Mas foi com a informação descritiva de Cros é que a preocupação com a gravação e a reprodução do som gravado no mesmo aparelho começa a ganhar força, e é suplantada por Thomas Edison. Charles Cros nunca chegou a conceber as suas ideias. Ele morreu em Paris na completa miséria aos 45 anos, em nove de agosto de 1888.

          Como percebemos, várias cabeças pensantes deram continuidade no trabalho de aperfeiçoamento do cilindro introduzido por Édouard-Léon Scott de Martinville em 1857.

         


          20 anos depois, em 21 de novembro de 1877, o inventor e empresário norte-americano Thomas Alva Edison (1847 – 1931) apareceu com o Fonógrafo, o primeiro artefato capaz de gravar e reproduzir o som gravado. No ano seguinte, ele recebeu a patente pelo seu invento.

           O Fonógrafo de Edison consistia basicamente de um cilindro de bronze recoberto com estanho e de um diafragma equipado com um estilete. Mais tarde, o inventor trocou o papel por um cilindro de metal com papel alumínio enrolado em volta dele. A máquina possuía duas unidades de diafragma e agulha, uma para gravação e outra para reprodução. 

          Enquanto o cilindro girava, Edison falava em um bocal; excitado pelas vibrações, a agulha de gravação produzia ranhuras no papel alumínio. Na reprodução, outra agulha percorria as ranhuras gravadas, transmitindo o som do diafragma. Edison fez um esboço do Fonógrafo para seu chefe de máquinas John Kruesi (1843 – 1899), que o construiu, supostamente, em 30 horas. Ato contínuo, Edison testou imediatamente o aparelho, cantando no bocal a canção de ninar Mary Tinha um Cordeirinho (Maria Had A Little Lamb). A máquina reproduziu então suas palavras.

          O problema era que, na reprodução dos primeiros Fonógrafos, a velocidade imposta à manivela precisava estar sincronizada à da gravação; caso contrário, o som surgiria distorcido e infiel ao ruído registrado originalmente, ou seja, fora de rotação. Essa questão ainda inviabilizava a comercialização do aparelho em larga escala, porque o processo era manual. Mais tarde, a precisão necessária no registro e na reprodução sonora seria alcançada com a substituição da manivela manual por um sistema de alimentação através de uma bateria elétrica. Os cilindros eram inicialmente fixos, mas por pouco tempo. Em 1889 o Fonógrafo de Edison foi aperfeiçoado e os cilindros removíveis passaram a ser comercializados nos Estados Unidos.

         


          As tentativas continuaram com as pesquisas do inventor Alexander Graham Bell (1847 – 1922) e seu parceiro Charles Tainter, em 1885. Eles trabalharam no aperfeiçoamento do fonógrafo de Edison, a fim de transformá-lo num produto comerciável, e assim, colocá-lo no ponto de receber patentes independentes. O que Bell e Tainter fizeram foi criar um aparelho batizado por eles de Graphone. Em 1886, ambos receberam uma patente para um dispositivo que utilizava cilindros removíveis, feitos de uma base de papelão coberta com cera; portanto, um produto muito mais barato que os cilindros de folha de bronze ou alumínio recoberto com estanho de Edison. Dessa forma, os cilindros poderiam ser comercializados, independentemente do aparelho.


          Esta evolução permitiu um som mais claro e compreensível. Edison, então, continuou a trabalhar no Fonógrafo, criando depois um cilindro inteiramente de cera de carnaúba, muito mais resistentes do que os cilindros do concorrente, que se partiam facilmente. Com isso, Edison quebrou a patente de Bell.



          Em 24 de janeiro de 1878, Edison criou a Edison Speaking Phonograph Company com o objetivo de comercializar o Fonógrafo, apesar das limitações do aparelho. Mesmo assim, no começo ele foi um sucesso de vendas. Entretanto, a empresa de Edison vai enfrentar uma dura concorrência a partir de 1887, quando o inventor Emil Berliner, nascido em 20 de maio de1851 em Hanôver, Alemanha apresentou seu Gramofone, e dessa forma, ganhar a competição, tornando-se o meio de armazenamento de áudio padrão do mercado da música, até a ascensão do disco de vinil, em 1948. 


          Na Alemanha, o inventor Emil Berliner (1851 -1929) começou a trabalhar com o Fonoautógrafo de Léon Scott de 1857, utilizando fotogravura para reproduzir os sons gravados no cilindro. Para acabar com a dificuldade de enrolar e desenrolar a gravura, ele passou a trabalhar com discos. Por isso, é creditado como o inventor do Disco Plano de Gramofone, introduzido por ele em oito de novembro de 1887. Foi neste ponto da história que o cilindro de Édouard-Léon Scott de Martinville se transformou, finalmente em disco, literalmente.

        O Disco Plano de Gramofone oferecia maior duração e superior capacidade de registro. Utilizado para gravação e reprodução músicas, ele é giratório e coberto com cera, goma laca, vinil, cobre entre outros materiais, onde são gravados por uma agulha.

          Essa agulha permite ler a informação contida no disco, através de vibrações e está ligada a um braço que se move ao longo da espiral inscrita na sua superfície. A velocidade das rotações, inicialmente era controlada de forma mecânica, através de uma manivela. Sobre o limite do braço da agulha, num dos cantos da caixa do gramofone encontrava-se um dos seus elementos fundamentais e mais característicos: o amplificador metálico com a forma de uma grande corneta. No início, a velocidade e o formato dos discos não estavam ainda definidos. Havia discos de 76, 79, 80 RPM (Rotações Por Minuto), e os tamanhos variavam de 15, 17, 20, 25 a 30 centímetros. Por fim, na metade da década de 1910, a Victor Talking Machine Company, embrião da gravadora RCA Victor estabeleceu os padrões que nortearam os parâmetros com os quais se denominam os discos: 78 RPM, com as dimensões de 10 polegadas (25 centímetros). No entanto, discos de 12 polegadas (30 centímetros) continuaram a ser editados, destinados à gravação de peças de música clássica, de maior duração. Em 1948, surgiria o formato que iria substituí-lo, e sobrevive ainda hoje: o LP (Long-Play), de 33⅓, rotações e 12 polegadas (30 centímetros). Para facilitar, convencionou-se que as polegadas sejam expressadas em números redondos. 

           Em 1894, Emil Berliner fundou nos Estados Unidos a United States Gramophone Company; em 1897, a The Gramophone Company em Londres (Inglaterra), a Deustsche Garmmophon em Hanover (Alemanha); em 1898, a Berliner Gram-o-phone Company no em Montreal (Canadá), e em 1901, a Victor Talking Machine Company em Camden, Nova Jersey, em parceria com o engenheiro e empresário Eldrige R. Johnson (1867 – 1945). A partir daí, milhares de discos foram gravados e difundidos por todo o mundo, garantindo e consolidando a presença e liderança comercial do Gramofone de Emil Berliner.

A Casa Edison do Brasil

 

              Em cinco de julho de 1902, o jornal carioca Correio da Manhã registrou:

 

           “A maior novidade da época chegou para a Casa Edison, Rua do Ouvidor 107. As chapas (records) para gramophones e zonophones, com modinhas nacionais cantadas pelo  popularíssimo Baiano e pelo apreciado Cadete, com acompanhamento de violão, e as melhores polkas, schottisch, maxixes executados pela Banda do Corpo de Bombeiros do Rio, sob a regência do maestro Anacleto de Medeiros".

          Fundada pelo imigrante tcheco Fred Figner (1866 – 1947) em 1900, a Casa Edison era um estabelecimento comercial destinado inicialmente à venda eletrodomésticos. Dois anos depois se tornou a primeira gravadora comercial do país. Ali foram gravados os primeiros discos brasileiros, que em seguida eram enviados à Europa para serem prensados. Em 1911, a Casa Edison associa-se à Odeon Records, uma gravadora fundada em Berlim em 1903, e instala a primeira fábrica de discos do país, no Bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. A Odeon foi a primeira gravadora a lançar um disco de Gramofone com gravado nos dois lados (Lado a e Lado b), em 1904.

          Em 27 de novembro de 1916, o músico carioca Ernesto Joaquim José Maria dos Santos, o Donga (1890 – 1974), entrou para a História ao gravar a música Pelo Telefone. A letra ironizava o chefe de polícia Aurelino Leal (1877 – 1924), que, em 1916 ordenou, pelo telefone, o fechamento de todas as roletas instaladas no centro do Rio de Janeiro. O disco foi gravado pela Casa Edison e lançado pelo selo Odeon. A petição em que Donga registrou a música no Departamento de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional vinha acompanhada por uma partitura assinada pelo compositor Pixinguinha (1897 – 1973). Gênero: samba, registrado em nome de Donga e Mauro de Almeida (1882 – 1956). Mas a música Pelo Telefone até hoje suscita polêmica em relação à autoria: alguns historiadores defendem que Mauro teria apenas feito o registro por escrito, não sendo de fato parceiro de Donga. No início da década de 1920, Donga trocou e registrou em cartório seu nome para Ernesto dos Santos. Ele também fez parte do conjunto Os Oito Batutas, grupo musical que tinha como integrantes músicos famosos na época, como Pixinguinha, João da Baiana e Nelson Alves.

Nasce o LP (Long Play) o lendário vinil


          Em 1º de junho de 1948, no luxuoso hotel Waldorf Astoria, em Nova York, é lançado pela Columbia Records um dos mais revolucionários produtos da indústria do entretenimento. Naquele dia, o mundo passou a conhecer os primeiros discos de longa duração: 12 polegadas ou 30 centímetros, batizados de LP, abreviação de Long Play - ou Toque Longo, em português. Com 250 estrias por polegada, ele gira a 33⅓ RPM (rotações por minuto) e toca em média 25 minutos de música em cada lado.

          O LP aposentou o velho 78 RPM, que além de reproduzir os sons com alto nível de ruído ou chiados, tocava apenas quatro minutos em média. Para se ter uma ideia, tomemos como exemplo a ópera Don Giovanni, de Mozart, que dura 170 minutos. Para se registrar esta peça em discos 78 RPM, seriam necessárias 23 unidades; ou 46 interrupções para ser trocar de lado, ou como se diz, virar o disco. O público espectador presente no Waldorf Astoria estava obviamente incrédulo diante da possibilidade de que os registros sonoros de um montão de 78 RPM agora poderiam caber em uma pequena pilha de álbuns de 12 polegadas. Mais importantes ainda, eles foram surpreendidos com a qualidade do som oferecido por essa nova maneira de se ouvir música. No final da década de 1950, as gravações em mono (um canal) evoluíram para gravações em estereofônico (dois canais), que além de sepultar de vez o 78 RPM, solidificou a mídia no formato LP, popularmente conhecida como vinil.


         



          O LP foi desenvolvido pela equipe chefiada por Peter Carl Goldmark, um engenheiro húngaro-alemão nascido em Budapeste, capital da Hungria em dois de dezembro de 1906. Para ele, o 78 RPM “era uma profanação sonora, um insulto à qualidade musical”. Durante os 36 anos de trabalho na Divisão de Laboratórios da CBS (Columbia Braodcasting System), Goldmark, um homem de cultura extensa e variada, liderou diversas equipes que desenvolveram grandes inovações, como o primeiro sistema prático de TV a cores e o videoteipe. Então, ele arregaçou as mangas e passou a trabalhar no sentido de eliminar os problemas da interrupção nas audições musicais, bem como atenuar os chiados indesejáveis. Goldmark e sua equipe trabalham durante quatro anos para chegarem ao LP, uma mídia que revolucionou o registro sonoro, valorizando o trabalho dos grandes artistas no mundo inteiro. Primeiro, ele estudou o comprimento das ondas sonoras em um disco, e o modo como as vibrações sonoras se transformam em sinais elétricos, analisou as causas dos chiados e das distorções e chegou à conclusão que, para aumentar o tempo de gravação não bastava diminuir a velocidade de sua rotação. Era preciso também ampliar a quantidade de microssulcos e encontrar um material mais adequado que a goma laca, principal substância que era utilizada na fabricação do 78 RPM. Depois de muita pesquisa, Goldmark e sua equipe chegaram ao vinil, um material que melhor se adapta às exigências do corte da agulha. No início, quando a novidade (o LP) foi apresentada para o chefão da Columbia Edward Wallerstein (1891-1970), encontrou resistência, pois na época em que a concorrente RCA trabalhou no mesmo projeto, Goldmark era seu gerente da divisão de gravações.

          Mas aqui também se aplica a regra da sucessão de ideias. O disco introduzido por Goldmark e sua equipe não era uma ideia nova. O protótipo do LP desenvolvido por ele e sua equipe foi o disco de trilha sonora usado pelo Vitaphone. Desenvolvido pela Western Electric e introduzido em 1926, este foi o primeiro método para filmes sonoros bem sucedido comercialmente, onde o som era gravado em um disco fonográfico eletronicamente vinculado e sincronizado com o projetor de filme. O Vitaphone possuía o diâmetro de 16 polegadas (40 centímetros), e a velocidade reduzida para 33 1 / 3 rotações por minuto. Ao contrário de seus descendentes de LPs menores, os discos da Vitaphone eram feitos com o mesmo grande sulco padrão usado nos 78 RPM. 

          A par disso, a gravadora RCA Victor, que também já havia feito pesquisas no sentido de diminuir a rotação dos seus discos a partir de 1932, não obteve sucesso, devido a problemas técnicos. Por isso, no mesmo ano, a companhia desistiu dos planos. Em quatro de janeiro de 1950, percebendo que o novo formato havia se tornado bem sucedido, ela anunciou que também iniciaria a fabricação do Long Play, preocupada em não perder sua quota no mercado de discos para a Columbia Records. Em seis de outubro de 1953, a mesma RCA Victor realizou sessões experimentais com o som estereofônico, no Manhattan Center de Nova York. O som estereofônico, ou simplesmente stereo em inglês é um método de gravação e reprodução de som com mais fidelidade sonora que, utilizando dois canais independentes de som monos sincronizados, cria uma ilusão de direcionalidade – o som ouvido de várias direções - de tal forma que nos passa a impressão de se tratar de uma audição ao vivo. Do ponto de vista tecnológico, o LP é claramente uma evolução, mas seus idealizadores jamais pensaram que ele promoveria também uma transformação social e cultural. Edward Wallerstein, chefão da Columbia, agora convencido, fez a seguinte narrativa sobre o desenvolvimento do LP em 1948:

 

          “Ninguém pode dizer que inventou o LP, que de qualquer modo não era, estritamente falando, uma invenção, mas um desenvolvimento”.

          Com a invenção do CD (Compact Disc) na década de 1980, o LP perdeu seu reinado de 40 anos. Mas os saudosistas mais radicais e aficionados por música, e grande parte dos DJs profissionais de todo o mundo têm promovido uma espécie de renascimento do LP. Por isso, as vendas de discos em vinil e de aparelhos reprodutores – toca-discos - aumentaram consideravelmente nos últimos anos. Nos Estados Unidos, no Brasil e na Europa, o comércio de vinil voltou a crescer, na contramão das quedas nas vendas de CDs. As grandes lojas também já mergulharam de volta nesse mercado, e as fábricas de toca-discos estão relançando seus produtos.

         

O primeiro LP (Long Play) produzido no Brasil


          Em 1º de janeiro de 1951, a fábrica Sinter (Sociedade Interamericana de Representações) lançava o primeiro LP com artistas brasileiros. Era um disco de 10 polegadas intitulado Músicas Para o Carnaval, com vários intérpretes do selo Capitol. Este é o primeiro long play gravado no Brasil e na América do Sul. Em 1955, já como o nome de CBD (Companhia Brasileira de Discos), a empresa lançou o primeiro disco estereofônico no Brasil. Em 1956, a Musidisc, uma gravadora criada em 1953, pelo cantor brasileiro Nilo Sérgio (1921 – 1981) lançou no mercado o Mini-LP de 16 RPM com oito faixas, formato que também não agradou muito ao público, e seu uso foi descartado pouco mais de dois anos depois.


O charme das capas de disco


             Segundo a revista ADG nº. 28, página 55, o trabalho de criação gráfica das capas de discos no Brasil começou antes mesmo de surgirem as escolas de design no país. Isto se deu somente no final da década de 1940. Os profissionais geralmente eram autodidatas, oriundos das áreas de ilustração, fotografia, propaganda e artes plásticas. Os primeiros discos, conhecidos como 78 RPM eram embalados em um envelope padrão de papel fino tipo kraft, impresso com a propaganda da loja ou da gravadora. Agora, muito do saudosismo que tomou conta dos aficcionados pelo vinil, promovendo seu renascimento vem do charme das capas dos discos, algumas consideradas como obra de arte. Na linha do tempo, somam-se milhares de álbuns memoráveis lançados em todo o planeta, de diversos gêneros musicais existentes, tornando quase impossível se fazer escolhas. Contudo, a Revista Rolling Stone Brasil listou dez capas de discos consideradas por ela como as melhores de todos os tempos:

 

1 - The Dark Side of The Moon - Pink Floyd

 2 - Nevermind - Nirvana

 3 - Abbey Road - The Beatles

 4 - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band - The Beatles

 5 - Aladdin Sane - David Bowie

 6 - The Velvet Underground - The Velvet Underground & Nico

 7 - Physical Graffiti - Led Zeppelin

 8 - Revolver - The Beatles

 9 - A Saucerful of Secrets - Pink Floyd

 10 - Todos os Olhos - Tom Zé

 

          Particularmente considero de longe a capa do LP Still Got the Blues do bluesman britânico Gary Moore (1952 - 2011) uma das mais criativas de todos os discos de vinil que passaram por minhas mãos. E olha que foram 44 anos lidando com gravações de comerciais, vinhetas e chamadas nas emissoras em que trabalhei, realizando transcrições para as diversas mídias, como cassete, cartucho, dat e mini disc.

 



A era digital. CD (Compact Disc): lançamento


          Em oito de março de 1979, em Eindhoven, Alemanha, durante uma conferência de imprensa intitulada Philips Introduz o Compact Disc, a Royal Philips Electronics, simplesmente Phillips torna público um protótipo de CD-ROM (Compact Disc - Read Only Memory) de áudio. Neste dia, a empresa introduzia o seu CDAP (Compact Disc Audio Player). A demonstração comprovou que é possível, através da utilização de gravação óptica digital, reproduzir sinais de áudio com qualidade de som excelente. A par disso, três anos antes, em setembro de 1976, a Sony já havia demonstrado outra versão avançada envolvendo tecnologia-laser e discos ópticos de áudio digital, com tempo de duração de 150 minutos.

         Para desenvolver um padrão único para a nova mídia (tamanho, formato e tecnologia), em 1980, a Philips e a Sony montaram uma parceria, criando uma força-tarefa de engenheiros, levando o assunto muito mais a sério; e deram o primeiro passo para o estabelecimento de um conjunto de normas de âmbito internacional. No primeiro momento, ficou decidido que o disco seria feito de acrílico, e teria 11,5 centímetros de diâmetro, sobre o qual seria impressa uma longa espiral de 22,188 voltas, totalizando 5,6 quilômetros de extensão e as informações gravadas em furos, o que criaria dois tipos de irregularidades físicas: pontos brilhantes e pontos escuros. Estes pontos chamados, de bits compõem as informações armazenadas pelo CD. A superfície da espiral é varrida por um laser que utiliza luz no comprimento infravermelho. Vários nomes para o novo produto foram discutidos, como Mini Rack, MiniDisc e Compact Rack. O termo Compact Disc prevaleceu, pois a equipe achava que o nome faria contraponto ao Compact Cassete, - a famosa fita cassete - que infelizmente estava fadada a sofrer um declínio irreversível a partir Dalí.

          Nesse meio tempo, o plano para um CD com um diâmetro de 11,5 centímetros teve que ser alterado, quando a Sony insistiu que o disco deveria ter 12 centímetros de diâmetro, espaço para armazenar até 99 faixas e um total de 74 minutos de duração, para ajustar toda a 9ª Sinfonia de Beethoven gravada pela Orquestra Filarmônica de Londres, além dos dados adicionais.

          Em 1980, um protótipo do CD foi apresentado na Feira de Áudio de Tóquio. Nesse mesmo ano, as duas empresas editaram seu Livro Vermelho, onde elas definiram os padrões para o Campact Disc, que começaria a ser produzido no início daquela década.  A partir daí, os técnicos trabalharam separadamente no projeto. Para completar as normas, seguiram-se o Livro Amarelo (1983), o Livro Verde (1986), o Livro Laranja (1988) e o Livro Branco (1990), o último da série.

          O primeiro teste de prensagem foi feito em Langenhagen, na Alemanha. O disco continha uma gravação de Eine Alpensinfonie (Sinfonia Alpina), de Richard Strauss, interpretada pela Filarmônica de Berlim e regida por Herbert von Karajan, uma das personalidades do mundo da música que mais trabalharam em prol do novo formato. A primeira demonstração pública a nível mundial de um CD foi na BBC de Londres, durante o programa O Mundo de Amanhã, quando o grupo Bee Gees apresentou seu álbum Living Eyes, de 1981.

          Em 30 de novembro de 1981, foi lançado o álbum The Visitors do grupo sueco Abba, um dos primeiros discos gravado e mixado pelo sistema digital. Em 1982, The Visitors tornou-se o primeiro da História a ser fabricado pelo formato Compact Disc. 

          Em 1º de outubro de 1982, o cantor e compositor Billy Joel viu seu álbum 52nd Street se tornar o primeiro disco da História a ser lançado comercialmente em CD no Japão, pela Sony Music. 52nd Street é o sexto álbum de estúdio do músico estadunidense, e fora lançado na forma de vinil em 13 de outubro de 1978.            Ao mesmo tempo a Sony também introduziu, apenas no mercado japonês, o CDP-101, o primeiro tocador de CD da História, cujo preço era 168 000 yens japoneses, ou quase 730 dólares norte-americanos. A empresa japonesa se adiantou porque a Phillips não conseguiu cumprir sua parte no prazo estipulado no tratado original. Assim, as duas acordaram em adiar o lançamento mundial por seis meses.

          Em novembro de 1982, a Philips apresentou o CD100, montado com alguns componentes da Sony. Finalmente, o sistema foi lançado mundialmente em Março de 1983. Na ocasião, Lou Ottens, um alto executivo da Phillips declarou:


          "De agora em diante, o toca- disco convencional é obsoleto

            Em 17 de Abril de 1984, a Rádio Cidade FM do Rio de Janeiro também fez história, ao transmitir pela primeira vez no Brasil um Compact Disc: Rock With You, do cantor Michael Jackson. Na ocasião Clever Pereira, o gerente executivo da emissora declarou:

 

          “Não é uma evolução, mas sim uma revolução na maneira de armazenar sons. É, sem dúvida, o som do século”.

 

          Em junho de 1985, foi apresentado o CD-ROM (Read-Only Memory) e, em 1990, o CD gravável; ambos desenvolvidos também pela Sony e Philips.

          O primeiro a vender um milhão de cópias de um álbum no formato CD foi o grupo Dire Straits, com o seu álbum Brothers in Arms, de 1985. O primeiro grande artista a ter seus discos convertidos para o novo formato foi o cantor David Bowie, cujos 15 álbuns de estúdio e mais quatro coletâneas foram disponibilizados pela RCA Victor, em fevereiro de 1985.

          O CD que conhecemos hoje é feito de policarbonato quase puro, tem 12 centímetros de diâmetro (4,7 polegadas), 1,2 milímetros de espessura e pesa cerca de 20 gramas. O disco pode armazenar até 80 minutos de áudio sem compressão, ou 700 MB (700 × 2 20 bytes) de dados. Uma camada finíssima de alumínio é aplicada à superfície, para refletir o laser. Finalmente, uma camada de verniz é aplicada para evitar a oxidação do disco. O Mini CD tem vários diâmetros, variando de 60 a 80 milímetros (2,4 a 3,1 polegadas). Eles são por vezes usados ​​para CDs singles, e têm capacidade para armazenar até 24 minutos de áudio

          No caso da invenção da tecnologia do Compact Disc, também vale a regra da sucessão de ideias. A teoria mais aceita é que ela foi introduzida no final dos anos 1960 pelo norte-americano James T. Russel (1931 - ). Visionário, ele era viciado em música. Para melhorar a qualidade na reprodução de seus discos de vinil, o inventor testou um toca-discos dotado com uma agulha feita com espinho de cacto.

Um dia, sozinho em sua casa Russell começou a esboçar um novo sistema de gravar música, e teve uma inspiração revolucionária. Ele imaginou um sistema que poderia gravar e reproduzir sons sem contato físico entre o disco e o tocador, utilizando a luz. Como ele tinha um vasto conhecimento com dispositivos de gravar dados em cartões perfurados e fitas magnéticas, percebeu que, se combinasse os números binários 0 e 1 com o claro e o escuro, o aparato poderia tocar informações como sons, sem o uso de agulha. 

          Russel percebeu que, com um código binário comprimido, poderia armazenar suas sinfonias preferidas e enciclopédias inteiras, ao realizar testes com um pequeno pedaço de filme. Depois de anos de trabalho, ele inventou o primeiro sistema de gravar e tocar sons por um sistema de digital ótico, pelo qual recebeu uma patente no começo da década de 1970. Russell conseguiu gravar em uma placa de plástico sensível a luz, que eram sensíveis a pequenos bits de pontos brilhantes e pontos escuros, cada um com um micro diâmetro. Um feixe de laser lia os dados binários, e o computador convertia em dados para serem lidos. Este é considerado amplamente considerado o primeiro CD-ROM da História.

          Russel continuou suas pesquisas, aperfeiçoando e adaptando o CD para todos os tipos de dados. Embora ele já houvesse imaginado mídias para registros estéreo de 3x5 polegadas que se encaixavam no bolso da camisa, e um registro de vídeo que seria do tamanho de um cartão perfurado, o produto final imitou o disco fonográfico, de acordo com sua inspiração original. No primeiro momento, o CD-ROM encontrou poucos investidores interessados. A própria Sony e outras fabricantes de produtos ligados à música desistiram ao perceberem as barreiras que poderiam enfrentar por causa dos direitos adquiridos por Russel através de suas 26 patentes.

          As primeiras patentes recebidas nos EUA por Russel tinham os números 3 501 586 e 3 795 902, e foram apresentas entre 1966 e 1969 respectivamente. Em 1973, 1974, 1975 seu protótipo teria sido visto por cerca de 100 empresas, incluindo a Philips e Sony. Mais de 1 500 relatórios descritivos foram editados por revistas técnicas e meios de comunicação. Diante de tudo isso, ele teceu este comentário:


          "Eu tenho centenas de ideias empilhadas; muitas delas valem mais do que o disco compacto. Mas eu não tenho sido capaz de trabalhar com elas”.


 19 - 33.09/05/1998 – 36 – 41 – 74 – 78 – 131 - 154 – 198.




Telégrafo: primeira linha funcional


          24 de maio de 1844: às 10h00min da manhã, Samuel Morse envia a primeira mensagem pública por meio de uma linha telegráfica, ligando Washington a Baltimore.

          Nascido em Charleston Massachusetts, em 27 de abril de 1791, o pintor de retratos e inventor Samuel Finley Breeze Morse, começou seus estudos em sua cidade natal, e depois na Phillips Academy. Aos 14 anos entrou para a Universidade de Yale. Em 1811 foi para a Inglaterra para estudar artes com o pintor Benjamim West (1738 – 1820), retornando aos Estados Unidos em 1815. Além de gostar das artes, Morse também apreciava as pesquisas com eletricidade. Seu primeiro invento foi uma bomba de pressão para uso no combate a incêndios. Conciliando artes com pesquisas cientifica, foi para Paris, onde teve a ideia de criar um sistema de envio de mensagens rápidas.

          Voltando aos EUA, projetou a ferramenta que o tornaria rico e célebre: o telégrafo elétrico, o processo de comunicação a distância mediante um código de sinais. Assim, em dois de setembro de 1835, Morse estendeu um fio de 1.700 pés (cerca de 550 metros) entre duas salas de aula da Universidade da Cidade de Nova Iorque, onde lecionava, e transmitiu uma série de sinais sem significado. O experimento impressionou o então estudante Alfred Lewis Vail, um maquinista e futuro inventor nascido em Morristown, Nova Jersey, em 25 de setembro de 1807.



            Samuel Morse fez a primeira demonstração pública bem-sucedida do telégrafo elétrico em Nova Iorque, em seis de janeiro de 1838, e no mesmo ano, no Instituto Franklin na Filadélfia, e também no Congresso dos Estados Unidos. Em vista do sucesso alcançado, em março de 1843, recebeu uma verba de 30 mil dólares para que ele construísse a linha telegráfica eletromagnética unindo as cidades de Baltimore, Maryland, e Washington (DC). Depois o cabo foi estendido entre Washington e Nova Jérsei.

         Então, às 10h00min da manhã de 24 de maio de 1844, Morse inaugurou os 35 quilômetros da primeira linha de telégrafo elétrico funcional da História, ligando as cidades de Baltimore e Washington. Na primeira transmissão oficial, a mensagem enviada foi esta frase:

 

         “Watt hatch God Wright! (Que é que Deus Operou?)”.

 

         Instantaneamente a frase foi recebida por Alfred Vail no armazém ferroviário de Baltimore, como é relatado na história da empresa Western Union. Dessa forma, Samuel Morse e seu agora assistente Alfred Lewis Vail e se tornaram os dois primeiros operadores de telégrafo elétrico que se conhece. Morse realizava um processo de comunicação à distância, que operava mediante um código de sinais também inventado por ele: o Código Morse.




          Vários registros atestam que Samuel Finley Breeze Morse não trabalhou nisso sozinho: Alfred Lewis Vail não era um simples assistente, mas sim, parceiro de Morse no desenvolvimento do telégrafo elétrico; e teve uma participação fortemente ativa no negócio.

         Seguindo o curso da história da telegráfica, vimos que Alfred Vail é creditado como o legítimo desenvolvedor do Código Morse, na forma como é conhecido hoje em dia. Formado em 1836 pela Universidade da Cidade de Nova Iorque, Vail, como aluno de Samuel Morse testemunhou as primeiras experiências telegráficas do mestre.

            Fascinado com a novidade, ele negociou um acordo com Morse para desenvolver a nova tecnologia na Speedwell Ironworks, uma notável siderúrgica onde seu pai Stephen Vail (1780 – 1864) era co-fundador. Neste local, Alfred Vail e Samuel Morse demonstrariam pela primeira vez seu telégrafo elétrico.       

            Para uso no seu equipamento original, Samuel Morse desenvolveu códigos compostos por números e um dicionário para interpretar as mensagens recebidas, e ele usou isso em demonstrações públicas em 1838.

  

            Todavia, no mesmo ano, enquanto trabalhava com Morse, Vail desenvolveu um sistema composto por todas as letras do alfabeto e todos os números que utiliza sons curtos e longos, além de pontos e traços para transmitir mensagens à distância, onde os caracteres são representados por uma combinação de pontos e traços. Para formar as palavras, é necessário realizar a combinação correta de símbolos. Ao visitar uma tipografia, Vail entendeu que certas letras são mais usadas, e que o código deveria favorecer as letras mais frequentes. Então, o aparelho e o Código de Morse tornaram-se padrões internacionais.

              No acordo negociado com Morse em 1837, Vail se encarregou da construção, às suas próprias custas, de um conjunto completo de instrumentos telegráficos e fazer com que o telégrafo elétrico se tornasse um negócio viável comercialmente, em troca de 25% da receita - além de financiar o custo da obtenção de patentes nos Estados Unidos, e fora do país. Apropriadamente, outros parentes seus estavam envolvidos em negócios na área das comunicações. Seu primo Theodore Newton Vail (1845 – 1920) foi o primeiro presidente da poderosa AT&T (American Telegraph & Telegraph). Assim, Alfred Vail dividiu sua parte com seu irmão George Vail (1809 - 1875). Mas quando Morse contratou Francis Ormand Jonathan Smith (1806 – 1876), um congressista do Maine como parceiro, ele reduziu a participação dos Vails para um oitavo. Morse manteve direitos de patente sobre tudo o que Vail desenvolveu.

              Embora tenha mantido a parceria com Morse por mais quatro anos, ele gradualmente perdeu o interesse pelo telégrafo elétrico e renunciou em 1848, porque acreditava que os gerentes das linhas de Morse não valorizavam totalmente suas contribuições. Como os termos do contrato de parceria entre eles especificavam que todas as patentes estariam em nome de Morse, ficou muito difícil levantar com precisão quais inovações telegráficas foram invenção de Vail, e até que ponto; por isso, as divergências encontradas nos relatos existentes na História. A última tarefa de Vail foi o cargo Superintendente da Washington e New Orleans Telegraph Company, que pagou a ele apenas 900 dólares por ano, o que o levou a se dirigir por escrito à Sanuel Morse nesses termos:

 

              “Decidi deixar a Telegraph para cuidar de mim mesmo, pois não posso me ocupar dela. Daqui a alguns meses, trocarei Washington por Nova Jersey ... e darei adeus ao assunto do telégrafo por alguns negócios mais lucrativos ".


             Em 1845, Alfred Vail fez publicar o livro O Telegrafo Eletromagnético Americano (The American Elecrto Magnetic Telegraph) Conforme tinha anunciado, ele se aposentou em Morristown em 1848, com a intenção de fabricar equipamentos telegráficos, mas seus planos nunca foram realizados. Morreu pobre aos 51 anos, em 18 de janeiro de 1859, tendo que vender suas ações quando elas começaram a se desvalorizar. Mas Samuel Finley Breeze Morse morreu rico e famoso aos 80 anos na cidade de Nova York, em dois de abril de 1872.


 

As fronteiras invisíveis



              Não existe uma data para definir quando o telégrafo foi inventado, mas especula-se que foi por volta de 1700. Também não existe uma paternidade definida, porque sua introdução, incluindo o trabalho de Morse e Vail, também evoluiu através de uma sucessão de ideias. Mas podemos afirmar com toda certeza que nenhuma ferramenta criada pelo homem para ser usada na comunicação foi tão eficiente em seu tempo como o telégrafo, levando notícias através dos mares e dos continentes, verdadeiras fronteiras invisíveis. O telégrafo também nasceu da necessidade que o homem tem, desde sempre, de produzir informação e transmitir, de forma rápida, mensagens codificadas de um local a outro. Sua introdução determinou uma completa revolução nas relações entre os povos.

 


             Para se comunicar, inicialmente, o homem lançou mão de várias “ferramentas” primitivas por vezes consideradas bizarras ou esquisitas, como os sinais de fumaça e a percussão do tambor - de fogueiras e até de animais, como o pombo e o cavalo. Exemplo disso é o Ponny Express, o lendário correio expresso criado para transportar correspondências a cavalo pelos territórios selvagens dos Estados Unidos. Inaugurado em três de abril de 1860, ele foi encerrado em 26 de outubro de 1861, dois dias depois que o Telégrafo Transcontinental começou a operar em Salt Lake City, no estado de Utah. O Ponny Express durou apenas um ano e meio, e sua função literalmente desapareceu na poeira do tempo, com a introdução do telégrafo elétrico.

           Muito anos antes, uma solução prática de transmissão de longo alcance foi conseguida através de sistemas óticos, por meio dos movimentos de braços e do corpo, seguindo um código previamente estabelecido; e depois, de forma elétrica, utilizando fios, o homem transmitiu o bip do Código Morse para começar, e por fim, a voz. Neste caso, por ser um evento mais recente, existem registros confiáveis que definem quando isso aconteceu. Foi em de 24 de maio de 1844 que Samuel Finley Breeze Morse inaugurou os 35 quilômetros da primeira linha de telégrafo elétrico funcional da História, ligando as cidades de Baltimore e Washington.

           Centenas de pesquisas e experiências foram efetuadas na área da telegrafia, desde que o filósofo natural e médico britânico William Gilbert, nascido em Colchester, Essex, em 25 de maio de 1544 publicou em Londres em 1600 o livro De Magnete, amplamente reconhecida como a primeira obra a tratar com mais profundidade os fenômenos do magnetismo e da eletricidade. Gilbert foi um pioneiro nos experimentos com a eletrostática. Através de seus trabalhos nesse campo, ele classificou os materiais em condutores e isoladores, e inventou o primeiro eletroscópio.

           Segundo a revista Radioamadorismo e Faixa do Cidadão (Ano 2 – número 8), em 1º de fevereiro de 1753 a publicação escocesa The Scots Magazine publicou uma carta assinada pelo cientista Charles Marshall. Esse artigo é considerado a primeira referência documentada sobre o uso de um telégrafo de uma forma elétrica. Marshall o explicou assim:

 

             “A potência elétrica pode propagar-se de um ponto para outro por um fio metálico sem ser atenuada ao longo de sua ‘corrida’, em um sistema de comunicação telegráfica, que consiste em um feixe de 24 fios e cada fio corresponda a uma letra do alfabeto...”.

 

             De acordo com os resultados de sua pesquisa, o objetivo de Charles Marshall era definir um fio para cada letra do alfabeto, com a função de ligar os dois pontos. No terminal do receptor, Charles Marshall inseriu pedaços de papel. Quando uma pequena carga elétrica foi carregada através do fio da estação emissora, os papéis foram atraídos para as extremidades dos fios. Desta forma, a letra correspondente ao fio através da qual a carga carregada, foi localizada. Consequentemente, a mensagem foi decodificada na ponta de recepção. Porém, a potência do telégrafo de Marshall se limitava a uma distância de apenas 50 metros.

             21 anos depois, o primeiro teste com um telégrafo semelhante foi realizado pelo físico suíço Georges-Louis Le Sage (1724 – 1803). Em 1774, ele produziu um telégrafo elétrico que usava 24 fios metálicos para transmitir mensagens, ou seja, um fio para cada letra do alfabeto, separados uns dos outros e revestidos por uma capa feita com material que os protegia das ações do tempo. Cada um desses fios era ligado a um eletrômetro individual, formado por uma bolinha suspensa por um fio de seda. Quando um dos fios entrava em contato com um bastão eletrizado, a bolinha e o eletrômetro correspondente eram repelidos, indicando a letra do alfabeto que se havia transmitido de uma para outra estação. Contudo, o fluxo do aparelho se limitava entre dois quartos da casa de Le Sage. Então, a telegrafia eletrostática logo se espalhou pela Europa.

             Muitos outros tentaram, porém, sem sucesso, muito pela falta de apoio. Esse revolucionário sistema de telecomunicação por um código de sinais só alcançaria pleno êxito depois de 1779, com a introdução da pilha elétrica por Alessandro Volta (1745 – 1827), e mais tarde, pela invenção do Código Morse.

             Em 1787 o engenheiro espanhol Agustín de Betancourt y Molina (1758 – 1824) introduziu um curioso sistema de comunicação conhecido com telégrafo ótico, com o qual conseguiu comunicar-se a distância fazendo passar a descarga das garrafas de Leyden pelos fios metálicos que uniam asa cidades de Madri a Aranjuez. A Garrafa de Leyden é um tipo de condensador criado em 1746 pelo cientista e inventor holandês Peter van Musschenbroek (1692 – 1761).


         Em 15 de agosto de 1794, o abade e engenheiro francês Claude Chappe, nascido em 25 de janeiro de 1763, junto com seu irmão Ignace Chappe (1760 – 1829) concluiu a implantação de um telégrafo ótico (ou semafórico) entre Paris e a Ilha de Lille, no Mar Mediterrâneo. Este sistema nasceu da necessidade de suprir as deficiências de comunicação rápida e segura surgidas logo após a Revolução Frances de 14 de julho de 1789.         

          Inicialmente, o telégrafo de Chappe consistia num conjunto de 120 torres sinalizadoras móveis instaladas em linha reta que transmitiam letras e sinais codificados a distância de 700 quilômetros em até 20 minutos. 

              Cada torre era dotada de dois telescópios, cada uma apontando em um sentido da linha. Os sinais emitidos em cada uma dessas torres eram vistos com facilidade pelo operador da torre vizinha. Munidos com uma luneta, estes retransmitiam os sinais para a torre subsequente. A distância entre os postos variava de seis a 16 quilômetros, dependendo da visibilidade. Os sinais ópticos venciam 230 quilômetros em dois minutos. Mas por razões óbvias, o telégrafo de Chappe não funcionava à noite e nem em dias com nevoeiro. 

              A palavra semáforo foi criada por Claude Chappe ao batizar o telégrafo ótico que inventara. Muitas vezes, o abade é considerado o criador do primeiro sistema prático de telecomunicações. Ele cometeu suicídio aos 42 anos em Paris em 23 de janeiro de 1805, atirando-se em um poço em seu hotel, quando tinha 42 anos de idade. Chappe passava por uma profunda depressão causada pela doença e pela perseguição dos rivais, que alegavam que seu sistema de semáforos era fruto de plágio. O telégrafo ótico dos irmãos Chappe aparece de forma importante no desenvolvimento da obra O Conde de Monte Cristo (1844), de Alejandro Dumas (1802 – 1870). No final do Capítulo 61 e início do Capítulo 62 do romance, o conde suborna um operador do telégrafo ótico para que ele envie uma mensagem falsa.

 

             “Acho melhor conservar as ilusões que ainda tenho a respeito dos insetos; basta me ter já perdido as que tinha a respeito dos homens. Não irei portanto nem ao telégrafo do ministério do Interior, nem ao telégrafo do Observatório. Prefiro o telégrafo em pleno campo. Com o puro homenzinho petrificado na sua torre. (...) Não na mesma tarde, como dissera, mas sim no dia seguinte, o conde Monte Cristo saiu pela barreira do Inferno, tomou a estrada de Orleães, passou pela aldeia de Linas sem se deter no telégrafo, que precisamente no momento da passagem do cinde movia os longos braços descarnados, e alcançou a torre de Montelhéry, situada, como toda gente sabe, no ponto mais elevado da planície do mesmo nome.

            Ao pé da colina o conde apeou-se e, por um carreirinho circular, de dezoito polegadas de largura, começou a subir a encosta. Chegado ao cimo, viu-se detido  por uma sebe na qual frutos verdes tinha sucedido às flores cor-de-rosa e brancas.  Monte Cristo procurou a porta do recinto e não tardou a encontrá-la. Era uma cancelinha de madeira que girava em gonzos de vime e se fechava com um prego e  um cordel. O conde não tardou a descobrir o funcionamento do ‘mecanismo’ e a porta abriu-se”.

           Parece que o acontecimento que mais alavancou o desenvolvimento do telégrafo elétrico ocorreu em 19 de março de 1800, quando o físico Alessandro Volta apresentou na Royal Society em Londres, a pilha elétrica, também conhecida como bateria eletroquímica, pilha polarizável, ou simplesmente Pilha de Volta. É o primeiro dispositivo produtor de corrente elétrica contínua que se conhece.

          O diplomata e inventor Paulo Schilling, também conhecido como Barão Pavel L'vovitch Schilling, nascido em Reval, na atual Estônia em cinco de abril de 1786, realizou contribuições significativas no campo da telegrafia elétrica no início do Século 20. Considerado por muitos o pioneiro na invenção da telegrafia eletromagnética, durante anos ele trabalhou em um sistema de telégrafo prático. 

          Em 1828, Paulo Scilling apresentou seu primeiro protótipo de telégrafo usando corrente elétrica, transferidos ao longo de fios esticados entre dois locais. Este dispositivo se fundamentava em um sistema de agulha única que utilizava um código telegráfico para indicar caracteres em uma mensagem. Schilling foi o primeiro a colocar em prática a ideia de um método binário de transmissão de sinais.

           Em 10 de junho de 1837, os cientistas britânicos Wiliam Fothergill Cooke (1806 – 1879) e Charles Heatstone (1802 – 1875) patentearam um sistema telegráfico dotado de seis fios e cinco ponteiros que se movimentavam em pares para indicar a letra do alfabeto em um painel. Em quatro de julho de 1837 eles testaram o aparato instalado num vagão ferroviário da London Railway Birmingham. 7 – 36 – 78 – 220 - 226 – 227.


          13 de julho é o Dia Mundial do Rock, instituído pela ONU como homenagem ao festival Live Aid, realizado com o intuito de arrecadar fundos para combater a fome na África. Organizado pelo cantor e humanista irlandês Bob Geldorf (1954 - ), o Live Aid foi apresentado no Estádio Wembley em Londres, Inglaterra e no Estádio JFK em Filadélfia, Estados Unidos em 13 de julho de 1985 - e transmitido para o resto do mundo nesta mesma data. Alguns astros apresentaram-se também em Sydney e Moscou. Artistas importantes como Madonna, David Bowie, B.B. King, Mick Jagger, Sting, Paul McCartney, Phil Collins e Joan Baez - e bandas como The Who, Led Zeppelin, Dire Straits, Queen e U2, foram vistos por 1,5 bilhão de espectadores ao vivo pela televisão. Foi a primeira transmissão em larga escala via satélite da História.

De onde vem a expressão rock’n roll


           O emprego da palavra rock aqui é uma metáfora para Shake up to disturb or to insite (Sacudir perturbar ou incitar), como no clássico de Roy Brown Good Rockin Tonight, de julho de 1947, música gravada também por Elvis Presley em seu segundo single, em 10 de setembro de 1954. Diz a lenda que na década de 1940 o termo era usado pelos negros como um duplo sentido, referindo-se pretensiosamente a “dançar” o ato sexual.

         Mas quem cunhou o termo rock’n roll foi Albert James “Alan” Freed, um comunicador de rádio norte-americano nascido na cidade Johnstown, Pensilvânia, em 15 de dezembro de 1921. Em 1953, Alan Freed, também conhecido como Moondog se inspirou na letra de um velho jump blues, um sinuoso swing tipo mambo criado na década de 1940, em cuja letra estava embutida a frase “Minha

querida me embala com um ritmo constante”. No filme Ritmo Alucinante (Rock, Rock, Rock) lançado nos Estados Unidos em sete de dezembro de 1956, o próprio Alan Freed falou:


        “O rock’n roll é um rio de música que absorve muitos riachos: rhythm and blues, jazz, rag time, country e canções populares. Todos

contribuíram para o grande ritmo”.

 

         Contudo, a carreira de Alan Freed acabou quando ele se envolveu num escândalo gerado por suposto recebimento de dinheiro para

executar músicas em seus programas. Nos EUA, essa prática ilegal é chamada de Payola pela indústria do disco. Aqui, esse expediente é conhecido como Jabaculê, ou simplesmente Jabá.

         Em 17 de março de 1978 foi lançado nos EUA o filme American Hot Wax, contando a história de Alan Freed. Estrelado por Tim McIntire, Dan Drescher, Laraine Newman e outros, incluiu apresentações de artistas como Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e Frankie Ford. Oficialmente, American Hot Wax nunca foi lançado em VHS ou DVD, mas se encontra inteiro no YouTube.

         Na cidade de Cleveland, Ohio, foi erguido o Rock and Roll Hall of Fame (Salão da Fama e Museu do Rock and Roll), muito por causa do DJ. Alan James Freed, que morreu na miséria em 30 de janeiro de 1965, num hospital de Palm Springs, aos 43 anos de idade.

          Quem primeiro definiu o estilo rock ‘n roll no final da década de 1940 foi o compositor e cantor estadunidense William John Clifton Haley Júnior (1925 - 1981), conhecido como Bill Haley. Amplamente creditado como O Pai do Rock'n Roll, ele era filho de músicos. Seu pai tocava banjo e bandolim, e sua mãe era pianista clássica. Quando garoto, brincava com guitarras de papelão, “fabricadas” por ele mesmo. Aos 13 anos Haley, começou a tocar country, a música caipira dos EUA, e se apresentava com pequenos conjuntos vestido a rigor: chapéu de vaqueiro, terno e gravata borboleta. Estávamos na metade década de 1940. Nessa época, ele fazia sucesso como cantor de ritmo tirolês, - o iodelei, corruptela do inglês yodellingou jodelling.

         O yodelling (ou iodelei) surgiu nos Alpes suíços, no Século 19; é uma forma de canto que utiliza sílabas fonéticas, com sons que mudam rapidamente e repetidamente. Iodelei é uma onomatopeia, ou seja, uma palavra que reproduz um som como ruídos, gritos, canto de animais, sons da natureza e barulho de máquinas. É a forma de cantar proferindo palavras que não têm nenhuma significação. No Brasil, o maior representante desse estilo musical foi o cantor paulista Nelson Roberto Perez (1918 – 2009), mais conhecido como Bob Nelson, cujo maior sucesso é a canção Oh, Susana! Roberto Carlos e Erasmo Carlos o homenagearam com a música A Lenda de Bob Nelson, gravada pelo Tremendão em 1974.

         Em 1949, William John Clifton Haley Júnior formou o grupo The Saddlemen, que em 1952 entraria para a história com o nome de Bill Halley e Seus Cometas, considerada a primeira banda de rock da História. Ainda com o Saddlemen, o cantor ficou tão conhecido que ganhou o apelido de Silver Yodeling Bill Haley. Com este grupo, Haley revolucionou a música, misturando elementos fundamentados do country com o western, com o gospel e com os ritmos negros extraídos do blues, tocados por grandes músicos como Antoine Dominique Domino (1928 -), Jack Brenston (1930 -1979), Roy James Brown (1925 -1981) e da lendária Sister Rosetta Tharpe. Não confundir Roy James Brown com o Rei do Soul (I Feel Good).

         A transformação da música de Haley começou a se definir quando o The Saddlemen gravou Rocket 88, originalmente um rhythm and blues gravado em 1951 pelo grupo Kings of Rhythm, do cantor e instrumentista Ike Turner (1931 – 2007). Mas erroneamente, a música foi registrada pelo produtor musical Sam Phillips (1903 – 2003), o dono da Sun Records, como sendo gravada por Jackie Brenston and His Delta Cats. Brenston era saxofonista e vocalista da banda de Ike. A introdução de piano executada por Ike nesse disco serviu de inspiração para Little Richard criar o clássico Good Golly

Miss Molly. Mais tarde o próprio Sam Phillips declarou que a gravação da canção Rocket 88 feita

por Bill Haley e o The Saddlemen é o primeiro registro de uma música do gênero rock’n roll.

         

           Todavia, foi Elvis Presley quem revelou ao público a força deste gênero musical. Nascido em oito de janeiro de 1936, em Tupelo, Mississipi, Elvis Aaron Presley era um sobrevivente de gêmeos e filho de família pobre. Aos 11 anos venceu um festival de canto numa feira em Tupelo. Aos 14, mudou-se com a família para Memphis, no Tennessee, um dos palcos da música negra. Foi lá que ele iniciou o curso secundário e conseguiu um emprego de motorista de caminhão ganhando um salário de 40 dólares por semana.         

          Em quatro de julho de 1954, Elvis vence a timidez, procura a gravadora Sun Records e paga quatro dólares para fazer um disco, um presente de aniversário para sua mãe. Escorado pelo guitarrista Scotty Moore (1931 - ) e pelo baixista Bill Black (1906 – 1965), Elvis, munido de seu violão, grava That’s All Right Mamma, o primeiro single registrado por ele. Mas essa não foi a primeira vez que Elvis visitava a Sun Records. Esta era a terceira vez que ele aparecia no estúdio. A primeira visita foi em 1953.

          O empresário Samuel “Sam” Phillips (1906 – 1965), que havia montado o serviço de gravações para registrar principalmente os cantores e grupos negros que se apresentavam em bares e rádios de Memphis, fica impressionado com aquele jovem branco de voz de barítono e manda sua secretária anotar o endereço do cantor para um futuro contato.

          Em cinco de julho de 1954, Phillips chama Elvis e, com a ajuda dos mesmos músicos Scotty Moore e Bill Black produz a primeira gravação comercial do futuro Rei do Rock: Thats All Right Mamma, renomeada simplesmente That’s All Right, e no lado b a canção Blue Moon Of Kentucky. O disco foi oficialmente lançado em 19 de julho de 1954.

          Quem primeiro divulgou o trabalho pioneiro de Elvis foram os disc-jóqueis das rádios locais Uncle Richard, da WMPS, e Sleepy Eyed Lepley, da WHHM. Mas foi em 10 de julho de 1954 que o single de Elvis apareceu com mais força no cenário musical do Tenessee. Naquele dia, o DJ Dewey Phillips (1926 – 1968) lançou em seu programa Red, Hot & Blue na Rádio WHBQ. Dizem que Elvis ficou muito ansioso quando soube que seu disco ia ser divulgado naquele famoso programa. Naquela noite, o cantor de 19 anos foi entrevistado por Phillips. O single estourou, vendendo 20 mil cópias, sendo seis mil somente na primeira semana. As qualidades vocais e artísticas do novo astro foram logo reconhecidas. O resto é História.

         Elvis chocou a todos com seu balançar de quadris, provocando protestos de pais de adolescentes pelo mundo todo, o que lhe valeu o apelido de Elvis The Pelvis. Em 1956 ele gravou Blue Suede Shoes, de Karl Perkins, um dos maiores clássicos do rock´n roll de todos os tempos.

         Em novembro de 1956 Elvis estreou no cinema, no filme Love Me Tender. Ao todo foram 31 filmes de sucesso e dois documentários. Entre eles, destacam-se: Loving You (1957), Jailhouse Rock (1957), King Creole (1958), Flaming Star (1960), Follow That Dream (1962), e Viva Las Vegas! (1964).             

         Elvis é detentor do recorde de 149 semanas em primeiro lugar na parada da revista Billboard. Estima-se que até 2005, ele tenha vendido entre 500 milhões e um bilhões de discos em todo o mundo. Ao longo de sua carreira, gravou cerca de 600 músicas, mas não consta que ele escreveu alguma delas. Cerca de 40% das vendas de discos do cantor ocorreram fora dos Estados Unidos.                         Entretanto, Elvis realizou apenas cinco shows distantes do continente americano: cinco apresentações em três cidades do Canadá, em 1957; mas este fato permanece envolto numa cortina de fumaça. Segundo teóricos de conspiração, o artista nunca se apresentou fora dos EUA porque seu empresário, Andreas Cornelius van Kuijk (1909 – 1997), mais conhecido como “coronel” Tom Parker seria um imigrante ilegal nascido em Breda, uma cidade holandesa.

          Notadamente, Elvis estrelaria em 14 de janeiro de 1973 o musical Aloha From Hawaii, o primeiro show de música ao vivo Via Satélite da História. Transmitido diretamente do H.I.C. de Honolulu para cerca de 40 países da Europa, Ásia e Oceania, o espetáculo só foi apresentado nos Estados Unidos em abril de 1973 e foi visto por mais de um bilhão de pessoas. Aloha From Hawaii é considerado a maior audiência da história da TV norte-americana. A trilha sonora do espetáculo foi lançada em um LP em quatro de fevereiro de 1973. Como sabemos, o arquipélago do Hawaii, ou Ilhas Sanduíches, apesar de estar localizado muito distante dos EUA, bem no meio do Oceano Pacífico, é um estado norte-americano desde 14 de junho de 1906.

          Elvis Presley é amplamente considerado O Rei do Rock em todo o planeta. Contudo, músicos lendários como Chuck Berry, Little Richards, Jerry Lee Lewis, Eddie Cochran, Buddy Holly e outros fazem parte das centenas de histórias que contam a trajetória desse ritmo que mostrou novas formas de se levantar questões importantes, através de músicas com letras de protesto e atitude. Por isso, a paternidade do rock’n roll nunca foi claramente definida.

          Elvis morreu de ataque do coração em sua mansão em 16 de agosto de 1977. Neste dia, por volta de 17h00min, eu vinha pela Rodovia SP 425 na altura da cidade de Penápolis, no estado de São Paulo, dirigindo um caminhão da empresa em que trabalhava, a Comercial Princezinha - carregado com doces em direção a Campo Grande (MS). Tinha trocado momentaneamente o rádio pelas vendas, mas nunca deixei de ouvir as grandes emissoras no receptor multibandas instalado no caminhão. Gostava de ouvir a Rádio Bandeirantes de São Paulo, que estava numa fase excelente. No momento, estava ouvindo o programa de final da tarde apresentado por Jorge Helal, uma das mais belas vozes do rádio brasileiro. Faltando alguns minutos para as 17h00min, Helal anunciou a manchete da notícia para o próximo bloco:

 

          “Daqui a pouco, a morte de um ídolo do rock”.

 

          Imediatamente encostei o veículo no acostamento, e aguardei o final do intervalo comercial; no rádio, a manchete, quando bem colocada, tem o poder mágico de prender o ouvinte. Quando Helal retornou e leu a nota anunciando que Elvis Presley havia falecido, fiquei triste. Passados alguns instantes, segui viagem. No horizonte, o sol vermelho do verão começava a se esconder. Elvis Presley nasceu em Tupelo, Mississippi, em oito de janeiro de 1936.

Gospel, a maior influência do rock

 

           A cantora, compositora e guitarrista estadunidense Sister Rosetta Tharpe, nascida em 20 de março de 1915 popularizou-se durante as décadas de 1930/40, gravando canções contendo trechos do Evangelho. Por isso, ela é creditada como a primeira pessoa do planeta a aparecer nas paradas musicais com gravações espirituais.

          Excelente guitarrista, como primeira estrela mundial da música gospel, Rosetta ficou conhecida como A Irmã Original do Soul. Dessa forma, o termo Sister foi acrescido ao seu nome.

Contudo, ela não era vista com bons olhos por alguns fiéis conservadores, que não reconheciam em sua música a coerência com as coisas da religião. Mesmo assim, ela nunca deixou de cantar gospel.

          Em 1944, Sister Rosetta Tharpe gravou a canção religiosa Strange Things Shappening Every Days (Coisas Estranhas Acontecendo Todos os Dias), considerada por muitos como a primeira canção do gênero race music, antiga denominação do gospel, e a primeira do gênero a figurar nas paradas da revista Billboard. Nesta gravação, Tharpe demonstrou todo seu talento como guitarrista.

          O gospel é um tipo de música religiosa cantado nas igrejas batista negra dos Estados Unidos. Esse gênero musical influenciou o funky e o rhythm and blues na década de 1950. Artistas importantes como Mahalia Jackson, Bessie Smith, Artetha Franklin, Ray Charles, Jerry Lee Lewis, Bill Haley e Elvis Presley são exemplos disso. Sister Rosetta Tharpe morreu aos 58 anos, em nove de março de 1973.

O progresso do rock’ roll

 

          No final da década de 1960, o rock ‘n roll britânico literalmente evoluiu com o advento do rock progressivo, um estilo com forte influência da música erudita e do jazz fusion, e que se consolidou nos anos 1970. E meu gosto também evoluía, na mesma velocidade em que a música se transformava; muito por influência do companheiro do Sistema Globo de Rádio Claudio “Gaúcho” Carvalho de Moura, o maior especialista em rock progressivo que eu conheço.

          O termo progressivo foi adotado com o objetivo de destacar seu desenvolvimento. A Universidade de Oxford caracterizou o rock progressivo como uma ação arrojada de um grupo de músicos britânicos, cuja meta era introduzir instrumentos musicais sofisticados, e assim, aprimorar a estrutura original desse gênero musical surgido no sul dos Estados Unidos durante a década de 1950, que originalmente é calcada em refrão-verso.

          Introduzido pelo King Crimson, um grupo formado na Inglaterra pelo guitarrista Robert Fripp e pelo baterista Michaell Gilles em janeiro de 1969, o rock progressivo foi seguido por outras bandas importantes como Yes, Pink Floyd, Jethro Tull e Genesis, que, embora tenham sido formadas bem antes de 1969, apostaram no novo segmento. Alguns adotaram um estilo mais comercial, como a ELO (Electric Light Orchestra), Renaissance e The Moddy Blues, este último formado na Inglaterra em quatro de maio de 1964 e ainda em atividade. No auge do rock progressivo, lá pela metade da década de 1970, só nos EUA existiam 1.200 gravadoras produzindo 2.600 álbuns e 6.200 singles. À frente dessa poderosa indústria milionária de entretenimento estava um grupo cuja faixa etária girava em torno dos 26 anos.

O rock tupiniquim antes do Yê Yê Yê


          Em 21 de março de 1956 a Columbia Pictures lançou nos cinemas dos Estados Unidos um filme em preto e branco chamado Rock Around the Clock, onde num sábado à noite, um grande número de jovens está indo para ouvir uma nova banda chamada Bill Haley and His Comets, tocando um novo tipo de música chamado rock’n ‘roll. No Brasil, o filme recebeu o título de Ao Balanço das Horas, e sua projeção durava apenas 1 hora e 17 minutos, mas, como em todas as grandes cidades de planeta, ele causou uma série de problemas, principalmente entre os jovens que se manifestavam de forma descontrolada.

          Segundo o livro Rock Brasileiro 1955/1965 – Trajetórias, Personagens e Discografia, escrito pelo cantor Albert Pavão (1942 - ) em 20 de dezembro de 1956, Ao Balanço das Horas estreou no Cine Paulista, na Rua Augusta. Para evitar que se repetissem cenas de quebra-quebra vistas em outros países, Jânio Quadros, então governador do estado de São Paulo e futuro presidente da República, em um de seus famosos bilhetinhos ordenou ao seu Secretário de Segurança que:

  

          " (...) determinasse à polícia deter, sumariamente, colocando em carro de preso, os que  promoverem cenas semelhantes; e, se forem menores, entregá-los ao honrado juiz”.

 

          Em 16 de fevereiro de 1957, o Juiz de Menores Aldo de Assis Dias baixou uma portaria proibindo o filme para menores de 18 anos, argumentando que “o novo ritmo é excitante, frenético, alucinante e mesmo provocante, de estranha sensação e de trejeitos exageradamente imorais”.

          Nesse clima, em 24 de outubro 1955 a cantora Nora Ney (1922 – 2003) gravou um disco, tendo no lado A, a música Rock Around the Clock e no lado B, Ciuminho. Único do gênero gravado pela artista carioca, este 78 RPM é considerado o primeiro registro de uma gravação de rock ‘n roll feita no Brasil.

          Em dezembro de 1955 a Odeon lançou Ronda das Horas, uma versão de Rock Around The Clock feita por Júlio Nagib (1929 – 1983) e interpretada por Heleninha Silveira (1931 -).

          Em outubro de 1957, a carioca Lana Bittencourt (1931 -) gravou e fez sucesso com Little Darling, originalmente gravada pelo conjunto The Platters. A própria Lana não acreditava no sucesso dessa música, mas o disco vendeu no Brasil mais do que o original. Ainda em janeiro de 1957, Agostinho dos Santos (1932 – 1973) gravou pela Polydor Até Logo Jacaré, uma versão de Júlio Nagib para See You Later Alligator, sucesso também de Bill Haley e Seus Cometas.

          Em maio de 1957, o cantor mineiro Carlos Gonzaga (1926 -) lançou Meu Fingimento, versão de Haroldo Barbosa (1915 – 1979) para o clássico The Great Pretender, do The Platters. Gonzaga se consagraria a seguir gravando versões de rock calipso (ou calypso) como Diana e Adão e Eva (Adam and Eve), além de dezenas de sucessos como Oh Carol, Cavaleiros do Céu, Bat Masterson e Paladino.

          O calipso é um estilo musical de origem afro-caribenha surgido em Trinidad e Tobago no Século 19, e sua origem está na chegada dos escravos africanos. Como eram proibidos de falar uns com os outros, eles se comunicavam através da música, a partir de diversas combinações de toques de tambores. No final dos anos 1950, o calipso se espalhou pelo mundo inteiro, alcançando novas formas e influenciando outros ritmos e gêneros musicais como o rock. Assim, ele foi amplamente difundido por roqueiros pioneiros como Neil Sedaka, Dion, Pat Boone, Paul Anka, Del Shanon, Dion e Elvis Presley, cuja canção rock calipso It’s Now or Never se tornou um dos maiores sucessos de sua carreira.   

          No Brasil, inúmeros artistas gravaram esse estilo, como Betinho e Seu Conjunto (Lp Rock & Calypso em 1958) - The Golden Boys (Meu Romance Com Laura 1958) - Cely Campello (Estúpido Cupido (Stupid Cupid) 1959) - Moacyr Franco (Rock do Mendigo 1960) - Wilson Miranda (Corre Coração (Speedy Gonzalez) 1961) e Roberto Carlos (Louco Por Você (Careful, Careful) 1961).

          Em 17 de setembro de 1963, os Beatles lançaram nos Estados Unidos a canção She Loves You, composta pela parceria John Lennon e Paul McCarteney. A gravação foi introduzida no Reino Unido em 23 de agosto de 1963, e no Brasil, demorou um pouco mais: março de 1964. Então, os gritos yeah-yeah-yeah! embutidos na letra de She Loves You originaram a chamada Beatlemania e conferiu ao quarteto de Liverpool o título de Os Reis do Iê Iê Iê. Diante disso, meu pai, que abominava o rock ‘n roll, costumava dizer:

 

          “Isso é música de transviado!”.

 

          Transviado era um termo muito utilizado na época pelos mais conservadores para mencionar a conduta de jovens que se opunham aos padrões de comportamento vigentes. Na melhor das hipóteses, éramos taxados de vagabundos, porque esse tipo de música era considerado incômodo para os padrões da época. Muito por causa do comportamento extravagante de astros como Jerry Lee Lewis, por exemplo. Considerado um dos pioneiros do rock, Lewis, então com 23 anos, se envolveu num escândalo ao se casar em segredo com sua prima de segundo grau Myra Gale Brown, à época com 13 anos de idade.

          Como vimos, antes dos Beatles chegarem com o Yê Yê Yê em 1964, alguns jovens brasileiros já haviam abraçado o rock’n roll, no rastro do sucesso do Bill Haley e Seus Cometas, Elvis Presley, Chuck Berry e tantos outros. Como estávamos nos chamados Anos Dourados da década de 1950, o que predominava era o rockabilly e o rock instrumental. O rockabilly é uma mistura de faroeste, swing e gospel, e originalmente é executado por um grupo formado por guitarra, baixo e bateria, formação clássica estabelecida pelo cantor Buddy Holly (1936 – 1959); é o rock caipira. Entre os primeiros artistas brasileiros que adotaram o rock, podemos citar, além de Carlos Gonzaga, os irmãos Celly e Tony Campello, Demétrius e outros.  

          Parece que o advogado, cantor e compositor Sergio Murilo Moreira Rosa, simplesmente Sérgio Murilo, é um grande injustiçado pela mídia e até mesmo pelo público admirador do rock brasileiro. Nascido na capital carioca em dois de abril de 1942, ele foi eleito pela crítica especializada o Rei do Rock em 1960. Começou a carreira artística aos 12 anos como animador de um programa infantil na Rádio Tamoio. Em 1954, passou a cantar no programa Os Curumins, na mesma emissora. Em 1956, foi escolhido o Melhor Cantor do Ano no programa Trem da Alegria, ainda na Rádio Tamoio.

          Em 1959, Sérgio Murilo foi convidado pelo radialista e ator Paulo Gracindo (1911 – 1995) para se apresentar em seu programa na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. O cantor despertou o interesse do compositor Edson Borges "Passarinho" de Abrantes, que o levou para a gravadora CBS (Columbia Broadcasting System), onde foi contratado, gravando ali alguns 78RPM, entre eles, Menino Triste, Mudou Muito, Broto Legal e Marcianita, um dos seus maiores sucessos.

          Em 1960, lançou Sérgio Murilo, seu primeiro LP, no qual destacam-se Marcianita, Blue Moon, Menino Triste e Personality. Ainda em 1960, lançou seu segundo LP, Novamente Sérgio Murilo, no qual interpretou Broto Legal, Something Happened, Trem do Amor, entre outras. Em 1961, veio Baby, o terceiro LP, trazendo as músicas Domingo de Sol, Tu És Tudo Para Mim, Minha História de Amor, Balada do Homem Sem Rumo, Abandonado e Tu Serás.

          O programa Jovem Guarda entrou no ar pela TV Record de São Paulo em 22 de agosto de 1965. Porta voz do movimento musical batizado de yê yê yê, ele revolucionou a música brasileira e introduziu novos valores. No entanto, vale lemrar, na metade da década de 1950, Cely Campelo, Tony Campelo, Carlos Gonzaga, Ronnie Cord, Sérgio Murilo, e outros já faziam sucesso cantando versões de do rock ‘n roll.

          Com a chegada de Roberto Carlos, surgiu o movimento musical que uniu jovens interessados em fazer um rock brasileiro. Retransmitidos pelas emissoras de TV das grandes cidades brasileiras, o programa Jovem Guarda apresentou nomes como Eduardo Araújo, Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Os Vips, Denny e Dino, Leno e Lilian e os conjuntos The Jet Blacks, The Jordans, The Fevers e The Golden Boys.

          Sérgio Murilo ficou esquecido e quase nunca era escalado para esses programas musicais da televisão brasileira daquele período. Ficou no esquecimento. Quando eu trabalhava como sonoplasta na Rádio Manchete, todos os dias mantinha contato com artistas de todos os gêneros, que iam até lá para gravar entrevistas e materiais promocionais para os diversos programas da emissora. Um desses artistas foi o Sérgio Murilo. Em 1989, ele chegou no estúdio para promover seu LP Sérgio Murilo - Rei do Rock, que estava sendo lançado pelo próprio, de forma independente. Trata-se de uma coletânea de seus antigos sucessos. O que mais me chamou a atenção foi o fato de o disco conter todos os fonogramas originais da gravadora CBS, que segundo ele, foram cedidos gratuitamente. Durante nossa conversa, notei que o cantor se encontrava deprimido, pois nunca se conformou com a situação em que se encontrava: em completo esquecimento. Naquele dia, ele não foi entrevistado ao vivo na Rádio Manchete AM. Sérgio Murilo apenas gravou uma  entrevista que foi ao ar posteriormente, no programa semanal do comunicador Roberto Figueiredo.

              Sergio Murilo morreu na capital carioca aos 50 anos, em 19 de fevereiro de 1992. Mas na cidade de Piracicaba, no estado de São Paulo, ele foi homenageado com uma rua que leva seu nome. 36 – 78 – 154.

         Notadamente, o que predominavam eram os conjuntos instrumentais influenciados pelo britânico The Shadows, grupo oriundo de Liverpool numa época em que os Beatles ainda não existiam - e o norte-americano The Ventures. Essas bandas são responsáveis por clássicos como Apache, Wonderfull Land, (Ghost) Riders in the Sky, Walk Don’t Run e Pipeline.

         Um dos motivadores do lançamento desses primeiros conjuntos instrumentais brasileiros de rock que alcançaram grande projeção no país e no exterior é o fotógrafo, radialista, locutor, produtor e apresentador paulista Antônio Aguillar (1929 - ). Além de tornar pública a carreira de vários cantores, Aguillar lançou os grupos The Jordans (1958), The Jet Blacks (1962), The Clevers (1962), que mais tarde evoluiu para Os Incríveis.

          Outros grupos do gênero também merecem ser lembrados, como Biriba Boys, Betinho e Seu Conjunto, que muitos creditam como sendo o primeiro a tocar o rock no Brasil – além do The Phantons, Os Terríveis, The Pops e The Angels, que depois se chamou The Youngsters. O The Angels acompanhou Roberto Carlos nos álbuns É Proibido Fumar, Roberto Carlos Canta Para a Juventude e Jovem Guarda, no qual você pode vê-los na contra capa.

 

  


          15 de agosto de 1969. Começa na cidadezinha de Bethel, próxima a capital Nova York, o Festival de Música de Woodstock, um marco da História do rock. Idealizado por quatro empresários com o nome de Feira Woodstock de Música e Arte, o evento foi planejado para um público de 50.000 jovens.

          No entanto, estima-se que quase 500 mil pessoas participaram da farra. Durante três dias acampados em um terreno sem nenhuma estrutura, todos se divertiram na lama, fazendo sexo ao ar livre e consumindo drogas. O lema Paz e Amor foi o ponto alto do festival. 32 atrações foram apresentadas, entre elas, Jimmi Hendrix, Joan Baez, Santana, Grateful Dead, Crosby, Stills, Nash & Young, Joe Cocker, Credence Clearwater Revival, Janis Joplin, Richie Havens, Sly and Family Stones, Jefferson Airplane, Ten Yeras After, The Band, The Who e muitos outros, ainda eram pouco conhecidos do grande público, como Carlos Santana. Poucas pessoas pagaram os 18 dólares fixados para ver os artistas de perto e o encerramento antológico de Jimmy Hendrix, três dias depois. Contudo, os lucros com o Festival de Música de Woodstock só vieram parar nas mãos dos produtores depois do lançamento de um filme, vencedor do Oscar de Melhor Documentário, e dois discos ao vivo.

          Como se vê, Woodstock não passou de uma bem sucedida jogada comercial. Mesmo assim, passou para a História como o movimento musical popular que mudou a música para sempre.

          Em 1994, aconteceu no estado de Nova York uma segunda versão do Festival de Música de Woodstock, que foi realizado sob a vibe Paz e Amor. O Woodstock '94 foi organizado para comoemorar o 25º aniversário do célebre Festival de Música de Woodstock. Apresentaram-se, entre outros, as bandas Blind Melon, Primus, Nine Inch Nails, Aerosmith, Metallica, Red Hot Chili Peppers, e Green Day e músicos como Peter Gabriel, Carlos Santana, Joe Cocker.

         Entre os dias 22 e 25 de Julho de 1999, foi promovido o Woodstock 99 em comemoração aos 30 anos do festival original. Desta vez, em Roma, uma cidade no interior do estado de Nova York, distante 320 quilômetros do local onde aconteceu o primeiro Woodstock. Mas tudo terminou em uma pancadaria promovida por vândalos que destruíram, saquearam e molestaram a maioria das 400 mil pessoas presentes.

         Os motivos principais foram as difíceis condições ambientais, e a violência e agressão sexual, incluindo saques, vandalismo e incêndios; soma-se a isso a falta de banheiros, a falta de água e o sol escaldante. Quem precisasse tomar água tinha que desembolsar somas consideráveis. Além disso, a distância entre os palcos era de dois quilômetos. Pelo menos duas pessoas morreram. Um por overdose e outra atropelada por um trator enquanto dormia.


O outro lendário festival de música



          Em  30 de agosto de 1969, 250 mil pessoas vindas de todas as partes da Europa se reuniram na Ilha de Wight, costa sul da Inglaterra na tentativa de reeditar Woodstock, acontecido duas semanas antes. Batizado de Festival da Ilha de Wight, este evento teve uma primeira edição no ano anterior. O fluxo de jovens chegando à ilha era da razão de três mil por hora. Homens de calças de brim, uniformes de guerra, camisolas floridas e turbantes. As mulheres usavam vestidos longos, xales, ponchos e medalhões. Misturados na plateia, convidados famosos como Elizabeth Taylor, Ringo Starr, George Harrison, John Lennon, Yoko Ono, Jane Fonda e Roger Vadim. Se apresentaram lá Bob Dylan, The Band, The Who, Joe Cocker, Richie Havens, The Moody Blues, The Nice, Tom Paxton, Pentangle e Pretty Thing

Haroldo de Andrade, nascimento


          1º de maio de 1934. Nasce em Curitiba (PR), o radialista e empresário Haroldo de Andrade Silva.          Começou a carreira aos 14 anos trabalhando num sistema de alto-falante, e em 1952 estreou na Rádio Paranaense, no Grande Programa RCA Victor. Em 1952 foi para o Rio de Janeiro para trabalhar na Rádio Mauá e logo alcançou o primeiro lugar de audiência, segundo o IBOPE.

          Em 1961, foi para a Rádio Globo, indicado por Chacrinha, para apresentar o Alvorada Carioca, que logo passou a se chamar Programa Haroldo de Andrade, programa que ele manteria na emissora por mais de 40 anos, interrompido apenas entre 1982 e 1983, quando o comunicador teve uma passagem pela Rádio Bandeirantes do Rio de Janeiro.


          Em 1977, Haroldo de Andrade teve seu show radiofônico premiado como o Melhor Programa da América Latina pelo 10º Fórum Internacional de Programação de Rádio. No mesmo ano, Haroldo foi apontado como A Maior Personalidade do Ar pela revista Billboard.

          Ele deixou a Rádio Globo em 12 de julho de 2002, e em sete de novembro de 2005, inaugurou sua própria emissora, que em alguns meses alcançava o terceiro lugar na audiência entre as Rádios AM na capital carioca.

           Haroldo de      Andrade morreu de falência múltipla dos órgãos aos 73 anos no Rio de Janeiro em 1º de março de 2008. 36.


Rádio Tupi do Rio de Janeiro: inauguração

 

          1935. Às 12h00h daquele dia 25 de setembro de 1935, foi registrado um momento histórico para o rádio brasileiro. Com a presença de políticos, autoridades e do considerado inventor do telégrafo sem fio Gugliermo Marconi (1874 – 1937), era inaugurada a PRG-3 - Rádio Tupi do Rio de Janeiro, a primeira estação do conglomerado de Emissoras e Diários Associados do Brasil, fundado por Assis Chateaubriand (1892 – 1966).     

          Depois da veiculação do prefixo da Rádio Tupi, produzida pela pianista e professora de música Lucília Villa-Lobos (1886 – 1966) com a participação de índios Parecis, a PRG-3, O Cacique do Ar, apelido dado pelo próprio Chateaubriand estava oficialmente no ar. Naquele dia, a nova emissora estava instalada no bairro do Santo Cristo, na Região Central da cidade do Rio de Janeiro.

          A primeira transmissão da emissora havia sido dez dias antes, em 15 de setembro de 1935, com a apresentação de um coral de 120 vozes regido pelo compositor e maestro Heitor Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959), que executou o Hino Nacional do Brasil. Seu primeiro transmissor tinha dez quilowatts de potência e foi trazido da Inglaterra por Guglielmo Marconi.

          Em seus áureos tempos, a Rádio Tupi manteve um elenco formado por grandes nomes de diversas áreas da cultura, do jornalismo e do entretenimento do país, como Sílvio Caldas, Jamelão, Elizeth Cardoso, Dorival Caymmi, Dalva de Oliveira, Carmem Miranda, Jamelão, Chico Anysio, Abelardo “Chacrinha” Barbosa, Nena Martinez, Ary Barroso, Paulo Gracindo, Yoná Magalhães, Orlando Drummond, Lima Duarte, Vicente Celestino, Collid Filho, Silvio Santos, Doalcey Camargo e muitos outros. 



         O auditório da Tupi do Rio de Janeiro, conhecido como o Maracanã dos Auditórios tinha capacidade para 1 500 pessoas e abrigava um palco para 20 músicos. Atrações de sucesso marcaram época. Muitos, direto do auditório, como o Incrível, Fantástico - Extraordinário apresentado pelo comunicador e compositor Almirante; Pausa Para Meditação e Paquetá em Serenata, com Júlio Louzada; Calouros em Desfile com Ary Barroso; Rádio Sequência G-3 com Paulo Gracindo – e Chez Badoux, Toque Maestro e Rua da Alegria com Antônio Maria. A dramaturgia também fez história na programação com o rádio teatro. Por ali passaram atores como Paulo Gracindo, Orlando Drummond, Cordélia Santos e Silvino Neto.

         A Super Rádio Tupi do Rio de Janeiro se destaca na história da radiofonia brasileira por ter registrado alguns fatos marcantes, como o anúncio, em primeira mão, do final da Segunda Guerra Mundial. Outro destaque é o concurso lançado em 1942 por Almirante, inconformado porque no Brasil, a música usada nas comemorações de aniversário era cantada em inglês. Então, ele lançou um concurso para promover a criação de uma versão em português da canção Happy Birthday To You. A decisão final coube à ABL (Academia Brasileira de Letras). Quem venceu o concurso entre mais de cinco mil candidatos participantes foi Bertha Celeste Homem de Melo, uma poetisa e farmacêutica nascida em Pindamonhagaba, São Paulo em 21 de março de1902.

          A melodia de Parabéns pra Você tem origem na canção Good Moning All (Bom Dia Para Todos), composta pelas irmãs Mildred e Patricia Smith Hill em 1874, no estado do Kentucky, nos Estados Unidos.

          Para comemorar seus 70 anos, em 25 de setembro de 2005, a Rádio Tupi do Rio de Janeiro colocou no ar o primeiro transmissor digital do rádio brasileiro, instalado na ilha de Itaoca, na cidade de São Gonçalo, no Grande Rio.

          Em 1º de junho de 2009 a Rádio Tupi passou a ser transmitida também pelo FM, na frequência de 96,5 MHz, que antes pertencia à Nativa FM. No mesmo ano, nas comemorações dos 77 anos da emissora, a Tupi lançou um serviço on-demand em seu endereço na Internet, com toda a programação da emissora. Em 2013, foram incluídas também as integras dos jogos de futebol transmitidos pela equipe esportiva. 41.




Copa do Mundo da Suécia: abertura


         

          Oito de Junho de 1958. Começa em

Estocolmo, Suécia, a 6ª Copa do Mundo de Futebol da FIFA. O estádio Rimellawen, na cidade de Uddevalla foi pequeno para o primeiro jogo do Brasil, ainda sem sua formação ideal.

           Garrincha, Pelé e Zito só entrariam no time a partir do terceiro jogo contra a União Soviética no lugar de Joel, Mazzola e Dino Sani, no dia 15 de junho.

           O jogo de estreia contra a seleção da Áustria nós vencemos por 3X0, com um gol de Nilton Santos e dois de Mazzola. Estava aberto o caminho para conquista do tão sonhado título mundial.

          Como nas maioria das vezes, a Seleção Brasileira saiu do país desacreditada. Depois de um desentendimento nos bastidores da CBD (Confederação Brasileira de Desportos), antecessora da CBF, foi aprovado o projeto para a nossa participação na VI Copa na Suécia apresentado pelo empresário Paulo Machado de Carvalho (1901 – 1992), então proprietário dos veículos de comunicação Record, rádio e televisão. O motivo da briga interna foi porque a maioria não acreditava numa Comissão Técnica com um treinador, um psicólogo, um supervisor e uma equipe médica – todos capazes de planejar organizar cobrir todas as necessidades e a preparação dos jogadores para os jogos.

          Mas o plano funcionou. Mesmo assim, dizem que os dirigentes esqueceram de mandar para a FIFA a numeração dos jogadores brasileiros para a disputa da competição. Então, a entidade se viu forçada a definir, ela mesma, a numeração de cada um dos nossos atletas. Por obra do acaso, o reserva Pelé recebeu a camisa 10. Como se viu, o futuro Atleta do Século 20 eternizou o número logo em seguida.

          Comandada pelo técnico Vicente Feola, a Seleção Brasileira realizou uma memorável campanha nos gramados da Suécia. O mundo conheceu e reverenciou Pelé, o novo Rei do Futebol. Com a idade de 17 anos e oito meses, foi o mais novo futebolista a conquistar o título de Campeão do Mundo.

          Dezesseis seleções nacionais foram qualificadas para participar desta edição do campeonato, sendo 12 delas europeias: Suécia, Alemanha Ocidental, Áustria, França, Tchecoslováquia, Hungria, União Soviética, Iugoslávia, Inglaterra, Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales e quatro americanas: Brasil, Argentina, Paraguai e México.

 

A Copa do Mundo da Suécia na minha lembrança


          A Copa do Mundo na Suécia foi, por excelência, um momento marcante para o futebol brasileiro. Ainda não acompanhava o futebol com muito interesse, mas, observando o movimento nos bares e nas ruas da minha Campo Grande. Mato Grosso do Sul tive a sensação de que o Brasil estava ganhando aquela competição.

          Naquele Mundial, Pelé marcou seu primeiro gol em Copas do Mundo. O gol histórico foi registrado em 19 de junho de 1958, aos 21 minutos do segundo tempo do jogo contra o País de Gales pelas quartas-de-final. Pelé recebeu a bola dentro da área, matou no peito, e, sem deixá-la cair, deu um leve toque por baixo para fintar o zagueiro galês e fuzilar no canto direito do goleiro Kelsey.

          Na manhã ensolarada daquele domingo 29 de junho de 1958, enquanto rolava o jogo da decisão entre as Seleções brasileira e sueca, eu acompanhava atentamente na companhia dos meus tios Felix e Henriqueta ao culto da Escola Dominical na Primeira Igreja Batista de Campo Grande, no antigo número 751 da Rua 13 de Maio. De repente, um foguetório ensurdecedor interrompeu por vários segundos o sermão do pastor Ney Ângelo Pereira, um religioso mineiro recém-formado, que fora investido no cargo de substituto do pastor Altino, que havia se aposentado. Minutos depois, o barulho de fogos se repetiu. Quando o ruído cessou, o pregador surpreendeu os membros mais conservadores, ao exclamar:

 

          “Acho que o Brasil marcou mais um gol!”.

 

          E a pregação seria interrompida mais três vezes pela barulhenta demonstração de alegria dos torcedores vizinhos que moravam ao lado do templo. Minutos depois, o jogo acabou. Como se sabe, a Seleção Brasileira venceu o escretch da Suécia por 5X2 e se consagrou Campeã Mundial de futebol pela primeira vez.

          Me lembro claramente que a fachada da Primeira Igreja Batista em Capo Grande era pomposa. Havia umas pilastras de granito bege, que lembravam um pouco outro templo: o Parthenon, na Grécia. 

         

          Com o fim dos jogos, alguém abriu uma loja na Rua Dom Aquino, próximo aos Correios, onde se comparavam o álbum Brasil, Campeão Mundial de Futebol e umas balinhas de açúcar da pior qualidade. Mas isso não tinha a menor importância, pois o que interessava eram as figurinhas que vinham enroladinhas dentro da embalagem do doce. Nas páginas a serem preenchidas vinham as figuras de jogadores de todas as seleções que participaram da Copa, e alguns sonhos de consumo, como porta-notas, bolas e bicicletas.

          A bicicleta era o item mais difícil de ser preenchido. Figurinhas de partes como o guidom e o pedal, vinham com um carimbo. Figurinhas repetidas ou de pouco valor eram descartadas ali na rua.   

          Parecia dia de eleição, com aquela montanha de figurinhas espalhadoas pelo chão. Muitas vezes, quase conseguíamos preencher a figura da bike. Quase, porque as tais figurinhas carimbadas eram raras, valiam muitas vezes quase o preço da bicicleta. Os colecionadores se amontoavam no interior da loja e se espalhavam pela calçada, na esperança de conseguir as figurinhas que faltavam para preencher as páginas do álbum. E sair, na hora, pedalando sua bicicleta.

          Se você garimpar na Internet, vai encontrar alguns sites que comercializam esses álbuns, a “preço de ouro”. - 19 - 71 – 78.

Fiori Giglioti, nascimento

 

          27 de Setembro de 1928. Nasce em Barra Bonita, São Paulo o radialista e locutor esportivo Fiori Giglioti, famoso por usar frases como:


          “Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo”, “O tempo passa…”, “Aguenta coração!,” “Crepúsculo de jogo”, “Agora não adianta chorar” e “Torcida brasileira”.


         Fiori começou a carreira de locutor em 1947, na Rádio Clube de Lins. Depois, passou por várias emissoras, como Cultura de Araçatuba, Bandeirantes, Pan-americana, Tupi, Record e Capital, todas do estado de São Paulo. Em sua longa carreira, o locutor recebeu 162 títulos de cidadania em todo o Brasil e cobriu dez Copas do Mundo. Fiori Giglioti morreu em São Paulo, por falência múltipla dos órgãos aos 77 anos, em oito de junho de 2006.



         

Fiori Giglioti na minha lembrança


          Na Rua 14 de Julho esquina com a Rua Dom Aquino, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul encontra-se o Edifício Nakao. Existem várias versões contando alguma coisa sobre a história do icônico imóvel. Fico com os dados publicados na Internet, no site campogrande.ms.gov.br.

         Durante anos ele foi o prédio comercial mais alto da cidade. Projetado e construído pelo engenheiro Joaquim Teodoro de Faria em 1948 a pedido do comerciante japonês Nacao Gonsiro, ele foi renomeado mais tarde de Edifício Futurista, Edifício Santa Eliza, e finalmente Edifício João Rezek. Mas Nakao é o nome que mais o identifica. Ali foi instalado o primeiro elevador da cidade, que ainda se encontra em funcionamento.

          O imponente edifício de cinco andares era famoso entre a molecada, porque o corrimão da escadaria em forma de caracol era usado como tobogã. Sorrateiramente, íamos até último andar, e antes que o zelador notasse, já estávamos escorregando em boa velocidade. Sem o conhecimento dos nossos pais, é claro.

          Numa sala de esquina do primeiro andar do Edifício Nakao funcionava a Empresa de Publicidade Dragão, uma “rádio” em circuito fechado com alto-falantes instalados nos postes da esquina da Rua Dom Aquino com a 14 de Julho. Da rua dava para ver a atuação do locutor Antonio Silva, um tipo bastante popular da cidade, pois ele era também cantor da noite, e se apresentava na rádio e nos constantes shows no famoso palanque do relógio público, originalmente erguido na esquina com a Avenida Afonso Pena.

          A Publicidade Dragão, de propriedade de Antônio Papi Neto fazia serviços de propaganda e tocava músicas, e retransmitia em cadeia com a Rádio Cultura eventos importantes, como a Copa do Mundo. Foi pela “rádio” Dragão que eu acompanhei, na tarde fria de seis de junho de 1962 uma das mais emocionantes e sofridas partidas disputadas pela Seleção Canarinho em toda sua história, através da angustiada narração do lendário Fiori Giglioti (1928 – 2006), à época trabalhando na Rádio Bandeirantes de São Paulo, a emissora líder da Cadeia Verde Amarela, da qual a Rádio Cultura fazia parte. A narração ficava mais emocionante, quando Fiori proferia à todo pulmão seus refrães:


         "O tempo passa…”, “Aguenta coração!”, “Crepúsculo de jogo”, “Agora não adianta chorar” e “Torcida brasileira”.


O jogo


         No Estádio Nacional de Santiago do Chile, perdíamos para a Espanha pelo placar de 1X0, até que o ponta-esquerda Amarildo Tavares da Silveira (1939 - ), O Possesso, o substituto de Pelé, que havia sofrido uma distensão no músculo adutor mudou a história do jogo. Com dois passes de Garrincha, marcou dois gols (aos 27 e aos 42 minutos do segundo tempo), classificando a Seleção Canarinho para as quartas-de-final.

        Graças a essa histórica virada, em 17 de junho de 1962 a Seleção Brasileira conquistaria pela segunda vez o Campeonato Mundial de Futebol. O primeiro jogo, tal como em 1950 e 1954, foi contra o México; o Brasil venceu por 2 a 0, com gols de Zagalo e Pelé. A segunda partida, contra os tchecos foi zero a zero.

          Foi nesse jogo que Pelé sofreu a distensão muscular na virilha. Nas oitavas-de-final deu Brasil 2X0 México, Brasil 0X0 Tchecoslováquia e Brasil 2X1 Espanha. Nas quartas-de-final Brasil 3x1 Inglaterra.

 Chegamos à semifinal jogando contra os donos da casa. Brasil 4X2 Chile, e a grande final contra a Tchecoslováquia vencida pelo Brasil por 3X1. Esta foi a escalação: Gilmar, Djalma Santos, Zózimo, Mauro, Nilton Santos, Zito, Didi, Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagalo. Garrinha, Alegria do Povo deu um baile, mas Amarildo, O Possesso foi o homem certo, na hora certa. Por isso merece ser reverenciado. Sempre.

          Vale lembrar que pela primeira vez, os jogos de uma Copa do Mundo foram vistos pelos brasileiros na íntegra, gravados em vídeo tape e exibidos no dia seguinte pela televisão. Menos no Mato Grosso, pois a pioneira TV Morena só seria inaugurada em 24 de dezembro de 1965. 41 – 78 -96.



AS ORIGENS DO TELEFONE FIXO

               Em sete de março de 1876, Alexandre Graham Bell um cientista e inventor canadense nascido na Nova Escócia, Canadá em dois de agosto de 1922 entrou com um pedido de patente intitulado "Melhoria da Telegrafia", para um aparelho elétrico de transmissão de voz junto ao USPTO (acrônimo em inglês para United States Patent and Trademark Office), o Escritório de Patentes dos Estados Unidos. Na solicitação, Bell especificou o artefato:

 

          "(...) o método de um instrumento para, transmitir sons vocais ou outros               telegraficamente, causando ondulações eléctricas, similares às vibrações do ar que               acompanham o som vocal".


          Por coincidência, duas horas mais tarde, o engenheiro elétrico norte-americano Elisha Gray (1835 – 1901) ingressou no USPTO com uma Ressalva de Patente para um telefone, intitulado “Transmissor de sons vocais telegraficamente".

          Mas o USPTO manteve a primeira patente para um aparelho desse tipo a Graham Bell, sob o número 174.465, em vez de aceitar a Ressalva solicitada por Gray. Publicações mais recentes afirmam que Bell não só roubou as ideias de Gray, mas pode até ter subornado um funcionário do serviço de patentes para permitir que ele desse uma olhada nos arquivos de Gray, que depois tentou contestar o título de Bell. Então, a Suprema Corte norte-americana decidiu em favor deste último.

          Em 10 de junho de 1876, ao proferir a frase Mr. Watson, come here. I need you (Sr. Watson, venha cá. Preciso do senhor), Graham Bell e seu assistente Thomas Augustus Watson (1854 – 1954) registraram aquela que muitos creditam como sendo a primeira conversa telefônica oficial da História. 


         

          Todavia, duas horas mais tarde, o engenheiro elétrico norte-americano Elisha Gray (1835 – 1901) ingressou no USPTO com uma Ressalva de Patente para um telefone, intitulado “Transmissor de sons vocais telegraficamente".                Mas o USPTO manteve a primeira patente para um aparelho desse tipo a Graham Bell, sob o número 174.465, em vez de aceitar a Ressalva solicitada por Gray. Publicações mais recentes afirmam que Bell não só roubou as ideias de Gray, mas pode até ter subornado um funcionário do serviço de patentes para permitir que ele desse uma olhada nos arquivos de Gray, que depois tentou contestar o título de Bell.                    Então, a Suprema Corte norte-americana decidiu em favor deste último.

          Em 10 de junho de 1876, ao proferir a frase Mr. Watson, come here. I need you (Sr. Watson, venha cá. Preciso do senhor), Graham Bell e seu assistente Thomas Augustus Watson (1854 – 1954) registraram aquela que muitos creditam como sendo a primeira conversa telefônica oficial da História. 

          À margem disso, a patente de Bell recebeu vários pedidos de impedimento. A reclamação mais importante foi a de Antonio Santi Giuseppe Meucci, um imigrante italiano nascido em Florença, Itália, em 13 de abril de 1808. Depois de passar algum tempo em Cuba, em 1850, foi para os Estados Unidos fixando-se em Clifton, no estado de Nova York, onde ele montou uma fábrica de velas e passou a trabalhar em suas ideias e suas pesquisas sobre o Teletrophono e diversos instrumentos, visando a melhoria do sinal de voz, incluindo o diafragma e o magneto. Meucci era engenheiro químico e industrial.

          Voltando alguns anos no tempo, sabe-se que em 1836, quando Alexander Graham Bell tinha 11 anos de idade, Antonio Meucci desenvolveu um dispositivo médico de eletroterapia para tratamento de reumatismo baseado nas teorias do médico e pesquisador alemão Franz Anton Mesmer (1734 – 1815) e do físico francês Pierre Bertholon de Saint-Lazare (1741-1800). Em 1849, o inventor italiano testou esse dispositivo num paciente isolado com um contato metálico na boca a uma distância de 40 metros de distância de sua oficina. A outra ponta do contato metálico estava nas mãos do próprio Meucci, que aplicou no paciente um choque elétrico de 114 Volts. Para sua surpresa, o som do grito de dor do doente não foi tão audível quanto o som propagado pelo fio de cobre. Para ouvir com clareza o som da voz do paciente através do fio Meucci aproximou seu instrumento ao ouvido.

          Seguindo com a experiência, Meucci lançou mão de pedaços de papelão, e envolveu o fio de cobre para isolar a eletricidade, evitando assim lesões no paciente. Em cada ponta ele criou um funil. Em seguida, mandou que este falasse normalmente com o funil encostado à boca. O inventor ouviu sons que, segundo relatou depois, eram “não distintos, um murmúrio, um som desarticulado”. Neste momento, Meucci percebeu que havia feito a mais importante de todas as suas descobertas: a chance de efetuar a comunicação de voz através de um fio de cobre totalmente carregado de eletricidade. Ele tinha em suas mãos um dispositivo telefônico nomeado “telégrafo falante”, cientificamente denominado mais tarde de Teletrophono.

          Para divulgar seu trabalho, em 1857 Antonio Meucci encomendou ao pintor Nestore Corradi um esboço de seu invento. O que Corradi desenhou foi a figura de dois homens sentados, com dois pequenos aparelhos de formato côncava em suas mãos, ligados a dois fios. Um deles era destinado à emissão da voz, e o outro à recepção. Ainda em 1857, o inventor teceu um comentário para a imprensa, no qual descrevia seu Teletrophono. Nessa época, Alexander Graham Bell tinha apenas 10 anos de idade. Em um trecho do artigo, supostamente publicado em seu país de origem pelo jornal L’Eco d’Italia em 1860, Meucci escreveu:

 

          “A invenção consiste num diafragma vibrante e de um magneto eletrizado por um fio espiral que o envolve. Quando o diafragma vibra, modifica a corrente do magneto. Esta modificação da corrente transmite-se ao outro lado do fio e vai imprimir análoga vibração do diafragma que a recebe e que, desse modo, reproduzir a palavra”.


         Para proteger suas invenções, Meucci começou a documentar suas experiências no livro de contabilidade da empresa Rider & Clarck, cujo sócio William E. Rider, amigo do inventor, o mesmo que mais tarde compraria algumas patentes suas. Este livro é parte do processo que o italiano moveria contra Alexander Graham Bell em 1884, sob a designação Libro Memórandum de Meucci. Nele estão anotados todas a experiências realizadas entre sete de março de 1862 a dois de março de 1882

         Mas um grave acidente mudaria para sempre a história de vida do inventor italiano. Durante a explosão do navio a vapor Westfield, Meucci sofreu diversas queimaduras no corpo. Assim, ele foi obrigado a ficar por muito tempo internado no hospital. Para levantar dinheiro, sua esposa Ester foi obrigada a vender muitos dos seus modelos de trabalho, entre eles um protótipo do telefone. Quando ele deixou o hospital procurou, sem sucesso, descobrir a identidade do comprador.

          Falido e vivendo de Assistência Social, Antonio Meucci não conseguiu levantar os 10 dólares necessários para garantir a Ressalva de Licença depois de 1874, e assim evitar que nenhuma patente fosse emitida a Alexander Graham Bell, muito menos levantar a quantia suficiente para garantir a patente definitiva do Teletrophono. Portanto, teve que se contentar com a ressalva apresentada por ele pela primeira vez no Caveat or Notice of Intent (Embargos ou Notificação de Intenções) com uma Ressalva de Patente para um dispositivo de telefone, em 28 de dezembro de 1871, que deixou de fora detalhes cruciais de sua invenção - e renovado em 1872 e em 1873 mas, tragicamente, não mais depois disso.

           Ressalvas de Licenças eram a descrição de uma invenção destinada a ser patenteada, apresentada no escritório de patentes antes de esta ser solicitada, e funcionava como uma barreira jurídica para a emissão de qualquer patente, por qualquer outra pessoa sobre a mesma invenção. Essas Ressalvas eram renováveis a cada ano.

           Paralelamente, Grahn Bell, que demonstrou largo interesse na invenção de Meucci, convenceu o italiano a dividir o seu material de pesquisa, compartilhando um laboratório. Dessa forma, Bell tinha pleno acesso aos materiais de Meucci. Depois de fazer bom uso do laboratório, o escocês entrou com seu pedido de patente. Meucci protestou, mas foi incapaz de convencer alguém que Alexander Graham Bell havia roubado suas ideias. Porém, em 13 de janeiro de 1887, o governo dos Estados Unidos anulou a patente concedida a Bell por motivos de fraude e falsidade ideológica, um caso a ser julgado pelo Supremo Tribunal, que o considerou executável. O caso parecia bastante promissor e favorável para Meucci que, infelizmente morreu como indigente aos 81 anos em Nova York, em 18 de outubro de 1889, antes do final do processo. A patente de Alexander Graham Bell expirou em janeiro de 1893, e o ​​processo contra ele foi encerrado.

          Então, Alexander Graham Bell foi considerado durante muitos anos como inventor do telefone. Mas de acordo com o velho ditado português “O castigo vem a galope”, o reconhecimento oficial de Antonio Giuseppe Meucci como inventor do telefone só aconteceu 113 anos após sua morte, quando o Congresso dos Estados Unidos tomou a decisão inimaginável de fazer justiça, aprovando a resolução N°. 269, admitindo o italiano como o real inventor do telefone, afirmando:

 

          "Se Meucci tinha sido capaz de pagar a Ressalva depois de 1874, nenhuma patente poderia ter sido emitida”. 

 

           Desta forma, Alexander Graham Bell foi postumamente despojado da sua honra duvidosa como o inventor do telefone. Depois de anos de litígio, as patentes de Alexander Graham Bell eventualmente resistiram às demandas judiciais tocadas por advogados por Robert Hooke, Johann Philipp Reis, Elisha Gray, Antonio Giuseppe Meucci e tantos outros – tal como as que foram travadas desde sempre, pela paternidade de invenções como o automóvel, o avião e tantos outros materiais de grande consumo.

Por fim, ainda que Alexander Graham Bell não tenha sido, de fato, o inventor do telefone, coube a ele introduzir as diretrizes que norteariam o uso dessa ferramenta que impulsionou o progresso da humanidade, dada a forma rápida para se comunicar, em qualquer parte do planeta. É bem verdade que ele ajudou na implantação de um negócio que alavancou um verdadeiro império do ramo telefônico. Em nove de julho de 1877, o advogado e financiador Gardiner Greene Hubbard (1822 – 1977), seu sogro, fundou a Bell Telephone Company, a primeira a realizar serviços de telefonia com sucesso. Mais tarde, a empresa evoluiu para a AT&T, algumas vezes considerada a maior companhia telefônica do mundo. Alexander Graham Bell Bell nasceu em Endinburgo, Escócia, em três de março de 1847.




“Eu não inventei nada. Eu redescobri”.

Auguste Rodin (1840 -1917), escultor francês

          Muitas décadas de empenho humano e de esforço quase sempre coletivo em prol da prosperidade são fatores que nos permitem usufruir da herança que o passado nos legou. Entretanto, graças às modernas ferramentas desenvolvidas com o propósito de promover a dinamização das comunicações e o aumento do conhecimento humano, reparamos que, muito do que foi inventado aconteceu por pura obra do acaso; ou não passam de um constante aperfeiçoamento de conceitos anteriores, ou sucessão de ideias. E quanto mais nos aprofundamos no assunto Invenções, pesquisando principalmente em velhas publicações, várias delas encontradas perdidas nas prateleiras empoeiradas de algum sebo, verificamos que não existe consenso sobre quem inventou (ou quem fez primeiro) os milhares de produtos e artefatos criados pelo homem desde os tempos pré-históricos, bem como a ampla variedade de máquinas e ferramentas disponíveis nos diversos setores da vida moderna. 

          Sendo assim, parece que o tema Quem Fez Primeiro é uma questão que nunca será resolvida. Por isso, convêm revermos com muito critério nossos conceitos sobre isso. E por justiça, nunca deixar de citar que todos os envolvidos em uma invenção ou descoberta merecem os créditos com forte destaque, porque certamente, trabalharam duro pesquisando por um longo tempo para aperfeiçoar ideias originais.

          A par disso, verificamos que a História é recheada de narrativas sobre a trajetória de celebrados velhacos infiltrados entre os empreendedores honestos. Na busca desenfreada por fama e dinheiro, inescrupulosamente eles se transformaram em megaempresários à frente de verdadeiros impérios industriais monopolistas, na maioria das vezes, escudados por eficientes serviços de patentes. Mas como diz o sábio ditado popular, “É preciso separar o joio do trigo”.

          Nada contra os sistemas de patentes, pois essas concessões públicas conferidas pelo Estado são, por definição, o título de registro de invenções, de marcas de fábrica, de nomes de produtos comerciais e industriais e de direitos autorais. Instituição imprescindível, elas garantem ao detentor os direitos de prevenção e proteção contra terceiros fabricarem, usarem, venderem, oferecerem ou importar sua invenção; desde que sejam revelados todos os detalhes técnicos concernentes ao produto ou criação a serem protegidos. Assim é o procedimento padrão adotado pelas nações industrializadas. Sendo este é um tema muito delicado e apaixonante, discutir um assunto como este muitas vezes pode gerar conflitos de ideias. Melhor não! 



AS ORIGENS DO TELEFONE CELULAR

          Em tres de abril de 1973, na cidade de Nova York, o diretor de sistemas de comunicação da Motorola, Martin Lawrence Cooper (1928 - ), realiza uma ligação telefônica histórica. Na esquina da Rua 56 com a Avenida Lexington, ele ligou de um aparelho portátil modelo Dyna-Tac 8000X. O artefato media 25 centímetros de comprimento por sete centímetros de largura e pesava cerca de 1 quilo. 

          Quem atendeu do outro lado foi o seu rival Joel S. Engel (1936 -), da Bell Labs, que desde 1947 desenvolvia um sistema telefônico de alta capacidade interligado por diversas antenas, sendo que cada antena, considerada célula, possuía uma rádio base que recebe os sinais vindos dos aparelhos.


         Todavia, a história do telefone celular que começa no alvorecer do Século 20, mais precisamente na Alemanha de 1918, quando foi testado um serviço de telefonia móvel nos trens que circulavam entre Berlim e Zossen. Em 1925, foi fundada a empresa Zugtelephonie AG, para fornecer equipamentos de telefonia para trens, e, em 1926, foi aprovado o sistema telefônico nos comboios ferroviários da Deutsche Reichsdahan e do Reichspost, o sistema de correios da Alemanha.

         Entre 1955 e 1961, o engenheiro e inventor russo Leonid Ivanovich Kupriyanovich (1929 – 1994) desenvolveu e apresentou uma série de modelos experimentais de telefones celulares portáteis. Ele publicou na revista Radio, um órgão científico dedicado a radioamadores, um relatório no qual apresentava um aparelho walkie-talkie desenvolvido por ele. Capaz de fazer ligações de até 1 quilômetro e meio de distância e pesando cerca de 1 quilo e 200 gramas, o dispositivo operava com dois tubos de vácuo. No mesmo ano ele apresentou o LK-1, um telefone celular que usava ondas de rádio, tinha o alcance de 20 a 30 quilômetros de distância e uma bateria que durava de 20 a 30 horas. Kupriyanovich patenteou seu telefone celular em primeiro de novembro de 1957, recebendo o Certificado № 115494.

         Em 1958, no VNIIS (Instituto de Investigação Científica de Vorone), iniciou pesquisas com um sistema de comunicação celular. Ainda neste ano, Kupriyanovich apresentou um aparelho do tamanho de um maço de cigarros. Com este, o usuário podia fazer ligações, e também recebê-las de telefones residenciais e de telefones de rua. Em 1961, ele desenvolveu um dispositivo ainda menor, que cabia na palma da mão, cujo alcance ultrapassava 30 quilômetros. No mesmo ano foi planejada a fabricação desse objeto em larga escala. Em 1965, na exposição internacional Inforga-65, em Moscou, a empresa búlgara Radioelektronika apresentou um telefone móvel automático baseado nas soluções desenvolvidas por Kupriyanovich, porém, combinado com uma estação base. Conectado a uma linha telefônica, ele tinha capacidade para interligar até 15 usuários.

         Mas o primeiro dispositivo “oficial” de telefonia celular da antiga União Soviética foi o Altay, um serviço nacional de telefonia móvel civil para carros, com base no padrão soviético MRT-1327. Este sistema de telefone pesava 11 quilos e era instalado no porta-malas dos veículos. O uso comercial do Altray foi iniciado em Moscou em 1963, e em 1970, ele já era utilizado em cerca de 120 cidades da URSS. Muitos de seus dispositivos foram inicialmente empregados para uso médico em hospitais, e posteriormente, em táxis. Ainda hoje, versões atualizadas ainda são usadas em alguns lugares da Rússia.

         Em 1956, a empresa sueca Telefonaktiebolaget L. M. Ericsson, simplesmente Ericsson, apresentou seu primeiro sistema de telefonia celular, o Ericsson MTA (Mobilie Telephony A). Ele pesava cerca de 40 quilos e também foi desenvolvido para ser instalado em porta malas de carros.





A sucessão de ideias       

          Nascida Hedwig Eva Maria Kiesler, em Viena, na Áustria em nove de novembro de 1913, a atriz Hedy Lamarr era filha de uma família de judeus. O pai era bancário e a mãe, pianista. Talvez por inspiração materna, estudou piano quando era adolescente. Entre 1933 e 1937, ela participou de algumas reuniões de negócios com personalidades da elite nazista ao lado do primeiro marido, o vienense fabricante de armas Friedrich “Fritz” Mandel (1900 – 1977).

         Descontente com os rumos da política em seu país, a atriz deixou o marido e foi para os EUA onde se consagraria, atuando em cerca de 40 filmes. Uma das mais belas estrelas da história de Hollywood, Hedy Lamarr serviu de modelo para Walt Disney (1901 – 1966) criar a Branca de Neve, em 1937. Mais tarde, mostrando que era muito mais que uma belíssima mulher ela, surpreenderia o mundo.


          George Antheil era pianista de concerto e um dos melhores compositores de vanguarda de sua época. Depois de estudar música no Curtis Institute, na Filadélfia, ele foi para a Europa para seguir a carreira de pianista. Performático, escrevia e tocava peças de acordo com a concepção Mecanicista, com trechos de propulsão rítmica com nomes como Avião Sonata, Sonata Sauvage, Sonata, Jazz e Morte de Máquinas, e finalmente Ballet Mécanique, concebida para 16 pianos, xilofones e percussão. 

          A peça foi apresentada pela primeira vez em Paris em Junho de 1926, em uma versão que tinha apenas um pianista, mas também tinha campainhas elétricas, hélices de avião e uma sirene. A apresentação incomum causou um choque no meio artístico.

         Em 1933, Antheil voltou aos Estados Unidos, onde passou a compor músicas para o cinema e escrever artigos sobre romance e endocrinologia para a revista Esquire. No verão de 1940, Hedy Lamarr se aproximou de Antheil, que era seu vizinho em Hollywood, para falar sobre glândulas, pois ela estava interessada em aumentar os seios, que segundo ela, não eram compatíveis com os padrões da crescente indústria cinematográfica. Mas o assunto se desviou para os acontecimentos da guerra. Ambos conheciam de perto os horrores do conflito, pois ela era judia, e ele perdera um irmão numa das batalhas. Nessa conversa, Lamarr confessou ao pianista que estava pensando em desistir do cinema e se mudar para Washington, e oferecer seus serviços ao Conselho Nacional de Inventores dos Estados Unidos para ajudar no esforço de guerra, mas disseram-lhe que, como personalidade famosa, seria melhor que ela vendesse War Bonds, ou Bônus de Guerra, os Títulos de Dívida emitidos pelo governo com o objetivo de angariar fundos para financiar operações militares. Demonstrando lealdade ao país que a acolheu, e usando seu prestígio, ela arrecadou sete milhões de dólares em uma única noite.

          Desde cedo, Hedy Lamarr se interessou pela tecnologia. Já adulta, ela observou que os torpedos quase sempre erravam seus alvos; e mais: calculou que eles podiam ser guiados por algum tipo de sinal de rádio. Porém, a atriz sabia que esses sinais podiam ser detectados. Mas como colocar a ideia em prática? A resposta veio durante aquela conversa entre ela e George Antheil. Em dueto, eles executaram uma música: ele tocava o piano e ela repetia numa escala diferente as notas tocadas por ele. De repente, a ficha caiu: eles notaram que era impossível alguém captar os sinais que saltavam de uma frequência para outra, a menos que esse alguém soubesse a variação.

          Antheil sugeriu então que o dispositivo que permitiria a sincronização dos sinais emitidos e receptados pelo invento de Hedy poderia ser conseguida. Ele propôs que as rápidas mudanças nas frequências de rádio poderiam ser coordenadas da mesma maneira que ele havia coordenado os 16 pianos sincronizados em sua peça musical Ballet Mécanique. O músico percebeu então que a perfuração do rolo musical de uma pianola mecânica podia ser usada como um código. Em vez de tocar uma nota, esses buracos simulariam uma frequência diferente de rádio. Enquanto a pianola tocava, a mensagem enviada mudaria de frequência continuadamente, ou saltaria. Outra pianola, em outro ponto, com um rolo idêntico tocando em sintonia, descodificaria o sinal. Estava criado o sistema de Salto de Frequência.

          Em dezembro de 1940, depois de meses de trabalho, Lamarr e Antheil enviaram uma descrição do dispositivo ao Conselho Nacional de Inventores, que tinha sido criado no início do ano como um potencial recebedor de novas ideias e invenções. Ao longo de sua existência, o Conselho, que durou até 1974, recolheu mais de 625 mil sugestões, algumas das quais em fase de receber patente. Seu diretor, o inventor Charles Franklin Kettering (1876 – 1958) aconselhou aos dois desenvolverem sua ideia a fim de colocá-la no ponto de receber patente. Por sua vez, Kattering foi o inventor da ignição elétrica para automóveis, introduzida por ele em 17 de fevereiro de 1911.

          Com a ajuda de um professor de engenharia elétrica do Caltceh (Instituto de Tecnologia da Califórnia) eles resolveram os problemas. Em junho de 1941, apresentaram o invento ao Departamento de Guerra norte-americano, que inicialmente o recusou. Porém, em 11 de agosto de 1942, a patente pelo sistema de interferência inventado por eles finalmente foi emitida, recebendo o Nº. 2 292 387. A versão inicial consistia na troca de 88 frequências, o número de teclas de um piano, e era feito para despistar radares, mas a ideia pareceu difícil de se tornar viável na época.

          Esse sistema só foi viabilizado nos EUA durante a crise dos mísseis soviéticos em Cuba (13 Dias Que Abalaram o Mundo), em outubro de 1962, depois que as patentes, de uma forma nebulosa, foram adaptadas pela Sylvania Electrics Products (GTE), quando elas já haviam expirado. Mais tarde, depois de aperfeiçoado, o invento foi usado para acelerar as comunicações por satélites e serviu de base para a criação da telefonia celular.

Contudo, Lamarr e Antheil nunca receberam dinheiro pela sua criação. Em 1996, após suas patentes serem redescobertas, a atriz foi reconhecida por suas invenções e recebeu um prêmio da Electronic Frontier Foundation. Nada mais.

         Considerada Mãe da Telefonia Celular, Hedy Lamarr foi homenageada pelo governo dos EUA em 1997, ao receber uma Menção Honrosa e o título de Patrona das Telecomunicações por abrir novos caminhos nas fronteiras da eletrônica. Ela morreu aos 86 anos em Orlando, na Florida, em 19 de janeiro de 2000. George Antheil morreu aos 59 anos, em 12 de fevereiro de 1959.

Em 2007 foi lançado o romance Hedy Lamarr e um Sistema de Comunicação Secreto (Hedy Lamarr and a Secret Communication System). Escrito por Trina Robbins, Cynthia Martin e Anne Timmons, a livro conta como a atriz teve a ideia de inventar um sistema de comunicação revolucionário.

          Como vimos, a invenção do telefone móvel só foi possível porque ao longo da História, várias cabeças pensantes desenvolveram um conjunto de ideias. E graças a pesquisadores geniais como o Dr. Cooper, que sob o amparo de um forte apoio financeiro e tecnológico – e de patentes - soube aproveitar tudo isso.  Dessa forma, ele foi o primeiro homem a demonstrar com sucesso seu funcionamento. Martin Lawrence Cooper, nasceu em Chicago, Illinois, em 26 de dezembro de 1928. 19. – 41.

Adolpho Bloch, nascimento

 

          8 de outubro de 1908. Nasce em Jitomir, Ucrânia, o empresário das comunicações Adolpho Bloch, nascido Avram Yossievitch Bloch. Fundador do grupo de mídia que levava seu sobrenome, Adolpho Bloch foi o criador da revista semanal Manchete em 26 de abril de 1952, da Bloch Editores em meados da década de 1970, da Rede Manchete de Rádio em 15 de julho de 1980, e da Rede Manchete de Televisão em cinco de junho 1983.

          Adolpho Bloch iniciou a carreira de gráfico em sua cidade natal, na editora do pai Joseph Bloch (1868 – 1953). Sua família emigrou para o Brasil em 1922, e já em 1923, montou sua primeira oficina gráfica na Rua Vieira Fazenda número 24, em Vila Izabel, um tradicional bairro de classe média da capital carioca, fundado em três de janeiro de 1872. 

          Os Bloch começaram o negócio no Brasil imprimindo folhas numeradas para o Jogo do Bicho, que foi idealizado pelo Barão João Batista Vianna Drummond em quatro de julho de 1892, justamente em Vila Isabel.

          Depois de ler várias histórias da extensa biografia inacabada do Tio Adolpho, como carinhosamente chamado pelos funcionários, aprendi que antes de ser um grande empreendedor, ele também era um grande visionário. Demonstrou isso quando escreveu em sua famosa coluna Adolpho Bloch Escreve, reeditada na edição especial da Revista Manchete 2000, lançada em agosto de 1990:


          “As ideias dançam em bale na minha cabeça. Meus monólogos, à noite, são intermináveis e positivos. Sempre acreditei no Brasil Grande. Quanto mais estou ocupado, mais tenho tempo para tudo. E só esqueço aquilo que quero. Numa entrevista à TV Educativa, Zevi Ghivelder me perguntou como será a MANCHETE ao completar 50 anos. Respondi que temos jovens que saberão assumir a sua responsabilidade no ambiente de trabalho. E também estou certo de que, daqui a alguns anos, as revistas terão a impressão tridimensional. O papel terá uma transparência de luz de tal forma que, ao folhear as suas páginas, o leitor receberá a mesma imagem do cinema e da televisão”.


          Não tenho ideia de quando ele foi entrevistado na TV Educativa. Mas com certeza, foi bem antes do ano 2000. E hoje, quando manuseio um desses gado Getz disponíveis no mundo contemporâneo – o tablete, por excelência – percebo o que Tio Adolfo antevia, quando lançava seu olhar sobre o futuro da mídia.




 Rede Manchete de Televisão

 

          Em cinco de junho de 1983 entrou no ar a TV Manchete. Desde o início, a emissora adotou o slogan Televisão de Primeira Classe.

          Entre os programas de sucesso da Manchete destacaram-se: Conexão Internacional, Bar Academia, Um Toque de Classe, Jornal da Manchete, Marquesa de Santos, Clube da Criança. 

          Em 1984, a Manchete transmitiu pela primeira vez os desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, marcando a inauguração do sambódromo da Marquês de Sapucaí, quando a Mangueira, a última escola a desfilar na segunda-feira sagrou-se Supercampeã do carnaval carioca naquele ano. Como o Sambódromo era uma novidade, nenhuma das escolas que desfilaram naquele ano sabia como lidar com a Praça da Apoteose. A Mangueira, depois de percorrer todo o percurso da Passarela do Samba dentro do regulamento, ao chegar ali, retornou e voltou a desfilar: só que de trás para frente.

          A Rede Manchete de Televisão também marcou época ao cobrir os comícios das Diretas Já e a Copa do Mundo do México, em 1986. As novelas produzidas pela emissora fizeram grande sucesso. As mais importantes foram: Antônio Maria, Dona Beija, Kananga do Japão, Ana Raio & Zé Trovão e Pantanal, um dos maiores sucessos da história da TV brasileira.

          Em maio de 1992, 49% da TV Manchete foi vendida ao Grupo IBF. Em abril de 1993, o controle da emissora voltou às mãos da família Bloch. Na tentativa de salvar a empresa, o grupo arrendou toda a programação para a Igreja Renascer em Cristo. Após um mês nas mãos da Renascer, a Rede Manchete retornou ao comando dos Bloch. Em oito de maio de 1999, foi concretizada a venda para o grupo TeleTV, que operava o sistema de ligações interativas com sorteios pela televisão através do número 0900, até sua proibição em 1998. A operação pôs fim à Rede Manchete e marcou o início da Rede TV!

          O acervo de 16 anos da Rede Manchete, composto por 5.500 fitas, entrou na massa falida e foi arrematado em um leilão realizado em São Paulo em 2005. Semanas depois, o material foi doado à Fundação Padre Anchieta/TV Cultura. O arrematante declarou que só estava interessado nas prateleiras feitas com madeira de lei onde as fitas estavam acondicionadas. Depois de quatro anos de muito trabalho, e um gasto de 2,4 milhões de reais, os funcionários da TV Cultura catalogaram as 5500 fitas com gravações de Copas do Mundo, torneios de tênis, corridas de Stock Cars, Formula Indy, humorísticos e programas infantis. Estão incluídas algumas gravações de programas históricos, como o Clube da Criança (1983 – 1998), - que revelou Xuxa e Angélica – e o primeiro musical televisivo a apresentar videoclipes no Brasil; o FM TV, que era apresentado por Tim Rescala e Patrícia Pilar.

          No início de novembro de 1995, o empresário das comunicações Adolpho Bloch foi internado no hospital da Beneficência Portuguesa em São Paulo, para tratar dois problemas: embolia pulmonar e disfunção da prótese da válvula mitral do coração. Na madrugada do dia 18 para o dia 19, seu quadro agravou-se, e ele precisou ser operado, mas não resistiu. Tio Adolpho morreu aos 87 anos em 18 de novembro de 1995. 2 – 33.20/01/2013 - 41.

Roberto Marinho, nascimento

         

          Três de Dezembro de 1904. Nasce na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil o jornalista e empresário Roberto Pisani Marinho, simplesmente Roberto Marinho. Em 29 de julho de 1925, com 21 anos de idade, ele assumiu a direção do jornal O Globo fundado pelo pai, Irineu Marinho, apenas três semanas antes da morte deste.

          O doutor Roberto, como era conhecido iniciou a expansão das atividades ao criar a Rádio Globo do Rio de Janeiro em dois de dezembro de 1944, e em 26 de abril de 1965 fundou a Rede Globo de Televisão.

          Nos anos seguintes, o Grupo Globo fundou a gravadora Som Livre (1969), a Fundação Roberto Marinho (1977), a programadora de canais Globosat (1991), o portal globo.com (2000) e o g1.globo.com (2006).

          Em 25 de agosto de 2014, a empresa divulgou que passaria a adotar o nome Grupo Globo, antes Organizações Globo, marca usada desde a inauguração do jornal O Globo em 1925. Na ocasião, Roberto Irineu Marinho (1947 - ), filho do doutor Roberto disse:

 

          "Essa mudança é resultado da nossa visão de futuro e atuação nos anos recentes. Queremos incentivar e promover cada vez mais a colaboração entre nossas empresas, o alinhamento de objetivos e a busca de resultados comuns. O esforço conjunto será cada vez mais importante para entender expectativas do público e atendê-la”.

          Desde janeiro de 2020, o projeto Uma Só Globo unificou as empresas do grupo. Atualmente, a empresa possui as seguintes divisões: TV Globo, Canal Futura, Canais Globo, Globo Play, Globo.com; Globo Filmes, Sistema Globo de Rádio e Editora Globo – além de ser mantenedor da Fundação Roberto Marinho. Em 2016, o Grupo Globo foi citado entre os maiores proprietários de mídia do mundo, de acordo com o ranking produzido pela consultoria Zenith Optimedia, sendo a única empresa brasileira da lista. A principal empresa do Grupo Globo é a TV Globo, que detém a classificação de maior emissora de televisão do país e a segunda maior do mundo.

          Roberto Marinho morreu na capital carioca aos 98 anos em decorrência de um edema pulmonar, em seis de agosto de 2003. 41.


Radinho a pilha REGENCY MOD. TR-1: lançamento

 

      7 de agosto de 1954. Antecedendo aos japoneses, a Texas Instruments lança simultaneamente em Nova York e Los Angeles o REGENCY MOD. TR-1, o primeiro radinho a pilha transistorizado do mundo.  Alimentado por uma bateria de 22 ½ volts, o REGENCY MOD. TR-1 tinha quatro transistores em seu circuito, possuía uma saída para fone de ouvido e custava 49 dólares e 50 centavos. Sucesso de vendas em todo o mundo, o radinho REGENCY MOD. TR-1 vinha acondicionado num estojo de couro e vendeu mais de 100 mil unidades já no primeiro mês de lançamento.

          O rádio a pilhas é um dos produtos mais consumidos pela humanidade em todos os tempos. 36 – 41.


Akio Morita, nascimento

 

          Em 26 de janeiro de 1921, nascia  em Nagoya, Japão o inventor e empresário Akio Morita, fundador da Sony ao lado do engenheiro Masaru Ibuka. O pai de Akio queria que ele ficasse à frente da empresa de fabricação de saquê que pertencia à família há 15 gerações. A família Morita, da aldeia de Kosugaya, perto da cidade industrial de Nagoya fabricava, saquê, já há 400 anos  sob a marca Nenohimatsu.

          Ao invés de seguir o desejo paterno, Akio se juntou a Masaru para fundar a Tokyo Tsushin Kogyo K. K., embrião da Sony, hoje um conglomerado multimídia japonês e a 140ª maior empresa do mundo. Sob a direção de Akio, a Sony foi a empresa japonesa pioneira na internacionalização de suas operações, focando suas atenções principalmente no mercado norte-americano.

 


O começo da gigante Sony

               Em sete de maio de 1946, a Tokyo Tsushin Kogyo KK, embrião da Sony lançou seu primeiro produto: uma panela para cozinhar arroz. Em 1954 a empresa obteve uma licença para fabricar transistores, o componente eletrônico introduzido nos Estados Unidos pelos Laboratórios Bell em dezembro de 1947, mas que ainda não havia sido aplicado na fabricação de rádios, que até ali, eram alimentados por válvulas. Em maio de 1954, a Sony lançou seu primeiro transistor, e em sete de agosto de 1955, o primeiro rádio transistorizado fabricado no Japão, o SONY TR-55. Nesse mesmo ano, a companhia passou a se chamar SONY, quando o produto começou a ser vendido nos Estados Unidos. O novo nome foi adotado para que o novo gadget pudesse se tornar mais popular. Oficialmente, porém, a razão social da empresa só mudou em janeiro de 1958, ano em que ano que a SONY entrou oficialmente na Bolsa de Valores de Nova York.

             A empresa japonesa passou, a partir daí, a colecionar dezenas de criações de sucesso, como o tocador de mídia portátil Walkman, um dos produtos eletrônicos de tecnolgia inovadora e preço acessível de maior sucesso da História. Lançado em 1º de julho de 1979, o tocador, ao longo de 30 anos, vendeu cerca de 200 milhões dos diversos modelos disponíveis, embora o jornal o Japan Times sustenta que foram 400 milhões de unidades. O Walkman original é o TPS-L2 azul e prateado. Diz a lenda que Akio Morita acreditava tanto naquele tocador de fitas portátil que apostou alto na novidade: se a empresa não vendesse pelo menos 100 000 aparelhos em seus dois primeiros anos, renunciaria à presidência da Sony. Ele venceu o desafio, porque naquele período, o Walkman vendeu cerca de um milhão e meio de unidades. No entanto, em 22 de outubro de 2010 a fábrica anunciou que deixaria de fabricar o Walkman tradicional. Em seu lugar entrou uma série de telefones celulares centrados em música introduzidos no mercado sob a marca Sony Ericsson.

             O Walkman da Sony nasceu de uma ideia muito simples, porém, genial. Akio Morita, co-fundador da fábrica era fã de Ópera. Muito do seu tempo ele passava em aviões. A música dos grandes mestres dificilmente estavam disponíveis a bordo. Então, ele convocou o mago e coordenador do setor de áudio de Sony, o engenheiro Nobutoshi Kihara (1926 – 2011), especialmente para que este criasse um tocador de fitas que fosse mais fácil de transportar do que TC-D5 existente na Sony. Assim nasceu o Walkman. 

Mas há controvérsia


          Aqui também se aplica aquela famosa regra: é tudo sucessão de ideias...

          Hoje se sabe que a Sony não é a inventora do tocador de mídia portátil, mas sim o físico e ex-executivo de televisão germano-brasileiro Andreas Pavel (1945 - ). A ideia era a mesma de Morita: ela veio pela necessidade de se ouvir música de forma pessoal e portátil. Apenas os gostos musicais de Pavel e Morita eram diferentes.

Pavel introduziu um tocador stéreo portátil de fitas cassete quando morava no Brasil em 1972, para o qual deu o nome de Stereobelt. Ele tentou parcerias com empresas do ramo que mostrassem interesse em fabricar o Stereobelt. Segundo ele, até mesmo a própria Sony foi consultada. Em 1977, Pavel registrou uma patente do aparelho em diversos países, incluindo o Japão, no final de 1978. Mas seus pedidos de patentes nos Estados Unidos e no Reino Unido foram rejeitados. No ano seguinte, a Sony lançou o Walkman. Pavel entrou na justiça contra a gigante japonesa na Alemanha.

          Então, em 1980 a Sony iniciou uma conversação com Pavel para estabelecer um acordo sobre royaltyes. Em 1986, finalmente a empresa japonesa concordou em pagar, mas apenas para alguns modelos do Walkman vendidos na Alemanha, sem, contudo reconhecer Pavel como inventor do icônico gadget.

          Em 1989, novo processo foi instaurado, dessa vez no Reino Unido. O caso foi perdido e encerrado em 1996, e Pavel se viu em situação de falência, pois teve que arcar com os custos do processo, um montante de 3,6 milhões de dólares. Finalmente, em 2004, a Sony e Andreas Pavel encontraram um meio para encerrar a pendenga, fora dos tribunais. Mas o valor do acordo é segredo. Dizem que a indenização gira em torno de 10 milhões dólares, incluindo o pagamento de royalties sobre as vendas do Walkman – além do reconhecimento de que Andreas Pavel é o verdadeiro inventor da aparelho. Tudo isso aconteceu depois da morte de Akio Morita, em três de outubro de 1999. 18.02/12/1993 – 41.


Orson Welles, nascimento

 

          O ator e radialista e futuro cineasta e roteirista George Orson Welles nasceu em seis de maio de 1915 em Kenosha, Wisconsin. Órfão aos 12 anos, começou a estudar pintura em 1931, e já adolescente não via interesse nos estudos e em pouco tempo passou a atuar, aparecendo na série Cavalgada da America e A Marcha do Tempo. A paixão pela arte o levou a criar sua própria companhia de teatro em 1937. Depois, viajou pelo mundo inteiro, trabalhou na Broadway e no rádio.

          Em julho de 1938, Welles estreou na CBS (Columbia Broadcasting System) o Teatro Mercury no Ar. Nesse programa radiofônicoda de uma hora de duração, Welles dramatizou adaptações da literatura clássica, incluindo Drácula, O Conde de Monte Cristo - e particularmente o romance fantástico A Guerra dos Mundos, de H. G Wells, que aterrorizou os Estados Unidos no Dia das Bruxas de 1938. Esse foi o 17º episódio da série. Welles ficou famoso por isso, e no ano seguinte passou a fazer filmes para o cinema.

 


A Guerra dos Mundos no rádio



          Em 30 de outubro de1938, Orson Welles assustou o público ouvinte de três cidades da costa leste dos Estados Unidos, ao veicular uma série de boletins descrevendo uma suposta invasão alienígena, durante um programa dirigido e narrado por ele em Nova York, chamado Mercury Theatre on the Air pela rede de rádio CBS. Houve pânico principalmente em localidades próximas a Nova Jersey, de onde a CBS transmitia, e onde Welles ambientou sua história. Talvez por ser o Dia das Bruxas nos EUA, cerca de 6 milhões de pessoas que sintonizavam o programa caíram na pegadinha, ficando completamente aterrorizadas. O pânico provocou um colapso nos serviços telefônicos e provocou grandes congestionamentos. Houve fuga em massa para as montanhas e reações desesperadas de moradores também em Newark e principalmente na cidade de Nova York. Uma pesquisa realizada depois mostrou que, dos 6 milhões que ouviram o programa, pelo menos um milhão acreditou que os marcianos viriam bater à suas portas.

          O episódio do Mercury Theatre on the Air transmitido pela rede de rádio CBS naquela noite de 30 de outubro de 1938 foi uma adaptação do romance de ficção cientifica A Guerra dos Mundos (The War of the World), lançado em 1898 pelo escritor britânico H.G. Wells (1866 – 1946). Na peça, Orson Wells fazia o papel de professor da Universidade de Princeton, que liderava a resistência à invasão marciana.


          A dramatização em forma de programa jornalístico tinha todas as características do radiojornalismo da época, exatamente da forma que os ouvintes estavam acostumados. Reportagens externas, entrevistas com depoimento de pessoas que estariam vivenciando o acontecimento, opiniões de peritos e autoridades, efeitos sonoros, sons ambientes, gritos e a emoção dos supostos repórteres e comentaristas. Tudo dava impressão de o fato estar sendo transmitido ao vivo. Era o 17º programa da série semanal de adaptações radiofônicas realizadas pela rede de rádio CBS apresentados por Orson Welles que, aos 23 anos, pregou a maior peça da história do rádio e que ainda repercute nos dias de hoje. A Invasão dos Marcianos durou apenas uma hora, mas garantiu a fama dele como dramaturgo. O programa deu à CBS uma grande audiência e se tornou num dos mais famosos eventos radiofônicos de todos os tempos.  

         

Em 1941, Orson Welles co-escreveu, dirigiu e estrelou o classico Cidadão Kane. Suas imagens expressionistas e a inovação na edição do som fazem do filme uma obra-prima. Por isso,  Cidadão Kane é largamente considerado o melhor filme de todos os tempos. Quando foi lançado no Brasil em 16 de junho de 1941, o longa metragem já havia causado um grande alvoroço nos Estados Unidos. O magnata da imprensa norte-americana William Randolph Hearst (1863 – 1951) tentou embargar o filme, alegando ter sido ele o modelo para o personagem central. A carapuça serviu. 

          O enredo de Cidadão Kane questionava os métodos jornalísticos de Charles Foster Kane. A corrupção, a vida, os amores, a solidão e a fracassada tentativa de um homem intempestivo e megalômano de entrar para a política. Mas de fato, existem ali muitos pontos coincidentes nas biografias de Hearst e do fictício Kane.

Orson Welles no Brasil


          Em 1941, folheando a revista Time de oito de dezembro de 1941, Orson Welles deparou-se com um artigo intitulado Four Men on a Raft (Quatro Homens Numa Jangada), reproduzindo a odisseia de quatro pescadores cearenses que, a bordo de uma jangada venceram em 61 dias, os 2.381 quilômetros que separam Fortaleza (CE) do Rio de Janeiro (RJ), sem bússola ou carta náutica. Os pescadores queriam chamar a atenção do País e do governo Getúlio Vargas para o estado de abandono em que viviam os 35.000 pescadores do Ceará. Welles escolhia ali o episódio brasileiro para It’s All True (É Tudo Verdade), o filme pan-americano encomendado pelo presidente Franklin Delano Roosevelt (1882 - 1945) como parte de sua Política de Boa Vizinhança.

          Orson Welles chegou ao Brasil para uma “missão de boa vontade” em oito de fevereiro de 1942, filmou o carnaval do Rio de Janeiro, e um mês depois foi até Fortaleza com sua equipe. Dois meses mais tarde, o jangadeiro Manoel Olímpio “Jacaré” Meira (1903 – 1942) e seus três companheiros foram a até a capital carioca onde, por 500 mil réis semanais – a moeda corrente da época –participariam de algumas cenas ao lado do ator Grande Otelo (1915 – 1983) e rodariam, no aeroporto, a despedida do Rio de Janeiro, e também reconstituiriam, numa praia da Barra da Tijuca, a triunfal chegada da jangada São Pedro à Baía de Guanabara. Mas Jacaré morreu num acidente horrível com uma lancha durante as filmagens. Ele caiu da embarcação e foi devorado por um tubarão. 

           Acusado pela produtora RKO Radio Pictures e pelo governo estadunidense de esbanjar dinheiro, Welles voltou à cidade de Fortaleza em 13 de junho de 1942, a fim de concluir o filme. Parou de beber e se empenhou nas seis semanas seguintes, correndo contra o tempo e fazendo “malabarismos” com o orçamento. Mas por causa da censura velada do Estado Novo e da mudança na direção da RKO, o filme It’s All True nunca foi finalizado. Em 1985, foram descobertas 300 latas contendo grande parte do filme.

          Em outubro de 1993, foi lançado nos EUA um documentário escrito e dirigido por Richard Wilson, Bill Krohn e Myron Meisel, totalmente baseado no trabalho inacabado de Orson Welles no Brasil. Em 2019, os cineastas brasileiros Firmino Holanda e Petrus Carity produziram um documentário intitulado A Jangada de Welles, contando, a odisseia do jangadeiro Manoel Manoel Olímpio “Jacaré” Meira e seus três companheiros e a aventura brasileira de Orson Welles, considerado um gênio do cinema. Ele morreu de ataque cardíaco aos 70 anos em Hollywood, em 10 de outubro de 1985, e foi introduzido no Hall of Fame Rádio em 1988. 4 – 19 - 41 -102 - 197.


Rádio KDKA faz a primeira transmissão comercial 

          Em dois de novembro de 1920, na cidade de Pittsburgh, na Pensilvânia entrava no ar pela primeira vez a KDKA, tornando-se a primeira estação comercial de rádio dos Estados Unidos. Em seu estúdio, apenas quatro homens operavam todos os equipamentos e preparam os textos dos noticiários. O primeiro trabalho jornalístico da KDKA no dia de sua estreia foi a cobertura das eleições presidenciais daquele ano.

          O acontecimento só foi possível graças à Westinghouse Electric Corporation, uma organização fundada por George Westinghouse (1846 – 1914) em 1886. Nessa época, a empresa era uma das principais fabricantes de receptores de rádio dos Estados Unidos. Por cerca 15 anos, o rádio de voz nos país era explorado por engenheiros e radioamadores. Para a maioria das pessoas parecia divertido, porém, sem nenhuma aplicação prática. Para incrementar as vendas, a Westinghouse resolveu investir em programas radiofônicos regulares com músicas e outras atrações. Para colocar o projeto em prática, a empresa contratou o engenheiro elétrico Frank Conrad (1874 – 1941), que frequentemente tocava discos nas ondas do rádio apenas para divertir seus amigos. Então, Conrad participou ativamente implantação da estação KDKA, além de cunhar o termo Transmissão Comercial.

Mas a reação da concorrência não demorou. Alguns jornais protestaram contra o novo veículo de comunicação, prevendo que a publicidade no rádio não apenas seria ineficaz, mas ofensiva aos ouvintes. Um deles foi mais além, incluindo em seus comentários a frase infeliz:


           “Essa rádio, radiotelefonia ou seja lá o que for, não vale qualquer discussão”.

 

          Para contrariar sua opinião, a Rádio WEAF, de Nova York começou a vender anúncios. Em 22 de agosto de 1922, e emissora transmitiu o que é amplamente considerado o primeiro comercial de rádio, oferecendo apartamentos em Jackson Heights, no bairro do Queens. Pertencente a AT &T (Telephone and Telegraph Company), a WEAF irradiava anúncios e cobrava dois dólares por 12 segundos de comercial e 100 dólares por 10 minutos. Estava começando a chamada Era do Rádio nos Estados Unidos, que no final de 1922 já contava com 382 emissoras comerciais. 36 – 41 – 220.


Popov faz sua primeira transmissão de rádio


          Em 24 de março de 1896, o físico Aleksander Stepánovich Popov, às vezes grafado como Popoff e conhecido por suas pesquisas em transmissões em ondas eletromagnéticas a longas distâncias, faz uma demonstração, na qual ele transmitiu sinais de rádio a 250 metros entre diferentes prédios do campus em São Petersburgo, a segunda maior cidade da Rússia. Aleksander Stepánovich Popov nasceu em Turinskiye Rudnike, Rússia em 16 de março de 1859.

          Em 1898, Popov transmitiu sinais de rádio entre a terra e um barco que se encontrava a cinco quilômetros da costa. Em sete de maio de 1895, ele havia apresentado para os membros da Sociedade de Física e Química da Rússia, um detector de raios sem fio que ele havia construído, e que funcionava usando um coesor - um tubo de material isolante feito com vidro, ou ebonite, contendo limalha metálica em seu interior e com um eletrodo em cada extremidade. Isso era uma antena.

          É bastante provável que tudo o que Popov construiu e demonstrou foi sem conhecimento da obra contemporânea do inventor italiano Gugliermo Marconi (1874 – 1937). O receptor de rádio inventado por Popov foi exposto numa reunião do Departamento de Física da Sociedade Físico-Química Russa, no dia sete de maio de 1895, enquanto Marconi reivindicou a sua invenção apenas a dois de junho de 1896.

          O legado de Aleksander Stepánovich foi o desenvolvimento da antena radioelétrica receptora em 1894, reconhecendo a importância da descoberta das ondas eletromagnéticas invisíveis pelo físico Heinrich Rudolf Hertz (1857 – 1894) em 29 de novembro de 1888, e que foram imaginadas pelo físico inglês James Clerck Maxwell (1831 – 1879) em 1873. 


          As invenções e estudos de Popov também contribuíram, posteriormente, para a formação das bases com as quais foram criadas a radiodifusão, a televisão e as comunicações telefônicas. Sem elas, nem o padre brasileiro Landell de Moura (1861 - 1928), Guglielmo Marconi e outros pioneiros do rádio teriam conseguido. Quando este visitou Popov em Kronstadt, uma cidadezinha próxima a São Petersburgo, o russo não demonstrou nenhum ressentimento quanto ao trabalho do físico italiano. Mas na Rússia, reverenciam Aleksander Stepánovich Popov como o Pai do Rádio.  Porém, a instabilidade política do seu país contribuiu para a decadência de seu prestígio, que voltaria a ser valorizado apenas depois da Segunda Guerra Mundial. Popov morreu em decorrência de um derrame cerebral aos 46 anos em São Petersburgo, em 13 de janeiro de 1906, pelo calendário gregoriano. 13 de janeiro de 1906, pelo calendário juliano. 7 – 29 – 41 – 78 – 220.



Frank Donald Drake, nascimento

 

             28 de maio de 1930. Nasce em Chicago, Illinois o astrônomo Frank Donald Drake. Ele estudou emissões de rádios de planetas, estando envolvido na primeira busca por inteligência extraterrestre. Por isso, é considerado um dos pioneiros do campo moderno dessa atividade, junto com os físicos Giuseppe Cocconi, Philip Morrison, Iosif Shklovsky e Carl Sagan. Frank Donald Drake é celebrado por fundar o SETI, formular a Equação que leva seu nome e supervisionar as Cápsulas do Tempo incluídas nas Missões espaciais Pioneer 10 e Pioneer 11, - e Voyager 1 e Voyager 2, bem como elaborar a Mensagem de Arecibo, tudo isso junto com o astrônomo Carl Sagan (1934 – 1996). 


O rádio na busca por vida extraterrestre

 

“Grande é Deus, grande é sua força, infinita sua sabedoria. Louvai-o céus, louvai-o, Sol, Lua e Planetas, louvai-o harmonias celestes, e tu também, ó minh'alma, louva ao Senhor teu Criador, pois tudo vem dele, tudo existe por ele, tudo está nele; tanto as coisas sensíveis e as ininteligíveis, aquilo que ignoramos profundamente, quanto a parte insignificante das coisas que sabemos!”.


Johannes Kepler (1571 -1630), astrônomo austríaco.

 

          A vontade de encontrar vida inteligente em qualquer lugar do universo através do rádio se originou no final da década de 1950, quando o físico italiano Giuseppe Cocconi (1914 – 2008) e seu colega norte-americano Phillip Morrison (1915 – 2005), da Universidade de Cornel, afirmaram em um artigo publicado pela Revista Nature em sua edição de 19 de setembro de 1959:

 

“A presença de sinais interestelares é totalmente consistente com tudo o que conhecemos, e (...) se os sinais estão presentes, os meios para detectá-los estão sob nosso controle”.

 

          Baseado nessa certeza, Cocconi e Morrison propuseram que a região de micro-ondas do espectro eletromagnético era a melhor forma de comunicação interestelar. Eles presumiram que, provavelmente, os alienígenas usariam a frequência universal de 1 420 MHz para suas transmissões, pois ela corresponde ao comprimento de onda de 21 centímetros, que é semelhante ao comprimento               Os sinais nesse espectro podem viajar longas distâncias, e lembram pulsações do espaço recebidas pelo padre e cientista brasileiro Roberto Landell de Moura (1861 – 1928), pelo engenheiro eletricista e inventor sérvio Nikola Tesla (1856 – 1943), pelo físico e inventor italiano Guglielmo Marconi (1874 – 1937) e outros, no limiar dos anos 20 do Século passado. Porém, nem toda a comunidade científica apoia esse raciocínio, porque as formas de vida até agora conhecidas são compostas por seis elementos: carbono, hidrogênio, nitrogénio, oxigênio, enxofre e fósforo, mas é provável que sejam encontradas condições mais simples, como os microrganismos. Sendo assim, os sinais de rádio seriam totalmente ineficientes. E seriam ineficientes não apenas por isso, pois se sabe que existem duas formidáveis dificuldades aqui: tempo e espaço. De fato, quem se ocupa da exploração cósmica não mede as distâncias em quilômetros, mas sim em Anos-Luz.

          O físico alemão Heinrich Rudolph Hertz (1857 – 1894), logo depois de demonstrar a existência das ondas eletromagnéticas invisíveis – ou ondas de rádio - e sua propagação à distância, imaginadas pelo seu colega britânico James Clerk Maxwell (1831 – 1879) descobriu que essas ondas de rádio viajam à mesma velocidade da luz, ou seja, 300 000 quilômetros por segundo. Mesmo assim, tentar enviar uma mensagem de rádio através do espaço extragaláctico é um assunto muito complexo. Se porventura houver um contato, o emissor esperaria muito tempo para receber uma resposta, pois quando dizemos que moramos a 300 Anos-Luz de um corpo celeste, significa que uma jornada ou uma mensagem de rádio para esse corpo celeste na velocidade da luz, demoraria 300 anos para chegar lá. E mais 300 anos para voltar.

          Seria então a vez dos Portais Inter-Dimensionais, ou Star Gates (Portais Estelares), também conhecidos vulgarmente como Buracos de Minhoca. Ou então, lançar mão da teoria da gravitação de Albert Einstein de 1905, a Teoria da Relatividade Restrita, que conclui que as medidas de tempo e espaço dependem de um julgamento sobre se dois eventos distantes no tempo ou no espaço ocorrem ao mesmo tempo. Ou seja: uma pessoa bebe água sentada num ônibus em movimento. Enquanto o ônibus passa por uma estação sem parar, a pessoa bebe dois goles de água. Visto por um angulo normal, pode-se afirmar que ela bebeu dois goles de água enquanto estava no mesmo lugar. Mas para um segundo observador parado na plataforma da estação, ao beber o primeiro gole, a pessoa estava numa posição, e ao ingerir o segundo, vários metros adiante.  Einstein estabeleceu que:

 

          “A determinação do local onde ocorre um fenômeno tem que levar em conta um observador, por que o tempo e o espaço são relativos. O tempo passa diferentemente para cada indivíduo, dependendo da velocidade que este se encontra”.

 

          Ao publicar a Teoria da Relatividade Geral em 1916, - uma versão menos complexa do trabalho de 1905 - Einstein também determinou que:

 

          “O menor caminho entre dois pontos nem sempre é uma linha reta, e o mundo que enxergamos não tem três dimensões: tem quatro”.

 

          Com esta teoria Albert Einstein, então um ousado jovem de 26 anos, contrariava a Segunda Lei de Newton, que 200 anos atrás achava que a luz viajava sempre em linha reta através do espaço, e que este é plano. Newton também acreditava que o tempo e o espaço podiam ser medidos com precisão total através de instrumentos de medição poderosos. Ele chamava essas medições precisas de espaço absoluto e tempo espaço. Isto sugere o estranho fato de que, se um astronauta que tem um irmão gêmeo iniciar uma viagem espacial próxima à velocidade da luz, o tempo para ele passará mais lento do que para as pessoas que ficaram na Terra. Ou seja, quando esse astronauta retornar ao nosso planeta, ele estará mais jovem do que o irmão gêmeo, que tinha, é claro, a mesma idade que ele. Isso é mostrado e explicado em Interestelar, o filme de ficção científica lançado no Brasil em seis de novembro de 2014 e vencedor do Oscar de Efeitos Visuais.

          Uma vez que a Teoria da Relatividade Geral de Einstein determina que o espaço tempo possa ser extraordinariamente curvo, positivamente podemos ligar duas regiões distantes através de um atalho hipotético chamado wormhole, (numa tradução literal, buraco de verme; ao pé da letra, buraco de minhoca) termo cunhado em 1957 pelo físico estadunidense John Archibald Wheeler (1911 – 2008), depois de um estudo profundo sobre a teoria de Einstein. Contudo, a ideia dos buracos de minhoca já havia sido apresentada em 1921 pelo matemático alemão Herman Klaus Hugo Weyl (1885 – 1955). Na verdade, eles foram descobertos matematicamente como soluções das equações de campo em 1916, pelo físico austríaco Luwdig Flamm (1885 - 1964) depois de estas terem sido formuladas por Albert Einstein, junto como o físico estadunidense (Nathan Rosen (1909 – 1995). Estas soluções, publicadas em 1935 ficaram conhecidas com Pontes de Einstein-Rose. Mas os cientistas mundo a fora têm sido bastante descrentes em relação aos buracos de minhoca desde o início. Essa ideia de teoria de Wheeler foi ressuscitada no final década de 1980, em parte depois que o astrônomo norte-americano Carl Sagan (1934 – 1996) admitiu a possibilidade real de viagens interestelares rápidas, ideia proposta no seu livro Contato (Contact - 1985), transformado em filme com o mesmo nome em 1997.

          Em 22 de novembro de 2008, o Canal BBC 2 lançou em Londres, Inglaterra o filme Einstein e Eddington. Dirigido por Philip Martin, esse teleplay dramatiza o trabalho histórico do cientista inglês Sir Arthur Stanley Eddington (1882 – 1944), que se empenhou em elaborar e provar a Teoria da Relatividade Geral perante a Real Sociedade Astronômica de Londres. No filme, a história começa em 1919 com a expedição de Eddington à Ilha do Príncipe na África Ocidental, próxima à Guiné Equatorial, para fotografar um eclipse solar ocorrido em 29 de maio daquele ano, que ofereceria as condições ideais para provar a Teoria de Einstein. Segundo a Relatividade Geral, uma estrela visível nas proximidades do Sol deveria aparecer em uma posição ligeiramente mais afastada deste porque sua luz deveria ser ligeiramente desviada pela ação da gravidade do Astro Rei. Esse efeito somente pode ser observado durante um eclipse total do Sol, pois a luminosidade do Sol impede a visibilidade da estrela em questão. A Relatividade Geral predizia um desvio duas vezes maior do que o predito pela gravitação newtoniana. Durante o eclipse, Eddington tirou diversas fotografias das regiões situadas em torno do Sol.

          Mas o filme Einstein e Eddington peca, ao omitir que foram duas as expedições organizadas pela Real Sociedade Astronômica de Londres para a observação desse fenômeno. Além da expedição chefiada por Sir Arthur Stanley Eddington, outra, comandada pelo astrônomo britânico Andrew Claude de La Cherois Crommelin (1965 – 1939) veio para o Brasil, mais precisamente para Sobral, no Ceará, cidade com 2 000 habitantes à época. A expedição em Sobral foi coordenada pelo Imperial Observatório do Brasil, hoje ON (Observatório Nacional). Criado pelo imperador Dom Pedro I em 15 de outubro de 1827, o ON agora se encontra instalado no Morro de São Januário, em São Cristóvão, na capital carioca.

          Depois de confrontar as fotografias do céu noturno em condições normais com as fotografias com o eclipse solar perante seus colegas da Real Sociedade de Astronômica de Londres, Sir Arthur Stanley Eddington não só provou que era o primeiro físico a compreender as ideias de Einstein, como também conferiu a teoria do cientista alemão, aclamada na época como uma prova conclusiva da Relatividade Geral sobre o modelo newtoniano. Com isso, Albert Einstein saiu da obscuridade para ser amplamente considerado o maior cientista do Século 20, de acordo com a revista Time. Ele ganhou o Prêmio Nobel de Física de 1922 e foi considerado uma das maiores personalidades da História. A rejeição dos resultados da expedição ao Brasil foi devido a um defeito nos telescópios utilizados, teoria largamente aceita pelos astrônomos contemporâneos.

          Para marcar o acontecimento, foi construído na Praça da Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio em Sobral um monumento, e posteriormente um museu, chamado de Museu do Eclipse, que homenageia a cidade e os físicos e astrônomos que participaram da descoberta. A Ilha do Príncipe e a cidade de Sobral eram os locais apontados pelos cálculos astronômicos como aqueles que     

           De acordo com a Teoria Geral da relatividade de Eisntein, não há nada nas leis da física que a impeça. Porém, é necessário quebrar algumas regras que regem a busca e o conhecimento do Universo. Por isso, a viagem no tempo é extremamente difícil de conseguir. É necessário desenvolver uma complexa tecnologia para manipular buracos negros e buracos de minhoca, não apenas através dos pontos do espaço, mas também no tempo.

O Projeto Ozma, principal legado de Frank Donald Drake

 

A Operação UAP Ozma, ou simplesmente Projeto Ozma, do Observatório Radio-Astronômico Nacional, uma organização pioneira levada a efeito pelo astrônomo Frank Donald Drake na Universidade Cornell, começou às quatro horas da madrugada de oito de abril de 1960. Drake, trabalhando no radiotelescópio do Observatório Radio-Astronômico Nacional, em Green Bank, Virgínia Ocidental durante 150 horas num espaço de quatro meses, utilizou a antena-disco West Virgínia, de 25,90 metros de diâmetro, operando no comprimento de onda de 21 centímetros (frequência de 1 420 MHz) com o objetivo de buscar sinais extraterrestres de duas estrelas mais próximas e parecidas com o Sol: a Epsilon de Erídano e a Tau de Ceti. Esta última, a 11,8 anos-luz de distância, a que possui o planeta extra solar mais próximo de nós. 

          O Projeto Ozma, assim denominado em homenagem à rainha do fictício país de Oz, - O Mágico de Oz, da novela de L.Franck Baum, não obteve sucesso mas serviu de modelo para a maioria dos projetos surgidos a seguir, como o SETI, acrônimo do inglês Search For Extra-Terrestrial Intelligence – numa tradução livre, Busca por Inteligência Extraterrestre - e a CETI (Communication With Extra-Terrestrial Intelligence) ou Comunicação Com Inteligências Extraterrestres, que seria criada mais adiante, mais precisamente em 1974 por astrônomos da União Soviética.

          Em 1961, Frank Drake elaborou a famosa equação que leva seu nome, uma forma de analisar os fatores que determinam quantas civilizações inteligentes, capazes de comunicação, existem em nossa galáxia. Segundo o astro biológico norte-americano Dr. David Morrison (1940 - ), ex-diretor do centro de investigação espacial Ames (NASA Ames Research Center) e agora diretor do Centro Carl Sagan Para o Estudo da Vida no Universo disse:

 

          “A Equação de Drake é na verdade um texto sobre a astrobiologia. Ele nos deu o primeiro grande exemplo da síntese entre a astronomia e a biologia”.

 

 

A Equação de Drake

 

N = R x fs x fp x ne x fl x fi x fc x L 

Onde:
N é o número de civilizações inteligentes na nossa Galáxia
R é a taxa média de formação de estrelas na nossa Galáxia
fs é a fração de estrelas que são adequadas (aproximadamente 0,1)
fp é a fração de estrelas com planetas (aproximadamente 0,5)
ne é o número médio de planetas que estão localizados em uma zona habitável, onde existe água na forma líquida
fl é a fração destes planetas sobre os quais alguma forma de vida evolue
fi é a fração de lugares onde alguma vida se torna inteligente
fc é a fração de espécies inteligentes que poderiam se comunicar conosco
L é o tempo de vida, em anos, de uma civilização (isto é muito incerto)

 

Drake forneceu valores baseados nas suas pesquisas:

R* - estimado em 7/ano

fp – estimado em 0,5

ne – estimado em 2

fl – estimado em 0,33

fi – estimado em 0,01

fc – estimado em 0,01

L – estimado como sendo 10 000 anos

 

Segundo os dados de Drake, temos uma estimativa que resulta:

N = 7 × 0,5 × 2 × 0.33 × 0,01 × 0,01 × 10 000 = 2,31

 

          O astrônomo Frank Donald Drake morreu de causas naturais aos 92 anos em Aptos, Califórnia em dois de setembro de 2022.

 

          De cinco a 11 de setembro de 1971, aconteceu a primeira conferência internacional sobre comunicações com civilização inteligente extraterrestre em Biyurakan, na República Soviética da Armênia, sob o patrocínio da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, e da Academia de Ciências da União Soviética. Estiveram lá os astrônomos norte-americanos Carl Sagan, Francis Drake e Phil Morrison, debatendo com cientistas russos. A maioria dos cientistas que participaram do encontro em Biyurakan estava convencida de era bastante provável existir civilizações em outros sistemas solares, dotados de tecnologia igual ou superior à nossa. Em 1964 já havia ocorrido ali uma reunião de cientistas soviéticos para analisar as possibilidades da existência de outras civilizações e discutir temas sobre a sua perspecção, bem como os possíveis métodos que seriam usados em todo o processo.

          Ainda em 1971, o engenheiro eletrônico e cientista norte-americano Bernard M. Oliver (1919 – 1995), fundador dos laboratórios da HP (Hewlett Packard), e seu colega John Billingham (1930 - 2013) lideraram uma equipe de 24 cientistas para um estudo encomendado pelo Centro de Pesquisas Ames, da NASA, cujo objetivo era analisar formas de detecção de vida inteligente extraterrestre. A conclusão desse trabalho serviu de base para a criação do ambicioso Projeto Cyclops (Projeto de Sistema Para Detectar Vida Extraterrestre Inteligente) da SETI, que em sua fase final estaria operando através de um conjunto de 1 000 radiotelescópios com 100 metros de diâmetro cada um, instalados numa área de 15 quilômetros quadrados, ao custo dez bilhões de dólares, quantia muito alta, mesmo para a NASA. Então, o Projeto Cyclops ficou apenas no papel.

         Em dois de março de 1972 foi lançada a Sonda Pioneer 10, componente do Programa Pioneer, desenvolvido pela NASA com o objetivo de explorar o meio interplanetário além de Marte. A Pioneer 10, viajando a 44 000 quilômetros por hora foi o primeiro artefato construído pelo homem a cruzar o Cinturão de Asteroides de Kuiper, em 15 de julho de 1972. Localizado entre as órbitas de Marte e Júpiter, este cinturão é composto por milhões de corpos sólidos, que vão desde partículas de pó estelar até massas de rochas de quilômetros de diâmetro. A Pioneer 10 também foi a primeira nave espacial a deixar o Sistema Solar para sempre. Acelerando até uma velocidade de 131 000 quilômetros por hora, ela alcançou Júpiter em quatro de dezembro de 1973 e se tornou a primeira sonda a fazer observações e a obter imagens detalhadas do planeta gigante, captadas a 130 quilômetros de distância.

          Em cinco de abril de 1973 foi a vez do lançamento da sonda gêmea Pioneer 11. Depois de atravessar com êxito o o Cinturão de Asteróides de Kuiper em 19 de abril de 1973, a nave chegou a Saturno em 1º de setembro de 1979. Tal como na Pioneer 10, ela carrega a primeira obra de arte criada por um terráqueo enviada ao espaço profundo. Trata-se de uma placa de alumínio folhada a ouro com um esquema simplificado da nave, um mapa do Sistema Solar, informações científicas sobre a Terra; músicas, saudações em diversas línguas faladas em nosso planeta, sons de animais, as figuras de um homem e uma mulher, além da data do início da missão. Elaborada escritora e artista Linda Sagan (1940 – 2023), à época mulher do astrônomo Carl Sagan, a placa-mensagem visa uma         

         A Missão Pioneer foi encerrada oficialmente a 31 de março de 1997. Mas o último contato da Pioneer 10 com o Centro Glen de Pesquisa da Nasa aconteceu em 23 de janeiro 2003. Em quatro de março de 2006, a NASA fez a última tentativa de contato, sem sucesso.

 

Uau! Sinal!

          Em tres de dezembro de 1973, os radioastônomos Robert S. Dixon e Denis M. Cole passaram a expolorar uma larga faixa de comprimento de onda no extinto Observatório de Tádio da Unversidade Estadual de Ohio para tentar detectar e analisar, atravéz de um computador IBM 1130, possíveis sinais de extraterrestres. O projeto dirigido por Dixon captou centenas de sinais. 

          Mas como eles não se repetiram, não podem ser considerados evidência de contatos alienígenas. 

O que mais chegou perto disso foi o sinal recebido na manhã de 15 de agosto de 1977 pelo astrofísico norte-americano Jarry R. Ehman. Enquanto trabalhava no projeto dirigido por Dixon, ele captou no radiotelescópio Big Hear (Grande Ouvido) um impressionante sinal, que durou 72 segundos. Em uma folha papel de papel impressa pelo computador acoplado ao radiotelescópio de 53 metros, Ehman detectou uma sequência que valia a pena analisar. Quatro letras se destacavam nitidamente entre os milhares de números impressos que, ansioso, ele escreveu na folha de registro a palavra Wow! (Uau!). Robert S. Dixon, coordenador do projeto posicionou o radiotelescópio na mesma frequência em que havia captado os sinais, porém, eles jamais se repetiram. Pesquisador voluntário, Ehman tentou, durante meses, captar novamente aquela sequência, sem nenhum sucesso.

A busca não para nunca!

          Em março de 1974, tres anos depois da conferencia de Biyurakan, os cientistas soviéticos divulgam o plano de pesquisa de civilizações extraterrestres aprovado pela Academia de Ciencias da União Soviética. Foi criado o CETI, propositadamente, um acrônimo formado pelas iniciais, em inglês de Communication With Extra-Terrestrial Intelligence, em português Comunicação Com Inteligência Extraterrestre, com o objetivo de vigiar todo o Univeso mais próximo, utilizando radiotelescópios assistidos por dois satélites e um sistema de antenas direcionadas para as regiões onde se suspeita haves tais civilizações. Também aqui os soviéticos se mostraram muito mais ambiciosos do que os norte-americanos. A diferença no modo de aplicar os meios disponíveis e na filosofia dos dois programas (CETI e SETI) faz a diferença. Enquanto para os russos o C significa não só tentar receber (communication), como também emitir sinais, o S significa procura (Search) para os norte-americanos,           Em 22 de janeiro de 1975, a NASA promoveu a primeira reunião do grupo de trabalho sobre o SETI, e em 14 de novembro de 1975, promoveu em Palo Alto, Califórnia um simpósio consagrado aos estudos da evolução cultural e da sucessão de mudanças que conduziram os seres vivos aos caminhos da inteligência. A reunião foi presidida pelo médico especializado em biologia molecular Joshua Lederberg (1905 – 2008), então diretor da Universidade de Stanford.

          Em 20 de agosto de 1977, a NASA lançou a sonda Voyager 2, e em cinco de setembro de 1977 a Voyager 1, uma nave idêntica. Considerados então os mais eficientes artefatos espaciais construídos pelo homem, essas sondas foram projetadas para estudar os planetas Júpiter e Saturno; porém, depois do lançamento, a Voyager 2 teve sua órbita ajustada para estudar também Urano e Netuno. Os lançamentos das duas sondas foram invertidos porque a NASA sabia que, durante a viagem para os planetas exteriores, a Voyager 1 ultrapassaria a Voyager  e atingiria Júpiter antes. Ficaria difícil                     Em 26 de agosto de 1981, a Voyager 2, a uma distância de 282 000 quilômetros, fotografou uma belíssima vista de Tétis, uma das 60 luas de Saturno. Depois de explorar Júpiter, Urano e Saturno, coube a Voyager 1 captar uma das mais belas imagens já tiradas do Sistema Solar, em 1990. Viajando a uma velocidade de 1,6 milhão de quilômetros por dia, as duas sondas levam para outras civilizações, um conjunto de informações. Tal como nas Pioneer 10 e Pioneer 11, Drake e Sagan, tiveram a idéia de inserir nas Voyager 1 e Voyager 2, um conjunto de informações incluindo um disco de 12 polegadas feito de cobre banhado a ouro com a respectiva agulha para reprodução, com instruções de como decifrar seu conteúdo e um mapa ensinando como chegar ao nosso planeta. O disco contém também 115 imagens, incluindo o Cristo Redentor do Brasil, a Grande Muralha da China e pessoas de várias partes do planeta Terra; 35 sons naturais como vento, pássaros, água e outros, e saudações em 25 idiomas, inclusive o português. Foram também incluídos trechos de obras clássicas de Beethoven, Mozart, e pop como Jonny B. Goode, de Chuck Berry.

          Em 25 de maio de 2005, a Voyager 1, depois de percorrer mais de 14 mil milhões de quilômetros, chega à fronteira do Sistema Solar, depois de 26 anos de viagem. Viajando a uma velocidade de 1,6 milhão de quilômetros por dia. Em 13 de dezembro de 2010 a NASA confirmou que em junho daquele ano a Voyager 1 havia deixado a zona de influência gravitacional e magnética do Sistema Solar. Em 25 de agosto de 2012, cálculos vão mostrar que a Voyager 1 deixou, portanto, a heliosfera, uma vasta região do espaço dominada pela influência do Sol que desempenha um papel crucial na proteção dos planetas do Sistema Solar contra a radiação cósmica. Entretanto, a certeza sobre a saída da Voyager 1 da heliosfera se decorreu de forma oficial apenas depois que uma análise feita por cientistas da Universidade de Iowa, que foi publicada na revista Science. Em 13 de dezembro de 2010 a NASA confirmou que em junho daquele ano a nave havia deixado a zona de influência gravitacional e magnética do Sistema Solar, viajando à velocidade de 61 000 quilômetros por hora rumo ao                                Embora as duas Voyager tenham sido construídas para funcionar durante cinco anos, elas continuavam a fazer importantes descobertas 30 anos depois do seu lançamento. Em dezembro de 2011, a NASA informou que a Voyager 1 já havia percorrido quase 18 bilhões de quilômetros e era a construção humana que se encontrava mais afastada da Terra. Em agosto de 2012, a Voyager 2 estava a 14,7 bilhões de quilômetros do Sol, e sua irmã gêmea, a 18 mil quilômetros do Sol. As duas sondas Voyager deverão percorrer um grande espaço vazio antes de chegarem a outros corpos celestes. Em torno de 14 mil anos ou mais, elas emergirão de Nuvem de Oort em direção ao espaço estelar absoluto, além do nosso Sistema Solar. Mesmo com o fim da energia de suas baterias nucleares, as duas Voyager continuarão sua trajetória, provavelmente, para sempre. Seguindo o percurso atual, daqui a aproximadamente 296 mil anos, a Voyager 2 navegará a 4,3 anos-luz de Sirius, a estrela mais brilhante do céu, e a 8,57 anos-luz de distância da Terra rumo à constelação do Cão Maior.

          Em três de dezembro de 2012 a NASA anunciou que a Voyager 1 atingiu uma região do sistema solar que pode ser a última a ser cruzada antes de chegar ao meio estelar, o material que preenche o espaço entre as estrelas. Em 20 de março de 2013, foi anunciado que a Voyager 1 pode ter sido o primeiro objeto feito pelo homem a deixar o sistema solar. No entanto, a sonda ainda estava em uma região do espaço interestelar ou uma região desconhecida do sistema solar. Em 26 de junho daquele ano, a NASA confirmou que a Voyager 1 havia entrado naquela região. Segundo três pesquisas publicadas na revista Science, a sonda atingiu uma região desconhecida chamada de rodovia magnética, onde já sofre influência de outras estrelas da Via Láctea. Ainda em 2013, a NASA confirmou que a Voyager 1, em 12 de setembro, atingiu a distância de 19 bilhões de quilômetros do Sol.

Em nove de agosto de 2020, a Voyager 1 estava a cerca de 22.394.729.898 quilômetros de distância da Terra, e a Voyager 2 estava a 18.533.353.836 quilômetros do nosso planeta, viajando à velocidade de 61 mil quilômetros por hora rumo ao desconhecido, tornando-se os primeiros artefatos construídos pelo homem a alcançar tal façanha. Vale a pena registrar que os computadores baseados no processador RCA 1802 que equipam as duas naves têm capacidade de processamento inferior à de um telefone celular.

          Em maio de 2022 a NASA informou que estava recebendo informações não precisas da sonda Voyager, classificadas como "sinais misteriosos". A agência espacial norte-americana, no entanto, informou que o sinal da sonda não enfraqueceu, e que isso indica o posicionamento correto da sua antena.

          Em 14 de novembro de 2023, surgiu um novo problema: o sistema de dados de voo (FDS) da sonda, que converte os dados fornecidos pelos instrumentos e outros conjuntos em pacotes compactos de dados, deixou de transmiti-los à unidade de modulação de telemetria (TMU), que transmite os dados para a Terra. Em vez de dados científicos e técnicos, a mesma sequência de números foi repetidamente transmitida à Terra. Em 22 de abril de 2024, a NASA informou que havia restaurado a comunicação sobre a condição e o status da espaçonave, modificando o código do programa para que os dados a serem transmitidos fossem armazenados em outro lugar na memória do FDS. O próprio código do programa também foi distribuído de forma diferente na memória para evitar áreas de memória defeituosas. Desde maio de 2024, o Sistema de Ondas de Plasma e o magnetômetro voltaram a fornecer dados científicos.

          Em dezembro de 2024, o pessoal da NASA restaurou com sucesso o contato com a Voyager 1, e a espaçonave está operando normalmente após seu fornecimento de energia decrescente ter causado um longo apagão. Em 12 de maio daquele ano, ela estava explorando um território desconhecido a cerca de 24,9 bilhões de quilômetros de distância.

          O filme Star Trek: The Motion Picture (Jornada nas Estrelas - O Filme) é o primeiro longa-metragem baseado na série de televisão Star Trek (1966). Lançado nos EUA em seis de dezembro de 1979, Jornada nas Estrelas - O Filme é protagonizado pelo personagem V'Ger, (de Voyager, onde as letras O-Y-A foram danificadas pelo tempo) faz referência a uma suposta sonda Voyager 6, sonda nunca lançada mas que é uma reprodução das Voyager 1 e Voyager 2. Quando a incrivelmente poderosa núvem V’GER se aproxima da Terra destruindo tudo em seu caminho, o Almirante James T. Clark (William Shatner) assume o comando de sua antiga nave estelar, a USS-Enterprise, para liderar uma missão para salvar o planeta e determinar as origens de V'Ger. 

          Em 11 de outubro de 2007, começou a operar a primeira etapa do ATA (Allen Telescope Array). Com 42 de suas 350 antenas parabólicas de seis metros de diâmetro. Anteriormente conhecido como 1hT (One Hectare Telescope), ele foi idealizado pelo Instituto SETI em parceria com o RAL (Laboratório de Radioastronomia), da Universidade de Berkeley, na Califórnia. 

          Instalado no Rádio Observatório Hat Creeck, a 290 quilômetros a nordeste de San Francisco, Califórnia o ATA será, depois de completadas as quatro etapas programadas, capaz de cobrir uma área do céu 17 vezes maior do que é possível com o Very Large Array, um dos maiores observatórios radio astronômicos do mundo, localizado no Estado do Novo México. 

          Este projeto é financiado pelas contribuições de particulares, como o magnata, empresário, diretor executivo, investidor, filantropo e autor Bill Gates (1955 - ), fundador da Microsoft e seu sócio Paul Gardnet Allen (1953 - 2018). O Instituto SETI nomeu o projeto Allen em sua homenagem. No entanto, em 22 de abril de 2011, o equipamento foi colocado na geladeira, no mais puro sentido figurado. A direção do Instituto SETI comunicou que a Universidade Berkeley decidiu reduzir os recursos destinados ao Rádio Observatório Hat Creeck. Para mantê-lo em pleno funcionamento, são necessários 1 milhão e meio de dólares por ano. A partir daí, serão destinados apenas 150 000 dólares anuais. A paralisação não poderia ter chegado à pior hora, pois nos próximos dois anos o Allen iria examinar os mais de 1 200 pequenos planetas recém-descobertos (54 em zonas habitáveis) pela missão Keppler, da NASA, lançada em seis de março de 2009. Trata-se de uma sonda programada para procurar por planetas extrasolares entre as 100 000 estrelas mais brilhantes do céu - a Terra 2 - por um período de quatro anos. Para se manter vivo, o SETI lançou uma campanha em busca de novos voluntários que realizassem doações. Em 45 dias, conseguiu arrecadar 200 000 dólares. Em cinco de dezembro de 2011 o ATA foi reativado.

          A atriz estadunidense Jodie Foster (1962 - ) foi uma das principias doadoras voluntárias nessa empreitada. Não por acaso, ela é a principal protagonista do filme Contato (Contact). Baseado no livro de Carl Sagan, o longa-metragem conta a história da Drª Eleanora “Elie” Arroway, uma pesquisadora do SETI que durante muito tempo, tentou manter comunicação com vidas extraterrestres inteligentes. Deixou de lado sua vida particular e até mesmo o amor do teólogo Palmer Joss (Matthew McConaughey). Depois de anos seu sonho se tornou realidade. Com origem na distante estrela Vega, chega a Terra uma informação cifrada e Ellie é a primeira pessoa a captá-la e a única disposta a seguir cegamente a mensagem alienígena. O filme Contato foi lançado no Brasil em 19 de setembro de 1997.

A Mensagem de Arecibo: o rádio na busca por vida extraterrestre         

          Em 16 de novembro de 1974 foi enviada ao espaço pelo SETI o sinal de rádio intitulado Mensagem de Arecibo, com o objetivo de transmitir informações sobre o planeta Terra e a civilização humana. A intenção dessa mensagem não era a de enviar um recado para uma possível população extraterrestre, já que o destinatário nem vai estar mais lá daqui a 25 mil anos. E talvez nem nossa civilização exista mais daqui a tanto tempo. No entanto, essa ideia já tinha sido posta em prática com as placas banhadas a ouro, que foram acopladas às sondas Pioneer 10 e 11 lançadas em dois e cinco de abril de 1972 e 1973, respectivamente. O sinal da Mensagem de Arecibo foi enviado as 17h00 GMT e foi direcionado para o Aglomerado Globular Estelar de Hercules (Messier 13 NGC 6205), situado a aproximadamente 25 mil anos luz de distância na constelação de Hércules. A transmissão durou aproximadamente três minutos, e consistia-se em 1 679 impulsos de código binário, na frequência de 2.380 MHZ, com uma potência de três terawatts, sendo, até então, o sinal de rádio mais forte já irradiado da Terra.

          A Mensagem de Arecibo foi elaborada pelo astrônomo e astrofísico norte americano Frank Donald Drake com a ajuda do cientista, astrônomo e astrofísico Carl Sagan, junto com membros do NAIC (National Astronomy and Ionosfera Center), usando o radiotelescópio de Arecibo durante as cerimônias da atualização do radiotelescópio, que ganhara uma nova superfície refletora e um novo transmissor. 

 

A Mensagem de Arecibo tem as seguintes informações, de cima para baixo:

O Radiotelescópio de Arecibo

          Em 1º de novembro de 1963, o Radiotelescópio de Arecibo, ou Telescópio de Arecibo - ou ainda Observatório de Arecibo, localizado a 16 quilômetros da cidade de Arecibo, em Porto Rico teve sua construção finalizada. O aparelho teve suas origens em uma ideia do engenheiro elétrico, físico e astrônomo William Edwin Gordon (1918 – 2010), da Cornell University, interessado no estudo da ionosfera. Gordon nasceu em Paterson, Nova Jersey em oito de janeiro de 1918. Durante os anos 1950, ele estudou as propriedades da atmosfera superior da Terra, a ionosfera; mas para concretizar suas pesquisas, ele pensou que poderia usar um sistema de radar para medir a densidade e a temperatura nesta região atmosférica difícil de estudar. Então, Edwin Gordon supervisionou o projeto do radiotelescópio e sua construção ao sul de Arecibo. Por isso, ele é amplamente considerado como O Pai do Observatório de Arecibo.

          Esse observatório era dotado de um refletor esférico de 305 metros, consistindo de painéis de alumínio perfurados que focalizavam as ondas de rádio recebidas em estruturas de antenas móveis posicionadas a cerca de 168 metros acima da superfície refletora. As armações das antenas podiam ser movidas em qualquer direção, possibilitando o rastreamento de um objeto celeste em diferentes regiões do céu. O Radiotelescópio de Arecibo possuía ainda um telescópio auxiliar de 30 metros, que podia ser utilizado como interferômetro de rádio e uma instalação de transmissão de alta potência usada para estudar a atmosfera terrestre. O Telescópio de Arecibo foi o maior telescópio de abertura única do mundo por 53 anos até três julho de 2016, quando foi superado pelo FAST (Five Hundred Meter Aperture Spherical Telescope): em português, Rádiotelescópio Esférico com 500 metros de Abertura, localizado em Guizhou, sudoeste da China.

O colapso do Radiotelescópio Observatório de Arecibo


          No final de abril de 2011 a NSF (Fundação Nacional de Ciência) dos Estados Unidos divulgou um relatório que sugerindo o fechamento do Radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico, até então, o maior do mundo. Sua antena parabólica gigante tinha 305 metros de diâmetro e foi construída em 1963, na cratera de um vulcão extinto, originalmente com o intuíto de estudar a ionosfera terrestre. Arecibo é operado pela Universidade de Cornell e era a principal ferramenta na busca de vida extraterrestre, através do projeto SETI. O filme 007 Contra Godeneye, lançado em 13 de novembro de 1995 foi feito lá.

Depois de vários danos em sua estrutura largamente considerada como um completo desafio às leis da gravidade, durante a noite de agosto de 2020, o Radiotelescópio Observatório de Arecibo, que exerceu um papel relevante nas descobertas astronômicas por mais de meio século teve um dos cabos de sustentação arrebentado. Em seis de novembro daquele ano, a NSF (National Science Foundation), principal financiadora do projeto tornou público que o telescópio estava em perigo de colapso e os cabos não poderiam ser reparados com segurança. A NSF planejou então desmantelar o observatório. Em 1º de dezembro de 2020, dias após o anúncio, um segundo cabo quebrou e a plataforma central, de mais de 900 toneladas que abrigava o telescópio caiu em meio a um grande estrondo fazendo um buraco no prato no prato refletor, que ficava a cerca de 120 metros abaixo dela. Sem qualquer chance de recuperação, o desastre marcou o fim do Observatório de Arecibo que, entre outras coisas importantes para a ciência, foi o instrumento utilizado por cientistas para descobriram os primeiros planetas extrassolares


O Radiotelescópio Observatório de Arecibo no cinema


        O design impar e futurista do Radiotelescópio Observatório de Arecibo fez várias aparições em filmes, jogos e produções de televisão. Mas o que mais contribuiu para sua divulgação a nível mundial foi a cena da luta entre o Agente 007 (Pierce Brosnan) e o vilão Alexander 'Alec' Trevelyanou - ou Agente 006 (Sean Bean) no filme Goldeneye, lançado na cidade de Nova York em 13 de novembro de 1995.


          Em 2010, um grupo de cientistas britânicos fez publicar no Montly Notices of the Royal Astronomical Society imagens impressionantes daquela que pode ser a maior estrela do Universo, captadas pelo telescópio VLT (Very Large Telescope), instalado no deserto de Atacama, no Chile. A estrela, que recebeu o nome de RMC 136a1, tem massa 265 vezes maior do que o Sol, e é dez vezes mais brilhante. Estudo encomendado pela NASA publicado na revista Science de 29 de outubro de 2010, conclui que pelo menos uma em cada quatro estrelas como ele, na Via Láctea, pode ter planetas do mesmo tamanho do que a Terra, o que indica que podem existir milhões desse tipo; alguns, com grandes possibilidades de serem habitáveis.

          Os astrônomos Andrew Howard e Geoffrey Marcy escolheram 166 estrelas de tipo espectral G e K (o próprio Sol é tipo G) localizadas num raio de 80 anos-luz da Terra. Esses astros foram observados durante cinco anos para determinar quantos planetas tinha em suas órbitas, qual a massa e a que distância da estrela cada um deles orbita. Estrelas tipo K são alaranjadas, um pouco menores e menos intensas que as estrelas amarelas do tipo do Sol.

          Os pesquisadores descobriram que, quanto menor o planeta, maior o número encontrado, chegando ao limite detectável atualmente, o das chamadas super-Terras com cerca de três vezes a massa da Terra. Sobre isso, Andrew Howard falou e disse:


          “De cerca de 100 estrelas típicas semelhantes ao Sol, uma ou duas têm planetas do tamanho de Júpiter, cerca de seis têm um planeta do tamanho de Netuno, e cerca de 12 têm super-Terras, com de três a dez massas terrestres. Se extrapolarmos para planetas do tamanho da Terra, com uma massa e meia a duas vezes a massa terrestre, prevemos que serão encontrados cerca de 23 para cada 100 estrelas”.


          Quando o poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare (1564 – 1616) cunhou a célebre frase – “Há mais mistérios entre o céu e a terra, do que sonha nossa vã filosofia”, falada pelo Príncipe da Dinamarca, o personagem principal da peça Hamlet, é pouco provável que ele tenha pensado o tema Ufologia. Se pensou, a frase em questão encaixaria como uma luva no contexto. Mas parece que isso não era sua área. Será? A par disso, o professor Ronaldo Rogério de Freitas Mourão (1935 - 2014), largamente considerado o mais importante astrônomo brasileiro e cético em relação à Ufologia, porém um grande defensor e participante do Projeto Seti escreve em sua coluna na revista Superinteressante de junho de 1989 um artigo denominado Os três sóis de Shakeaspere, onde ele cita o seguinte diálogo, travado entre os personagens Ricardo e Eduardo na peça Ricardo III, também do célebre William Shakespeare:

 

          “Três gloriosos sóis, cada um perfeito sol, não separados por nuvens borrascosas, mas brilhando repousados num céu pálido e claro. Olha! Olha! Reúnem-se e abraçam-se, parecendo beijar como houvessem jurado uma aliança inviolável. Agora eles formam um só archote, uma só luz, um único sol. O céu parece querer assinalar um acontecimento”.

 

          Em resposta, o seu irmão Eduardo afirma:

 

          “É maravilhosamente estranho; nunca se ouviu falar de nada semelhante. Creio que este privilégio nos chama ao campo de batalha, afim de que nós (...) unamos nossas luzes e alumiemos a terra com nosso esplendor (...) Qualquer que seja o presságio, quero ostentar, desde este momento, três belos sóis em meu escudo”.

 

          De acordo com o professor Mourão, Shakespeare se referia ao parélio, o efeito atmosférico em que, devido a refracção e reflexão da luz solar, surge existência de dois outros sóis, um de cada lado do Sol, afastados dois graus deste. Mas se William Shakespeare não era adepto da Ufologia, porque escrevia coisas intrigantes como essas? É bem provável que nunca saberemos.


04/08/2012 – 36 – 33.26/05/2005 – 33.26/05/2005 – 33.15/12/2010 – 33.5/12/2010 - 41 – 78 – 141 – 165 – 220 – 309.

Em Busca da Felicidade: a primeira rádio novela do Brasil


          Cinco de junho de 1941. Entra no ar pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro Em Busca da Felicidade, a primeira novela irradiada no Brasil. De autoria do cubano Leandro Blanco e adaptada pelo brasileiro Gilberto Martins, a novela foi apresentada em 119 capítulos de meia hora, e saiu do ar em sete de maio de 1943.

          Durante quase dois anos, todas as segundas, quartas e sextas feiras, as mulheres brasileiras ficavam ligadas no som do rádio, enquanto faziam seus afazeres domésticos. A novela Em Busca da Felicidade marcou o início da era de ouro das novelas radiofônicas, onde o ouvinte criava suas próprias fantasias e dava vida aos personagens interpretados por um elenco pioneiro, do qual faziam parte Zezé Fonseca, Rodolfo Mayer, Floriano Faissal, Brandão Filho, Saint-Clair Lopes e Isis de Oliveira. 36 – 78.

Frank Sinatra estreia no rádio


          Em oito de setembro de 1935, o cantor Frank Sinatra, então com 19 anos de idade e integrando o conjunto vocal The Hoboken Four, faz sua estreia no rádio em Nova York. Isso aconteceu no show de calouros Major Bowe’s Amateur Hour, criado e apresentado pelo radialista Edward Bowes (1874 – 1946). Este foi um dos programas mais populares transmitidos nos Estados Unidos nos anos 30 e 40 do Século 20. 

          O programa foi transmitido ao vivo por uma emissora de rádio do palco do Capitol Theatre em Manhattan, e Frank ocupando a posição de cantor solista. O Hoboken Four foi o vencedor, ficando marcado por ser o último show de Frank Sinatra como amador. O prêmio daquela noite foi um contrato de seis meses. Os classificados em primeiro lugar passavam a integrar uma equipe formada pelo Major Bowes para excursionar por várias cidades do interior. A partir daí, The Hoboken Four passa a receber salário de US$ 50 semanais, mais refeições.

          Alguns meses depois, e já muito claro que a estrela do grupo era Frank Sinatra, começaram a surgir as primeiras divergências entre os quatro. Frank decidiu separar-se do grupo, voltando para Hoboken para cantar sozinho. 41 – 307.

Elvis Presley grava seu primeiro disco comercial e estreia no rádio


          Em seis de janeiro de 1954, Elvis Presley venceu sua própria timidez, procurou a gravadora Sun Records e pagou quatro dólares para fazer um disco, o qual ele deu presente à mãe pelo aniversário dela. Escorado pelo guitarrista Scotty Moore (1931 - ) e pelo baixista Bill Black (1906 – 1965), o futuro Rei do Rock, munido de seu violão, gravo That’s All Right Mamma, o primeiro single registrado por ele.

          Mas essa não foi a primeira vez que Elvis visitou a Sun Records. A primeira vez foi em 1953. O empresário Samuel “Sam” Phillips (1906 – 1965), que havia montado o serviço de gravações para registrar principalmente os cantores e grupos negros que se apresentavam em bares e rádios de Memphis, no Tennessee, fica impressionado com aquele jovem branco de voz de barítono e manda sua secretária anotar o endereço do cantor para um futuro contato.

          Em cinco de julho de 1954, seis meses depois, Sam Phillips chama Elvis e, com a ajuda dos mesmos músicos Scotty Moore e Bill Black produz a primeira gravação comercial do futuro Rei do Rock: Thats All Right Mamma, renomeada simplesmente That’s All Right, e no lado B, a canção Blue Moon Of Kentucky. O disco foi oficialmente lançado em 19 de julho de 1954.

          Quem primeiro divulgou o trabalho pioneiro foram os disc-jóqueis das rádios locais Uncle Richard, da WMPS, e Sleepy Eyed Lepley, da WHHM. Mas foi em 10 de julho de 1954 que o single de Elvis apareceu com mais força no cenário musical do Tennessee. Naquele dia, o DJ Dewey Phillips (1926 – 1968) o lançou em seu programa Red, Hot & Blue na Rádio WHBQ. Dizem que Elvis ficou muito ansioso quando soube que seu disco ia ser divulgado no famoso programa de rádio. Naquela noite, o cantor de 19 anos foi entrevistado por Phillips. 

          O single estourou, vendendo 20 mil cópias, sendo seis mil somente na primeira semana. As qualidades vocais e artísticas do novo astro foram logo reconhecidas. O resto é História.

          Em quatro de julho de 2004, para comemorar os 50 anos da gravação, 1.250 emissoras de rádio dos Estados Unidos tocaram simultaneamente That’s All Right, e a revista Rolling Stone o classificou como o primeiro disco de rock and roll. A revista também classificou a canção em 113º lugar na lista das 500 Melhores Canções de Todos os Tempos, em 2010.

          Em cinco de janeiro de 1960, a gravadora RCA Victor iniciou a produção de discos compactos simples (singles) em mono e estéreo simultaneamente. Foi a primeira Companhia do mundo a fazer isso. A música Stuck On You, gravada em 20 de março de 1957 por Elvis Presley é o primeiro single mono/ estéreo da História. 41 – 78. 

José Carlos “Garotinho” Araújo, nascimento

 

          1º de maio de 1940. Nasce na ciade do Rio de Janeiro o professor e geógrafo, locutor esportivo e apresentador de TV José Carlos Lopes de Araújo, mais conhecido como Garotinho. Aos 14 anos já apresentava programas na Rádio Roquette-Pinto do Rio de Janeiro. No início da década de 1960, ele foi para a Rádio Globo. Em 1976 transferiu-se para a Rádio Nacional do Rio de Janeiro onde ficou até 1º de dezembro de 1984, data em que retornou à Rádio Globo.

            Garotinho também é famoso por suas frases, que são marcas registradas. O bordão mais festejado é Golão, Golão, Golão!, exclamado por ele no momento do gol. A famosa frase “Brasileiro Não Vive Sem Rádio” também é dele. São muitas , mas podemos citar algumas, como:

 

          “Vai Vai Garotinho, Sou Eu!, Voltei! Sou Eu!, Gente Que se Liga na Gente e Apite Comigo Galera!.


          Na televisão, Garotinho apresentou durante 14 anos o programa Mesa Redonda na Rede CNT, e em 2007 passou a apresentar o programa Jogo Aberto Rio, na Rede Bandeirantes. Em 2012, depois de 28 anos consecutivos (42 anos nas duas passagens), José Carlos Araújo deixou a Rádio Globo, passando para a Rádio Bradesco Esportes e depois para a Rádio Band News Fluminense FM. Em 2012, depois de 28 anos consecutivos (42 anos nas duas passagens), José Carlos Araújo deixou a Rádio Globo, passando para a Rádio Bradesco Esportes e depois para a Rádio Band News Fluminense FM. 36 – 41.

Primeira execução de um CD (Compact Disc) no rádio brasileiro

 

        Em 17 de abril de 1984, a Rádio Cidade FM do Rio de Janeiro faz História, ao transmitir pela primeira vez no Brasil um Compact Disc: o disco em questão era Of the Wall. Lançado nos EUA em 10 de agosto de 1979 no formato vinil, é o quinto disco solo de Michael Jackson (1958 – 2009). Na ocasião, Clever Pereira, o gerente executivo da emissora declarou:

 

          “(...) Todas as gravações que temos são basicamente um aperfeiçoamento de um método introduzido em 1877 por Thomas Edison. Por tanto, a mais de 100 anos. O disco digital é completamente diferente. Não é uma evolução, mas sim uma revolução na maneira de armazenar sons. É, sem dúvida, o som do século”.

 

Hertz e as ondas eletromagnéticas

 

          Em 15 de março de 1888, o físico Heinrich Rudolf Hertz provava a existência das ondas eletromagnéticas invisíveis, ou ondas de rádio, criando aparelhos emissores e receptores. O que ele fez foi demonstrar a existência das radiações eletromagnéticas invisíveis imaginadas pelo físico inglês James Clerck Maxwell (1831 – 1879) em 1873, ao criar um aparelho que emitia ondas de rádio. Maxwell morreu sem levar sua teoria ao campo experimental, porém, ele deixou a ideia cientificamente comprovada, a dizer:

 

          “As ondas eletromagnéticas ocupam o infinito em todas as direções; a luz e o calor radiante pertencem a esse tipo de ondas”.

 

          O físico Henrich Rudolph Hertz nasceu em Hamburgo, Alemanha em 22 de fevereiro de 1854. O cientista alemão é celebrado por dar forma à teoria moderna do eletromagnetismo a partir das equações de Maxwell. Hertz descobriu que a velocidade de propagação das ondas eletromagnéticas invisíveis é igual à velocidade da luz no vácuo, têm comportamento semelhante ao da luz, e que oscilam num plano que contém a direção de propagação. Hertz demonstrou também a refração, reflexão e a polarização das ondas.

          Durante uma aula, na qual se utilizava para demonstração de duas varinhas metálicas de oito centímetros de cumprimento ligadas a um gerador de alta tensão, Hertz notou que, enquanto numa das varinhas centelhava uma faísca, na segunda era centelhada outra. Esta, porém, era muito pequena, pouco luminosa, e seu ruído era coberto pelo da primeira, muito mais forte. Observando o aparelho batizado de excitador, Hertz notou que de vez em quando ele produzia correntes alternadas de períodos extremamente curto que variavam rapidamente. Então, ele estabeleceu que os fenômenos de indução produzidos pelo excitador não se transmite instantaneamente ao meio exterior, mas se propagam por ondas, com uma velocidade finita. Ele tinha diante de si um campo novo: o da criação das ondas eletromagnéticas e sua propagação à distância.

          Em 1888, Henrich Rudolph Hertz apresentou com sucesso os resultados das suas experiências à comunidade científica. Em sua homenagem, o SI (Sistema Internacional de Unidades) nomeou de Hertz (Hz) a unidade que determina o cumprimento da onda sonora e envolve o som, ou seja, a capacidade de perceber sons graves e agudos. Henrich Rudolph Hertz morreu com apenas 36 anos em decorrência de um câncer na orelha em Bonn, Alemanha, em 1º de janeiro de 1894. 29 – 41 - 78.

Fundação


         Em 16 de setembro de 1965, a Embratel (Empresa Brasileira de Comunicação) era constituída como empresa pública pelo governo brasileiro. Ao longo de sua história, ela colecionou várias marcas memoráveis. 

         Em 16 de março de 1966 a empresa adquire o controle acionário da CTB (Companhia Telefônica Brasileira). Em quatro de maio de 1967, assina seu primeiro contrato, para levantamento da rota do Tronco Sul.

          Em 22 de dezembro inicia o processo para instalação da Estação Terrena de Comunicações por Satélite, localizada em Tanguá, estado do Rio de Janeiro. Em 1969 passa a exercer o controle sobre todos os equipamentos e operação das telecomunicações interestaduais e internacionais do país. Também neste ano teve início no país a DDD (Discagem Direta a Distância) entre São Paulo e Porto Alegre, e a primeira transmissão comercial de televisão Via Satélite: o lançamento da nave Apolo 9, em três de março. Logo depois, em 16 de julho, outro fato marcante: a imagem de um homem pisando na Lua.

          Em 19 de fevereiro de 1972, todas emissoras de TV brasileiras mostram, direto do Coliseu de Roma, uma reportagem histórica para o país: uma entrevista concedida pelo Papa Paulo VI (1897 - 1978). Esta é a primeira reportagem internacional via satélite para o Brasil, inaugurando, oficialmente, o Intelsat III. Nesse mesmo dia foi inaugurada a Estação Terrena em Tanguá.

          Em 1970 é feita transmissão da Copa do Mundo no México, com imagens ao vivo, e em 1972 é realizada a primeira transmissão de TV em cores. Em 1975 entra em operação a Rede Nacional de Telex e iniciada a DDI (Discagem Direta Internacional). Em 1980 começa a operação do cabo submarino Brus, ligando o Brasil aos EUA; começa a operar o Transdata, o primeiro serviço exclusivo de comunicação de dados da América do Sul. Em 1984 entra em operação o primeiro trecho da Rede Nacional de Fibras Ópticas interligando Rio de Janeiro e São Paulo. Em 1994 é inaugurado o Américas 1, primeiro sistema internacional de cabos submarinos de fibras ópticas entre o Brasil e os EUA, e em 1995 é ativado o Transdata - primeiro serviço de comunicações de dados da América do Sul.

          Um pouco antes de completar 33 anos de atividades como empresa estatal na área de comunicações, a Embratel foi privatizada, em 29 de julho de1998. 41.

 

 Rádio Difusora de São Paulo: fundação



           24 de novembro de 1934. Às 21h30min, o empresário Luiz Assumpção fundava a PRF-3, Rádio Difusora de São Paulo, a primeira emissora do Brasil a ser criada sob o regime de Sociedade Anônima. A nova estação, por possuir uma torre irradiadora de 87 metros de altura, é a primeira com sistema de propriedade de circuito fechado.

          Em 1947, a Rádio Difusora de São Paulo foi adquirida pelos Diários Associados. O auge da emissora foi entre os anos 1940 e 1950, quando apresentava, durante 24 horas uma programação diversificada, dando destaque ao jornalismo comandado por Carlos Spera. Foi na Difusora de São Paulo que despontou o político e professor Homero Silva (1918 – 1981), que anos mais tarde se tornaria o primeiro apresentador da televisão brasileira.

 

          Na década de 1970, antecedendo as futuras rádios FMs musicais, a Rádio Difusora de São Paulo inovou com a programação musical batizada de Jet Music, ou Música a Jato, inspirada na emissora WABC de Nova York, e tocava sucessos vindos notadamente dos Estados Unidos por via aérea. Nessa época a Difusora era dirigida por Canyon Gadia e contava com grandes locutores, entre eles Dárcio Arruda. Outro diretor que se destacou na Difusora foi Luiz Fernando Magliocca, que introduziu o quadro A melhor de três, entre outras mudanças.

          A Rádio Difusora de São Paulo saiu do ar em três de setembro de 1981. Ela detinha a concessão da TV Tupi de São Paulo Canal 4 VHF, que, por sua vez saiu do ar em 18 de julho de 1980. A Justiça decidiu que a emissora não tinha como honrar os compromissos deixados pela TV Tupi e decretou sua falência. Foram lacrados os transmissores do AM 960 KHz, da Difusora de São Paulo FM de São Paulo, e das emissoras de ondas curtas. 41 – 78.

 

Hélio Ribeiro (comunicador), nascimento


          24 de julho de 1935. Nasce na cidade de São Paulo o advogado, jornalista, publicitário, radialista, artista plástico e professor de comunicações José Magnoli, mais conhecido como Hélio Ribeiro, o criador e apresentador do programa O Poder da Mensagem, veiculado pelas Rádios Tupi e Difusora, Rede Piratininga, Rádios Jovem Pan, Bandeirantes, Rede Capital de Comunicações e finalmente Rádio Globo.

          Desde 1989, Hélio residia nos Estados Unidos, onde atuou como narrador nos grandes estúdios de Hollywood: Paramount, Fox, Metro e Universal. Foi também correspondente do Sistema Globo de Rádio, Sistema Bandeirante de Rádio, do Jornal Propaganda & Rádio e Produtor Associado da Fundação Cásper Líbero. Hélio Ribeiro morreu aos 65 anos em São Paulo, em seis de outubro de 2000. 144.


          “Modulando 840 quilohertz, falando aqui pelos lados dos chapadões do Morumbi - Bandeirantes cada dia melhor que antes...”.


Hélio Ribeiro (1935 – 2000) comunicador

          No início da década de 1970, o rádio brasileiro passou por uma fantástica evolução, com o surgimento em São Paulo do programa O Poder da Mensagem, criado e apresentado por um carismático comunicador. Seu nome era José Magnólio, mais conhecido como Hélio Ribeiro.

          Nascido na capital paulista em 24 de julho de 1935, Hélio Ribeiro inaugurava então uma revolução artística, imprimindo uma nova dinâmica na maneira de produzir e apresentar programas musicais e jornalísticos, cujos resultados revolucionariam o rádio comercial do Brasil. Assim como a bossa nova é considerada a divisora de águas na MPB, podemos afirmar que as mudanças promovidas por ele no rádio também podem ser consideradas como tal. 

          Comecei a escutar O Poder da Mensagem pelas ondas curtas quando Hélio Ribeiro já havia se transferido para a antiga Super Rádio Tupi de São Paulo, emissora fundada em três de setembro de 1937 pelo criador dos Diários Associados, Assis Chateaubriand Bandeira de Mello (1892 – 1968). Nessa época, eu trabalhava à noite na TV Morena, e durante o dia exercia a função de representante comercial. Visitava meus clientes na parte da manhã, e literalmente corria para almoçar em casa e escutar O Poder da Mensagem.

 Imagino que o suporte técnico oferecido pela Rádio Tupi não satisfazia as exigências do Hélio, que por várias vezes reclamou com veemência dos “apitos” (microfonia) em seu fone de ouvido. O fenômeno atrapalhava muito o seu desempenho, até que num daqueles dias em que nada dava certo, logo no início do programa, Helio interrompeu os trabalhos e bradou, com uma firmeza impressionante e inédita na História do rádio, acho eu:

 

          “A partir desse instante, meu contrato com a Rádio Tupi está cancelado. Boa Tarde”.

 

           Com certeza, o Hélio sabia o que estava fazendo, porque além de comunicador, era advogado. Dito e feito. No outro dia, o programa não entrou mais no ar por aquele prefixo. Porém, para minha alegria e a de milhares de ouvintes espalhados pelo país, Hélio Ribeiro, dias depois estreou na Rádio Bandeirante (Cada Dia Melhor Que Antes) como apresentador do Poder da Mensagem e diretor artístico da emissora.

          Suas fórmulas inovadoras se fizeram presentes também na criação e na produção das vinhetas, bem como na veiculação dos spots e jingles publicitários da Rádio Bandeirantes. Nos intervalos comerciais, a diferença era notada já no primeiro instante. Por exemplo, para um comercial de refrigerante, o locutor comercial inseria na peça publicitária um texto citando uma curiosidade a respeito do produto, complementando assim a mensagem proposta, valorizando cada centavo aplicado pelo anunciante.

           Antes dessas mudanças, a plástica dos programas obedecia a um padrão muito rígido, que incluíam longas aberturas e encerramentos, tecnicamente chamados de prefixo e sufixo, respectivamente. A partir das mudanças introduzidas por Hélio Ribeiro, tudo ficou mais dinâmico. Ao vivo, o comunicador cumprimenta o ouvinte e se despede da forma mais simples, mais rápida e mais objetiva.

          O Poder da Mensagem era um programa que, como sugere o nome, irradiava cultura e otimismo em alto nível, informações e traduções das músicas de sucesso, uma das revolucionárias inovações introduzidas por Hélio Ribeiro no rádio brasileiro. Essas traduções ele anunciava assim:

 

          “Versões livres para o português diretamente para o seu coração e para sua saudade”.

 

          Na Rádio Bandeirantes estavam, à época, os melhores comunicadores do rádio paulistano à época: entre outros, Humberto Marçal, George Helal e Ferreira Martins. Ferreira, que ainda hoje é muito solicitado pelas agências de publicidade. Ele grava os spots para uma grande rede bancária e uma montadora de automóveis. Na Bandeirantes ele apresentava o Programa da Tarde, uma revista de variedades onde o apresentador, além do tocar as músicas de sucesso, contava curiosidades sobre os artistas e personalidades da política, além de tecer comentários em alto nível e bom humor sobre os acontecimentos decorrentes. 41.




 A invenção do transistor


          Em 23 de dezembro de 1947, o transistor, um dispositivo sólido semicondutor com três terminais era apresentado pelo Bell Telephone Laboratories através dos físicos John Bardeen (1908 – 1991), Walter Houser Brattain (1902 – 1987), e William Bradford Shockley (1910 – 1989). Depois de efetuar muitas pesquisas, os três cientistas acabaram por descobrir uma amplificação da corrente no ponto de contacto do transistor.

          A invenção do transistor é largamente considerado o mais significativo avanço sofrido pela eletrônica depois da Segunda Guerra Mundial. Ele figura com destaque em qualquer lista das 10 invenções mais importantes do milênio. De tamanho reduzido, ele substituiu com vantagens significativas a válvula termiônica de baixa potência. Há dois tipos principais de transistores: o bipolar e o de efeito de campo. Os primeiros transistores disponíveis aos consumidores estavam em aparelhos auditivos, seguidos rapidamente por rádios transistorizados.

          A indústria de informática começou imediatamente a projetar computadores usando os transistores que eram menores, mais econômicos que as válvulas. Uma transformação mais recente deu origem aos transistores de efeito de campo, dispositivo muito utilizado nos circuitos integrados. Um microprocessador Pentium 4 da Intel tinha 41 milhões de transistores, usando uma escala de 130 nanômetros. Cada um deles fica distanciado do outro 130 milionésimos de um milímetro. Os três criadores do dispositivo receberam o Premio Nobel de Física em 1956. 


A sucessão de ideias

 “Eu não inventei nada. Eu redescobri”.

Auguste Rodin


          Fruto de uma criatividade fantástica, notáveis são dois filmes comerciais criados para divulgar o canal de TV por assinatura Futura e veiculados no rádio e na televisão entre 2009 e 2011. A interpretação desses textos aponta o caminho para o desenvolvimento de nossa proposta, que é abrir a cortina de fumaça que não nos deixa enxergar com clareza como se desenrolaram os acontecimentos que envolvem a história das invenções; não apenas aquelas estão descritas nas peças comerciais do Canal Futura, como de outras tantas que não estão lá; e ao mesmo tempo, mostrar quem realmente merece os créditos pelas suas respectivas paternidades.

           “Já inventaram a roda, a pólvora, a escrita; já inventaram o papel, o clipe, o sanduíche, a pílula, o relógio, o cinema, o plástico, o saca-rolha, a guitarra elétrica. Já inventaram o dry Martini, o banho quente, o protetor solar, a escova de dente; a anestesia e o computador, o sutiã, o macarrão, a lâmpada; e mesmo assim, amanhã alguém vai pensar em algo que ninguém nunca pensou antes.”

 

           “Com apenas sete notas fizemos todas as músicas do mundo. Com 26 letras escrevemos todos os poemas. Apenas dez algarismos e com eles resolvemos qualquer conta. De três cores básicas criamos milhões de tonalidades e com 116 elementos químicos construímos tudo que existe. O conhecimento multiplica”.


          Muitas décadas de empenho humano e de esforço pela prosperidade nos impelem a usufruir da herança que o passado nos legou. Entretanto, graças às modernas ferramentas desenvolvidas com o propósito de promover a dinamização das comunicações e o aumento do conhecimento, reparamos que, muito do que foi inventado aconteceu por pura obra do acaso; ou então, não passam de um constante aperfeiçoamento de conceitos anteriores. Quase tudo não passa de uma sucessão de ideias. E quanto mais nos aprofundamos no assunto Invenções, pesquisando em velhas publicações, muitas delas encontradas perdidas nas prateleiras empoeiradas de algum sebo, verificamos que não existe consenso sobre quem inventou (ou quem fez primeiro) os milhares de produtos e artefatos criados pelo homem desde os tempos pré-históricos, bem como a ampla variedade de máquinas e ferramentas disponíveis nos diversos setores da vida moderna.

          Este é um tema muito delicado e apaixonante. Discutir um assunto como este muitas vezes pode gerar conflitos de ideias. Melhor não! Pois é própria do ser humano a vontade de se vangloriar de sua autentica criação; mesmo que em alguns casos, sem o desejo de tirar qualquer proveito dela decorrente, a não ser compartilhar, visando, assim, o bem comum. Como fez o inventor brasileiro Alberto Santos Dumont (1873 – 1932), que transferiu para o domínio público todos os seus desenhos e projetos, permitia, ao contrário dos irmãos Wilbur e Orville Wright, dos Estados Unidos: eles trabalhavam num projeto semelhante, e tiveram a iniciativa de registrar a patente. 

         Sendo assim, parece que o tema Quem Fez Primeiro é uma questão que nunca será resolvida. Por isso, convêm revermos, com muito critério, nossos conceitos sobre isso. Porém, por justiça, todos os envolvidos em uma invenção ou descoberta merecem os créditos com bastante ênfase, porque certamente trabalharam duro, pesquisando por um longo tempo, aperfeiçoando as ideias originais.

Também verificamos que a História é recheada de muitas narrativas sobre a trajetória de celebrados velhacos que, em busca de fama e dinheiro, inescrupulosamente se transformaram em megaempresários à frente de verdadeiros impérios industriais monopolistas, na maioria das vezes, escudados por eficientes serviços de patentes. A par disso, não podemos esquecer que também existem empreendedores honestos. Como diz o sábio ditado popular:

 

          “É preciso separar o joio do trigo”.

 

           Nada contra os sistemas de patentes, pois essas concessões públicas conferidas pelo Estado são, por definição, o título de registro de invenções, de marcas de fábrica, de nomes de produtos comerciais e industriais e de direitos autorais. Instituição imprescindível, elas garantem ao detentor - desde que este revele todos os detalhes técnicos concernentes ao produto ou criação a serem protegidos - os direitos de prevenção e proteção contra terceiros fabricarem, usarem, venderem, oferecerem ou importar sua invenção. Este é o procedimento padrão adotado pelas nações industrializadas. 5 - 29 –78 – 32.8/11/1993 - 41 - 316

Primeiro programa radiofônico da História

 

          Em 24 de Dezembro de 1906, o inventor canadense Reginald Aubrey Fessenden e o engenheiro sueco Ernest Alexanderson (1878 – 1975) realizam aquele que é considerado por muitos o primeiro programa de rádio da História.

          Reginald Aubrey Fessenden nasceu em East Bolton, Canadá em seis de outubro de 1866, mas construiu sua vida profissional nos Estados Unidos. Em 1886, ele começou a trabalhar na Edison Machine Works, em Nova York. No ano seguinte, ele foi transferido para o Laboratório Edison em West Orange, Nova Jersey, onde se tornou o químico-chefe. Em 1890, deixou Edison e foi trabalhar para a Westinhouse Electric Company em Newark, em Newark, também em Nova Jersey. 

          Em 1891, Fessenden se transferiu para a Stanley Company, uma pequena empresa elétrica em Pittsfield, Massachusetts.Mas no ano seguinte a empresa quebrou, e Fessenden abraçou a carreira acadêmica como professor de engenharia elétrica; primeiro na Purdue University, em West Lafayette, Indiana entre 1892-1893, e depois na Western University of Pennsylvania de 1893 a 1900, onde recebeu financiamento da Westinghouse, que à época estava interessada na comunicação sem fio. 

          Fascinado com as teorias expostas pelo físico alemão Heinrich Rudolph Hertz (1857-1894), Fessenden analisou o potencial da aplicação das ideias de Hertz à comunicação contínua sem fio, particularmente o da voz humana. Então, ele desenvolveu a ideia de sobrepor um sinal elétrico, oscilando nas frequências das ondas sonoras, sobre uma onda de rádio de frequência constante, de modo a modular a amplitude dessa onda de rádio na forma da onda sonora. Este é o princípio da Modulação de Amplitude, ou AM. O receptor desta onda combinada separaria o sinal modulante da onda portadora e reproduziria o som para o ouvinte.

          Em seu laboratório na Ilha Cobb, no Rio Potomac, em Maryland em 23 de dezembro de 1900 ele conectou um microfone ao seu equipamento e transmitiu uma fala inteligível por meio de ondas eletromagnéticas entre duas estações a uma distância de cerca de mil e 600 metros. Esta é algumas vezes considerada a primeira transmissão de áudio sem o uso de fio.

          Às 21h00 do dia seguinte, véspera de Natal, Fessenden, determinado a demonstrar as capacidades de seu sistema, enviou uma mensagem em Código Morse aos operadores de rádio de um navio que se encontrava ao largo da costa da Nova Inglaterra e às operadoras sem fio de Norfolk, Virgínia alertando-os para uma transmissão importante.

          Os telegrafistas ficaram espantados, pois em vez do crepitar característico da telegrafia sem fios, foi uma voz humana nítida que eles ouviram, desejando um feliz Natal. Fessenden transmitiu a melodia Largo, da ópera Xerxes do compositor alemão George Friedrich Haendel (1965 – 1685), tocou o tema natalício O Holy Night no violino, leu algumas passagens da Bíblia, incluindo Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade. Depois, desejou Boas-Festas a todos os ouvintes no mar.            Reginald Aubrey Fessenden morreu aos 65 em Hamilton, Bermuda, em 22 de julho de 1932, relativamente desconhecido. 


Rádio FM, primeira patente


          Em 27 de dezembro de 1933, o engenheiro eletricista estadunidense Edwin Howard Armstrong recebia a patente para o processo de transmissão de sinais de rádio em FM (Frequência Modulada), o sistema que permitiu uma recepção clara e sem estática, mesmo durante tempestades - além de oferecer uma fidelidade de som nunca antes sentida numa transmissão de rádio. Em 1940, Armstrong obteve a licença para operar uma estação pioneira de FM, que ele estabeleceu em Alpine, Nova Jersey, e durante a Segunda Guerra Mundial, o inventor cedeu livremente o uso de suas patentes ao Exército dos Estados Unidos. No entanto, as grandes redes de rádio AM reagiram temerosas de que a FM fosse uma ameaça. Armstrong teve que lutar sem sucesso durante anos contra corporações gigantescas que estavam lucrando com seu invento. Além disso, ele enfrentou um longo processo contra o físico e inventor Lee De Forest (1873 – 1961) por algumas de suas invenções.


          Nascido na cidade de Nova York em 18 de dezembro de 1890, Edwin Howard Armstrong é creditado como O Inventor Prolífico Mais Influente da História do Rádio. Ele deteve 42 patentes e recebeu inúmeros prêmios, incluindo a primeira Medalha de Honra do Instituto de Engenheiros de Rádio, a Legião de Honra Francesa, a Medalha Franklin do Instituto Franklin Armstrong e a Medalha Edison. Edwin Armstrong foi introduzido no Hall da Fama Nacional dos Inventores os Estados Unidos e faz parte da lista de grandes inventores da União Internacional de Telecomunications.

          Mesmo assim, com suas patentes ameaçadas, endividado e atormentado pela interminável espera pela resolução dos processos, Edwin Howard Armstrong, em profunda depressão vestiu seu casaco, pôs o cachecol, o chapéu e a luvas, e pulou da janela de seu apartamento no 11º andar em Nova York. Ele tinha 63 anos. Sua viúva continuou a travar as batalhas legais começadas pelo marido. Ela ganharia milhões de dólares por indenização contra perdas em danos, ao longo dos próximos anos. 36 – 41.


Antônio Luiz, nascimento


          24 de março de 1947. Nasce em Presidente Prudente, São Paulo o radialista, repórter e comentarista esportivo Antonio Luiz Vendramini, simplesmente Antonio Luiz, mais conhecido por apresentar o programa de humor A Turma da Maré Mansa nas Rádios Super Tupi e Globo do Rio de Janeiro, emissora que o contratou em 1986. Começou sua carreira no rádio na década de 1970 como repórter esportivo, e mais tarde, como comentarista, passando também pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro.

          Quando acabou A Turma da Maré Mansa em 1992, Antonio Luiz passou a comandar o Show da Noite, na mesma Rádio Globo, e depois apresentou o Bom Dia Globo, de três seis da manhã. Ele morreu devido a complicações hepáticas na capital carioca aos 54 anos, em 23 de dezembro de 2001. 33.25/03/2001.


César de Alencar, nascimento


           Seis de junho de 1917. Nasce em Fortaleza, Ceará o radialista, ator de cinema e apresentador de televisão Ermelindo César Mattos, mais conhecido como César de Alencar. Considerado um revolucionário do rádio brasileiro, ele foi para o Rio de Janeiro ainda criança. Aos 22 anos, estreou na antiga Rádio Clube do Brasil, e se consagrou a partir de 1945 na Rádio Nacional, apresentando os programas Parada dos Maiores e Cantinho dos Novos, época em que lançou grandes nomes da MBP,            Em 1964, César de Alencar foi afastado da Rádio Nacional sob a alegação de que havia delatado vários colegas ao SNI (Serviço Nacional de Informação), órgão de inteligência da ditadura militar. 

Caça às bruxas: o fim de uma era


          Quando o governo militar se instalou no Brasil logo após o evento de 31 de março de 1964, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro se tornou um dos alvos de vigilância ideológica por parte dos órgão de repressão. Em dois de abril, Mário Neiva Filho foi nomeado o novo diretor da emissora. Num clima de perseguição política a muitos dos funcionários, uma comissão de investigação sumária foi imediatamente instalada. Em 23 de julho de 1964, através do A-1 (Ato Institucional Nº 1) foi expedido um decreto anunciando o afastamento de 36 funcionários e a demissão de outros 81 da Rádio Nacional. Todos eles acusados de envolvimento com o Partido Comunista. O inquérito policial militar terminou sendo arquivado por falta de provas, mas os funcionários não foram imediatamente reintegrados.

          Sobre isso, a atriz, educadora, política e radialista Dayse Lucide (1929 – 2020), que viveu a época de ouro e o declínio da Rádio Nacional resumiu durante uma entrevista ao site Memoria Globo:

 

          “Os militares começaram a ir lá, mas não entendiam nada daquilo. Estavam muito preocupados com o processo político, se alguém era comunista, aquelas coisas. Amolavam muito; toda hora você tinha que descer para responder a inquéritos, e aquilo desgastou. A Rádio Nacional começou a perder o rádio teatro, não tinha mais anúncio… Com Getúlio Vargas ela era do governo, mas o governo não se metia. Aquilo era uma engrenagem extraordinária. De repente a gente viu ruir. Foi um momento muito difícil, muito triste, que nós passamos dentro do rádio”.

 

          César de Alencar trabalhou também em televisão e retornou à Rádio Nacional em 1977 apresentando o Programa do César. Ele morreu aos 73 anos na capital carioca em 14 de janeiro de 1990. 36.14/01/2000.

Lamartine Babo, nascimento



          10 de Janeiro 1904. Nasce na cidade do Rio de Janeiro o compositor, cantor, carnavalesco e radialista Lamartine Babo de Azeredo, largamente considerado um dos mais importantes nomes da MPB de todos os tempos. Lamartine saiu pela primeira vez num bloco carnavalesco em 1924, quando se apaixonou pela festa de Momo. Seu primeiro sucesso veio em 1925 com a marcha-rancho Foi Você, início de uma carreira com mais de 700 composições românticas e carnavalescas, feitas em parceria ou não. Em 1928, lançou Calças Largas, um deboche à moda criada na época por Eduardo VIII da Inglaterra (1894 – 1972), o Príncipe de Gales. O sucesso continuou com O Teu Cabelo Não Nega (1932), Linda Morena, (1933), e Os Rouxinóis, (1958).


         




          Além do hino do América Futebol Clube, seu time do coração, Lamartine Babo também compôs os hinos do Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo. Deixou também sucessos românticos como No Rancho Fundo feita com a parceria de Ary Barroso (1903 – 1964) em 1930, ano em que estreou no rádio. Lalá, como era conhecido, trabalhou na Rádio Nacional e atuou como jornalista escrevendo para o Correio da Manhã, Diário de Notícias e Gazeta de Notícias. Outros sucessos de sua carreira são Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda, O Teu Cabelo Não Nega, Jouxjoux e Balangandans e Serra da Boa Esperança.


          O professor e diretor artístico da Escola de Música da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), João Vidal afirma não ter dúvidas:

 

          “Lalá, como era conhecido usou a melodia de outra música para entregar o hino do America. Já era público de que o compositor teria se inspirado em ‘Row, Row, Row’, de William Jerome & Jimmie V. Monaco, datada de 1912”.


          Vidal, entretanto, reacende a polêmica e acredita que Lamartine Babo tenha se inspirado mesmo em Richmond Tigers Theme Song, hino de um time de futebol americano da Austrália. Confira a música no YouTube. Lamartine Babo morreu aos 62 na capital carioca em 16 de junho de 1963. 36 – 74 – 322.


Primeiro registro de um concerto em fita magnética

 

          Na Alemanha, em 19 de novembro de 1933 durante uma apresentação da Orquestra Filarmônica de Londres - regida pelo maestro Sir Thomaz Beecham (1879 – 1961) foi realizada aquela que é considerada a primeira gravação de um concerto em fita magnética.

          A introdução da técnica para registrar, armazenar e reproduzir magneticamente os sons é largamente atribuída ao cientista dinamarquês Valdemar Poulsen (1869 – 1942), denominada por ele de Telegrafone em 1898. O aparelho consistia basicamente de um fio de arame de aço, uma bobina de fio de cobre e um mecanismo destinado à tração do arame. 


           O funcionamento desse sistema é simples: Inicialmente, o som, que é captado por um microfone é convertido em sinais elétricos. Em seguida, esses sinais são aplicados à bobina, originando assim um campo magnético, cuja frequência e intensidade variam de acordo com o som vindo do microfone. A cabeça de gravação – nomeada assim pelo próprio Valdemar Poulsen à bobina - consiste de um enrolamento de fio de cobre em torno de um pequeno anel metálico dotado de uma fenda minúscula chamada de entreferro. Quando passa diante do entreferro, o fio de aço é magnetizado pela ação do campo magnético variável produzido pela bobina; essa magnetização constitui o registro do som.

         

          No início dos anos 20 do Século passado, Oberlim Smith desenvolveu um processo que usava como material magnetizável limalha de ferro aplicada sobre uma base flexível que reduzia as distorções nas gravações, oferecendo uma área maior para o registro. Pouco antes da Segunda Guerra Mundial, o cientista alemão E. Fritz Pfleumer (1881 – 1945) obteve junto ao Instituto Alemão de Patentes o registro do seu invento - sob Nº 500900 - para o processo de fabricação da fita magnética, que consistia em impregnar-se uma fita de papel com pó de ferro magnetizável dando origem ao Blaterfone. Entretanto, ela era quase impossível de serem manuseadas, pois eram muito quebradiças.


          Alguns anos mais tarde, a empresa alemã BASF realizou as primeiras tentativas de usar um meio flexível capaz de suportar as tensões decorrentes do processo de gravação, substituindo o papel por materiais plásticos que ofereciam maior durabilidade à fita. Para isso, foram geralmente utilizados o dióxido de cromo, adicionado em formas de pequenos grãos de 1 micromilímetro de comprimento, que ofereciam um sensível melhora na fidelidade do registro, pois reduziam as interações magnéticas que ocorrem no interior da fita.

          Simultaneamente à criação dessas fitas magnéticas, surgiram alguns gravadores de sons, como o Magnetofone, originalmente fabricado pela AEG Telefunken em 1936, onde o conjunto gravador-fita consistia basicamente de uma cabeça magnética, tipo anular, que imprimia a orientação das partículas magnéticas fixadas em um suporte de material plástico, utilizando uma corrente de polarização. Usando-se na reprodução o mesmo equipamento, tornou-se possível substituir os fones de ouvido por alto-falantes. 

          Mas no início, o preço do Magnetofone era muito alto. Porém, esse problema começou a ser resolvido em 1944, quando Alexander Matvêievitch Poniatoff, o criador da Ampex Corporation colocou em prática as técnicas introduzidas pelos engenheiros da Telefunken. Antes, o gravador magnético original era anteriormente usado apenas para gravação de telefonia. Depois de criar o padrão para gravação de áudio, a Ampex produziu o primeiro gravador de instrumentação de dados para armazenar grandes informações em fita. Este é largamente considerado o inicio de uma das primeiras linhas de produção em série de gravadores de fita magnética. Em 1956, os engenheiros da Ampex criaram o primeiro gravador de cabeça rotativa da História, instalado no gravador de vídeo VR-1000. 

          Em 1963, a empresa holandesa Philips apresentou o sistema Compact Cassete. De fácil manuseio, como o próprio nome diz, essa revolucionária ferramenta, quando de uso portátil, era alimentada por pilhas e utilizava fitas feitas com materiais magnéticos como o oxido de cromo, de apenas 3,81 milímetros de largura, contra os 6,25 milímetros das fitas de rolo de uso profissional.

          O sistema cassete culminou com a popularização da gravação e reprodução magnética. Em 1º de julho de 1979 a Sony lançou o Walkman, um dos mais populares gadgets da história do entretenimento. Não foi por acaso que ele vendeu mais de 200 milhões de unidades em todo o mundo. O cassete está sendo substituído por uma série de novas mídias, como telefones celulares, ipods e iphones. 5 - 41.


Ampex VR-1000 primeiro Vídeo Tape da História

           

          Em 14 de abril de1956, na Associação Nacional de Emissoras de Rádio e Televisão, em Chicago, Illinois a Ampex Corporation apresentava o VR-1000, o primeiro gravador de fita de vídeo da História.

          Essa poderosa ferramenta mudou fundamentalmente a forma das encenações e produções dos programas de televisão em todo o planeta. A Ampex é uma empresa de equipamentos eletrônicos bastante popular nas décadas de 1970 e 1980, fundada em 1944 pelo engenheiro elétrico russo-americano Alexander Matveevich Poniatoff.


          Em 30 de novembro de 1956, em Los Angeles, Califórnia foi ao ar o primeiro programa gravado da televisão, o Douglas Edwards and The News, utilizando para isso uma máquina Ampex VR-1000, agora rebatizado de Ampex Mark IV. A equipe que desenvolveu a máquina era co-liderada elo engenheiro norte-americano Charles Ginsburg (1920 – 1992), e pelo então desconhecido engenheiro de 19 anos chamado Ray Dolby, que em 1965 fundaria o famoso Dolby Laboratories, ou simplesmente Dolby Labs, uma empresa especializada em redução de ruídos e compressão de áudio.






A Ampex Corporation



          Alexander Matveevich Poniatoff nasceu em Matvéjevic Ponjatóv, Império Russo em 25 de março de 1892.  Ele emigrou da Rússia para a China, onde trabalhou para a Shanghai Power Company até se transferir para os Estados Unidos em 1927, onde se naturalizou. Posteriormente, ele trabalharia para a General Electric, Pacific Gas & Electric e Dalmo-Victor. Em 1944, Poniatoff fundou a Ampex Corporation. Diz a lenda que ele usou suas iniciais AMP mais "ex" para "excelência" para criar o nome AMPEX; porém os funcionários diziam que "ex" significava "experimental". Poniatoff atuou como presidente da Ampex Corporation até 1955, quando foi eleito presidente do conselho da empresa.

          O engenheiro russo-norte-americano criou muitas das principais inovações em tecnologia de gravação comercial e produziu o primeiro gravador de fita magnética de áudio construído nos Estados Unidos em 1948, revolucionando a indústria de rádio. Depois de criar o padrão para gravação de áudio, a Ampex produziu o primeiro gravador de instrumentação de dados para armazenar grandes quantidades de informações em fita. 

A evolução das máquinas gravadoras de áudio


          A introdução da técnica para registrar, armazenar e reproduzir magneticamente os sons é largamente atribuída ao cientista dinamarquês Valdemar Poulsen (1869 – 1942), denominada por ele de Telegrafone em 1898. O aparelho consistia basicamente de um fio de arame de aço, uma bobina de fio de cobre e um mecanismo destinado à tração do arame. Inicialmente, o som, que era captado por um microfone era convertido em sinais elétricos. Em seguida, esses sinais eram aplicados à bobina, originando assim um campo magnético, cuja frequência e intensidade variavam de acordo com o som vindo do microfone.

          No início dos anos 1920, Oberlim Smith desenvolveu um processo que usava como material magnetizável limalha de ferro aplicada sobre uma base flexível que reduzia as distorções nas gravações, oferecendo uma área maior para o registro. Pouco antes da Segunda Guerra Mundial, o cientista alemão E. Fritz Pfleumer (1881 – 1945) obteve junto ao Instituto Alemão de Patentes o registro do seu invento - sob Nº 500.900 - para o processo de fabricação da fita magnética, que consistia em impregnar-se uma fita de papel com pó de ferro magnetizável dando origem ao Blaterfone. Entretanto, ela era quase impossível de serem manuseadas, pois eram muito quebradiças.

          Mais tarde, a empresa alemã BASF realizou as primeiras tentativas de usar um meio flexível capaz de suportar as tensões decorrentes do processo de gravação, substituindo o papel por materiais plásticos que ofereciam maior durabilidade à fita. Para isso, foi geralmente utilizado o dióxido de cromo, adicionado em formas de pequenos grãos de um micro milímetro de comprimento, que ofereciam um sensível melhora na fidelidade do registro, pois reduziam as interações magnéticas que ocorrem no interior da fita. Simultaneamente à criação dessas fitas magnéticas, surgiram alguns gravadores de sons, como o Magnetofone, originalmente fabricado pela AEG Telefunken em 1936, onde o conjunto gravador-fita consistia basicamente de uma cabeça magnética, tipo anular, que imprimia a orientação das partículas magnéticas fixadas em um suporte de material plástico, utilizando uma corrente de polarização. Usando-se na reprodução o mesmo equipamento, tornou-se possível substituir os fones de ouvido por alto-falantes.

          Mas no início, o preço do Magnetofone era muito alto. Porém, esse problema começou a ser resolvido em 1944, quando Alexander Matvêievitch Poniatoff, o criador da Ampex Corporation colocou em prática as técnicas introduzidas pelos engenheiros da Telefunken. Antes, o gravador magnético original era anteriormente usado apenas para gravação de telefonia. Depois de criar o padrão para gravação de áudio, a Ampex produziu o primeiro gravador de instrumentação de dados para armazenar grandes informações em fita. Este é largamente considerado o inicio de uma das primeiras linhas de produção em série de gravadores de fita magnética. Em 1956, os engenheiros da Ampex criaram o primeiro gravador de cabeça rotativa da História, instalado no gravador de vídeo VR-1000,

A Ampex 440-G na minha vida


          Durante os fins de semana em que o Carlos Townsend coordenou a Rádio Federal de Niterói, que foi o embrião da Rede Manchete de Radio não só aprendi a aproveitar melhor a velha e boa Ampex AG-440, como também assimilei as técnicas de edição com ele. Townsend havia deixado a Rádio Cidade FM, emissora que ele ajudou a criar. Nessa época, o jovem coordenador já acumulava prestígio junto às grandes gravadoras. Por isso, conseguiu trazer para a emissora de Niterói diversas músicas para lançamento em primeira mão, “furando” a Rádio Cidade, que a essa altura seguia disparada no primeiro lugar em audiência. Algumas dessas músicas se tornaram sucesso nacional, como Le Freak, da banda norte-americana Chic. Esta canção me marcou muito, literalmente. Explico porque.

          Em 1978 não estava disponível no computador nenhum arquivo de formato musical; até porque o PC ainda estava em gestação. Assim, as gravadoras enviavam às rádios para seus lançamentos o próprio disco do artista, se ele já tivesse sido lançado. Ou então, uma fita de rolo, como foi o caso de Le Freak, já que se tratava de uma estreia mundial. Townsend foi correndo com a fita até a técnica e pediu para que eu passasse a música para um cartucho, recomendando apenas que tivesse o máximo de cuidado, pois se tratava da fita master. Ela era a origem dos singles que seriam prensados e lançados no mercado brasileiro.

          Para começar a operação, posicionei na Ampex uma das partes de um carretel de alumínio com muito cuidado, porque essas fitas vinham sem o carretel, apenas com o miolo, comumente chamado de batoque; e com muita precaução, abri a caixa, retirei o rolo e o acomodei na máquina. Para prendê-lo, coloquei a castanha, uma peça que serve para prender o carretel, que a essa altura já estava com a valiosa fita pronta para ser reproduzida. Feito isso, a canção estava “encartuchada”, pronta para ir ao ar. Mas quando rebobinei a fita para recolhê-la, a castanha se desprendeu, e por pouco não perco três dedos da mão esquerda. Quando a fita começou a embolar, apertei o stop da velha Ampex, e antes que o freio respondesse, por puro instinto, coloquei a mão na lateral do carretel de alumínio na tentativa de “frear” a máquina. Salvei o material, mas as marcas ainda estão visíveis na minha mão. 5 - 41 - 78.

Ray Dolby, nascimento

          18 de janeiro de 1933. Nasce em Portland, Oregon o engenheiro elétrico Ray Dolby, inventor do sistema de redução de ruídos conhecido como Som Dolby. Ele começou a carreira quando era estudante, trabalhando na Ampex Corporation, onde se tornou um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento dos componentes para o Ampex VR-1000, o primeiro gravador de fita de vídeo da História, lançado em 14 de abril de 1956.

          Bacharel em engenharia elétrica pela Universidade de Stanford em 1957, Ray Dolby foi premiado com a Marshall Fellowship para a Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Depois de obter um Ph.D. em física, ele trabalhou na Índia por dois anos como Conselheiro da ONU para a Organização Central de Instrumentos Científicos (Central Scientific Instruments Organization). Em 1965, ele retornou à Inglaterra para fundar o Dolby Laboratories, Inc., em Londres, com o objetivo inicial de desenvolver sistemas eletrônicos para reduzir o ruído de fundo, como chiado, uma disparidade produzida durante os processos de gravação de fita.

          Em 2004, Ray Dolby foi introduzido no National Inventors Hall of Fame. Ele morreu aos 80 anos em São Francisco, Califórnia em 12 de setembro de 2013. 41

Wendy Carlos, nascimento


          A instrumentista e compositora Wendy Carlos nasceu em Pantucket, Rhode Island em 14 de novembro de 1939. Nascida Walter Carlos, em 1972, aos 33 anos ele passou por uma de redesignação sexual, transformando-se em Wendy Carlos. No final da década de1960, conheceu a cantora clássica, produtora musical e compositora Rachel Elkind (1939 - ). Nessa época, Carlos se notabilizou pelo seu pioneirismo na música eletrônica ao pegar um sintetizador Moog, um instrumento desconhecido até então, e com ele reproduzir eletronicamente os seis Concertos de Brandenburgo, do compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685 – 1750), transformando a obra no primeiro álbum clássico a ganhar um disco de platina. Produzido por Elkind, o disco foi lançado em outubro de 1968.

          Switched-On Bach é o álbum de estreia de Carlos. É bem possível que esse seja o primeiro registro capaz de demonstrar que o sintetizador pode ser considerado um autêntico instrumento musical, abrindo novos caminhos na música eletrônica por décadas. O álbum é largamente considerado um dos clássicos eletrônicos mais influentes de todos os tempos, quebrando as fronteiras entre a música clássica tradicional e a feita com sintetizadores. Switched-On Bach ganhou três Prêmios Grammy e transformou a opinião pública sobre sintetizadores, que até então não eram vistos como instrumentos musicais, popularizando-os - e foi o primeiro álbum de música clássica a alcançar a cifra de 500 mil cópias vendidas. No ano seguinte, Carlos gravou The Well-Tempered Synthtizer, uma seqüência do disco anterior. Em 1972, compôs e gravou a trilha para os clássicos de Stanley Kubrick (1918 -1999) Laranja Mecânica (A Clockwork Orange) e O Iluminado (The Shining), de 1980. Em 1982, Carlos compôs também a trilha de Tron - Uma Odisséia Eletrônica (Tron), da Disney Pictures. 


          Walter Carlos começou a estudar piano aos seis anos. Nessa época, já exibia talentos para artes gráficas e ciências. Em 1953, com apenas 14 anos, ganhou uma bolsa da Westinghouse Science Fair, que permitiu que ele construísse um computador em casa. Depois de buscar uma especialização em música e física na Brown University, se mudou para a cidade de Nova York, onde, na Universidade de Columbia estudou e trabalhou com os pioneiros Otto Luening (1900 – 1996) e Vladimir Ussachevsky (1911 – 1990) no primeiro centro de música eletrônica dos Estados Unidos. Após a formatura, Carlos trabalhou como engenheiro de gravação, fez amizade com Robert Moog, iniciando uma parceria, dando assessoria e assistência técnica no desenvolvimento do sintetizador Moog. Carlos convenceu Robert a adicionar um teclado sensível ao toque para maior dinâmica musical, entre outras melhorias. O resultado foi a criação do primeiro sintetizador comercialmente disponível no mercado. Walter Carlos se tornou um dos primeiros clientes da R. A. Moog Inc., fundada em 1953.


          As primeiras gravações da instrumentista e compositora foram lançadas ainda com o nome Walter Carlos, porque foi só em 1972 que ela, uma mulher trans, passou por uma de designação sexual, adotando o nome Wendy oficialmente. Assim, o primeiro lançamento creditado como Wendy Carlos foi Switched-On Brandenburgs, em 1979.

          Membro da Audio Engineering Society, da Society of Motion Picture and Television Engineers e da National Academy of Recording Arts and Sciences, Wendy Carlos apresentou trabalhos na Universidade de Nova York, na Audio Engineering Society's Digital Audio Conference, na demonstração e no painel Dolby's NYC Surround Sound e em outras conferências de música/áudio. 

          De toda a obra de Wendy Carlos, podemos destacar, além do material já citado os álbuns Digital Moonscapes (1984), Land of the Midnight (1986), Secrets of Synthesis (1987), Peter and the Wolf (1988), Switched-On Bach 2000 (1992), Tales of Heaven and Hell (1998), Switched-On Boxed Set (1999), Recovering Lost Scores, Volume 1 (2005) e Recovering Lost Scores, Volume 2 (2005). 41 – 78.

Léon Thremin, nascimento

 

          15 de agosto de 1896. Nasce em São Petersburgo, Império Russo o físico e inventor Lew Sergejewitsch Termen, mais conhecido como Léon Theremin, celebrado como o inventor do teremin, ou éterfone, ou ainda tereminvox em 1919, um dos primeiros instrumentos musicais completamente eletrônicos e o primeiro a ser produzido em massa. Isso poucos anos após a invenção da válvula de vácuo. Theremin estudou física, astronomia e música na Universidade de São Petersburgo onde também aprendeu a tocar violoncelo - e continuou o estudo de física no Instituto Físico-Técnico de Petrogrado. Com a idade de 17, quando estava em seu último ano do ensino médio, Léon já desenvolvia pesquisas nos campos magnéticos e realizava experimentação de circuitos de alta frequência e óptica.

          Em 1920, Léon apresentou o theremin pela primeira vez a um grupo de cientistas russos, e em 1922, ao chefe do governo soviético Lenin (1870 – 1924). Em 1927, o inventor promoveu demonstrações na França e na Alemanha, tocando, ele mesmo sinfonias de sua autoria; em dezembro daquele ano, foi os Estados Unidos, onde tocou obras de Rachmaninoff e Toscanini, entre outros. Na cidade de Nova York, virou celebridade nos círculos de música clássica, conseguindo um estúdio para trabalhar; ali, ministrou o treinamento para vários músicos para ajudar na popularização do sintetizador. 

          Em fevereiro de 1928, Léon tocou na New York Metropolitan Opera House (alguns dizem que foi na Filarmônica de Nova York), se tornando o primeiro músico a executar um instrumento eletrônico no local. No ano seguinte, ele recebeu a patente Nº 1.661.058 nos Estados Unidos, e no mesmo ano, a RCA Victor, o mais antigo selo fonográfico norte-americano começou a fabricar e comercializar o thereminvox sob licença. A empresa fez mil unidades, mas apenas um quarto foi vendido depois que a economia americana despencou como resultado da quebra do mercado de ações em outubro do mesmo ano.

          Num dia de 1938, Léon Theremin desapareceu misteriosamente. Mais tarde, soube-se que ele havia regressado à União Soviética em circunstâncias não muito claras. O fato é que ele havia sido sequestrado por agentes da KGB e levado de volta ao seu país, onde as autoridades divulgaram boatos que ele havia morrido. Mas na verdade, o cientista estava na prisão de Butyrka, no centro de Mosco, Ali, Léon passou sete anos, e depois em trabalhos forçados nas minas de ouro da Sibéria. Nessa época, muitos intelectuais proeminentes russos com contatos no Ocidente foram “regenerados” em uma era de repressão totalitarista na década de 1930. Reabilitado, passou a usar sua experiência em eletrônica para criar dispositivos de escuta para a polícia secreta da União Soviética. Aposentou-se da eletrônica em 1964, e tornou-se professor de acústica na Universidade de Moscou. Léon Theremin morreu aos 97 anos em Moscou, Rússia em três de novembro de 1993.


O Theremin

 

          Além de não ser comparável a qualquer outro sintetizador eletrônico, o teremin é o único instrumento musical capaz de ser tocado sem qualquer contato físico pelo músico, e também um dos mais difíceis de se operar. O extraordinário aparelho, acondicionado em um gabinete, é dotado de um oscilador único que usa duas antenas de metal: uma vertical para completar a frequência, e outra horizontal em forma de gancho ou círculo para gerenciar o volume.

          Tal como um maestro sem batuta - é bom lembrar que o músico não precisa encostar nele - o músico, preferencialmente, utiliza a mão direita para controlar a afinação (frequência), e a esquerda para administrar a amplitude do som (volume). Movimentos rápidos com a mão direita próximos à antena vertical, produzem efeitos de vibrato. Movimentos rápidos com a mão esquerda na antena circular, produzem efeitos de trêmolo. Automaticamente, o afastamento das mãos silencia o instrumento. O theremin é um instrumento monofônico, ou seja, ele só toca uma nota por vez, e também pode ser usado para controlar outros instrumentos eletrônicos. Internamente, o modelo clássico contém rolos de arame enrolados que atuam como osciladores que produzem duas frequências de rádio diferentes. 

          O theremin foi originalmente usado para tocar música clássica, transcrições e composições originais e até mesmo substituir orquestras inteiras. Ele impressiona com sons que lembram muitas vezes o trinchar do vento na janela; ou tinidos como canto de sereia, ou ainda, sugerem a presença de fantasmas, esquizofrênicos paranóicos, robôs e alienígenas. O primeiro compositor a incluir o theremin em peças orquestrais foi o russo Dmítriy Dmítriyevich Shostakóvich (1906 – 1975).

          Mais tarde, o intrumento foi descoberto por consagrados compositores de trilhas para o cinema como Miklós Rózsa, Frederick Hollander, Howard Shore e Elmer Bernstein. O som assustador do teremin aparece em centenas de filmes como Farrapo Humano (The Lost Weekend) (1945), Quando Fala o Coração (Spellbound) (1945), O Monstro do Ártico (The Thing) (1951), O Dia em que a Terra Parou The Day the Earth Stood Still (1951), Os 5.000 Dedos de Dr. T (The 5.000 Fingers of Dr. T.) (1953), Planeta Proibido (Forbiden Planet) (1956), Os Dez Mandamentos (The Tem Conmandents) (1956), O Delinquente Delicado (The Delicate Delinquent) (1957), Ed Wood (1994), Batman Forever (1995), Marte Ataca! (Mars Attacks) (1996) e O Maquinista T(he Machinist) (2004).

          Ao contrário do que pensam alguns críticos, o theremin não está totalmente ultrapassado. A invenção do russo Léon Theremin continua a encantar e inspirar as pessoas ao redor do mundo, e tem sido utilizado em várias gravações ao longo dos recentes anos. O o instrumento começou a ser empregado na música pop a partir de 1960, quando Brian Wilson (1942 - ), do grupo The Beach Boys utilizou o Tannerin, uma variação do sintetizador russo na gravação do clássico The Good Vibrations em 1966. O guitarrista Jimmi Page, do Led Zeppelin, realizou shows tocando theremin na música Whole Lotta Love. No Brasil, foi construído e utilizado pelo compositor e maestro precursor da música eletrônica no país Jorge Antunes (1942 - ), desde a década de 1960, em composições eletroacústicas de sua autoria. Antunes desenvolveu uma técnica de composição a que dá o nome de Música Cromofônica.

          Em 1993, o ator e cineasta norte-americano Steven Martin (1945 - ) produziu um documentário intitulado Theremin - An Eletronic Odissey, apresentando uma análise aprofundada sobre a história do instrumento e seu inventor. O filme apresenta imagens raras e entrevistas com lendas da indústria da música, como Robert Moog, Todd Rundgren, Brian Wilson, e o próprio Léon Theremin, morto em Moscou em três de novembro de 1993, aos 93 anos. Após o lançamento do filme, o instrumento despertou ainda mais o interesse de músicos contemporâneos, que o têm utilizado para música eletroacústica e experimental.

          Nos últimos anos, houve muitos desenhos diferentes do theremin , porém a Moog Music Inc. continua a ser o maior fabricante contínuo desse instrumento centenário. A empresa, fundada nos anos 1950 pelo inventor, músico e engenheiro norte-americano Robert Arthur Moog fábrica vários modelos do theremin . Antes de desenvolver seu primeiro sintetizador, Robert Moog construiu vários modelos de theremins entre 1950 e 1960. 




Robert Moog, nascimento

 

          Em 23 de maio de 1934, nascia na cidade de Nova York o inventor, músico e engenheiro elétrico Robert Arthur “Bob” Moog, conhecido como criador pioneiro da música eletrônica e inventor do sintetizador eletrônico Moog (ou Mohg) em 1962, junto com o músico e educador estadunidense Hebert Deutsch (1933 - ). Moog e Deutsch foram inspirados no teremin, ou éterfone, ou ainda tereminvox, considerado o primeiro instrumento musical completamente eletrônico, e o primeiro a ser produzido em massa, introduzido em 1919 pelo o físico e inventor soviético Lew Sergejewitsch Termen, mais conhecido como Léon Theremin (1896 – 1993).

          Moog é o nome genérico que se dá a qualquer sintetizador eletrônico analógico projetado por Robert Moog, e fabricado pela Moog Inc., empresa fundada por ele. Este sintetizador se tornou público no Festival Monterrey Pop International, em 1967. No início, o novo instrumento era utilizado apenas em música experimental, brinquedos e música pop. Os primeiros profissionais a adquirir um Moog foram o coreografo norte- americano Alvin Nikolais (1910 – 1993) e o compositor britânico de jingles e comerciais para a televisão Eric Siday (1905 - 1976). 

          Mas a descoberta comercial do Moog foi feita pelo músico e instrumentista estadunidense Walter Carlos (1939 - ), que em 1972 passou por uma de redesignação sexual, transformando-se em Wendy Carlos. Foi ele que popularizou o Moog em 1968, ao gravar o LP Switched-On Bach, um dos discos de música barroca mais vendidos de todos os tempos. É bem possível que este seja o primeiro registro capaz de demonstrar que o sintetizador pode ser considerado como um autêntico instrumento musical.          

           Mais tarde, Robert Moog introduziu várias melhorias no equipamento, como uma escala reduzida, simplificando o sintetizador, tornando-o um instrumento musical autossuficiente para uso em performances ao vivo. Os sintetizadores criados por Robert Moog ainda foram, e eventualmente são largamente utilizados por tecladistas de grupos consagrados como The Tornados, Emerson - Lake and Palmer, Yes, Pink Floyd, Kraftwerk, Weather Report, The Moody Blues e outros. Mais tarde, a Moog Inc. lançou, entre outros, o Minimoog, o mais vendido da empresa em todos os tempos, o Moog Taurus, um sintetizador utilizado como um contrabaixo para ser tocado com os pés, o Vocoder, que ligado a um microfone promove alterações na voz. Robert Moog morreu aos 71 anos em decorrência de um tumor cerebral em Asheville, Carolina do Norte, em 21 de agosto de 2005. 41




Lee De Forest, nascimento


           26 de Agosto de 1873. Nasce em Council Bluffs, Iowa o físico e inventor Lee De Forest, creditado como inventor do Tubo de Vácuo de três eletrodos, ou Válvula de Vácuo Triodo, o dispositivo elétrico que ele nomeou de Audion. Baseado na válvula de Diodo – ou eletrodo - inventado em 1907 pelo engenheiro elétrico inglês Sir John Ambrose Fleming (1849 – 1945), esta é largamente considerada como a mais importante conquista para o desenvolvimento das radiocomunicações que se tem notícia, até a introdução do transistor em 23 de dezembro de 1947. De Forest entrou para a Universidade de Yale em 1893 para estudar eletricidade, particularmente a propagação de ondas elétricas, cuja existência foi imaginada em 1873 pelo britânico James Clerck Maxwell (1831 – 1879), e comprovada pelo alemão Henrich Rudolph Hertz (1857 – 1894). As primeiras pesquisas teóricas de Forest foram no campo de emissões telegráficas sem fios, até chegar à Válvula de Triodo, o componente que tornou possível a transmissão de voz e, como consequência, a captação de ondas de rádio. 

          Em 1871, De Forest conseguiu transmitir sinais de rádio que foram captados por militares, comprovando desta forma a possibilidade do uso do rádio para fins bélicos. De Forest também criou o primeiro processo de sonorização e reprodução de filmes, em 1923. Para comercializar seu invento, ele formou a empresa De Forest Phonofilm Corporation, mas não obteve sucesso junto à indústria cinematográfica, pois os técnicos, no primeiro momento preferiram outro sistema concorrente. Porém, mais tarde, eles adotaram o método de De Forest, cuja invenção estabeleceu as bases do sistema que prevalece até hoje. Por isso, ele ganhou um Prêmio Oscar Honorário por sua contribuição pioneira ao processo de sonorização de filmes. Lee De Forest morreu aos 87 anos em Hollywood, em 30 de junho de 1961. 41 – 78.



Christopher Sholes, nascimento

 

          O gráfico e inventor Christopher Lathan Sholes nasceu no no Condado de Montour, Pensilvânia em 14 de fevereiro de 1819.

          Em 12 DE junho de 1868, Christopher Sholes, junto com o inventor Franck Haven Hall (1841 – 1911), o comerciante de ferramentas Carlos Gidden (1934 – 1877) e o tipógrafo Samuel W. Soule (1830 – 1875) receberam a patente pelo desenvolvimento de uma máquina de escrever denominada por eles de Type-Writer. Por isso, Sholes é creditado nos Estados Unidos como o primeiro a produzir a máquina de escrever em grande quantidade. 

Ele também é creditado como o criador do layout do teclado de formato QWERTY, o mesmo utilizado nas antigas máquinas de escrever e nos computadores, iPods, iPhones e tablets atuais. Esse teclado é denominado QWERTY por causa do arranjo em que as primeiras letras se encontram.

          O protótipo funcional da máquina de escrever de Sholes foi feito pelo relojoeiro e maquinista Matthias Schwalbach. Contudo, pouco tempo depois, Sholes deixou o negócio.

         Em 1873, Hall, Glidden e Soule venderam sua ações para a empresa Desmond and Sholes, que fez um acordo com o armeiro Eliphalet Remington (1793 – 1861), fundador da fabricante de armas e máquinas de costura Remington and Sons. Remington aperfeiçoou a ferramenta e a produziu em série com a marca Sholes e Glidden Type-Writer. A Remington and Sons iniciou a produção de sua primeira máquina de escrever em 1º de março de 1873, em Ilion, Nova York. Christopher Sholes morreu em Milwaukee aos 71 anos, em 17 de fevereiro de 1890.

Filho bonito tem muitos pais


          Tal como o telégrafo, o rádio, o telefone, e até mesmo o avião, é muito difícil determinar com precisão quando a máquina de escrever foi inventada. São muito antigos os projetos, de tipos e concepções mais variados. Muitos criadores de máquinas de datilografia escreveram seus nomes na História. Eles trabalharam independentemente por várias décadas. Dá para ver claramente que a invenção da máquina de escrever, propriamente dito, aconteceu de forma progressiva. O livro A Máquina de Escrever (The Writing Machine: History of the Typewriter), do escritor australiano Michael H. Adler, publicada pela primeira vez em Londres em 25 outubro de 1973 pelos editores Allen & Unwin, é largamente considerado a Bíblia do Entusiasta da Máquina de Escrever. 

          A obra traz, de forma clara, entendimentos sobre as origens da própria invenção. Confira alguns desses nomes citados por Adler, bem como suas criações.

          Em 1575, o gravador italiano Francesco Rampazetto inventou a scrittura tattile, uma máquina para imprimir cartas em papéis.

          Em sete de janeiro de 1714, a rainha Anne da Grã-Bretanha (1665 – 1714) emite a pedido do inventor Henry Mill (1683 – 1771) a primeira patente para uma máquina de escrever que se tem notícia. É também a primeira tentativa de se colocar em prática a ideia de criar uma máquina que facilitasse a            Entre 1801 e 1808, o italiano Pellegrino Turri (1765 – 1828) inventou uma máquina de escrever para sua amiga cega, a condessa Carolina Fantoni da Fivizzano. Turri também é creditado por alguns como o criador do papel carbono. Era comum nesse período que as máquinas de escrever fossem pensadas para utilização com pessoas com visão comprometida e que imprimissem apenas em caracteres maiúsculos. No início do Século 19, mais precisamente em 1802, o italiano Agostino Fantoni desenvolveu uma máquina de escrever especial para que sua irmã cega pudesse escrever.

          O italiano Giuseppe Ravizza, nascido em Novara em 19 de março de 1811, um inventor de máquinas de escrever que passou quase 40 anos de sua tentando criar uma máquina de escrever funcional. Em 1857, ele apresentou um artefato que denominado Cembalo Scrivano, dotado de teclas de piano.

          Entre 1847 e 1880, Ravizza chegou a produzir 16 modelos de máquinas. Em 1855, ele patenteou a sua invenção melhorada com 32 chaves, e em 1856 apresentou uma versão agora definitiva, na Exposição Industrial de Torino. Nessa época, Ele recebeu a Medalha de Ouro na Exposição de Artes Técnicas de Novara, Itália. 


          De 1829 a 1870, muitas máquinas de impressão ou datilografia foram patenteadas por inventores na Europa e na América, mas nenhuma teve produção comercial. O inventor norte-americano e fabricante de armas de fogo Charles Thurber (1803 – 1886) desenvolveu várias patentes, das quais a primeira em 1843 foi para ajudar os cegos, como a do quirógrafo de 1845.

          Em 1829, foi a vez do polivalente norte-americano William Austin Burta (1792 – 1858) patentear uma máquina chamada tipógrafo que, em comum com muitos outros modelos antigos, é listada como a primeira máquina de escrever. O Museu da Ciência de Londres descreve a invenção de Burt como o primeiro mecanismo de escrita cuja invenção foi documentada, mas mesmo essa afirmação pode ser um pouco exagerada.

          A partir de 1850, principalmente nos Estados Unidos e Europa, muitas foram as máquinas de escrever que surgiram, com especial destaque para: Alfred Ely Beach, de Nova York (1856); do Dr. Samuel W. Francis, também de NY, em 1857 e de John Pratt, do Alabama (1866).

Outros inventores apresentaram seus projetos, como o advogado Giuseppe Ravizza (1811 – 1885), que lançou no mercado a marca Cembalo-Scrivamo, ou Címbalo Escrivão, a primeira tentativa comercial na história da máquina de escrever. Em 1856 Ravizza ganhou a Medalha de Ouro da Exposição Industrial de Turim.

         


          Em 1867, o padre católico Francisco João de Azevedo (1814 – 1880), nascido em João Pessoa, Paraíba em quatro de março de 1814, construiu uma máquina taquigráfica feita basicamente com jacarandá, uma madeira nobre.

          O religioso criou seu invento munido de lixas e canivete, utilizando as oficinas onde se fabricavam equipamentos para o Exército, no Arsenal de Guerra de Pernambuco, no Recife. O que o padre Francisco João de Azevedo fez foi construir um aparato que é por muitos considerado como a primeira máquina de escrever do mundo.

          O artefato era construído de madeira, pedacinhos de arame e tipos de impressão. Essa máquina ficou exposta durante 44 dias na Exposição Agrícola e Industrial de Pernambuco em 1861. O Jornal do Recife, na edição de 16 de novembro de 1861, publicou no dia da abertura da exposição: 

 

          “Em frente, do outro lado da sala, está um pequeno e elegante móvel, a máquina taquigráfica do Sr. Padre Azevedo; é um dos objetos que, sem dúvida, o Brasil enviará à Exposição de Londres no futuro ano de 1862, e que chamará sobre si a atenção e o exame das classes industriais da Europa”.


          A máquina taquigráfica padre Francisco João de Azevedo foi apresentada na Exposição Nacional do Rio de Janeiro no final do mesmo ano, onde ela recebeu uma Medalha de Ouro.

          A publicação semanal Revista Illustrada, que circulou durante os anos 1876 a 1898 estampou a época, uma descrição uma máquina de escrever do padre Azevedo:

 

          “O sistema geral é quase idêntico ao dos pianos, isto é, por meio de um teclado  convenientemente adaptado, consegue-se transmitir ao papel os caracteres     correspondentes, formando palavras, linhas, parágrafos, enfim, a escrita regular de uma ou mais páginas. O teclado está disposto em quatro pequenas carreiras, tendo cada  tecla a indicação de uma letra; assim, pois, tocando-se em uma tecla, a letra   correspondente vais imprimir no papel que se envolve e desliza por um rôlo no cimo do     aparelho. Para a separação das palavras, basta tocar em uma pequena régua colocado  ao lado do teclado”.

 

          Segundo o professor e biógrafo J. C. Ataliba Nogueira (1901 – 1983) no livro Um Inventor Brasileiro (1934), o invento do padre Azevedo só não foi patenteado porque, um estrangeiro o fez desistir da ideia e roubou o projeto no final de 1872, e assim, levou a máquina para os Estados Unidos.

          Então, quem levou a fama e a patente foi Christopher Lathan Sholes, creditado nos Estados Unidos como o primeiro a produzir a máquina de escrever em massa, e por ser o criador do layout do teclado de formato QWERTY, o mesmo utilizado nas antigas máquinas de escrever e nos computadores, iPods, iPhones e tablets atuais. Em 1873, Sholes vendeu essa patente para o armeiro Eliphalet Remington (1793 – 1861), fundador da fabricante de armas Remington & Filhos.  Remington aperfeiçoou a ferramenta e a produziu em série. Christopher Sholes morreu em Milwaukee aos 71 anos, em 17 de fevereiro de 1890.7 – 78 – 163 – 248 – 271.

Uirapuru, o pássaro: a gravação do canto


          Em nove de novembro 1962, no Acre, o engenheiro e ornitólogo brasileiro de origem dinamarquesa Johan Dalgas Frisch (1930 - 2024), pioneiro na gravação de cantos de aves nas florestas da América do Sul, munido com um microfone alojado numa parabólica desenhada por ele mesmo, e um gravador de fita de rolo, registrou o canto do Uirapuru, um pássaro nativo da floresta úmida cercado de lendas que só canta uma vez por ano, durante 15 dias. É uma gravação histórica, pois se trata de um pássaro que não permite aproximação de humanos.

          Apaixonado por pássaros desde os sete anos de idade, Dalgas Frisch se notabilizou por ser capaz de identificar o som de 450 das 1 850 espécies de aves brasileiras. Com o canto deles, o ornitólogo gravou dois LPs: Canto das Aves do Brasil (1962) e Vozes da Amazônia, (1963) no qual está o canto do Uirapuru, e o compacto simples Sinfonia do Natal (1974) com as músicas Noite Feliz e Jingle Bells tocadas entre sons de aves. Dalgas Frisch também escreveu quatro livros:  Aves Brasileiras e Plantas que as Atraem (1964), Jardim dos Beija-flores (1994), - este em parceria com o filho Christian – Os 12 Cantos do Brasil (2001) e Cantos Harmoniosos da América (2002). 41 – 22


Francisco Barbosa, nascimento

 

          19 de março de 1958. Num dia como este, nascia em Juiz de Fora, Minas Gerais o locutor e dublador Francisco de Souza Barbosa Júnior, simplesmente Francisco Barbosa. Começou a carreira na sua cidade natal em 1973, como apresentador e locutor comercial na Rádio Difusora de Minas. Depois, passou para a Rádio Sociedade de Juiz de Fora.

          Em 1981, Barbosa foi para a Rio de Janeiro trabalhar na Rádio Cidade, o maior fenômeno do FM na história radiofônica do Brasil. Depois, passou para Rádio Del Rey FM, onde apresentou os programas DJ's Parade e Rock Laser.

          Francisco Babosa trabalhou também nas rádios Nacional FM, Estácio FM, RPC FM e Globo FM, até passar para a Rádio Globo AM em 1986, para cobrir as férias do comunicador Haroldo de Andrade (1934 - 2005). Depois de fazer pontas no programa Paulo Giovanni, Barbosa, ganhou seu próprio programa na Globo AM em 1988: o Show da Manhã.

          No final dos anos 1980, Francisco Barbosa trabalhou também nos estúdios da Herbert Richers, onde dublou e narrou vários filmes, sendo o Tygra, da série Thundercats, seu personagem mais marcante nessa categoria. Em novembro de 1999, deixou pela primeira vez a Rádio Globo e foi para a Rádio Carioca AM. Em 2001, passou para a Super Rádio Tupi, para apresentar o Super Debate Tupi. No final do ano, Barbosa voltou para a Rádio Globo AM para apresentar o Boa Tarde Globo. Em 2006, retornou à Super Rádio Tupi para apresentar o Programa Francisco Barbosa, onde receberia por duas vezes seguidas o Prêmio Escola de Rádio, em 2009 e 2010, como melhor comunicador do rádio carioca. Atualmente, Francisco Barbosa apresenta seu programa das 11h00 ao meio-dia. 41. 


Sérgio Noronha, nascimento


          28 de dezembro de1932. Nasce na cidade do Rio de Janeiro o radialista, colunista e repórter esportivo Sérgio Barros de Noronha, ou simplesmente “Seu Nonô”. Em 1954, enquanto cursava Letras na Faculdade Lafayette em Barbacena, Minas Gerais começou a trabalhar como contínuo da revista O Cruzeiro. Um ano depois, foi convidado para ser redator auxiliar. Abandonou, então, a faculdade e passou a trabalhar somente na revista, acumulando as funções de redator e repórter.

          Em 1959, Noronha ingressou no Jornal do Brasil, e no ano seguinte, passou a integrar o corpo de redatores do JB e exerceu essa função até 1962. Em 1970, ele passou a redator de Esporte, ao lado de Armando Nogueira e Marcos de Castro.

          Em 1972, Sérgio Noronha foi promovido ao cargo de secretário de redação do Jornal do Brasil. Voltou ao esporte em 1974, chefiando a cobertura da Copa do Mundo da Alemanha. Em 1975, Noronha deixou o Jornal do Brasil, e no mesmo ano, passou a integrar a equipe de esportes da Rede Globo de Televisão. Em 1978, ele atuou como repórter e comentarista na Copa do Mundo da Argentina, ao lado do narrador Luciano do Vale (1947 – 2014). Em 1982, mesmo trabalhando na TV Educativa, “Seu Nonô” participou da cobertura da Copa do Mundo da Espanha, fazendo reportagens e comentando os jogos narrados por Galvão Bueno (1950 - ).

          Sérgio Noronha ganhou o apelido “Seu Nonô” do radialista e locutor esportivo Jorge Curi (1932 – 2020). Consagrado no mundo esportivo pela qualidade de seu texto apurado e humor fino, ele sempre demonstrou habilidade ao transitar por todos os tipos de mídia. Trabalhou em vários jornais além do Jornal do Brasil; entre eles O Globo e Última Hora e nas revistas Senhor e TV Guia.

Na televisão, Noronha, além da TV Globo, atuou junto a equipes da TV Tupi, TV Rio, TV Educativa, TV Bandeirantes e no canal SporTV. Foi ainda integrante do programa Mesa Redonda da TV Rio, antiga TV Corcovado, ao lado de José Carlos “Garotinho” Araújo, Gilson Ricardo, Géson Canhotinha de Ouro, Deni Meneses e Elso Venâncio. Mas foi no rádio que ele mais se destacou em sua longa carreira. Atuou como redator, editor de esportes, secretário de redação e comentarista nas Rádios Jornal do Brasil, Globo e Tupi.

          Mas a habilidade com as palavras, Sérgio Noronha começou a perder a partir de 2015, quando ele foi diagnosticado como o Mal de Alzheimer. Aposentado, desde 2018, ele vivia no Retiro dos Artistas, ou Casa dos Artistas, instituição centenária que acolhe artistas idosos oferecendo moradia, alimentação, além de atividades e tratamentos diversos localizada no bairro da Pechincha, na Zona Oeste da capital carioca. Seu funcionamento depende de doações em dinheiro, roupas, alimentos, eletrodomésticos, móveis e trabalho voluntário. Sérgio Noronha morreu aos 87 anos de parada cardíaca na cidade do Rio de Janeiro, em 24 de janeiro de 2020. 33.25.01.2020 – 41 – 137.

 


Washington “Apolinho” Rodrigues, nascimento


  1º de setembro de 1936. Nasce na cidade do Rio de Janeiro o radialista, repórter e jornalista Washington Carlos Nunes Rodrigues, também conhecido como Apolinho ou Velho Apolo. Criador de frases de efeito que faziam a alegria dos torcedores, como Geraldinos e Arquibaldos, Pau Com Formiga, Feliz Como Pinto no Lixo, Briga de Cachorro Grande, entre outras.

          Antes de abraçar a carreira no rádio, Washington Rodrigues trabalhou com bancário e foi jogador de futebol de salão. Começou sua carreira como repórter de campo em 1962, na Rádio Guanabara, atual Rádio Bandeirantes, no programa Beque Parado. A partir daí, Apolinho contruíu uma carreira ímpar, se tornando um dos poucos comentaristas imparciais da mídia esportiva brasileira.

          Por isso, sempre foi admirado e respeitados por todas as torcidas. Trabalhou em todas as grandes emissoras de televisão e rádio da cidade do Rio de Janeiro, entre elas, Continental, Vera Cruz, Globo, Nacional e, por último, na Super Rádio Tupi, onde apresentou durante 25 anos o Show do Apolinho.

          Quando era repórter de campo da equipe da Rádio Globo, Washington Rodrigues, usava um microfone sem fio parecido com aquele dos astronautas da Missão Apollo 11, que desceram na Lua em 1969. Diz a lenda que quem apelidou, primeiro o microfone, foi o jornalista e locutor esportivo Celso Garcia (1929 – 2008). Durante a narração, o locutor Waldir Amaral (1926 – 1997) repetia:

 

          “Lá vai Washington Rodrigues com seu apolinho”.

           

           Washington Rodrigues também foi treinador do Clube de Regatas do Flamengo em 1995, quando conquistou o vice-campeonato da Supercopa Libertadores da América, e em 1998, como diretor de futebol. Ele recebeu, durante a carreira todos os prêmios ligados ao jornalismo esportivo.

           Apolinho morreu aos 84 anos de câncer no fígado em plena atividade na capital carioca. Em 16 de maio de 2024, ele recebeu uma homenagem póstuma da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, quando a antiga Vila Olímpica da Gamboa, bairro da Zona Portuária passou a se chamar Vila Olímpica Radialista “Apolinho” Washington Rodrigues. E a ALERJ (Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) propôs a criação do Diploma Washington Rodrigues – Apolinho, a ser entregue anualmente a jornalista que se destaquem no meio esportivo. 41.

 


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